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segunda-feira, 4 de abril de 2022

Palmeiras vence o Campeonato Paulista


 

Gustavo Gomez levanta a taça de Campeão Paulista

Nelson Almeida/AFP

 

 

– Quem é o favorito? 

Quando esta pergunta foi feita na última quarta-feira, antes do primeiro jogo entre Palmeiras (até então invicto) e São Paulo, a resposta mais frequente foi: o Palmeiras, é claro! A mesma pergunta antes do jogo de ontem, depois da convincente vitória do São Paulo no Morumbi por 3 a 1, o favorito passou a ser o tricolor. 

Mas o alviverde venceu, com sobras! Aí está a beleza do futebol, sua imprevisibilidade, a esperança de vitória que faz o torcedor superlotar os estádios, sua eterna fidelidade ao seu clube do coração. Nenhum outro esporte é capaz de proporcionar tamanha alegria para quem sai vencedor.

Assistimos ontem (3 abr 2022) um dos melhores jogos de futebol dos últimos anos, com a vitória histórica do Palmeiras por 4 a 0 sobre o São Paulo. A volta do meia Danilo recompôs a alma palmeirense. O time da casa avançou os dois laterais e formou linha de 5 atacantes. Com ótimo desempenho no meio-de-campo, o São Paulo se viu encurralado e não conseguiu jogar. Mais uma vez o técnico Abel mostrou habilidade tática incomum.

Aos 28 minutos de jogo o Palmeiras vencia por 2 a 0 e assim o placar agregado marcava 3 a 3. O segundo tempo seria decisivo. O vencedor precisa também de sorte: aos 2 minutos do segundo tempo o Palmeiras fez 3 a 0, em contra-ataque puxado por Dudu e finalização de Raphael Veiga. Aos 30 min do segundo tempo, Raphael Veiga volta a marcar, define o placar e o título do Campeonato Paulista 2022. Placar agregado: 5 a 3. Alguém poderia prever tal resultado?!

Glória ao Palmeiras!

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pvc/2022/04/palmeiras-e-campeao-da-tatica-que-nao-e-estatica.shtml

 

sexta-feira, 18 de março de 2022

O Dérbi

Crônica Esportiva 


Rafael Veiga comemora o primeiro gol
Foto: Cesar Greco

 

O Dérbi ocorrido ontem era ansiosamente esperado por dois motivos. Primeiro porque o Palmeiras faz boa temporada, é o único time invicto no Paulistão até o momento, e venceu os dois clássicos anteriores, contra o São Paulo e o Santos. Segundo, porque o Corinthians é time em ascensão, com técnico novo (também português), fez boas contratações. De fato, tivemos um jogão ontem!

            Diante de um Allianz Parque lotado, 40.000 torcedores, o Palmeiras atacou sem trégua o adversário, sufocou o Corinthians em todo o primeiro tempo, com atuações magistrais de Danilo e Veiga. O placar poderia ter sido mais amplo, mas ficamos no 1 a 0, gol de pênalti aos 29 min, batido por Rafael Veiga (nas últimas 20 cobranças consecutivas, 20 gols!). Mesmo depois de marcar, o alviverde continuou atacando, o que não vinha acontecendo nos últimos jogos comandados por Abel Ferreira.

            O Corinthians reagiu no segundo tempo, avançou seus jogadores, com bom toque de bola. Empatou aos 15 min, com gol também de pênalti, bem cobrado por Roger Guedes. Aos 23 min, após cobrança de escanteio, Danilo pegou o rebote de Cássio e marcou. Ele foi o melhor jogador em campo! Penso que faltou entusiasmo ao Corinthians, para pelo menos segurar o empate.

            Vitória indiscutível do Palmeiras ontem.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Palmeiras vence depois de 27 anos

Crônica esportiva 

 

 

Milton Neves, grande radialista e homem de tevê, para mim o melhor locutor esportivo da atualidade, antes do jogo informou que o Palmeiras não vencia o São Paulo no Morumbi, pelo Campeonato Paulista, há 27 anos. Um absurdo de tempo, a beirar a eternidade.

            Talvez este fato tenha influenciado o comportamento do alviverde no jogo de ontem. Começa o jogo e o Palmeiras partiu para cima, como se diz no jargão.  “O Palmeiras tinha 78% de posse de bola no minuto nove, quando anotou 1 x 0, gol de Rony.” A frase é do PVC, um dos maiores cronistas esportivos da atualidade, sempre atento aos detalhes, números, estatística etc, de cada jogo. 78% de posse de bola!!!

            De fato, nos primeiros 9 min, o Palmeiras massacrou o time da casa. Além do domínio de campo, atacou com 5 jogadores na frente, o que resultou em um chute na trave e um belo gol. Em seguida – restei pasmo! – o time recuou.

            Daí em diante foi ataque contra defesa. Ferrolho suíço, como se dizia muito antigamente. E o Palmeiras esteve ameaçado pelo empate, quem sabe, surpreendido depois por uma virada. Isso acontece.

            Foi medo de perder? Foi nervosismo do técnico e dos jogadores? Foi desespero para quebrar a escrita? Isso também acontece... (Há quem não acredite; eu acredito em escrita...)

            Os grandes times europeus não jogam assim. O Flamengo de Jesus não jogava assim. Eles fazem um gol e, novamente, partem para cima, fazem 2, 3, 4, vai por aí. É disso que a torcida gosta! Isso dá confiança ao clube e há uma chance de se repetir no jogo seguinte. O resto é covardia.

            Há quem pense diferente. Tive um amigo torcedor fanático (italiano fanático é pleonasmo) do Catanzaro, time do sul da Itália, que dizia:

            – Pra mim, quando meu time ganha, 1 a 0 é goleada!

            Abel Ferreira precisa repensar a estratégia.

