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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Florence Price

 

 

Florence Beatrice Price foi uma compositora de música clássica norte-americana, a primeira mulher negra reconhecida como compositora sinfônica. 

“Florence nasceu em Little Rock, em 1887, filha de Florence Gulliver e James H. Smith, uma das três filhas de um casal inter-racial. Apesar de esta ser uma época de preconceito e opressão, a família era valorizada e respeitada em sua comunidade. Seu pai era dentista e sua mãe era professora de música, que acabou passando para a filha Florence o gosto pela música e as primeiras aulas. Sua primeira apresentação no piano foi aos 4 anos de idade e sua primeira composição clássica foi aos 11 anos. 

Aos 14 anos, Florence se formou na escola como a primeira da classe se matriculou no Conservatório da Nova Inglaterra, graduando-se em piano e órgão. Em seus tempos de estudante compôs seu primeiro trio e uma sinfonia. Formou-se com honras em 1906, tanto nos instrumentos quanto no magistério. 

Em Atlanta, tornou-se chefe do departamento de música da Universidade Clark Atlanta. Em 1912, casou-se com o advogado Thomas J. Price e se mudaram de volta para Little Rock. Após uma série de incidentes racistas na cidade, até mesmo um linchamento em 1927, a família se mudou para Chicago, onde Florence passou a se dedicar integralmente à carreira de compositora. 

Dificuldades financeiras levaram o casal ao divórcio em 1931, quando Florence se tornou mãe solteira de duas filhas. Para manter a família, ela trabalhou como organista em abertura de filmes mudos e compôs músicas para propagandas de rádio com um pseudônimo. Acabou se mudando para a casa de uma amiga e estudante, Margaret Bonds, pianista e compositora negra. A amizade com Margaret a fez entrar em contato com o escritor Langston Hughes e com a contralto Marian Anderson, duas figuras proeminentes no mundo artístico, que ajudaram a alçar o nome de Florence no meio da música. Junto de Margaret, Florence conseguiu reconhecimento nacional por suas composições e performances. 

Em 1932, as duas submeteram composição para o Prêmio da Fundação Wanamaker, onde Florence ganhou o primeiro prêmio com sua Sinfonia em Mi Menor e o terceiro prêmio com sua sonata para piano, que lhe rendeu 500 dólares na premiação. A Orquestra Sinfônica de Chicago tocou a sinfonia ganhadora de Florence em 1933, tornando-a a primeira negra a ter uma peça tocada por uma orquestra sinfônica. 

Seu trabalho era variado, com sinfonias, música de câmara, consertos para piano e violino, e arranjos para órgão. Alguns de seus trabalhos mais populares são "Three Little Negro Dances," "Songs to a Dark Virgin", "My Soul's Been Anchored in de Lord" e "Moon Bridge". Muitas de suas obras eram marcadas pelos ritmos e melodias das músicas negras. 

Apesar de ter recebido uma educação quase que inteiramente centrada na tradição europeia, a música de Florence adotava o inglês e trazia as raízes do sul dos Estados Unidos na melodia. Compunha com um estilo vernacular, usando sons e ideias que serviam à realidade da moderna sociedade urbana. Sendo bastante religiosa, frequentemente usava as músicas das igrejas negras como material para seus arranjos. Suas melodias eram inspiradas na técnica romântica europeia tradicional, mesclada com tons de blues e jazz. 

Florence faleceu em 3 de junho de 1953, devido a um acidente vascular cerebral. Após sua morte, muitos de seus trabalhos caíram no esquecimento e apenas recentemente foram redescobertos pela comunidade da música. Alguns de seus trabalhos se perderam, mas assim como muitas intérpretes negras estão ganhando notoriedade, também seu trabalho tem sido reconhecido. Em 2001, a Filarmônica das Mulheres gravou um álbum apenas com seus trabalhos.”

 

A Sinfonia n. 1 em mi menor está disponível no YouTube, bem como outras gravações da compositora: https://www.youtube.com/watch?v=9s4yY_A2A2k

 

 


https://pt.wikipedia.org/wiki/Florence_Price

 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

O canto livre de Nara Leão

 


 

O canto livre de Nara Leão é uma série documental recém produzida pela Original GloboPlay, de qualidade excepcional, que não pode deixar de ser vista por todos que viveram o início da Bossa Nova, e pelos que não viveram mas desejam conhecer aquele período fundamental da música popular brasileira. A magistral direção é de Renato Terra.

Os cinco episódios da série oferecem uma imagem quase completa de quem foi a mulher e a cantora Nara Leão (19 de janeiro de 1942 – 7 de junho de 1989), aquela que “não se deixava conduzir por nada nem ninguém”, nas palavras de Chico Buarque, compositor de destaque e amigo pessoal.

