segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A casa que Jack construiu




Lars von Trier (Copenhague, 30 de abril de 1956) é um cineasta dinamarquês, vencedor de diversos prêmios de cinema, e que adora polêmicas. Não é um diretor fácil; pertence ao time daqueles que você ama ou odeia. Eu me enquadro na primeira categoria.
          Seu filme Europa (1991) é uma obra prima. Foi vencedor da Palma de Ouro com Dancer in the Dark (2000). Dogville (2003), seguido por Manderlay (2005), Antichrist (2009), Melancholia (2011) e Nymphomaniac (2013), todos foram bem recebidos pela crítica, nem tanto pelo público.
          Em 2018 dirigiu A casa que Jack construiu, com Matt Dillon e Bruno Ganz. É sobre ele que desejo comentar.
          Antes do festival de Cannes começar, o diretor artístico Thierry Fremaux proibiu o longa de participar da competição por ser “muito controverso”. Exibido fora da competição, muitos que compareceram à exibição não estavam preparados para a experiência e mais de 100 pessoas abandonaram a sala de projeção no meio do filme. Ainda assim, o diretor foi ovacionado no final da sessão.
          The House That Jack Built relata a história de um psicopata, interpretado por Matt Dillon, que comete cinco crimes violentos aleatórios, e que prefere matar mulheres. "Os homens já nascem culpados", enquanto "elas são sempre vítimas", ironiza Jack.
          Jack é um psicopata grave, delirante, anedônico, que descobre a certa altura da vida que pode sentir prazer ao matar. Além disso, sofre de transtorno obsessivo compulsivo, o popular TOC, o que acrescenta certa dose de humor à trama, porque depois de cometer um crime ele precisa voltar inúmeras vezes à cena, para conferir se não deixou alguma marca de sangue que não fosse rigorosamente limpa. 
          Em um descampado, ele constrói e em seguida destrói várias vezes os alicerces de uma casa ideal, sempre insatisfeito com o resultado. A metáfora refere-se à sua casa mental, imperfeita, inadaptada à vida social, incapaz de amar. 
          Mais que a morte em si, são as fotos que faz dos cadáveres em posições macabras que o satisfazem; em seus delírios, considera-se um artista.  
          O protagonista narra sua trajetória a um interlocutor, Verge (Bruno Ganz), inspirado em Virgílio, guia do inferno e do purgatório em “A divina comédia” de Dante.  



Bruno Ganz e Matt Dillon.  Foto: Divulgação.
            
Em cenas lentas e monótonas, Jack discorre sobre a alma humana, sobre o papel da arte, fala de uma sociedade indiferente ao gritos de pedido de socorro do ser humano que sofre.  
            Lars von Trier retrata os extremos em seus filmes. Nunca, em minha opinião, um serial killer foi tão bem retratado no cinema, com requintes repugnantes para alguns, como nesse último filme do diretor. A descrição da personalidade psicopática grave é perfeita. 
            Se meu eventual leitor deseja ver o filme, esta é uma pequena preparação. Bom filme.