Mostrando postagens com marcador Sobre a Morte e o Processo de Morrer. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sobre a Morte e o Processo de Morrer. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Áustria aprova eutanásia


Viena (Áustria) / AFP (17 dez 2021) 

 

“O Parlamento da Áustria aprovou nesta quinta-feira (16) que pessoas que sofrem de uma doença grave ou incurável possam fazer eutanásia. 

       Segundo o texto, que teve o apoio geral no Legislativo, com exceção do partido ultradireitista FPO, os adultos em fase terminal de doenças ou que sofrerem de uma doença permanente e debilitadora poderão ter ajuda para pôr fim à vida.

Dois médicos, um deles especializados em medicina paliativa, deverão avaliar cada caso. Eles terão que determinar se o paciente é capaz de tomar a decisão de forma independente.

Além disso, os pacientes deverão esperar 12 semanas até que seja aceita a ajuda ao suicídio, para evitar casos de crises temporárias. Esse prazo será só de duas semanas para pacientes terminais.

Além disso, foi aprovado um orçamento de 108 milhões de euros para os cuidados paliativos, para garantir que "ninguém escolha a morte se existem outras possibilidades".

A eutanásia é legalizada em outros países europeus, como Bélgica, Luxemburgo, Holanda e Espanha. Na América do Sul, apenas a Colômbia permite a eutanásia ativa.”

 

Precisamos discutir o assunto!

 

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/12/austria-legaliza-eutanasia-para-pessoas-com-doenca-terminal-ou-incuravel.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha

 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Pavor e alívio


“Nós, os amigos de Aldir Blanc, não pudemos nos despedir dele. Quando soubemos que fora para o Miguel Couto, Aldir já estava fora do nosso alcance, como acontece com as vítimas da Covid-19. E, quando o transferiram para a UTI e depois para o Pedro Ernesto, nem mais sua família pôde vê-lo. Ninguém, exceto a equipe médica, foi testemunha da luta que, inconsciente, seu corpo travou contra a morte durante 20 dias. Ninguém, exceto os íntimos, pôde levá-lo ao reduto final, e nem mesmo a eles foi concedido um beijo ou olhar de despedida.”

            Assim tem início a crônica de hoje de Ruy Castro, para a Folha de S.Paulo (8 mai 2020), com o título A seguir, os omissos e hidrófobos. Transcrevo apenas o primeiro parágrafo, pois é isso que me afeta profundamente.
Não temo a morte, mas sinto pavor em pensar na experiência final descrita por Ruy Castro. Sair de casa, de minha casa, deixar as pessoas que amo, deixar meus cães, me internar em uma UTI, isolado do mundo, com muita falta de ar, ser entubado, colocado num respirador – sabe-se quanto de consciência me restará nesse momento –, e morrer, longe de tudo e de todos.
Depois de tanto sofrimento, enfim, o alívio.
A dor agora é de quem fica.



sábado, 28 de março de 2020

Terapia desnecessária


Hélio Schwartsman, que não é médico (mas a esposa dele é!), trata hoje de tema fundamental na Medicina, porém relegado a segundo plano por pacientes, familiares e pelos próprios médicos, diante da dificuldade de encarar a morte, e até de falar sobre a morte (Mais que um paliativo, Folha de S. Paulo, 28 mar 2020). Vejamos o que diz Schwartsman:

“Mesmo antes da epidemia, uma falha da medicina brasileira era a pouca atenção dada aos cuidados paliativos. Todo o mundo sabe que vai morrer um dia, mas, por uma série de fatores, esse é um assunto que preferimos evitar, inclusive nos hospitais. O resultado é o prolongamento de esforços terapêuticos para além do razoável, muitas vezes aumentando o sofrimento do paciente e incorrendo em gastos difíceis de justificar.”