Dona de temperamento forte, a despeito da aparência (e da voz) frágil e timidez acentuada, ela tinha posições muito bem definidas tanto naquilo que desejava fazer como artista, quanto na participação da vida política do país. Nara enfrentou a ditadura militar como poucos, com desabrida coragem. Ela e os artistas da época acreditavam que podiam mudar o Brasil... e o mundo (!), através de suas participações culturais, em especial na música popular e no teatro.

Os cinco episódios da série se desenvolvem num ritmo quase lento, sem pressa, 

com fotos raras da adolescência de Nara, com o áudio da primeira apresentação em público da cantora, em 13 de novembro de 1959, na Escola Naval, no Rio de Janeiro. 

      A sequência de pessoas entrevistadas transmite com extrema fidelidade o clima reinante no início do movimento mais importante da música brasileira, a Bossa Nova, do qual Nara foi considerada a musa. Tais entrevistas aconteceram com Chico Buarque, Edu Lobo, Fagner, Maria Bethânia, Marieta Severo, Nelson Motta, Paulinho da Viola, testemunhas da personalidade marcante de Nara Leão. 

       Depois veio o rompimento com a Bossa Nova, desencadeada pela desilusão amorosa com o então namorado Ronaldo Bôscoli. Em seguida veio o estrondoso sucesso de A banda, que Nara cantou em companhia do Chico no festival de 1966. Interessante a participação de Fagner, Dominguinhos (1941 – 2013), Sidney Miller (1945 – 1980) e Nelson Motta.

Quero que vá tudo para o inferno é o título do quarto episódio de série, quando Nara resolve gravar músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e provoca irada reação dos puristas defensores da chamada MPB. Há quem defenda a ideia de que a MPB teria começado com o primeiro LP da cantora, em 1964, com músicas de Baden Powell (1937 – 2000), Cartola (1908 – 1980), Nelson Cavaquinho (1911 – 1986) e Zé Kétti (1921 – 1999). Importante depoimento de Maria Bethânia revela a participação de Nara junto à Tropicália. 

Fiz a cama na varanda é o quinto e sensacional episódio, quando os filhos de Nara – Isabel Diegues é consultora da série –, falam da mãe que recusava shows e entrevistas para ficar em casa em companhia dos filhos. Cacá Diegues, em depoimento emocionado, lembra que foi Nara quem o pediu em casamento e que decidiu ter filhos. 

Os depoimentos de Roberto Menescal, presente em toda a série e com participação decisiva na vida e música de Nara Leão, e dos filhos Isabel e José Bial, que Nara teve com Cacá Diegues, encerram o documentário de forma extremamente emocional. 

       Só resta dizer que Nara não morreu! E que O Canto Livre de Nara Leão é imperdível!


 

https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2022/01/08/nara-leao-ressurge-docil-e-indomada-em-serie-documental-sobre-a-vida-livre-da-cantora.ghtml

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Nelson e os Noturnos




 Nelson Freire grava os Noturnos, de Chopin


Ouça aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=-EX-olyM2U4&list=PLU60dlhvHX0qtaZYd9gXcFE26zJYljk4c


Nelson Freire não morreu!

Algumas postagens sobre Nelson Freire nesse blog.

 

 

70 anos de Nelson Freire

 



https://loucoporcachorros.blogspot.com/2015/01/ainda-nelson-freire.html

 

 


Nelson Freire toca Chopin

 



https://loucoporcachorros.blogspot.com/2015/04/mais-de-nelson-freire.html

 

 


Freire toca Bach

 

 

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2016/07/freire-toca-bach.html

 

 

 

O gênio de Nelson Freire

 

 

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2015/01/o-genio-de-nelson-freire.html

 

 

Morre Nelson Freire

 

Nelson Freire  durante o prêmio Victoires 

de música clássica em Cannes, França, em 2005. 

Pascal Guyot / AFP

 


Carta escrita por José Freire Silva, pai de Nelson Freire, enviada ao filho quando este tinha apenas seis anos, e já “assombrava professores com seu prodigioso talento ao piano”, assinala Sergio Rodrigues em Cartas Brasileiras (Companhia das Letras, 2017).

            Assim José Freire da Silva conclui sua carta:

 

 

“Em junho de 1950, portanto, uma decisão embaraçosa se apoderou de mim e de tua mãe, colocando-nos diante de um dilema de difícil solução. Devemos dar razão ao nosso coração? Permanecer em nossa querida terra? Criando-te como o fizemos com os nossos outros filhos, no ambiente de paz e de concórdia onde se acham localizados os nossos interesses materiais e onde nos prendem os laços mais caros do sentimento familiar? Ou, por outro lado, rumaremos para o Rio, onde o custo da vida é muitíssimo mais dispendioso e o ambiente meio padrasto em infusões afetivas, mas onde as tuas aptidões poderão desenvolver-se ilimitadamente? Depois de muito meditar, resolvemos seguir esta última vereda, entregando nosso futuro a Deus. Cumprindo a nossa obrigação, deslocamo-nos do interior de Minas para a capital da República, com a finalidade primordial de acompanhar-te os passos, porque ainda não prescindias de nossa companhia e de nossa assistência, mas o teu destino, este nós o colocamos na mão de Deus.

