Drauzio Varella, em artigo intitulado Solidão Universal, para a Folha de S. Paulo deste domingo último (20.jan.2019), descreve com precisão, grande capacidade de síntese e estilo literário inconfundível, a sucessão de eventos (improváveis) que nos trouxeram até os dias de hoje.
O tema é fundamental e atualíssimo, na tentativa de fazer frente ao fundamentalismo religioso institucionalizado, que pretende retroceder ao tempo do criacionismo. O antídoto perfeito chama-se Evolução das Espécies, realidade expressa pelas incontáveis pesquisas e descobertas realizadas até hoje.
Eis um resumo do que escreve Varella.
1 . “Estamos sós no Universo. ... Os hominídeos que nasceram nas savanas da África, há 6 milhões de anos, foram frutos de adaptações a mudanças ambientais e eventos aleatórios que jamais se repetiriam em outro corpo celeste na ordem cronológica em que ocorreram aqui.”
2 . Origem da vida na Terra há mais de 3 bilhões de anos.
3 . “As primeiras criaturas semelhantes aos mamíferos não esperaram a extinção dos dinossauros para nascer (como se imaginava), surgiram há cerca de 210 milhões de anos, época em que os cinco continentes ainda estavam unidos, formando a Pangeia.”
4 . “Esses mamíferos primordiais já apresentavam características que reconhecemos familiares: dentes de leite na infância, saliências e sulcos nos molares, pelos no corpo, musculatura mastigatória robusta e cérebros grandes. Eram insignificantes comedores de insetos, pequenos como os ratos, que mantinham hábitos noturnos, cuidado providencial para escapar dos crocodilos e dinossauros que não paravam de aumentar de tamanho na vizinhança.”
5 . “Há 200 milhões de anos, um cataclismo monumental fraturou a Pangeia em diversas áreas. No final, os cinco continentes estavam separados. A atividade vulcânica causou nova extinção em massa, oportunidade aproveitada pelos animais que souberam ocupar os espaços abandonados pelos que se foram; entre eles, os dinossauros e os mamíferos.”
6 . “Cerca de 145 milhões de anos atrás, uma variação anatômica foi decisiva para a sobrevivência dos mamíferos: o encaixe dos dentes entre as arcadas superior e inferior, inovação que ampliou a possibilidade de alimentação mais variada.”
7 . “Ao redor de 100 a 120 milhões de anos, outra surpresa: apareceram as angiospermas, plantas que dão flores e frutos acessíveis a animais com a dentição apta para mastigá-los. Apesar da performance ecológica razoável, esses pequenos mamíferos chegaram perto da extinção por culpa dos dinossauros, brutamontes insaciáveis, acostumados a devorar tudo o que viam pela frente.”
8 . Queda de asteroide de comprimento entre 10 km e 20 km no México, há 66 milhões de anos, o que provocou terremotos, tsunamis com ondas de mais de cem metros e, como sempre, a erupção dos vulcões. Os dinossauros não resistiram, para sorte dos mamíferos que se espalharam e se diversificaram.
“No estado americano do Novo México foi desenterrado o esqueleto de um mamífero que viveu há 63 milhões de anos. É provável que se trate do primata mais velho já descrito, ancestral longínquo dos que desceram das árvores nas savanas da África, há 6 milhões de anos, e começaram a andar em pé com a coluna ereta.”
E Varella conclui: “Vulcões em erupção, placas tectônicas que se chocam nas profundezas, continentes que se separam, árvores que dão frutos, um asteroide que provoca terremotos, tsunamis, incêndios e poluição ambiental astronômica. Faltasse um desses fenômenos, não haveria ninguém para contar essa história ou compor sinfonias.
São tantas e tão complexas as variáveis para explicar nossa existência que fica mais fácil atribui-la a um ser poderoso que tudo criou num passe de mágica.”
Posso supor que haja uma certa intenção na escolha do tema pelo brilhante médico, escritor e articulista, qual seja, enaltecer os conhecimentos até aqui estabelecidos pela Ciência, na luta contra o obscurantismo. Por isso este blog reproduz as ideias por ele expressas.