 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Sobrou Palmeiras na final da Copinha



Palmeiras levanta a taça da Copa São Paulo 2022

Foto: Rodrigo Corsi/Copinha



Já virou tradição: no dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo (que ontem completou 468 anos), acontece a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha. Quem deseja conhecer um pouco da história da Copinha, acesse

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2018/01/copinha-2018.html

            Os palmeirenses trazíamos engasgado na garganta o fato do nosso time nunca ter ganho a Copinha, após décadas de chacota por parte de adversários. Ontem fomos à forra, atropelamos o Santos com a brilhante goleada de 4 a 0 no Allianz Parque!

            Aos 5 min, 1 a 0. Aos 10 min, 2 a 0. Aos 15 min, 3 a 0. Este é o resumo do jogo. Como reagir diante do massacre, ainda mais se pensarmos na pouca idade dos jogadores? Mais parecia um pesadelo, para quem perdia.

            O Palmeiras foi o melhor time durante todo o torneio, revelando vários jogadores de alto nível. O já famoso (precipitadamente) Endrick, aos 15 anos de idade, ganhou o título de craque do torneio, autor do gol mais bonito (uma incrível meia-bicicleta da entrada da área no jogo contra o Oeste) e foi campeão pelo Palmeiras.

            Além de Endrick, Giovani e Gabriel Silva foram destaques no jogo e marcaram no primeiro tempo. 

            A mesma rivalidade existente entre profissionais de Palmeiras e Santos estava presente nessa final. Diferentemente dos jogos anteriores, quando nenhum jogador ousava discutir com o árbitro ou rolar no gramado fazendo fita, ontem o clima era de guerra. Ed Carlos, do Santos, recebeu cartão amarelo com menos de cinco minutos. Irritados com o pesadelo, os santistas perderam a cabeça. Ao final do primeiro tempo, Derick foi expulso: com dez jogadores, impossível reverter o resultado. Já os palmeirenses mantiveram tranquilidade profissional!

No segundo tempo, Gabriel Silva voltou a marcar aos 8 min, e o Palmeiras poderia ter feito mais. Preferiu tirar o pé do acelerador (o clichê não pode faltar).

Vanderlan, na lateral esquerda, promete; Mateus, goleiro de 1,98m, mais ainda; Vitinho, ótimo jogador, foi titular em quase todo o torneio; o ponta esquerda Jhonatan já é craque. O técnico Paulo Victor logo estará à frente de time profissional. 

Uma última palavra para destacar o trabalho do jovem árbitro Gustavo Holanda Souza no jogo de ontem: apitou como gente grande. (A função da Copa São Paulo de Futebol Júnior é mesmo revelar os melhores.)

Agora que já temos Copinha, é esperar pelo Mundial, em fevereiro. Quero ver o porco torcer o rabo...

 


 

Endrick fez o primeiro gol da vitória

Foto: Alexandre Battibugli/Copinha


 

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Futebol, sabor de infância


 

Deyverson marca o segundo gol do Palmeiras

Andres Cuenca Olaondo/ReutersMAIS

 

 

Por quê gosto tanto de futebol? Porque futebol, para mim, tem sabor de infância. Desde pequeno era levado pelas mãos de meu pai ao campo da Esportiva de Guaratinguetá, onde vi jogar Pelé, Coutinho, Djalma Santos, Waldir, Bauer (pelo Bragantino), entre tantos outros craques, além do goleiro e da famosíssima zaga local: Costa, Bolar e Jorge! Dos 6 aos 16 anos de idade, joguei bola quase todo santo dia; aos domingos, de manhã e à tarde! Como tive uma boa infância, futebol para mim sempre foi um manjar.

            Serve a pequena introdução para justificar o amor deste septuagenário pelo esporte bretão – o chavão é indispensável à boa crônica esportiva. Passemos à incontestável vitória do Palmeiras, no último sábado, no Uruguai. O adversário era ninguém menos que o melhor time do país no momento, o Flamengo de Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabriel, e por que não, Michael. Minha previsão, 3 a 0 para os cariocas.

            Então deu zebra? Não deu zebra porque o Palmeiras jogou melhor, com disciplina tática e disposição física, desde o início do primeiro tempo. Mereceu a vitória, com a ajuda do imponderável!

            O belíssimo gol de Rafael Veiga, o craque do time (juntamente com Weverton, o goleiro), ocorreu aos 6 min de jogo, num passe perfeito de Mayke, lateral reserva de Marcos Rocha. Isso é sempre um perigo para o time que sai na frente, pois haverá tempo de sobra para a reação do adversário. Mas o alviverde continuou jogando bem, com sólida defesa, bem articulada com o meio-de-campo, na espera dos contra-ataques sempre perigosos.

            Esperava-se um Flamengo mais aguerrido, agressivo no segundo tempo, e não deu outra. Até que Gabriel empata o jogo com belo gol, em jogada ensaiada e com dose de sorte, pois a bola passa no mínimo espaço entre a trave e a luva do Weverton. O Palmeiras continuou se defendendo, e o jogo foi para a nervosa prorrogação, sobre-humana mesmo para jogadores e torcedores. Meu deus!

            Quando o histérico português Abel substituiu Rafael Veiga por Deyverson, pensei seriamente em desligar a tevê, a vaca célere em direção ao brejo. Porém, repito à exaustão, Futebol Não Tem Lógica! O pior jogador do time – e escrevo isso me referindo ao jogador, não à pessoa do Deyverson, que nunca vi mais gordo – rouba a bola em falha clamorosa do adversário cujo nome não reproduzo, avança livre para o gol, chuta mal, a bola bate no pé do Diego Alves, passa rente à trave e morre no fundo da rede. Gol do imponderável!

            Dois a um, aos 5 min da prorrogação! O perigo se repete, o Flamengo agora terá 25 min para empatar e até virar o jogo. Sofrimento indescritível para ambas as torcidas!

            O Palmeiras vence. Um grande jogo, o que é incomum em finais desse porte. Jogo limpo, poucas faltas, Gabriel e Felipe Neto sempre reclamando, o que é habitual. De resto, a atuação do árbitro, sem trapalhadas do VAR, foi impecável quase até o final; terminado o tempo regulamentar, ele ainda deu 3 min de prorrogação, num laivo de sadismo. Meu deus!