Afetuosamente,

 

                                                                            o Papai”

 

 

            Brasil e o mundo mais pobres.

 

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2018/01/aorganizacao-e-do-prolifico-sergio.html

 

sábado, 26 de junho de 2021

Suíte brasileira de André Mehmari

 


 


 

Merece toda a nossa admiração o álbum intitulado AM 60 AM 40, lançado pelo Selo Sesc em 2017, apresentando dois virtuoses nossos compatriotas, o violoncelista Antonio Meneses e o pianista André Mehmari. 

O título do CD faz referência aos 60 anos de Meneses e aos 40 anos de Mehmari. O primeiro nasceu no Recife e foi criado no Rio de Janeiro; o segundo é pianista, compositor, arranjador e produtor musical, nascido em Niterói e criado em Ribeirão Preto. 

O álbum, produzido pelo pianista, traz peças de Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) e do argentino Astor Piazzolla (1921 – 1992). Inclui ainda a parceria de Antonio Carlos Jobim com Vinicius de Moraes.

O ponto alto de AM 60 AM 40 é a Suíte brasileira para Violoncelo e piano, música de altíssima qualidade, composta por André Mehmari. Ela é composta por cinco movimentos, cujos títulos se referem aos ritmos empregados; são eles Prelúdio, Choro-canção, Frevo, Valsa e Baião, aproveitando-se da riqueza da música brasileira. 

Ouso dizer que temos entre nós um outro gênio da música, ainda desconhecido da maioria do povo brasileiro, gente ocupada em ouvir sertanejo universitário, funk, etc. Ele se chama André Mehmari!


quarta-feira, 2 de junho de 2021

Sobre os Noturnos de Chopin


 

“E, porque estava quente, eu me encostara num local de sombra. Ouvi a música que acompanhava a entrada do par na igreja. E a melodia do órgão tinha algo de pungente, algo um tanto avesso àquele ritual, que deveria ser alegre. Contudo, não me emocionou.” 

 

                                           Marçal Aquino

 

O trecho acima faz parte do conto intitulado Num dia de casamento, de Marçal Aquino, publicado em Famílias terrivelmente felizes, na edição primorosa da Cosac Naify (2003). Me chamou atenção a última frase: “Faz muito tempo que uma música não me emociona de verdade.” Há três dias ela não me sai da cabeça. 

A história parece singela: um homem sai de casa num sábado de nuvens pesadas, “calçando sandálias e um pouco magro”, para assistir de longe a um casamento. A música não o emociona. Na saída na igreja, um detalhe da noiva dá sentido ao episódio: 

 

“Uma mecha de cabelo soltara-se do arranjo na cabeça e pendia em sua testa. Como um ponto de interrogação de cabeça para baixo. Talvez a mesma mecha que, alguns anos antes, eu vi balançando no vento que entrava pela janela do ônibus em que viajávamos, depois de deixar um hotel à beira da estrada.”

 

Ao voltar para casa o homem pensou em enviar um telegrama ao amigo analista: “MERDA VG MEU CARO PT”.

            Voltemos à frase sobre a música que não emociona. Penso em duas possibilidades quando a música deixa de emocionar: ou o homem ouve música ruim, de um tipo que definitivamente não agrada, de mau gosto para aqueles ouvidos, ou o ouvinte está tomado por depressão. Não me refiro a episódio de tristeza, por mais intenso que seja; não, falo de depressão doença.

            Quem está triste pode sentir algum alívio a ouvir uma música que o emocione. Os Noturnos, de Chopin, podem exercer tal efeito. Para quem sofre de depressão, qualquer música significa atordoamento, provoca confusão, chega a produzir dor psíquica, seja peça de um Bach, de um Mozart, de um Chopin.

            Faz tempo que nosso homem que vai ao casamento não se emociona com a música. Ao final do conto ele pede socorro ao “amigo analista”, o que pode sugerir que esteja mesmo doente.

            Quem estará doente? O protagonista do conto? (Se verdadeiro, o autor saberá disso?) O próprio autor do livro, cujo título exprime o oxímoro ‘felicidade terrível’? Ninguém está doente? A pergunta também poderá ser dirigida ao próprio leitor: por quê uma frase aparentemente simples de um conto despretensioso permanece três dias na mente do leitor, que chegou a interromper a leitura para pensar em possível significado oculto?

            O leitor não sofre de depressão, porém utiliza-se de experiências anteriores, suas e de outrem, para pensar sobre o efeito dos Noturnos de Chopin em nosso espírito. 

