A manchete do jornal traduz
bem a atitude escandalosa: “Médico chama
a polícia após atender jovem que fez aborto” (Folha de S. Paulo, 21/2/2015).
O doutor Mahmud Daoud
Mourad de início recusou o atendimento. Em seguida, concordou em atender a
jovem de 19 anos que apresentava hemorragia pós-aborto, para logo depois
denunciá-la à polícia. Ao receber alta, a paciente foi conduzida à prisão.
O doutor justificou sua
atitude, informando ter sido “obrigado por lei” a fazê-lo.
Vamos tentar compreender o
possível raciocínio do médico. No Brasil, o aborto constitui crime, exceto nos
casos previstos por lei. Assim sendo, aquela mulher que praticar o aborto é
criminosa. E lugar de criminoso é na cadeia. Simples assim.
A isso chamo de pensamento
religioso. Nada contra religiões ou religiosos com capacidade de pensar. O
doutor pertence ao grupo (que não é pequeno) dos que não pensam, apenas “são
obrigados” a seguir a lei (tanto das homens, quanto de um deus).
Antes de tudo, o doutor é
incapaz de levar em consideração as circunstâncias, tendo ignorado (se é que
soube algum dia) até mesmo sua condição de médico, obrigado pelo Código de
Ética Médica a manter o sigilo profissional. Levar em conta a condição humana,
nem pensar.
Talvez seja este o
indivíduo mais perigoso à sociedade, aquele que obedece cegamente, e portanto, é
capaz de praticar os crimes mais hediondos em nome de uma autoridade superior,
de um ditador sanguinário, ou até mesmo de um deus. Pior, seguro de que está
fazendo a coisa certa.
Não posso evitar de
considerar que a religião torna-se terreno fértil para que floresçam os
“ideais” deste tipo de gente, ao pregar o dogma, que estimula o não-pensar. As
guerras no Oriente Médio, em parte, parecem comprovar tais ideias.