            Palmeiras Campeão da Libertadores pela segunda vez em 2021! E eu, de volta à boa infância.

      Que venha o Chelsea.

 

 

 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Jogo bruto



Jogo bruto entre Brasil e Argentina, em San Juan 

Juan Mabromata/AFP/Folha de S.Paulo



Brasil e Argentina empatam em jogo sem gols, ontem em San Juan. 

            Brasil mantém invencibilidade nas Eliminatórias, com 11 vitórias e 2 empates. Argentina também se classifica por antecipação para a Copa do Mundo no Qatar. 

            Lionel Messi completamente apagado durante o jogo. Neymar fez falta? Jogo nervoso, ríspido, bruto mesmo. Uma ou outra jogada de boa técnica de ambos os lados ao longo de toda a partida, com destaque para Paquetá. Nada mais.

            Apenas um triste lance marcou para sempre a história do principal clássico sul-americano. Aos 34 minutos do primeiro tempo, Otamendi desferiu acintosa cotovelada na boca de Raphinha, em disputa de bola junto à linha de fundo da defesa argentina, depois do defensor ter sido seguidamente driblado pelo ponta brasileiro. Ele simplesmente foi à forra, não tolerou a humilhação, partiu para a agressão física, pública e criminosa, sem qualquer pudor. A tevê mostrou a boca sangrando do brasileiro.

            É possível que o árbitro uruguaio Andres Cunha não tenha visto o lance, é possível. Mas ele consultou o VAR, nada marcou, a partida seguiu. O árbitro de vídeo era Esteban Ostojich, que apitou a final da Copa América este ano, no Maracanã, vencida pela Argentina.

            A repetição das imagens a partir de então não deixou qualquer dúvida: infração grave, claríssima, o argentino deveria ter sido expulso. Hoje não há mais discussão para este tipo de lance, é cartão vermelho. Se o juiz não viu, o VAR viu. Por quê não recomendou a expulsão? 

      Para mim, o jogo perdeu a graça depois disso. Os argentinos continuaram com provocações, deboche, rispidez, deslealdade, estimulados pela torcida, como há muito não se via. Penso que os brasileiros reagiram mal a tais provocações, ou nem reagiram. Triste zero a zero.

            

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Por uma camisa

 

Torcedores do Grêmio invadem o gramado

na derrota para o Palmeiras

Raul Pereira (31.out.2021), AFP

 

​No último domingo (7 nov 2021) um fato insólito ocorreu nas arquibancadas da Vila Belmiro, em Santos, ao final do jogo em que o Palmeiras derrotou o Santos por 2 a 0. Duas informações que podem ter relação com o episódio que passo a narrar em seguida: o Palmeiras não vencia o adversário na casa do Santos há 12 anos, e os donos da casa estão seriamente ameaçados de rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro.

            Os jogadores deixavam o campo quando um menino de 9 anos, que joga nas categorias de base do Santos, que afirma ser santista e não palmeirense, pediu a camisa de Jailson, goleiro do Palmeiras. E foi atendido. 

            Daí que aconteceu o absurdo: um grupo de torcedores santistas hostilizou agressivamente o pai do menino e seu filho. Houve aglomeração, a polícia foi chamada, pai e filho muito assustados.

            No dia seguinte, constrangido, o menino publicou vídeo em rede social, afirmando ser santista e pedindo desculpas “caso alguém tenha se sentido ofendido”, por ele ter recebido camisa do rival. "É que eu gosto muito dele [Jailson]. Também gosto do Weverton, que é da seleção brasileira [e goleiro do Palmeiras]. Eu não sou palmeirense, eu sou santista", afirmou na mensagem. A gravação viralizou na internet, rodou o mundo; da França, Jorge Sampaoli enviou ao menino camisa do Olympique, em solidariedade.

            Comentário do pai da criança ao fim do episódio: "Acredito que isso pode mudar a relação do meu filho com o futebol”.

Indiscutível onda de intolerância se difunde pelo país. A sociedade está doente e o futebol reproduz fielmente a violenta polarização. A faixa exposta na fotografia acima é a imagem da idiotia, inspirada erroneamente na famosa frase que teria sido proferida pelo grande Didi: “Treino é treino, jogo é jogo”. 

Hoje, jogo virou guerra. O ser humano, imbecilizado, revela o que tem de pior.

         

 

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2021/11/crianca-atacada-por-santistas-fez-video-de-desculpas-escondido-diz-pai.shtml

 

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Uma semi-final espetacular!


Nikão marca 2 contra o Flamengo

Delmiro Junior/Photo Premium/Ag. O Globo

 

 

Dedico esta pobre crônica ao meu amigo Moisés, flamenguista doente, que ontem sofreu como nunca diante da vitória acachapante do Athlético Paranaense sobre o Flamengo, por 3 a 0.

            Diante de 30.000 torcedores de volta ao Maracanã, o time carioca era o franco favorito para chegar à final da Copa do Brasil, pois no primeiro jogo, em Curitiba, houve empate de 2 a 2. A presença em campo de Bruno Henrique era indicativo de vitória fácil. Porém, como este cronista não cansa de repetir, Futebol Não Tem Lógica.

            Aos 8 min de jogo, o prenúncio de tragédia; Nikão marca em cobrança de pênalti, confirmado pelo VAR, e coloca mais pressão sobre os donos da casa, e sobre Moisés, naturalmente! Que torcedor de futebol já não experimentou a sensação – Isso Não Vai Dar Bom Resultado – ao ver seu time, que precisa da vitória, sofrer gol nos primeiros minutos de um jogo decisivo?

            Depois disso, o Athlético assumiu, sem qualquer pudor, a retranca, verdadeiro ferrolho suíço, como se dizia no meu tempo. O Flamengo, o melhor time do Brasil na atualidade, partiu para cima do adversário, transformando a partida em ataque contra defesa. O torcedor rubro-negro certamente mantinha esperança de vitória, seu time tem jogadores de qualidade e entusiasmo para tanto. O Flamengo quase cavou um pênalti aos 33 min, assinalado pelo juiz e anulado corretamente pelo VAR. Porém, em contra-ataque fulminante, jogo predileto dos curitibanos, Nikão marca seu segundo gol aos 52 min (!) ainda do primeiro tempo. Situação desesperadora, não Moisés!

