quinta-feira, 7 de março de 2019

Mangueira e Marielle

A foto do dia



Não consegui até agora identificar o autor.

A chegada


De antemão posso assegurar ao meu eventual leitor que os acontecimentos que passo a narrar são absolutamente verídicos e isentos de qualquer dose de ficção e que esta afirmação é endereçada principalmente a mim mesmo pois custo a acreditar no ocorrido tanto mais ele me retorna à mente – uma lembrança recorrente de quem parece recusar-se a encarar a verdade.
            Meu irmão, e aí reside a chave do problema – trata-se do meu irmão –, chegaria de São Paulo às onze e trinta da noite de uma sexta-feira para passar conosco o fim de semana. Minha agitação começou há duas semanas, de modo que um tempão antes da hora marcada já me encontrava no aeroporto, de olho no painel Arrivals
            E o painel anunciou a confirmação da chegada dentro do horário previsto!
            Tudo bem, agora é esperar, mas eu não conseguia tirar os olhos da porta de desembarque, dos passageiros que chegavam em voos anteriores. Meu olhar desviava-se alternadamente dos passageiros que cruzavam o portão para o painel que marcava a chegada dos voos e ao relógio do meu celular. No painel, o voo do irmão sempre CONFIRMADO. Mesmo assim, minha ansiedade aumentava a cada minuto.
            Landed. Pronto, pousou, agora o olhar não mais se desvia do portão de desembarque, cada face que passa é escrutinada pelo meu complexo retina-cérebro, o coração acelera, a respiração ofegante, a impressão é que aquele desfile de rostos desconhecidos não acaba mais, até que reconheço o irmão. Nos abraçamos efusivamente.
            A primeira conversa é sempre a mesma, O voo chegou cinco minutos adiantado, Então foi bom eu chegar mais cedo, A que horas chegou?, Há quinze minutos (mentira), Ótimo voo, Cansado?, Nada, Deixa eu pagar o estacionamento, mas antes preciso avisar em casa que você chegou, para que o bacalhau vá para o forno.
            E passo a procurar um caixa eletrônico para o pagamento. O primeiro, fora de serviço; o segundo funcionando, lugar escuro, quase meia-noite, leio as instruções com certa dificuldade, coloco o cartão do estacionamento, depois o meu cartão de crédito, senha, sai o comprovante, retiro meu cartão de crédito e vamos embora.
            Então a saga tem início. Andamos quase até o fim do estacionamento e nada de encontrar o carro. Olho de um lado, olho de outro, ando pra-lá-e-pra-cá, encontro-me numa área praticamente deserta, não vejo meu carro e nenhum outro carro, sensação estranha, não sei onde estou, estou perdido, quase pânico, ROUBARAM MEU CARRO!  
Tive a impressão de que o irmão não se impressionou com a retumbante frase, não se abalou nem um pouquinho, como quem não acreditasse no que estava ouvindo, e isso me afetou. Talvez o carro esteja aqui, eu é que não o encontro, pensei, e meu irmão já sabe disso, pensamento que me acalmou. (Liguei para avisar que íamos nos atrasar para o jantar.) Então pude analisar com mais calma a topografia do enorme estacionamento de aeroporto e percebi que estava no lugar errado. (O irmão colocou a mochila no chão e permaneceu calmo imóvel impassível durante todo esse tempo.)
            Ufa! Encontrei o carro. Bagagem no porta-malas, nos acomodamos aliviados, dei a partida em direção à saída, não sem antes ligar para casa e avisar minha mulher que agora estávamos saindo do aeroporto. Parado em frente à cancela, onde o cartão do estacionamento? PERDI O CARTÃO DE ESTACIONAMENTO. PUTA-QUE-O-PARIU!
            Confesso, estava à beira de um surto psicótico. Havia também o constrangimento de obrigar o irmão a passar por todo aquele vexame. A vontade era de arremessar o carro contra a cancela, arrebentá-la, ir para casa, terminar com aquele suplício. Uma câmera bem postada dizia-me que aquela era outra má ideia.
            Procurei o guichê onde havia um funcionário com quem pudesse conversar, expliquei o caso, a senhora que me atendeu pediu documentos, identidade, carteira de motorista – parecia coisa séria –, paguei multa, recebi outro cartão para a saída, liguei de novo para casa para avisar que houve um contratempo, mas que chegaríamos em breve. (O irmão aventou a hipótese de que o cartão do estacionamento ficara esquecido na máquina de pagamento eletrônico, hipótese tão provável quanto inútil naquele momento, atestando apenas mais uma falha de minha memória.) A esta altura eu estava exausto e meu irmão visivelmente espantado com tamanha confusão. Sobre o que pensou sobre tamanho desvario, jamais me disse.
            Em pouco mais de meia hora estávamos jantando a ótima comida preparada por minha mulher, acompanhada de um bom tinto, e pouco se falou sobre o acontecido, que não me sai da cabeça decorrido mais de ano. Uma lembrança recorrente de quem parece recusar-se a encarar a verdade? Medo do tal alemão? Quem sabe este registro – mais uma vez a escrita terapêutica! – possa aliviar o pesadelo.
            

Lei boa

Charge do dia



Vacina e autismo


Por mais absurdo que pareça, ainda se discute a ocorrência de possíveis efeitos colaterais das vacinas, como o autismo.
A tese de que a vacina contra a rubéola, caxumba e sarampo, conhecida como tríplice viral, provoca o autismo surgiu após a publicação de um artigo de Andrew Wakefield, em 1998, no The Lancet. O boato persiste até hoje.
Daí a importância do recente estudo desenvolvido na Dinamarca, envolvendo 600.000 crianças e publicado nesta segunda-feira no Annals of Internal Medicine, como mostra El País de hoje (6 mar 2019), por Carolina Garcia, com o título Vacinas não causam autismo: o mais amplo estudo do tema sai na Dinamarca. 
Os pesquisadores “estudaram as características das crianças e o tempo decorrido desde a vacinação, um total de 657.461 nascidos na Dinamarca de 1999 a 2010, e as acompanharam desde o primeiro ano de vida até agosto de 2013. 
Em todos os casos se avaliou se as crianças foram vacinadas, se tinham sido diagnosticadas com autismo, se havia algum membro da família com esse transtorno neurobiológica ou algum outro fator de risco para o autismo. No total, foram avaliadas mais de cinco milhões de pessoas, das quais apenas 6.517 crianças foram diagnosticadas com a incidência de autismo, dizem os autores, ou seja, 129,7 para cada 100.000 habitantes. 
Não se observou nenhuma diferença entre as crianças vacinadas e as que não eram, e não se verificou nenhum risco adicional para padecer de TEA entre os vacinados.”
“Nossa conclusão é que a vacina tríplice viral não aumenta o risco de sofrer de autismo".
A óptica dos grandes números tem força para estabelecer a verdade.