O articulista salienta a falta de leitos de UTI em todo o Brasil, o que se torna ainda mais grave nesses tempos de pandemia. Os 47 mil leitos de UTI do país têm taxas de ocupação de 95% no SUS e 80% na rede particular, antes da COVID-19. Assim, “pacientes paliados que já não tenham como se beneficiar de internação devem, até para reduzir o risco de contrair nova moléstia, ser transferidos para casa ou unidades de retaguarda”, afirma Schwartsman.
            Esta é uma realidade antiga em nosso sistema de saúde. Para início de conversa, fala-se muito pouco da morte e do processo de morrer em nossas Faculdades de Medicina. Diante de um paciente terminal, fica mais fácil colocá-lo numa UTI do que conversar com a família, explicar adequadamente a situação, e encaminhar o paciente para casa, com o devido suporte paliativo. Falta habilidade aos médicos para tratar do tema. Falta disposição e coragem aos familiares para encarar a perda de um ente querido.
Ao final de sua crônica, Schwartsman faz uma pergunta importantíssima, sobre outro assunto tabu entre médicos e pacientes: “Como estão os estoques e a distribuição de morfina?” Médicos ainda têm muita dificuldade em administrar morfina mesmo a pacientes terminais, sob a absurda alegação de que “eles vão se viciar”. (Ouvi com frequência esta frase ao longo de minha vida de cirurgião.) Trata-se da negação da morte, sem dúvida, e com ela, o sofrimento desnecessário do paciente.
Muito importante que um pensador do nível de um Hélio Schwartsman traga o tema à baila em artigo de jornal.




quarta-feira, 5 de junho de 2019

Eutanásia aos 17 anos




“Adolescente de 17 anos, traumatizada por múltiplos estupros, morre após pedir eutanásia na Holanda.” Esta a manchete publicada hoje por El País, na reportagem de Isabel Ferrer, (Haya, 5 jun 2019).  Ainda não foi confirmado se ela recebeu ajuda médica para pôr fim à vida.
Noa Pothoven, adolescente holandesa de 17 anos vítima de transtorno de estresse pós-traumático, anorexia e depressão, morreu no último domingo em sua casa, em Arnhem, Holanda. 
Informa Ferrer: “A primeira agressão sexual contra Noa ocorreu quando ela tinha 11 anos, em uma festa escolar. Até então, tinha sido uma menina alegre e com boas notas na escola. Um ano depois, voltou a acontecer, desta vez em uma festa de adolescentes. Quando completou 14, foi estuprada por dois homens em um beco da sua cidade. Na época não contou a ninguém. Só depois denunciou, e sua mãe, Lisette, explicou que reviver o ataque foi demais para sua filha. Desde então, ela sofria de anorexia, e sua vida virou um entra-e-sai de hospitais e centros especializados. Ao comprovar seu estado emocional, os juízes a internaram à força em uma instituição durante seis meses: lá foi imobilizada e isolada para que não se lesionasse. “Nunca, nunca mais voltarei para um lugar assim. É desumano”, disse Noa, tempos depois.”
Ao sair dessa clínica, a anorexia piorou. Sua família denunciou a falta de lugares apropriados na Holanda para casos como o de sua filha, que acabou hospitalizada e com uma sonda nasogástrica.” 
Em 2018 ela publicou um livro, intitulado Ganhar ou Aprender, em que contava sua história. O livro ganhou um prêmio em março passado, e Noa, na época, comentou: “Não sei se continuarei escrevendo”.


 
Capa do livro de Noa Pothoven

“Noa solicitou a eutanásia porque não aguentava mais seu sofrimento. “Serei direta: dentro de dez dias terei morrido. Estou exausta após anos de luta, e parei de comer e beber. Depois de muitas conversas e de uma análise da minha situação, decidiram me deixar ir embora, porque minha dor é insuportável”. "Não vivo há muito tempo, sobrevivo, e nem isso", contou na sua mensagem final. “O amor é deixar ir embora. Neste caso é assim”, acrescentou, aproveitando seus últimos dias para se despedir da família e amigos.”