            No segundo tempo, Michael renovou as esperanças do Flamengo, ao emprestar dinâmica nova ao ataque e sufocar o adversário. Foi aí que surgiu o milagreiro chamado Santos, com defesas espetaculares, incluindo a que desviou para o travessão chute do próprio Michael. Foram mais de 10 defesas incríveis do melhor goleiro do Brasil, depois de Weverton Pereira da Silva, do Palmeiras. 

            O Flamengo insistia em bolas alçadas na área; o nervosismo tomando conta do time; Santos a fazer milagres; o ferrolho funcionando como muralha; Khellven expulso após dura falta em Ramon, aos 35 min, deixando o adversário com 10 em campo; nada disso adiantou. No finalzinho, em contra-ataque mortal, Zé Ivaldo ampliou o placar para os inacreditáveis 3 a 0. Derrota feia.

            Para mim, as inesperadas vaias dirigidas a Renato Gaúcho, treinador incensado há poucos dias, foram imerecidas. A derrota não foi responsabilidade do técnico, mas a tresloucada torcida exige um culpado. Futebol tem dessas coisas. Querem saber de quem foi a culpa? Dos Deuses Do Futebol!

            Meu receio é que, enfurecido, o Flamengo desconte no Palmeiras, na final da Libertadores em Montevidéu. Espero que não, mas se ocorrer, ficarei feliz pelo Moisés.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Atuação de gala

A Seleção contra o Uruguai 

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

 

 

Estava certo de que não voltaria a escrever sobre a Seleção Brasileira, diante do fiasco das últimas apresentações nessas eliminatórias para a próxima Copa do Mundo. Porém, “futebol não tem lógica”, jargão que aprendi ainda criança, levado pela mão de meu pai aos jogos da Esportiva de Guaratinguetá, em companhia de meu querido irmão Paulo.

            O jogo contra a Seleção do Uruguai na noite de ontem, na Arena da Amazônia, foi a confirmação do citado lema. O adversário, que não se encontra na melhor forma técnica, possui garra e fez história na Copa de 50. Faz tempo, é verdade, e sua famosa dupla de ataque, Cavani e Suárez, já deveria estar aposentada.

            Para a alegria do torcedor brasileiro, a Seleção brilhou, revelando criatividade, vontade de vencer e a agressividade necessária, o que há muito não se via. 

A defesa vem jogando bem, é verdade, e ontem não destoou. As novidades ocorreram no meio de campo e ataque. Fred mostrou ótima participação ofensiva. Fabinho foi seguro nos desarmes. Raphinha, o grande destaque do jogo, primeira vez em campo desde o início, em companhia de Paquetá, desequilibraram, ambos jogando abertos pelas pontas.

O primeiro tempo terminou com o placar de 2 a 0, gols de Neymar e Raphinha (assim mesmo, com ph), mas tivemos quatro ou cinco gols perdidos, com ótimas defesas de Muslera. Gabriel Jesus precisa acertar o último chute, ou perderá a posição de titular, se já não perdeu.

No segundo tempo, as substituições feitas por Tite diminuíram o brilho do time; entraram Antony, com boa atuação, Gabigol, autor do quarto gol, Everton Ribeiro, Douglas Luiz e Edenilson. Antes de sair, Raphinha marcou o gol mais bonito do jogo, gol de craque! (Em tempo: é prudente, por ora, não incensar demais este jogador, sob risco de encerrar precocemente uma carreira promissora.)

Para mim, a maior surpresa da partida foi a atuação de Neymar, que vinha jogando muito mal, errando TODOS os passes – as jogadas de ataque terminavam sempre em seus pés –, verdadeiramente irritante. Ontem ele buscou jogo desde o início, se deslocou por todo o campo, driblou, acertou a maioria dos passes, fez tabelas e algumas das firulas de sempre, além do belíssimo primeiro gol do jogo, seu 70º pela Seleção. Foi decisivo para a vitória.

Em noite de gala, o placar de 4 a 1 saiu barato para os uruguaios!

Em novembro o Brasil joga contra a Colômbia e Argentina, mas está praticamente classificado para a Copa do Catar. Bem, lá, a história será outra...

 

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Palmeiras vence com classe

 
Patrick de Paula e Dudu comemoram vitória categórica 

por 3 a 0 sobre o São Paulo - Nelson Almeida/Reuters

 


Depois de sete ou oito derrotas sucessivas para o rival, confesso que sofria do sistema nervoso antes do início do clássico, ontem à noite. Temia por mais uma derrota.

            Que nada, o Palmeiras entrou em campo com sangue nos olhos! (Alerto meu eventual leitor que os chavões fazem parte necessariamente da crônica esportiva.) 

A escalação era o que tínhamos de melhor, com forte meio de campo composto por Danilo, Zé Rafael e Rafael Veiga. À frente, Wesley, Rony e Dudu, este ainda fora de sua melhor forma física.

Porém, o que decidiu o jogo não foi a escalação e sim a vontade de vencer. O Verdão marcou logo aos 12 min, com ótima trama entre Zé Rafael e Rafael Veiga, com chute de categoria pelo melhor jogador em campo, o craque do time, Veiga.

O São Paulo não jogou mal, lutou muito; perdeu gol feito no segundo tempo, quando Pablo, cara-a-cara com Weverton, chutou nas nuvens. 

1 a 0 ainda era resultado perigoso: o empate levaria o jogo para os pênaltis. Foi quando aconteceu o golaço dele, do filho pródigo, Dudu, que chutou no ângulo, sem chance de defesa, lance de oportunismo em bola que sobrou na marca do pênalti.

