segunda-feira, 29 de julho de 2013

unha-e-carne


por ciúme ou paixão
Nina não larga o dono
será que pensa que é mais que um cão?

na cozinha

À Mercêdes.

almoço de domingo
prazer de cozinhar
mais uma forma de amar

estética

de
cor
ação

no livro da vida

li
da
dor

puro prazer

flor
i
cultura

Palavratrix, criação de Pedro Cardoso


Palavratrix é mais uma derivação do Poetrix, que ora apresento para que possa ser avaliado e criticado por aqueles que gostam de desafios poéticos. Esta nova modalidade consiste em encontrar palavras, do nosso idioma, que apresentem duplo sentido quando fracionadas em três versos. É preciso que se dê um título ao poema para que ele não perca uma das características fundamentais do Poetrix.

Esses poemas oferecerão uma provocação ímpar aos que gostam das fórmulas múltiplas, tal a complexidade que a parceria trará ao segundo autor, que deverá se ater ao Poetrix base. Nosso idioma, um dos mais belos do Planeta, haverá de nos oferecer instrumentos para a composição desta obra de arte, provavelmente será uma pintura em versos compartilhados.

Para ilustrar o Palavratrix apresento alguns exemplos.

1 - Político

Ser
tão
zinho

A palavra chave é Sertãozinho, nome de uma cidade do interior de São Paulo. Foi a partir dela que me veio a idéia do Palavratrix. Veja que o vocábulo foi dividido em três partes, permitindo ao leitor a construção de uma nova idéia à medida que vai desenvolvendo a leitura dos versos, chegando ao fim, com a imagem de um “ser” zinho incrustrada na memória. É interessante ressaltar a riqueza do nosso idioma que permite que a palavra “Ser” tenha, neste caso, duplo sentido.

2 – Vou

a
mar
te

Neste poema o título é fundamental para o entendimento do texto. Sem ele a compreensão ficaria comprometida e não se perceberia o duplo sentido que a composição oferece: vou a Marte ou vou amar-te.

3 – Moleque

pára!
lê: le...
pí-pe-do

Neste caso recorri à Licença Poética para acentuar a palavra paralelepípedo de modo que a leitura ficasse mais acessível ao leitor e para que o poema tivesse sentido. Recorri também à divisão das sílabas no último verso para que o leitor percebesse que era o aluno lendo pausadamente. Como se ele estivesse mesmo sendo alfabetizado.

4 - Morada dos Deuses

vi
o
lar

Amplidão no mínimo... ambiguidade que instiga... partes independentes... integralidade (in)completa... poesia sintética... sem medo de ficar apenas na essência... que é tudo... que basta... Carlos Eugenio - Vila
Enviado por vila em 01/10/2008 18:19
para o texto: Morada dos Deuses (T1205475)
 
Outros exemplos...

5 – Doce menino

de
moleque

6 – Velocidade máxima

civic
civic
civic

7 - Capricho

pausa
da
mente

8 - Andarilho

Tatu
a

9 - Pintando a Vida

a
cor
dar

          Pedro Cardoso

Haicai ou Poetrix?


Leio com interesse e curiosidade a crítica (enfim, uma crítica!) de Dirce Waltrick do Amarante, escritora, publicada no Caderno 2 do Estadão de sábado último (27/07/2013), cujo título é Contemplação do haicai escapa ao poeta Maluquinho.
            Dirce escreve: “O que parece faltar na maioria dos haicais de Ziraldo é, acima de tudo, algo muito prezado pelos mestres japoneses: a imagem e a suspensão momentânea da linguagem demasiadamente afirmativa. A cena ambígua é o que deve predominar”. E cita um haicai de Ziraldo:

“Falei primeiro.
É um livrinho legal,
Mas falta cheiro.”

            Ao citar Roland Barthes, a autora completa: “A suspensão da linguagem no haicai aparece como uma ‘imensa prática destinada a deter a linguagem, a quebrar essa espécie de radiofonia que se emite continuamente em nós, até em nosso sono’”. Outro exemplo de inadequado haicai de Ziraldo:

“É hilário!
A internet roubou meu prazer
De ler o dicionário.”

            Ao falar da filosofia do haicai, ela acrescenta: “Podemos começar a ver quão profundamente o ser humano, em todos os tempos e lugares, se identifica com o meio ambiente onde vive e com as criaturas que o povoam”. E cita um genuíno haicai, do poeta japonês Kobayashi Issa (1762-1826):

“Ó, caracol do verão,
Você vai devagar, bem devagar,
Ao topo do Fuji!”

            Antes de mais nada, preciso dizer que gostei das duas composições do Ziraldo por ela apresentadas, que aqui reproduzo. Concordo que não sejam haicais, na acepção estrita do termo. Então, são o quê?
            A ideia de Goulart Gomes é dar-lhes o nome de Poetrix! (Leia-se neste Blog, http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2013/07/poetrix-quem-nao-conhece.html ). Já há mesmo um Movimento Poetrix (movimentopoetrix@hotmail.com), onde o leitor poderá se informar melhor.
            Há quem não esteja convencido da nova fórmula (ou forma) literária, e pense que se trata simplesmente de um terceto. De fato, é um terceto o Poetrix, por definição. Mas, ao meu ver, não é só isso. Penso que é difícil empregar o mesmo termo Haicai para as duas composições que se seguem, de Basho e Leminski, respectivamente:

“em profundo silêncio
o menino, a cotovia
o branco crisântemo”
            E:
“cemitério municipal
reina a paz e a calma
em todo território nacional”

            Penso também que ambos os tercetos têm qualidade para figurar em qualquer antologia, de Haicais e Poetrix.
            Carlos Drummond de Andrade chamou de Textos Mínimos estes tercetos, que bem poderiam ser denominados poetrix, pois haicais não o são:

Arte dos 70:
Sacramento
Do excremento.

Arrependido
O ladrão devolveu
Aquele quadro falso do Museu.

Gosto tanto de ir ao teatro
Que por amor ao teatro
Vê lá se vou ao teatro.

            No livro organizado por Rodolfo Witzig Guttilla, Haicai (Companhia das Letras, 2009, em que não aparece o termo Poetrix), estão incluídas  como haicais estas composições do grande José Paulo Paes, que igualmente ficariam bem se classificadas poetrix:

Teoria de  relatividade

devagar se vai longe
mais perto de deus o ateu
que o monge

À bengala

Contigo me faço
pastor do rebanho
de meus próprios passos.

            Segundo Goulart Gomes, “o poetrix é um poema composto de título e uma estrofe de três versos (terceto) com um máximo de trinta sílabas métricas”. 
           Outras informações pertinentes estão em Bula Poetrix ( http://www.movimentopoetrix.com/visualizar.php?idt=1402047 )
            Será que vai pegar?

aqui, agora


compromisso de viver:
hoje tenho vontade
amanhã não sei

leminskiana


em busca da rima
          poeta - confuso e pateta
                     perdeu-se
                                    na
                                         linha

inverno


manhã gelada em Brasília
quem sabe à noite
uma sopa, um bom tinto