            

domingo, 4 de abril de 2021

Crônica da Sexta-Feira da Paixão

 

Retrato do Pe. José Maurício

pintado por seu filho José Maurício Jr

 

 

Por que nutro profundo respeito pela Igreja Católica? Por seu papel primordial no desenvolvimento das artes, da pintura, arquitetura, escultura e, em especial, da música. Tal sentimento me acompanha desde a infância.

            Fomos criados, eu e meus irmãos, em uma família espírita. Minha mãe, formada professora primária, professava o catolicismo até casar-se com meu pai; converteu-se ao Espiritismo pela via mais improvável, mas esta é outra história. A despeito disso, me lembro bem quando ela me convidou para assistir a procissão da Sexta-feira da Paixão. Eu menino com dez anos, ela conseguiu me atiçar a curiosidade, com dois fortes argumentos:

            – Você vai gostar das músicas cantadas, há uma cantora daqui da cidade com voz lindíssima. E vai conhecer o som da matraca!

            Matraca? Matraca não é uma mulher que fala pelos cotovelos?, pensei eu.

            Não acompanhamos a procissão. Minha mãe escolheu um bom lugar em rua por onde o cortejo passaria e esperamos algum tempo; era noite fechada, o local pouco iluminado, o clima solene, quase lúgubre; a procissão passou, impressionante o andor carregado por seis homens, a imagem recoberta por um pano roxo, me lembro bem depois de mais de 60 anos.

Gostei muito da cantoria, solene imponente majestosa emocionante, a tocar definitivamente a alma do menino. Adorei a matraca, pápápápápápá, embora tenha achado o som muito parecido com aquele produzido pelo homem-do-bijú, tipo de biscoitinho muito popular naquela época, vendido por ambulantes que carregavam às costas um volumoso cilindro de metal com os quitutes.

            Durante toda a Semana Santa as rádios da cidade tocavam apenas música sacra, em sinal de respeito; talvez pouca gente ainda saiba disso. Eu ouvia aquelas músicas e gostava. Ainda gosto, ouço música sacra desde então, não apenas na Sexta-Feira da Paixão; com assiduidade ouço o Réquiem de Mozart, minha preferida, aos sábados pela manhã. (Certa vez ouvi de um amigo, Por que você gosta dessa música tão triste? Sinto-a solene imponente majestosa emocionante, tudo menos triste, respondi.)

            Aprendi com minha mãe a gostar também da música sacra brasileira, ao ouvi-la enaltecer Padre José Maurício, “reconhecido internacionalmente”, segundo ela. José Maurício Nunes Garcia (Rio de Janeiro, 1767-1830) foi um padre católico, professor de música, maestro e compositor, mulato, descendente de escravos, que nasceu pobre, mas recebeu sólida educação em música, letras e humanidades. Foi nomeado mestre de capela da Catedral do Rio de Janeiro no final do século XVIII, tendo caído nas graças do príncipe-regente dom João, grande admirador de seu talento, indicando-o diretor da Capela Real e fazendo-o cavaleiro da Ordem de Cristo. Minha mãe sabia disso tudo.

            A Missa de N. Sra. da Conceição, de José Maurício, foi gravada pela Orquestra Sinfônica Brasileira e Coro Sinfônico do Rio de Janeiro, sob regência de Roberto Minczuk; é das mais lindas que já ouvi.

            Assim é que, ainda hoje, a Sexta-feira da Paixão não é para mim um dia triste. 

            

domingo, 14 de março de 2021

Os Ashkenazy



Vladimir e Dimitri

 

Não canso de repetir: a influência de minha mãe foi decisiva no desenvolvimento de meu gosto musical, sem que eu tenha adquirido qualquer educação formal em música ao longo da vida: sou gratíssimo a ela.

            Pródiga em informações sobre música erudita, quase todas colecionadas como ouvinte da Radio MEC, eu a ouvia falar constantemente de Vladimir Ashkenazy (1937-), virtuose do piano e regente, intérprete de Mozart, Beethoven e outros clássicos.

            Ontem recebi mensagem de minha filha mais velha, a me recomendar o Concerto para clarineta de Mozart, interpretado por um certo Dimitri Ashkenazy, de quem nunca tinha ouvido falar. Belíssimo!

Investiguei: descobri que o homem é filho do Vladimir, hoje com 84 anos: ambos, pai e filho, gravaram o Concerto para clarineta e o Quinteto para piano, clarineta e cordas, obras magistrais de Mozart: especial indicação de minha filha!

Sou mesmo um homem de sorte.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Focos de civilização

Ao meu amigo Sergio Pripas

 

“As condições são muito difíceis. Elas exigem que a gente não se conforme com elas. Nos campos de concentração, Walter Benjamin criava clubes de leitura, de debates. Ele criou um foco de civilização no meio da barbárie. Acho que somos capazes disso. As condições são muito graves e, por isso, elas exigem muito. É hora de começar a inventar. Nós vamos ter que dar o melhor de nós”.