O imprevisível (e indisciplinado) Patrick de Paula marcou o terceiro gol, selando a vitória extraordinária do Palmeiras. Depois disso o adversário perdeu a cabeça, teve jogador expulso e levou olé.

Fui dormir feliz da vida. À noite, um pesadelo: sonhei que o Palmeiras estava na final da Libertadores e que iria enfrentar o Flamengo!

 

sábado, 3 de julho de 2021

O pênalti




O pênalti, tiro livre cobrado a 11 metros do gol, é o momento supremo de qualquer jogo de futebol, seja convertido em gol ou não. Foi imortalizado por Neném Prancha, com a frase “O pênalti é tão importante que devia ser cobrado pelo presidente do clube.” 
             É proibido perder um pênalti. Se o goleiro defende, torna-se um herói. Se a bola entra, quem a chutou não fez mais que a obrigação. Como pesa a responsabilidade para o batedor! 
             Com o avanço da tecnologia a serviço do esporte, não é raro que o goleiro seja informado das preferências do batedor, em que canto ele chuta com mais frequência, em que altura e com que força, tudo gravado no laptop do treinador de goleiros. Isso deve ser um pesadelo para o cobrador, Será que ele já sabe onde vou chutar, Então vou trocar de lado, Mas se eu errar o chute?
             Foi então que o jogador de pouca técnica, quase sempre um zagueiro, inventou o chute no meio do gol: o goleiro pode cair para qualquer lado, que a bola entra com força no meio do gol. Invariavelmente o goalkeeper, como se dizia antigamente, dá um soco de frustração e raiva no gramado, Por que não fiquei parado!? Porém, como os zagueiros não primam mesmo pela técnica, muita vez a bola passa por cima da trave e vai se perder no estacionamento do estádio.
              Bem me lembro de quando surgiu a paradinha na hora de bater o pênalti. Ela foi criada por Pelé, na década de 1960. Em amistoso contra o River Plate, em 1962, Pelé fez a paradinha, mas o árbitro anulou o gol. A FIFA condenou a atitude do juiz e desde então a manobra passou a valer. Segundo o próprio Pelé, foi o imortal Didi, criador da “folha seca”, quem inventou a jogada.
              Mais recentemente surgiu a cavadinha: o batedor dá um toque sutil por baixo da bola, que encobre o defensor e morre no fundo do gol, chorando na rede, para humilhação do goleiro. Se o cobrador erra e o chute sai fraquinho, a pelota nas mãos do goleiro, a vaia é certa!
              A última invenção em matéria de pênalti é de autoria do português Cristiano Ronaldo. É mesmo um fenômeno a cobrança! Ele corre para a bola e ao calcar o pé de apoio no chão rente ao lado esquerdo da bola, esta se levanta por alguns poucos centímetros, algo imperceptível a olho nu, o suficiente para o artilheiro pegar o chute na cara da bola, com violência espantosa! O replay mostra a incrível manobra!
              A batida de pênalti indefensável é aquela em que a bola é chutada alta, no canto, com força, mas é para quem sabe.
              Para minha tristeza, o meu Palmeiras perdeu dois campeonatos recentemente, em cobranças de pênaltis. E pênalti não se perde, Seu Abel. (O técnico é sempre o culpado.)

terça-feira, 9 de março de 2021

Palmeiras Tetracampeão


Futebol é coisa séria. A final de uma árdua disputa como a Copa do Brasil ocorrida há dois dias mexe com muita gente e com interesses os mais diversos. (O campeão embolsou 54 milhões de reais, num país em sérias dificuldades econômicas!)

            Aos simples torcedores do time vencedor cabe a alegria infantil do sentimento de vitória. Falo por mim: nada mais infantil que a alegria de ser campeão!

            Não posso imaginar o que rola entre cartolas e suas ocultas transações. Nem me interessa. Guardo comigo a lembrança das tardes de domingo, quando nosso pai nos levava a mim e meu irmão Paulo ao estádio da Esportiva de Guaratinguetá, para assistir aos jogos do campeonato paulista. Foi lá que vimos jogar Bauer, Djalma Santos, e tantos outros craques. Além do Palmeiras, naturalmente, trago comigo a imagem do Bragantino, já na época um grande time, ainda na Segunda Divisão. Da Esportiva, guardo com carinho os nomes de Costa, Bolar e Jorge, o goleiro e a ótima zaga, o último com chute capaz de atirar a pelota para fora do estádio e cairia vizinha Aparecida do Norte. São mais de 60 anos de memórias do esporte!

            Foi com este espírito que vi o Palmeiras vencer com méritos a última Copa do Brasil, batendo o Grêmio no campo do adversário e no “chiqueirinho”: 3 a 0 na contagem geral.

            Por quê o Palmeiras venceu três títulos – Paulistão, Libertadores e Copa do Brasil – na temporada 2020? Por que, dentre outros fatores, o clube teve 13 jogadores da base, durante a temporada, incorporados ao time profissional, alguns de nível de seleção, formando plantel (o jargão não pode faltar) de respeito em número e qualidade, com gastos relativamente modestos. 

            Fundamentais para as conquistas foram o goleiro Weverton (melhor do Brasil), o paraguaio Gustavo Gomez (o melhor zagueiro do país, o veterano Felipe Neto que virou craque na frente da área, os armadores Zé Rafael e Raphael Veiga, este o melhor do time nos últimos jogos, e o português Abel Ferreira, que tem a virtude de não complicar (ainda). E, naturalmente, a sorte – se o Grêmio marca aquele gol com 5 minutos de jogo...

            Futebol é coisa séria, porém mais sério ainda é o que o país vem sofrendo com a peste. Em meio a tantas mortes e tanto sofrimento, não há lugar para comemorações de qualquer espécie.

domingo, 7 de março de 2021

Tardes de sábado

 

Roger comemora o gol pela Inter de Limeira

Foto: Ítalo Gabriel / Inter de Limeira

 

 

Tarde de sábado, o ar lavado pela bátega caída ainda há pouco a rescender o perfume do jardim. Zapeio os canais de esporte em busca de um bom jogo do campeonato paulista e encontro verdadeiro clássico interiorano: Internacional de Limeira versus Novorizontino, prestes a começar. Vejo as escalações e encontro apenas um nome conhecido, Roger, veterano centroavante da Inter, ex-jogador do Corinthians. O gramado se apresenta em bom estado, o jogo promete!

