terça-feira, 18 de julho de 2017

A poesia de José Paulo Paes


A esperança: flor
seca mas (acaso
ou precaução?) guardada
entre as páginas de um livro.

A incerteza: frio
de faca cortando
em porções cada vez menores
a laranja dos dias.

O amor: latejo
de artéria entupida
por onde o sangue se obstina
em fluir.

A morte: esquina
ainda por virar
quando já estava quase esquecido
o gosto de virá-las.


José Paulo Paes
Do livro Prosas seguidas de Odes Mínimas
(1922)

***

in memorian

estivesse vivo josé paulo paes
eu lhe enviaria um e-mail
sugerindo que desse o nome ao poema
a laranja dos dias
verso mais lindo
original
saboroso 
como a fruta doce
para dias tão amargos
de artérias entupidas
de sangue impedido de fluir
de facas cortando o frio
de flores secas perdidas
entre folhas esquecidas
de livros dormindo nas estantes
– esperança perdida –
a morte sempre à espreita
na virada de uma esquina
da vida.


***

Em tempo: José Paulo Paes traduziu Ron Padgett; então fui a Paes, cuja poesia me parece superior à do americano, embora também fale das coisas cotidianas da vida, como a laranja dos dias. Presto a ele minha singela homenagem.





Ainda sobre Paterson



Another One
By Ron Padgett 

When you’re a child
you learn
there are three dimensions:
height, width, and depth.
Like a shoebox.
Then later you hear
there’s a fourth dimension:
time.
Hmm.
Then some say
there can be five, six, seven…
I knock off work,
have a beer
at the bar.
I look down at the glass
and feel glad.


Este é um dos poemas escritos por Ron Padgett para o filme Paterson, dirigido por Jim Jarmusch.

Aprendizes



Apaixonaram-se durante as aulas de karatê. Depois da pancadaria, terminavam na cama as lições do amor.