A eutanásia é legal na Holanda desde 2002, e maiores de 12 anos podem solicitá-la se sofrerem de enfermidades sem cura e padecimentos insuportáveis. Até os 16 anos, é necessária a autorização dos pais. Na Holanda a eutanásia não costuma ser solicitada por adolescentes ou jovens com dores psíquicas, como é o caso aqui relatado. 



domingo, 27 de janeiro de 2019

Suicídio assistido




24 novembro 2015: “O cientista que ajudou a mãe a morrer foi preso e virou voz pró-suicídio assistido” (BBC Brasil).
"Houve grande alívio depois que ela bebeu (a mistura  [18 comprimidos de morfina diluídos num copo dágua]). Então sentei ao lado dela e conversei sobre minhas memórias de infância. Uma hora depois ela perdeu a habilidade para falar e caiu no sono. Eu também dormi, e quando acordei ela tinha morrido", conta Sean Davison, que escreveu um livro para contar a experiência.
Em 2011, Davison foi condenado por homicídio doloso na Nova Zelândia, onde morava a mãe do cientista; a pena foi revertida para crime de incentivo de suicídio, com punição bem mais branda: cinco meses de prisão domiciliar.
Os eventos levaram Davison a se tornar um ativista pró-eutanásia. Ele fundou a Dignity SA, ONG que faz lobby na África do Sul para a criação de uma lei permitindo o suicídio assistido. 
Afirma Davison: "Quando minha mãe estava doente, minha cabeça estava voltada para mantê-la viva, mesmo com sua saúde se deteriorando na minha frente. O dia em que ela me pediu que a ajudasse a morrer foi um choque. Passei dias refletindo sobre o pedido, até que finalmente percebi que a decisão não era minha, e sim de minha mãe. Quem era eu para dizer para minha mãe que ela não poderia morrer e que teria de continuar apodrecendo em uma cama?"
Patricia, a mãe de Davison, era médica, e durante sua agonia recusou tratamento. Ficou paralítica e perdeu o paladar, o que a levou a fazer uma greve de fome para tentar acelerar sua morte. "Ela não conseguia mais ler e pintar, que eram seus principais hobbies, porque também perdeu a habilidade de mover os braços. Quando ela parou de se alimentar e pediu que não a levássemos para um hospital, achei que sua morte seria rápida. Mas cinco semanas se passaram e ela ainda continuou viva." 
“O cientista escreveu um diário relatando a experiência, que enviou para uma irmã. "Ela me disse: 'você tem que publicar isso'. Era um documento do que tinha passado, foi uma forma de lidar com o estresse de tudo o que aconteceu. Minha irmã é assistente social e várias vezes tinha se deparado com casos em que parentes ajudaram entes queridos a morrer. Ela achava que tornar minha experiência pública poderia ajudá-los a ver que não estavam sozinhos".
Porém, outra irmã do cientista não apenas foi contra a publicação como entregou uma cópia do diário para a polícia neozelandesa. 
Afirma Davison: "Não fui julgado apenas pela Justiça, mas pela mídia e pela sociedade. Para aqueles que me criticam, só peço que se coloquem no meu lugar antes de emitir opiniões." 
"A Nova Zelândia é um país muito religioso e o suicídio assistido é uma questão delicada. As pessoas não param para pensar na morte, a não ser na hora em que precisam lidar com ela. Não acho que ninguém precisa deixar de ser preocupar com a vida, mas ter consciência de questões relacionadas à morte é importante", finaliza. 
Mesmo em tempos de fundamentalismo religioso, este blogueiro voltará sempre a este tema.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Direito de morrer em paz


Foi aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo, na última quinta-feira (12), importante projeto de lei que trata da liberdade de escolha do paciente, de receber ou não tratamento no final da vida; em resumo, do direito de morrer em paz.
O PL 231/2018, de autoria do deputado Carlos Neder (PT), se aplica a pacientes dos serviços públicos e privados e depende da sanção do governador para se tornar lei estadual. A expectativa é de que, depois disso, o tema ganhe força para se tornar uma lei federal. É o que informa Cláudia Collucci para a Folha de S. Paulo (18.dez.2018).
“Inspirado em legislações europeias, como da Espanha e da Itália, o projeto avança nas regras de proteção à autonomia dos direitos do paciente e das obrigações médicas, como a informação clínica, o consentimento informado e o direito de o doente dispor previamente sobre suas escolhas em caso de enfermidade terminal e perda da consciência.” 
O projeto paulista não deixa de ser um avanço. “O consentimento informado é uma peça fundamental no exercício da medicina, seja como um direto do paciente em aceitar, negar ou interromper tratamentos, seja como dever moral e legal do médico em respeitar essa decisão, amparado legalmente.” 
Importante ressaltar alguns pontos do projeto aprovado: 