            A Inter vem de duas derrotas, contra a Ferroviária e São Paulo; o time de Novo Horizonte vem de dois empates, contra Ponte Preta e Mirassol; ambos precisam vencer. Daí o jogo disputadíssimo no Limeirão, franco, aberto desde o início, com o máximo empenho dos atletas. No final do primeiro tempo, em contra-ataque mortal, Roger desloca o pesado zagueiro adversário para a esquerda e chuta da entrada da área no canto direito do goleiro, num belo gol: 1 a 0 para a Inter.

            No segundo tempo o Novorizontino reage, pressiona, ganha um escanteio, o atacante coloca a bola na marca do corner, vem o bandeirinha e aponta a posição irregular da pelota: ela precisa tocar a marca de cal (que já não é mais de cal, agora as demarcações do campo são pintadas com tinta branca). Eis que surge a pérola vinda do locutor esportivo, inconformado com o preciosismo do bandeira, dessas que me enchem de alegria as tardes de sábado: 

            – Os senhores sabem, a bola é redonda, então basta que um lado dela toque a linha para que a posição seja considerada regular, afirmou o indignado locutor.

            Matuto comigo mesmo, a casa em silêncio, até os cães dormem: “a bola é redonda” deve ser o pleonasmo do século! E se é redonda, os únicos “lados” que tem são o interno e o externo. O locutor fala demais; no tempo do radinho de pilha colado na orelha o locutor precisava falar muito, para descrever o que se passava em campo e até o que não se passava em campo, verdadeiro artista incumbido de transmitir aos ávidos ouvintes do mundo toda a emoção da partida; nas transmissões pela tevê o expectador precisa no máximo do nome dos jogadores, nada mais; mas o locutor fala fala fala, precisa aparecer, defender seu precioso salário em tempos de peste. Dá nisso: a bola é redonda!

            O escanteio é cobrado sem perigo de gol. O time visitante ataca, o time da casa se defende bem. A Inter volta a marcar, gol invalidado pelo VAR, isso mesmo, o implacável VAR está presente na partida.

Às tantas, falta perigosa para o Novorizontino; quem vai bater é o mesmo beque que levou o drible do Roger, dono de chute potentíssimo; ele tenta se recuperar da falha anterior; a barreira é formada, com a lentidão de sempre, a catimba de quem está ganhando o jogo; vem o chutão, e como diz o grande Milton Leite a bola sai do Limeirão, passa por cima de Araraquara e cai em São Carlos, na chácara do meu amigo Sergio Pripas!

            Ficamos no 1 a 0, um bom jogo. Nada como o futebolzinho nas tardes amenas de sábado.        

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Final do Brasileirão

 

Ao meu amigo Sergio Pripas



Jogadores do Flamengo aguardam
final do jogo do Internacional
Foto: Marcello Zambrana/AGIF

 

Terminou ontem o Campeonato Brasileiro de Futebol, da melhor maneira possível para o sistema de pontos corridos: a decisão ficou para a última rodada. (Quando um time dispara na liderança, as últimas rodadas perdem a graça. Explico essas coisas para minha mulher, que pouco entende de futebol, mas que sabe tudo de otorrinolaringologia.)

            O Palmeiras jogou contra o Atlético de MG, mas preferi ver São Paulo versus Flamengo. E não me arrependi. Há meses o Flamengo vem despontando como o melhor time do Brasil, com ótimos valores individuais e conjunto bem azeitado; o meio de campo com Gerson, e o ataque com Arrascaeta, Gabriel e Bruno Henrique, são o que há de melhor no futebol brasileiro. Merecidamente é o campeão!

            Mas vejam as surpresas que nos pregam o futebol. O São Paulo vem perdendo todas as últimas partidas, jogando mal, sem técnico titular; o Flamengo só precisava de um empate; iniciou o jogo com total domínio sobre o adversário, e perdeu de 2 a 1.

            Na outra decisão, Internacional versus Corinthians, o Inter precisava de vitória simples para ganhar o campeonato; o adversário passa por péssima fase; e o jogo ficou no 0 a 0. Muita incompetência do time gaúcho em não conseguir um único golzinho. (A foto acima mostra o anticlímax da decisão: jogadores do Flamengo na espera do encerramento do jogo do Inter.)

            Mais uma vez prevalece o chavão: futebol não tem lógica. Mas o resultado final confirmou: venceu o melhor!

            O Palmeiras, bem, o Palmeiras venceu a Libertadores, e no próximo domingo joga a primeira partida (melhor de duas) contra o Grêmio de Porto Alegre, pela Copa do Brasil. O time precisa melhorar. Daí esta crônica tão insípida insossa desenxabida.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Sonho que findou

 

Findo o sonho do mundial, fica o registro melancólico: se o jogo é ruim e seu time perde, difícil escrever uma crônica sobre tão infausto acontecimento. 

            Faltam jogadores ao Palmeiras com a qualidade exigida para disputa daquela  envergadura. A exceção evidente é a do goleiro, pois Weverton é hoje o melhor do Brasil. Não fosse a atuação dele o placar de ontem teria se alargado.

            A zaga do time é fraquíssima; dos laterais, salva-se o chileno Viñas, que sabe defender e atacar. Os volantes, crias da casa, são bons, mas lhes falta experiência para jogos de decisão. Dois armadores são bons, nada brilhantes. E os atacantes inexistem. Depender de um ponta de inteligência limítrofe não pode levar a bons resultados.

            Aquele que acompanhou o Palmeiras na última temporada acostumou-se com a irregularidade do time; faz um grande jogo, a torcida se empolga, e em seguida vem a derrota inexplicável, muitas vezes de virada no segundo tempo. (Quando o jogo é de decisão a coisa piora muito.)

