quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022
sexta-feira, 2 de julho de 2021
quarta-feira, 7 de abril de 2021
A rua da minha casa em tempos de pandemia
chego até o portão
esperança de encontrar algum ser vivente
não ouço nem mesmo o latido de um cão
o gato malhado se esconde no bueiro
pardais não pousam nos fios de
[eletricidade
as árvores parecem tristes
a rua da minha casa completamente
[deserta
uma caçamba de recolher entulhos
poderia dar sinal de que ainda há vida
[por aqui
nem isso
eu, só
– atrás de grades
Foto: AVianna, abr 2021
quarta-feira, 31 de março de 2021
poema moderninho escrito depois do banho dos passarinhos
quando a cabeça arruína
fica difícil escrever
vou olhar passarinhos
se banharem
na fonte do meu jardim
primeiro banha o amarelo
depois os azuis
eles têm suas regras
que seguem à risca
esse o jeito que inventei
de desarruinar a cabeça
quando não consigo escrever
domingo, 28 de fevereiro de 2021
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
escoa a vida
escoa a vida
me agarro a fiapos
tênues frágeis fios
de esperança
conduzem antes à morte
que à lida
despenco no abismo
habitado por Caos
fundo infindo
por onde escoa a vida
para o mineral
princípio de tudo
sexta-feira, 30 de outubro de 2020
como se fosse
caminho pelo jardim
e vejo as coisas
como se as visse
pela última vez
o mogno gigante
o abacateiro a mangueira o limoeiro
as flores, ah as flores
sabiás bem-te-vís pardais joões-de-barro
brincam à roda de mim
tudo me parece belo
tão familiar que faz parte de mim
velho e novo ao mesmo tempo
acaricio meus cães
como se fosse a derradeira vez
não sinto pena
não sinto saudade
o que sinto é amor
pelo meu jardim
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
em algum lugar de minha juventude
em algum lugar de minha juventude
tempo em que acreditava em Deus
li em Saint-Exupéry
“é melhor descascar batatas pelo amor de Deus
que edificar catedrais”
chegada a velhice
açoitado pela doença e pela peste
tempo em que não mais acredito em Deus
Saint-Exupéry ainda vem em meu auxílio
na cozinha de minha casa
descasco batatas de verdade
coloco-as para cozinhar
tempero com alho cebola pimenta
à espera da companheira
quando ela chega o almoço está pronto
ganho elogios pelas batatas
penso que é melhor descascar batatas
pelo amor à vida que me resta
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
o amolador
o som agudo da flauta
invade a casa
os cães latem
outra vez a flauta do amolador de facas
chega aos meus ouvidos
a me lembrar que a vida continua
a despeito das máscaras
do isolamento
do perigo da faca amolada
no ar a ameaça permanente
da foice amolada
a flauta em silêncio
quarta-feira, 18 de março de 2020
aconchegadamente
de variadas flores e perfumes
sábado, 1 de fevereiro de 2020
morre a grande árvore
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
o tronco e a flor
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
envelhecimento
quinta-feira, 5 de dezembro de 2019
janelas de Sevilha
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Beija-flor repousa
e nossos instintos
sábado, 6 de julho de 2019
ingenuidade
da primeira vez
que a viu de perto
Fotos: AVianna, jun 2019, Mendoza
IPhone8
domingo, 30 de junho de 2019
imensa cordilheira
segunda-feira, 9 de julho de 2018
passantes
quinta-feira, 17 de agosto de 2017
Ainda 30 anos depois
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
terça-feira, 25 de julho de 2017
presença do pai
ainda hoje quando destampo
e todas as coisas