1. A pessoa com uma doença terminal tem o direito de receber, prontamente e por escrito, toda a informação necessária sobre seu diagnóstico, prognóstico e tratamento, adaptada às suas condições cognitivas e sensoriais.
2. Em casos em que essa informação represente grave risco à integridade física ou psíquica do paciente, isso deve ser anotado em seu prontuário clínico de saúde e comunicado às pessoas com vínculo de parentesco, de amizade ou de afeto com o doente.
3. A pessoa tem o direito à tomada de decisão informada, conhecendo toda a informação disponível sobre a sua saúde, durante enfermidade terminal para, em acordo à sua vontade, concordar, recusar ou interromper intervenções e tratamentos propostos pelos profissionais de saúde que visem tão somente prolongar sua vida em razão da existência de determinadas tecnologias ou medicamentos paliativos, sem possibilidade de recuperação de sua saúde.
4. O consentimento informado ou a negativa esclarecida do paciente, livremente revogável a qualquer tempo, deve ser feito de modo documentado, assinado por si ou por seu representante, devendo essa manifestação do paciente ser anotada em seu prontuário para compor a sua história clínica.
5. Quando a pessoa em tratamento não for capaz de tomar decisões ou o seu estado físico ou psíquico não lhe permita conhecer toda a situação e compreender as informações para dar o seu consentimento de modo esclarecido, deverá ser observada a seguinte ordem de representação: a pessoa designada como representante legal; o cônjuge ou o companheiro ou a companheira; os parentes de grau mais próximo, desde que de maior idade; a pessoa que mantém ligação de amizade e afeto com o paciente, de modo reconhecido; a pessoa a cargo de sua assistência ou cuidado com a saúde; na ausência de todos os mencionados acima, o médico responsável pelo cuidado do paciente.

Informa ainda Collucci: “A exemplo do que ocorre na lei italiana, a proposta paulista também avança em fazer valer o direito de crianças e adolescentes em processo de enfermidade terminal. Por exemplo, de receber informações adaptada à sua idade, maturidade, desenvolvimento intelectual e psicológico, além de tratamento médico e cuidados paliativos que ofereçam atendimento de maneira individualizada, e sempre que possível, pela mesma equipe de saúde. Têm o direito ainda de estar acompanhadas o máximo de tempo possível durante sua internação pelos pais, mães ou pessoas que as substituam, salvo quando isso puder prejudicar o seu tratamento. Também devem ser hospitalizadas juntamente com outros menores, evitando o compartilhamento com quartos de adultos.”
Não será fácil a implantação deste projeto, caso seja sancionado, diante da imensa dificuldade da população em lidar com os temas paciente terminal e processo de morrer. As próprias equipes de saúde não estão preparadas para enfrentar certos dilemas, bem como os familiares do paciente.
Em sua coluna de hoje para a Folha (19 dez 2018), O paciente como agente –
Proposta que assegura a doente terminal o direito de tomar decisões está aquém do necessário, Hélio Schwartsman, ao comentar o referido projeto, acrescenta outra dificuldade, de caráter ainda mais complexo: 
“Paradoxalmente, o que mais conspira contra a autonomia são passagens do Código de Ética Médica que, num arroubo de paternalismo onipotente, dão ao médico poderes quase absolutos sempre que ele julgar que a vida do paciente está em risco. Na minha interpretação, normas derivadas diretamente da Constituição prevalecem sobre códigos profissionais, ainda que tenham força de lei federal.”
Conclui Schwartsmam: “É justamente esse conflito que o legislador precisa esclarecer em definitivo, além de regulamentar com mais detalhe os instrumentos através dos quais o paciente pode manifestar sua vontade. A medicina brasileira não pode continuar na era pré-kantiana em que ainda se encontra.”
Caminhamos, porém em passos lentíssimos, nesse mister.