Inexplicável? Não, faltam jogadores, falta um padrão de jogo. O novo técnico parece bom, jeitoso no trato com os comandados, bem educado. Precisa de mais tempo para trabalhar o time, além de contratações de peso, caso não se bandeie logo para a Europa. Os lusitanos estão em alta.

Resta o consolo: ganhamos a Libertadores, o que não é pouco.

Minha mulher percebeu meu abatimento depois do jogo e perguntou, Por que você, nessa idade, ainda perde tempo com futebol? Porque não se pode e nem se deve apagar a infância, respondi.

domingo, 31 de janeiro de 2021

Palmeiras: Campeão da Libertadores 2020



 

Aqueles menos afeitos às manhas do futebol dirão, Que jogo feio!

            Feia mesmo a decisão da Libertadores da América ocorrida ontem no emblemático Maracanã entre Palmeiras e Santos. Mas só podia ser feia; esta é uma característica quase que infalível de toda decisão de campeonato ou até mesmo de Copa do Mundo, o jogo amarrado, truncado por sucessivas faltas, bruto, mas nem tão bruto que acarrete expulsão de jogadores, com predomínio das estratégias sobre o jogo aberto, franco, bonito de se ver. Antes de vencer, não se pode perder. O que conta é o resultado! Passado algum tempo, ninguém mais dirá que o jogo foi bonito ou feio, mas todos se lembrarão que o Palmeiras venceu, com todos os méritos, a Libertadores de 2020.

            (Na Copa de 1970 o jogo entre Brasil e Inglaterra era um divisor de águas; quem ganhasse teria grande chance de ser campeão. Jogo duríssimo, amarrado no meio de campo, pouca criatividade, embora o jogadores fossem de alto nível, lances ríspidos – o tal jogo feio. Em dia memorável, o Brasil venceu por 1 a 0 e acabou levando o caneco! Em minha opinião, essa foi a disputa que mais bem ilustra a ‘feiura de uma decisão’.)

            Na comparação individual entre os jogadores de ambas as equipes, o Palmeiras entrou em campo ontem com time mais bem qualificado. Isso pouco ou nada importa em uma decisão. Agora, a garra com que os times entram em campo, isso importa muito. Penso que o Palmeiras jogou com mais vontade de vencer. (Marinho, grande artilheiro do Santos, considerado o melhor jogador desta Libertadores e que poderia decidir a partida, sumiu em campo, bem marcado pela defesa alviverde.)

            Final de campeonato é decidido quase sempre no detalhe – este é mesmo um dos jargões do futebol. O jogo de ontem entrava nos acréscimos quando o técnico do Santos, homem experiente, segurou a bola na lateral do campo, retardando a cobrança pelo adversário. Marcos Rocha, lateral do Palmeiras, reagiu, criou-se tumulto, Cuca acabou expulso, o que aparentemente tirou a concentração dos jogadores do Santos. Cobrado o lateral logo em seguida, Rony centrou com improvável perfeição a bola para a área do Santos e encontrou o mais improvável ainda Breno Lopes bem colocado, que desferiu belíssima cabeçada, encobrindo o goleiro John Victor, dando o título ao Palmeiras. Um a zero em decisão de Libertadores é goleada!

            Aos afeitos às manhas do futebol, decisão é jogo de xadrez. Ontem tivemos um  lindo jogo, porque meu time venceu! 

            

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

O melhor time do Brasil

 

Thiago é meu fisioterapeuta, sabe tudo de recuperação física, dos músculos, ossos, cartilagens, articulações, coluna. Ele nunca foi técnico de futebol, muito menos comentarista esportivo, mas aprendo muito com ele, embora torça para o Vasco. Nem ele nem eu, notório palmeirense, temos simpatia pelo Flamengo, importante assinalar, para que o leitor possa bem compreender o que se segue.

            Assim falou Thiago, no meio da piscina de hidroterapia, com grande autoridade:

            – Hoje, o Flamengo tem o melhor time do Brasil! César no gol, um bom goleiro, não é um Weverton do Palmeiras, mas é bom. A defesa, com Isla, R. Caio, G. Henrique e F. Luís, não podia ser melhor, os laterais com grande competência para atacar. O meio de campo poderia estar na seleção: E. Ribeiro, Wilian Arão, Gerson e Arrascaeta; com destaque para Arrascaeta, para mim um dos melhores jogadores em atuação no Brasil. No ataque, Gabriel e Bruno Henrique, que também poderiam figurar na Seleção. De quebra, o artilheiro Pedro. Que time precisa mais do que isso para ser campeão? Basta colocar um 4-4-2 em campo e pronto, o jogo está ganho.

            – Concordo inteiramente com você, Thiago, um timaço tem o Flamengo. O que está faltando então, que justifique as últimas derrotas? perguntei.

            – Está a faltar o técnico, pá!

            – Você agora disse tudo! Saudade de Jesus, não é mesmo?

            – Ai Jesus..., lamentou o flamenguista Raimundo, fisioterapeuta sênior, com sua voz de trovão!

            Moisés, também torcedor do Flamengo, e que ouvia calado a conversa, riu do gemido melancólico do Raimundo e concordou com o diagnóstico do Thiago.

            Então acrescentei:

            – Sempre disse que técnico não ganha jogo, mas perde! Se ele começa a inventar e escala mal o time, se de repente se implica com determinado jogador e passa a deixá-lo no banco, se faz substituições atrapalhadas durante o jogo ou não faz substituição alguma, se manda o time recuar quando deve atacar, se dá ordem para o ataque fora de hora e leva um gol de contra-ataque, então o técnico precisa ser demitido. Não há alternativa, pois os jogadores começam a sabotá-lo, e o time a sofrer repetidas derrotas. Quando um técnico é substituído, aquele que entra vence invariavelmente os primeiros jogos, o time torna a se motivar para a vitória, cessam as desavenças.

– Rogério Ceni, coloque as barbas de molho... vaticinou o filósofo Moisés, na vã esperança de ver o Flamengo campeão.

