Termino a
leitura de O silêncio, de Shusaku
Endo (Ed. Planeta do Brasil, 2011), agradavelmente surpreso. (Tenho lido poucas
traduções, pois gosto mesmo é da nossa língua mãe expressa no original, em
clássicos e contemporâneos. O livro de Endo apresenta uma agravante para nós,
brasileiros: foi traduzido do japonês para o inglês, e deste para o português.
Com certeza já não é o mesmo livro original que temos nas mãos. Por que o ler,
então?)
Esperava por amigos numa livraria, fazendo hora para o
almoço, e ao pegar um volume qualquer, iniciei a leitura de O silêncio. Não pude interrompê-la, até
o término da história. Uma história magnífica!
(Vivi experiência semelhante há muitos anos, com O perfume, de Patrick Süsskind,
literatura pobre, porém com enredo capaz de prender o leitor. O filme com o
mesmo nome revelou-se abaixo da crítica.)
O romance de Endo narra a saga de missionários católicos
no Japão do século XVII. Parece que há alguns fatos históricos, mesclados com
muita ficção. Porém os temas tratados interessam a qualquer ser humano
minimamente curioso: fé, traição, missão, tortura, apostasia, tudo em nome de
Deus, de Jesus e de Judas, nas visões do Ocidente e do Oriente. Para os que
creem, fica a pergunta fundamental: qual o significado da verdadeira fé?
A analogia de um certo personagem com o evangelista Judas
é fantástica, digna de um José Saramago.
Se o leitor vence alguns trechos mais monótonos, (não
espere literatura de alta qualidade), ele chega ao surpreendente final do
romance, fecha o livro, e pode pensar por um bom tempo. Não é esta mesma uma
das finalidades da leitura?
O prefácio é de Martin Scorsese, que mais recentemente
resolveu fazer um filme sobre o livro.