sábado, 22 de setembro de 2018

Corra Lola corra




Primeiro veio Camões, logo em seguida chegou Lola, mesma raça, Yorkshire terrier, de bom pedigree, marrom e preta, cores bem marcadas. Cresceu saudável, forte como uma leoa.
         Pouco maior que o macho, boa parideira, nos deu duas ninhadas, cinco filhotes na primeira, quatro na segunda, Camões o pai de todos eles – isto é certo. Os filhos que sobreviveram, hoje adultos e já com certa idade, estão espalhados por Brasília, um deles no interior de São Paulo. Nina Simone permanece conosco.
         Foram dezesseis anos de alegre companhia, esta a melhor característica de Lola, a alegria. Já bem mais velha, ao chegarmos em casa, ainda vinha Lola com uma bolinha de tênis na boca, pedindo para brincar. (Camões não brincava, era um filósofo.)
         Lola não gostava de crianças. Chegou mesmo a bater o dente – não era bem uma mordida – na bochecha de Gabriela, nossa netinha com três anos de idade, puro ciúme. Mas quando o rapaz entrou na sala para fazer uma entrega, ela pregou-lhe uma mordida na batata da perna que tirou sangue! (Eu não sabia onde me esconder de vergonha; preocupado com Dora lá fora, uma enorme e feroz mastim, descuidei-me de Lola, fiel guarda de nossa casa.)
         Amorosa ao extremo, Lola não gostava de colo, e com isso, nos ensinava a respeitar o jeito-de-ser do outro. Ela amava a seu modo.
         Lola é a perda de hoje. Já perdemos Dora, Berta, Lenda, Camões, e agora Lola. Quanto sofrimento, meu deus, mas não desistimos, cientes de que a vida é mesmo feita de perdas, desde que nascemos. Até na morte essas criaturas tão especiais, os cães,  nos ajudam, nos oferecem a dolorosa experiência de perder alguém muito querido, nos ensinam a aceitar o inevitável, e aprendemos, a duras penas, a suportar o sofrimento. (Esta singela crônica é um bom exemplo de escrita terapêutica. Ao escrever, penso: tristeza mais tristeza não gera necessariamente depressão, e sim uma enorme tristeza. É preciso vivê-la, para superá-la.)
         Há os que preferem não ter cães, para evitar esse sofrimento. Eles não sabem o que estão perdendo. Gosto de repetir que a presença do cão humaniza a família. Aprendemos muito com eles.
         Para nos consolar nesse dia de luto, temos Nina, Blimunda, Falena e Juliete, todas conscientes e igualmente tristes – não há dúvida quanto a isso –, com a morte de nossa querida Lola.
         Obrigado Lola, por sua alegre companhia. 
Corra Lola, corra! 

         

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Eutanásia para doentes mentais