 

As palavras acima são da psicanalista Maria Rita Kehl para o site Tutaméia.

A ideia de criar “focos de civilização” para enfrentar a miséria que vivemos em nosso país me parece essencial. Alguns pensam (sonham) que a humanidade pode estar melhorando ao ser açoitada pela peste; não há evidências de que isso esteja ocorrendo, ao contrário, a violência e o egoísmo prosperam, em um frenético salve-se quem puder. Os espertinhos furam fila de vacinação.

Kehl cita Walter Benjamin, o que é muito apropriado. Penso imediatamente em Olivier Messiaen. Quando a França entrou na Segunda Guerra Mundial, Messiaen foi convocado a servir, e logo capturado pelos alemães; levado ao campo de concentração Stalag VIII A de Görlitz, lá sobreviveu por um ano. Nas condições mais adversas, Messiaen conheceu três outros músicos no campo, um violoncelista, um violinista e um clarinetista, todos manejando precários instrumentos. Com o acréscimo do piano tocado pelo próprio Messiaen, ele compôs o Quatuor pour la fin du temps. A peça foi tocada no próprio campo, na presença de oficiais nazistas e prisioneiros, no dia 15 de janeiro de 1941, sob pesada neve.  Os músicos que participaram da estréia foram Henri Akoka (clarinete), Jean le Boulaire (violino) e Étienne Pasquier (violoncelo). Abaixo, o convite impresso para o concerto, com o carimbo oficial do Campo.

 


 


Olivier Messiaen (1908-1992)

 

            Agora aprendo com Kehl traduzir em palavras fenômeno tão complexo ocorrido em um campo de morte, improvável, quase impossível, e por isso mesmo magnífico: “foco de civilização no meio da barbárie”. 

            Em seguida me veem à mente os atuais concertos da Osesp na Sala São Paulo, os músicos separados por chapas de acrílico, os que podem, incluindo o maestro, usando máscaras, o número reduzido de participantes para evitar aglomeração, oferecendo concertos gratuitos pela Internet, muitas vezes sem a presença de uma plateia. Isso é criar foco de civilização.

            Meu amigo Sergio, a quem dedico este texto, participa de um clube de leitura em São Carlos – SP, em atividade ininterrupta há mais de 25 anos. Outro foco de civilização.

            Acredito que o idealismo e o desejo de difundir a língua pelos esperantistas, dentre os quais meu irmão Paulo, que desempenha papel de destaque nacional e internacional, estejam criando foco de civilização pelo mundo afora. O Esperanto é falado em todos os continentes.

            As chamadas lives oferecidas por instrumentistas e cantores da música popular brasileira são manifestações de resistência contra aqueles que desejam diminuir a importância da arte, e portanto focos de civilização.

            Meu amigo Moisés, artista nato da palavra, ao decidir tirar seus textos da gaveta e torná-los públicos no blog (https://moisestitolf.blogspot.com), para alegria da multidão de fãs que ele carrega vida-a-fora, tratando de filosofia, literatura, poesia, e da vida como ela é, cria mesmo sem saber um foco de civilização.

            Os exemplos são inumeráveis, uns de maior projeção, outros menos, e atenuam de certa forma o estado de barbárie instituído pelo atual governo e seus fanáticos seguidores. Os focos de civilização não precisam de armas de fogo; utilizam-se da palavra, das artes, do livre pensar, do desejo do conhecimento e da informação. 

A civilização haverá de prosperar sempre.               

 

 

https://tutameia.jor.br/e-preciso-criar-focos-de-civilizacao-em-meio-a-barbarie-diz-maria-rita/?fbclid=IwAR3nBH1Ccgo-_C0g3BHL-br4pKce4XSJPuNYpo3w_dyzkC5BuMGBEAhVgDM

 

 

sábado, 30 de janeiro de 2021

Bachiana brasileira n. 1 para 8 cellos

 

Ao final da vida são tantas as coisas para as quais não tenho competência que só me resta lamentar. E de que serve lamentar?

            Uma delas é não tocar um instrumento. Ouço música erudita desde a infância, por influência materna. Meu pai estudou piano; a mãe tocava harmônica – sanfona mesmo. Os filhos não receberam qualquer estímulo para aprender a tocar um instrumento. Talvez não tivessem vocação musical, porque por determinação própria nenhum deles tomou esta iniciativa. Aos 40 anos tentei aprender flauta transversal, achei difícil, desisti. Resta a frustração.

