sábado, 17 de abril de 2021

À espera dos bárbaros


 

 

Acaba de estrear na plataforma Mais Apple TV o ótimo filme À Espera dos Bárbaros, adaptação do romance homônimo do Nobel de Literatura J. M. Coetzee (Companhia das Letras, 2006), dirigido pelo colombiano Ciro Guerra.

Um juiz anônimo (Mark Rylance), autoridade única representante de um império não identificado, num povoado localizado em vasto deserto distante, em país desconhecido, vive em completa paz.  A súbita e inesperada visita do sinistro Coronel Joll (Johnny Depp), enviado plenipotenciário do império central colonialista, chega para obter informações sobre uma suposta invasão de inimigos, os povos autóctones – por eles denominados bárbaros.

O coronel pretende descobrir a "verdade", aparentemente oculta pelo pacato juiz, desde logo acusado de conluio com os bárbaros; desde o início da história, fica claro que ele deseja encontrar a verdade que convenha ao império, e a encontra utilizando-se da tortura mais desumana possível. A inesperada violência desconcerta o juiz, homem que vivia ocupado apenas com os achados arqueológicos da região, em particular com tabuinhas cobertas por uma escrita também desconhecida.

O pacato protagonista (cuja interpretação vale o filme), ao não perceber a brutalidade do sistema dominante, busca recuperar o controle do povoado e socorrer aqueles que foram torturados pelo coronel Joll. Ele falha em todas as suas ações, embora siga perguntando “onde está o inimigo”? De tanto procurar, o inimigo acaba aparecendo.

A despeito de tudo que é desconhecido e oculto na realidade apresentada ao expectador, o simbolismo de À espera dos bárbaros é riquíssimo e bastante claro; o filme é uma grande metáfora.

Coetzee é o roteirista que adapta seu próprio livro, empreitada que nem sempre oferece bons resultados, mas que aqui só faz abrilhantar a direção de Ciro Guerra.

À Espera dos Bárbaros nos faz relembrar de maneira inequívoca os malefícios das ideologias totalitárias, quaisquer que sejam suas origens ou tendências. Em outras palavras, para usar bordão atualíssimo, Ditadura Nunca Mais!

       (Inicio hoje mesmo a releitura do romance!)