            Prosseguem os exercícios, cada qual com suas deficiências; o ambiente é de ingênua alegria. Todos trabalham com grande amizade na Reativa.

 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Tem lógica?

 

 

Viña comemora o terceiro gol do Palmeiras

Juan Ignacio Roncoroni/Reuters

 

 

Quem gosta de futebol adora e cultiva o riquíssimo jargão futebolístico, a emprestar precioso toque de humor ao esporte. Algumas frases são verdadeiras pérolas da mais pura ingenuidade infantil, repetidas ao longo das décadas. O jogo só acaba quando termina! Futebol é coisa séria! Clássico é clássico! Estes são exemplos desse folclore!

            Porém, há um dito que considero infalível, e deve ser aplicado quando seu time vai enfrentar adversário sabidamente superior – como ocorreu ontem à noite, no jogo de ida da Libertadores, entre River Plate e Palmeiras, na Argentina. A frase é: Futebol não tem lógica.

            O Palmeiras vem de uma série extenuante de jogos, com muitos jogadores contundidos (do jargão), e uma contaminação generalizada pela covid-19 há poucas semanas. O River, em casa, é considerado imbatível, mesmo porque tem um ótimo conjunto e preserva o mesmo técnico há vários anos. Minha previsão era de que se perdêssemos por 1 a 0, este seria um bom resultado. 

O adversário começou jogando melhor, com preciso toque de bola, errando poucos passes. Mas o alviverde (jargão de novo) não recuou, e Weverton, o goleiro, fazendo lançamentos surpreendentes para Rony, um perna-de-pau desmiolado. Pois foi esse desmiolado que abriu o placar (jargão...) com belo chute (que desviou no beque), depois de clamorosa falha do goleiro portenho. 1 a 0! O técnico argentino estampou sorriso irônico e balançou a cabeça, Isso é apenas um acidente.

O Palmeiras aproveitou a leve desorientação do adversário e continuou no ataque, com gol anulado por poucos centímetros de impedimento (não vou explicar para as mulheres o que isso significa).

Logo no começo do segundo tempo, belíssimo gol de contra-ataque do Verdão! Inacreditável! 2 a 0! O técnico argentino mostrou novamente seu sorriso irônico e tornou a balançar a cabeça.

Às tantas, Gabriel Menino deu uma de argentino, matou a bola de letra, e causou o maior destempero no time adversário, que se sentiu humilhado. Na primeira oportunidade, um esquentadinho desferiu incrível pontapé em Gabriel, na cara do juiz, sendo imediatamente expulso de campo. Era a vitória que se anunciava.

O River não desistiu, continuou atacando. De repente, de bola parada, em escanteio, Viña marcou de cabeça: 3 a 0 para o Palmeiras! Muito sério, carrancudo, o técnico argentino agora olhava para o chão. Eu, ria à toa!

Mais que improvável, tal resultado era impensável antes da partida. Porém, reza a cartilha popular, futebol não tem lógica.

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Imprevisibilidade



Matheus Davó comemora o gol da vitória corinthiana 

sobre o Internacional Amanda Perobelli/Reuters


 

Muita gente não gosta de futebol, as mulheres não costumam gostar, é claro, não jogaram bola quando criança, alguns homens não gostam, pudera, sempre iam para o gol quando criança, mas os que viveram a infância num campinho de pelada e lá aprenderam que futebol é jogo para homem, lá aprenderam a falar palavrão, a  experimentar caneladas joelhos ralados cotoveladas na cara tornozelos torcidos braços quebrados e outros desaforos, para esses, impossível deixar de gostar de futebol. É o eterno retorno da infância.

            Agora adultos, para nós o esporte ganha outra dimensão, outros interesses, dentre os quais se destaca a imprevisibilidade.

            Vivemos um Campeonato Brasileiro atípico, como quase tudo no mundo de hoje, por causa da peste. Aos trancos e barrancos, os times vão sobrevivendo, lutando contra o vírus, a falta de preparo físico, a ausência de entrosamento em campo. Apenas dois times conseguem manter um bom nível de jogo: o Flamengo, que vinha muito bem antes da pandemia, treinado por Jesus, e o Internacional, mostrando futebol de respeito, competitivo.

            Neste fim de semana ambos contavam com mais três pontos na tabela, a preservar a disputada liderança. No Maracanã, o Flamengo pegaria o São Paulo, time de desempenho irregular, embora bem colocado na tabela. Em Itaquera, o Corinthians, que não vai lá das pernas, mais para a lanterna que para o topo do campeonato, pegaria o Internacional. Os comentaristas de futebol, raça em franca expansão em tempos de peste, eram quase unânimes: O Mengo vai sobrar, O Inter vai enfiar 5.

            O bonito do esporte é a tal imprevisibilidade, contra tudo e contra todos, contra a estatística, o mando de campo, os desfalques, a ausência do craque do time, a torcida contrária ou até a ausência de torcida. Daí o ditado infalível: Clássico é clássico! (Explico, para quem não é do ramo: tudo pode acontecer em um clássico!)

            Não deu outra. Jogando bem o Corinthians ganhou de 1 a 0 do poderoso Internacional e o São Paulo goleou o grande Flamengo por 4 a 1.

            Agora é esperar pela próxima rodada.

 

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

80 anos de Pelé



 

Em um certo dia de minha adolescência estive frente a frente com Pelé, toquei-lhe o ombro esquerdo e disse, Oi, Pelé.

            Aconteceu em Guaratinguetá, numa comemoração da qual não tenho a menor lembrança. Uma partida de futebol beneficente? Algum evento municipal? Jogo de campeonato paulista não era. 

            De repente, lá estava eu no gramado, ao lado de muita gente desconhecida. (Não me lembro de meu pai estar comigo ou mesmo estar em companhia de um amigo.)

            Porém, me lembro como se fosse hoje, passados mais de 60 anos, eu frente a frente com Pelé, a tocar-lhe o ombro esquerdo, como se fosse um sonho. Cumprimentei-o, sorri, extasiado diante de um deus.