            Ao menos eu poderia escrever sobre música, que continuo ouvindo diariamente. Nem para isso tenho competência. Porém, vez por outra bate a vontade de escrever sobre a Bachiana Brasileira n. 1 para oito violoncelos, de Heitor Villa-Lobos, com o único intuito de convencer o eventual leitor a ouvir esta obra prima.

            A peça é composta de três movimentos. O primeiro, a Introdução (Animato), tem início com os violoncelos apresentando tema complexo, como se estivéssemos ouvindo uma orquestra inteira; seguem melodias fáceis, muito lindas, conjunto que o compositor denominou Embolada. Penso (sinto) que se trata apenas de preparação para o segundo movimento, os cellos terminando em graves profundos.

            Segue-se o Prelúdio (Andante), com o nome de Modinha. A música então se eleva aos céus, é triste, quase ingênua, melancólica mesmo, sublime porque faz aflorar sentimentos de paz, de amor por toda a humanidade. Este segundo movimento contém a essência do que são as Bachianas Brasileiras, com o estilo muito expressivo chamado de “escada”, agudos e graves se alternando continuamente, quando Villa mais se aproxima de Bach. Música grandiosa. (Fica claríssima aqui minha insuficiência literária para descrever tanto a música quanto a emoção por ela despertada.)

            O terceiro movimento (Fuga: Un poco animato) recebe o nome de Conversa. São os cellos alegres, efusivos, vibrantes, alternando agudos e graves, a tal conversa de instrumentos, penso que com a sensação do dever cumprido, após terem tocado o Prelúdio. O final é majestoso!

            A gravação de que disponho é a do The Pleeth Cello Octet, da Hyperíon, de 1987. Me parece magnífica.

            Se porventura esta pobre crônica chegar a algum eventual leitor, espero que ele não deixe de ouvir a Bachiana Brasileira n.1 para oito violoncelos de Villa-Lobos. Que ouça pela vida toda.

            

            

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

250 anos do nascimento de Beethoven





Casa onde Beethoven nasceu, em Bonn, há 250 anos, 

hoje um museu

Foto: Andreas Meichsner/NYT

 

 

 

Piano de Beethoven, exposto na casa onde nasceu, em Bonn

Foto: Andreas Meichsner/NYT

 

 

Por sugestão de meu irmão Paulo, começo o dia ouvindo a Radio Cultura FM São Paulo, que desde à zero hora toca Beethoven. 


Preciso dizer que acho isso tudo emocionante, em especial essas duas fotos da casa onde ele nasceu, tamanha minha veneração pelo homem. Um super-homem, diria Nietzsche. 


É preciso ouvir Beethoven hoje e sempre.


Aos jovens da família, fica a sugestão de uma futura visita à casa dele, em Bonn!

 

https://viagem.estadao.com.br/noticias/geral,roteiro-beethoven-conheca-os-locais-mais-emblematicos-na-vida-do-musico,70003554746

 

terça-feira, 13 de outubro de 2020

O audiófilo, o lutier e o poeta revisitados


Agora que todos já sabem o que significa ser um audiófilo, pelo menos os que leram minha postagem recente, vamos ao contraditório. https://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/10/o-audiofilo-o-lutier-e-o-poeta.html

            Que privilégio possuir ouvido absoluto! Seja em uma sala de concerto, seja ao ouvir boa gravação, o audiófilo que aprecia a boa música – e é claro que ele existe! – é capaz perceber todo o brilhantismo orquestral de Stravinski em Petrushka ou na Sagração da primavera, coisa que orelhas comuns não conseguem. Para ele, os últimos quartetos de Beethoven devem soar como uma grande orquestra de cordas. Se ele escuta o que ninguém ouve, então pode sentir o que poucos sentem. Que inveja eu sinto de quem dispõe de um ouvido absoluto.

 

            Imaginem aquele que possui o dom de construir um instrumento de cordas perfeito! (Há poucos anos foi a leilão pela Sotheby`s uma viola fabricada por Antonio Stradivarius com lance inicial de 45 milhões de dólares.) Todos os grandes virtuoses tocam em instrumentos de mestres luthiers, e os sons que produzem – e que nós ouvimos – não seriam os mesmos se produzidos por instrumentos de qualidade inferior. Mesmo os mortais que nunca tivemos ouvido absoluto nos beneficiamos com a arte de um bom luthier. 

            (Reza a lenda que o grande Yo-Yo-Ma quando viaja de avião leva no acento ao lado seu precioso instrumento de trabalho.)

            Eu gostava de ter sido um luthier.

 

            Quem pode viver sem Poesia?!

            “O poeta é um fingidor”, é verdade, porém ele finge “a dor que deveras sente”. Ao transcrever essa dor em forma de poema ele nos ajuda a suportar nosso próprio sofrimento.