Holanda tem aumento de eutanásia em pacientes com doenças mentais, é o título da matéria publicada na Folha de S.Paulo (28.mai.2018) por João Perassolo (Amsterdã).
O documentário “A Dignified Death”vem sendo exibido na Holanda, estimulando ainda mais a discussão sobre eutanásia no país.
Cada vez mais pacientes com transtornos mentais como depressão, bipolaridade, psicose, transtorno obsessivo compulsivo e estresse pós-traumático solicitam o suicídio assistido. 
Segundo dados do RTE, órgão que regula a prática, a Holanda registrou 83 eutanásias em pacientes psiquiátricos em 2017, um crescimento em relação aos 60 casos de 2016 e mais que o dobro em comparação a 2010. Os números parecem pequenos em relação ao total de mortes por eutanásia na Holanda –6.585 em 2017 –, mas o crescimento chama a atenção.
“Para o psiquiatra Johan Huisman, membro do Conselho Médico da ONG NVVE (Sociedade Holandesa pelo Direito de Morrer, na sigla em holandês), dois fatores são responsáveis pelo aumento. Primeiro, a comunidade médica está cada vez mais aberta em relação ao suicídio assistido de pacientes com distúrbios mentais. O segundo fator é de ordem prática. “Há mais psiquiatras trabalhando para a Clínica do Fim da Vida”, afirma Huisman. Fundada em 2012, a instituição é a responsável pela maioria das eutanásias aplicadas em doentes mentais na Holanda – ano passado, levou a cabo 78% das mortes desse tipo.”
Em vigor desde 2002, a lei do Término da Vida Sob Pedido e Ato de Suicídio Assistido estabelece que um paciente pode solicitar a eutanásia a seu médico desde que passe por sofrimento insuportável e que sua enfermidade não tenha prospecto de melhora, uma vez esgotados os tratamentos possíveis. São os “critérios do devido cuidado”, segundo o site do governo. 
“A legislação não restringe sofrimento insuportável a doenças fisiológicas –como câncer terminal e problemas cardiovasculares, por exemplo. Isso abriu caminho para que, a partir de 2008, pessoas com distúrbios mentais começassem a exigir os mesmos direitos dos outros pacientes.”
Ponto de vista importante é expresso pelo professor Theo Boer, professor de ética na Universidades de Kampen e ex-membro do comitê revisor de eutanásia, que vê essa permissividade da lei como uma “falha legal”. Ele explica que, em alguns casos, o “desejo de morte de um paciente psiquiátrico é um sintoma da doença, e pode desaparecer com o tempo”. Além disso, diz que a opção do suicídio assistido pode desencorajar os pacientes a se engajaram em um processo terapêutico.
Recentemente, Boer publicou um artigo defendendo que a legislação seja revista e se torne mais restritiva, incluindo critérios objetivos para a aplicação de eutanásia –como a proximidade da morte, a exigência de cidadania holandesa e o pedido para que o paciente administre as drogas letais em si próprio. 
         O assunto é extremamente polêmico, e por isso precisa ser debatido.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/05/holanda-tem-aumento-de-eutanasia-em-pacientes-com-doencas-mentais.shtml

terça-feira, 15 de maio de 2018

Superman não salva Lois Lane

  


Quando morre um famoso com 85, 90 ou mesmo 104 anos, como foi o caso do cientista inglês David Goodall, que pediu para morrer, me admiro de como é possível viver tanto mais do que eu, com meus 71. 
Se morre alguém mais novo, como aconteceu ontem com Lois Lane (Margot Kidder), a namorado do Superman, fico pensando como é possível que eu tenha vivido mais do que ela. 
            Que milagre é esse que faz com que eu permaneça vivo nesse mundo de tantas tragédias, de tantas mortes anunciadas pormenorizadamente todos os dias nos noticiários? Tomo alguns remédios, é verdade, fora isso não faço força para permanecer vivo e ainda assim estou vivo.
            Aproximo-me da idade da morte de meu pai. Talvez seja este um limite razoável. Se ultrapassá-lo, poderei experimentar a sensação de ser mais velho que meu próprio pai o foi, estranha sensação que estou a antecipar. Se não alcançar a idade de meu pai, serei para sempre um filho?
            Voltando ao trágico mundo em que vivemos, sou grato à Roda da Fortuna por me ter poupado de facear a morte de um filho, a tragédia das tragédias. Mais uma razão para que eu não abuse da sorte.
            Estas são singelas reflexões sobre a morte e o morrer, tema a que volto repetidamente desde meus tempos de estudante de Medicina, com a diferença de que agora penso minha própria morte.
            Superman não conseguiu evitar a morte do Lois Lane, sua namorada.


quinta-feira, 10 de maio de 2018

David Goodall decide morrer



David Goodall, 104, durante entrevista em Basel, na Suíça
Stefan Wermuth/ Reuters