            Ler poesia é aspirar o ar puro da manhã na orla do mar. Ler poesia é a felicidade à mão – quem precisa de mais? Cada um pode escolher seu poeta favorito e passar a vida lendo relendo sorrindo chorando diante de seu poeta favorito, e a cada leitura há de encontrar um poeta favorito diferente. Faço isso com o infinito Carlos Drummond de Andrade, que certo dia vi com “minhas retinas cansadas” andando por uma rua de Ipanema. Como não se emocionar com outro poeta, que afirmou “eles passarão... eu passarinho”? Como poderia eu renegar a poesia se tenho querido irmão grande poeta!

A poesia nunca passará.

 

            Afirma Viviane Mosé em seu brilhante livro Nietzsche hoje (ed. Vozes, 2018), ao comentar as ideias do filósofo sobre a linguagem e as palavras:

 

“A palavra nasce de uma simplificação do mundo, uma redução. Para que a linguagem se tornasse possível, para que o homem aceitasse se relacionar com o conjunto reduzido de signos da linguagem para representar a multiplicidade do mundo, foi preciso que as palavras não remetessem às coisas, mas a outras palavras.”

 

            Bem, no princípio era o Verbo...

 

domingo, 4 de outubro de 2020

Música "brega"





Para início de conversa, uma informação importante:

“O Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) é uma organização sem fins lucrativos sediada em Niterói – RJ que é voltada para a pesquisa, preservação e promoção da Música Popular Brasileira. ...Fundado em 2006, o IMMuB conseguiu mapear e catalogar mais de 82 mil discos produzidos no país. Isto equivale a aproximadamente 580mil fonogramas, reunindo mais de 91 mil compositores e intérpretes. Fruto de 25 anos de pesquisa, a catalogação abrange toda a história da música brasileira, desde a primeira gravação em 1902 até os lançamentos mais recentes. O acervo segue em constante expansão, recebendo centenas de discos, capas e músicas mensalmente.” 

 

No site do IMMuB, o tema do mês de outubro é “Sem vergonha de amar: a música brega”, texto de Tito Guedes.

Preciso confessar algo aparentemente insólito, pois oriundo de quem vive falando de música clássica o tempo todo, ouvindo Beethoven, Bach e Chopin até na hora de preparar o almoço, fã de Ärvo Part, fã da Osesp, esse blá-blá-blá sobre sonatas noturnos trios quartetos sinfonias missas e agora preciso confessar que gosto de música brega, desde que assisti  o filme brasileiro Paraíso Perdido, pela quarta ou quinta vez. E me emociono às lágrimas, choro perdido no paraíso.

Passemos ao texto de Tito Guedes. 

“Talvez um dos termos mais difíceis de se definir com precisão na música brasileira seja o “brega”. Atualmente emoldurado por uma aura quase cult, ele engloba artistas com produções tão variadas quanto WandoReginaldo Rossi, Waldick Soriano, Sidney MagalMarcio Greyck e Lindomar Castilho. O que esses artistas têm em comum é sobretudo a vocação para falar de amor e sentimentos, o apelo popular e uma coleção robusta de hits.”

Gostei da expressão “aura quase cult”! Um estímulo para que eu me afaste um pouco da elite cultural, acadêmica, e me permita gostar tanto do filme quanto da chamada música brega. Além do que, há bregas e bregas. A breguíssima eu não aguento!

Penso que as letras têm forte influência na definição do que é brega e o que não é. O extremo mau gosto de que comumente é que acusado esse tipo de música talvez venha daí. Já as músicas propriamente ditas, já sabemos, são românticas, melosas mesmo, simples, melodias quase infantis, certamente pueris. A tragédia está sempre na letra, é claro, e este é um problema a ser tratado pelos estudiosos da Linguagem.

Alerta Guedes que no brega “cabe samba-canção, balada romântica, música pop, discotèque, bolero, samba, guarânia, tango, rock´n´roll, soul music, ritmos latinos, música cigana, enfim…tudo!” Tudo que for de mau gosto para o gosto da elite, acrescento eu. 

Mas o estilo continuou se desenvolvendo; no Pará e no Recife, surgiu o “brega pop”, como a lambada e o axé; depois veio “brega funk”, revelando “a pluralidade e a força disso que se convencionou chamar de “música brega”.

Guedes enfatiza: “O fato é que esse estilo se consolidou nesses anos todos como um patrimônio afetivo e cultural da música brasileira.” E enumera alguns hits imperdíveis: “Fogo e paixão” (Wando), “Impossível acreditar que perdi você” (Marcio Greyck), “Sonhos” (Peninha), “Eu vou tirar você desse lugar” (Odair José), “Galeria do amor” (Agnaldo Timóteo), “Mon amour, meu bem, ma femme” (Reginaldo Rossi), “Última canção” (Paulo Sérgio), “Você não me ensinou a te esquecer” (Fernando Mendes), tidas como verdadeiros clássicos da MPB. 