            
“Eu não estou feliz, eu quero morrer.” 
Foi o que declarou o cientista inglês David Goodall, que aos 104 anos decidiu optar por um suicídio assistido para abreviar sua existência. 
A decisão exige pleno estado de consciência, maturidade, sanidade mental comprovada por profissionais competentes através avaliação criteriosa realizada caso a caso.
Em tais condições, penso que a decisão sobre continuar vivendo ou morrer deve mesmo ser individual, sem qualquer interferência do Estado ou de quem quer que seja. 
Mais difícil é enfrentar o julgamento moral dos que ficam, o que certamente fere a dignidade daquele que decide morrer. 
         Tais ideias e sentimentos expressam minha vontade de decidir sobre minha própria vida, quando chegar minha hora – a hora que eu escolher. Entretanto, antevejo sérias dificuldades, pela tal interferência do Estado e da sociedade.


terça-feira, 7 de novembro de 2017

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Desenho de menino ajuda no diagnóstico

Deu no Catraca Livre:

“Depois de idas e vindas ao hospital e de médicos dizendo à família do pequeno Emre Erulkeroglu, de quatro anos,  que não havia nada de errado com ele, ele fez um desenho que simbolizava sua dor de cabeça. Foi essa representação que impulsou a mãe, Tiffani, a não parar de procurar ajuda.”

        A intensa dor de cabeça de Emre surgiu em 2015 e ele gritava queixando-se de dor cada vez que vomitava. Depois de várias semanas, o menino fez o desenho reproduzido abaixo e a mãe providenciou uma ressonância magnética, que revelou cisto benigno na sua glândula pineal, mas que esta não era a origem de seus problemas.


A saúde da criança deteriorou, ela continuou vomitando, com dores de cabeça, sonolenta. A mãe retornou com a criança ao hospital e após outros testes firmou-se o diagnóstico de um tumor inoperável.

         Em julho de 2013 este blog publicou:



“Parece que as crianças não perguntam o que têm, por uma razão bem simples, segundo Kübler-Ross: elas já sabem! “Todas sabem que têm uma doença terminal, basta saibamos decifrar a linguagem simbólica das crianças”, foi o que ouvi de Kübler-Ross naquela inesquecível conferência, em 1979, aspecto que aqui resumo, lembrando-me do impacto que me causou.
Assim que eram internadas em um hospital geral para
tratamento de câncer, as crianças eram atendidas pela equipe de psicólogos de Kübler-Ross, recebiam papel e lápis de cor, comunicavam-se, enfim, através de seus desenhos. Uma delas desenhou a imagem aqui mostrada (de forma grosseira e incompleta, pois é apenas a lembrança que guardei de uma fotografia revelada por Ross em sua conferência), que foi imediatamente analisada pela equipe.
O médico da criança foi procurado e informado de que o menino de aproximadamente 6 anos de idade estava dizendo que tinha um tumor no hemisfério cerebral direito (?) e que tinha dois anos de vida. Evidentemente o médico não deu crédito a tais informações, com a alegação de que aquilo não era “científico”. Com a investigação clínica, o diagnóstico foi confirmado, a criança foi operada e sobreviveu por dois anos. 


Nessa “conversa”, vamos chamar assim, entre pacientes, médicos, psicólogos e familiares reside o fundamento do apoio a ser prestado à criança doente. Fundamental mesmo, é saber “ouvir” a criança, que muitas vezes pouco se expressa por palavras.
A atenção a ser dispensada à família deve ser redobrada, pois é ela que manifesta de maneira mais veemente todo o sofrimento com a dificílima situação de conviver com um filho doente, e que vai morrer. Uma situação que se vive no limite, penso eu.
Minha experiência pessoal com crianças é muito pequena, e posso apenas registrar aqui minha dificuldade em lidar com elas, quando o assunto é a morte, pelo tanto que me afeta emocionalmente. Posso concluir que a experiência é tudo, em todos os sentidos.”

            O relato atual é bem parecido com aquele de Kübler-Ross. Há muito o que aprender sobre isso.


Foto: The Brain Tumor Charity