Guedes conclui: “O brega seria o que há de mais simples e ao mesmo tempo mais sublime, como um “arroz e feijão com tempero de mãe”... É, enfim, viver sem vergonha de amar e amar sem vergonha.”

A música brega me traz alegria, revira meus sentimentos, de certo modo parece que me faz voltar à adolescência. Eu gosto de música brega.

 

https://immub.org/p/o-instituto

 

https://immub.org/noticias/sem-vergonha-de-amar-a-musica-brega



Em tempo (8 out 2020):


Paulo acrescentou comentário tão adequado ao texto, tão esmerado na forma, que resolvi incorporá-lo aqui:


“São muitos "eus". O que esteve sempre à tona foi aquele que passou a vida a tentar refinar ("educar") o gosto pelas artes - e isso vale para a música, para a pintura, escultura, etc.. Agora é chegado o momento de um certo "eu", que passou a vida envergonhado e escondido num canto da mente. Deixá-lo então vir ao palco, movido por razões do inconsciente, do afeto, das repressões finalmente liberadas, da liberdade afinal conquistada. Este eu, agora desamarrado, pode ter o direito de se expressar, ainda que seja um exercício de fantasia. Por que não?”  


Obrigado, Paulo. 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Osesp volta a Sala São Paulo




Osesp volta a tocar a partir deste sábado, dia 1º, na Sala São Paulo, sem a presença do público. Os concertos serão transmitidos ao vivo pela internet.  Reportagem de João Luiz Sampaio (31 jul 2020) para O Estado de São Paulo.

O primeiro deles vai reunir músicos do Grupos de Metais da Osesp. 

No dia 7, a orquestra volta ao palco para a Sinfonia nº 7 e a Abertura Leonora nº 1 de Beethoven; e no dia 8, para interpretar a Sinfonia nº 5 e a Abertura Coriolano do compositor. 

A orquestra será regida pelos maestros Wagner Polistchuk e Emmanuele Baldini. 

 

 

https://cultura.estadao.com.br/blogs/joao-luiz-sampaio/osesp-volta-a-tocar-na-sala-sao-paulo-sem-a-presenca-do-publico/

terça-feira, 23 de junho de 2020

Original forma de Arte



Grupo se apresenta para uma plateia formada por plantas,
criação do artista espanhol Eugenio Ampudia
Lluis Gene/AFP

A casa de ópera Liceu de Barcelona  (22 jun 2020) realizou concerto exclusivo para uma audiência incomum: suas quase 2.300 plantas.
Os organizadores disseram que a intenção foi refletir sobre o absurdo da condição humana na era do coronavírus, que priva as pessoas de sua posição de espectadores. A criação é do artista espanhol Eugenio Ampudia. (Luis Felipe Castilleja)

“A natureza avançou para ocupar os espaços que tomamos dela, disse Eugenio Ampudio. Podemos ampliar nossa empatia? Vamos começar com arte e música em um grande teatro convidando a natureza a entrar”.
Após o concerto as 2.292 plantas de estufa colocadas em cada assento seriam doadas a profissionais de saúde na linha de frente do combate ao vírus.
O quarteto de cordas interpretou "Chrysanthemum", do compositor italiano Giacomo Puccini. 

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/06/casa-de-opera-reabre-na-espanha-com-concerto-para-publico-formado-de-plantas.shtml

terça-feira, 5 de maio de 2020

Morre Aldir Blanc




O escritor, compositor e músico Aldir Blanc, 
em uma livraria da Tijuca, Rio, em 2006. 
Alaor Filho / AE



Charge de Kleber Sales
Correio Braziliense de hoje

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Stabat Mater


O  Stabat Mater, do latim “Estava a mãe”, é uma prece ou, mais precisamente, uma sequentia católica do século XIII.
Há dois hinos chamados de Stabat Mater: o primeiro é conhecido como Stabat Mater Dolorosa, e fala do sofrimento de Maria ao pé da cruz.  
O segundo é denominado Stabat Mater Speciosa, e se refere ao nascimento de Jesus, de forma alegre. 
A expressão Stabat Mater, porém, é mais conhecida como referente ao sofrimento da mãe de Jesus.
O hino chamado de Dolorosa é um dos mais pungentes poemas medievais, sobre o sofrimento de Maria durante a crucificação. Ele é cantado em honra à Nossa Senhora das Dores. 
Vários autores compuseram sobre o tema Dolorosa, como  Palestrina, Pergolesi, Scarlatti, Vivaldi, Haydn, Rossini, Dvořák, Schubert, Liszt, Verdi e Perosi.
“O Dolorosa era bem conhecido já no final do século XIV e Georgius Stella escreveu sobre a sua utilização em 1388, com outros autores corroborando a afirmação mais para o final do século. Na Provença, por volta de 1399, ele era utilizado em procissões que duravam nove dias."  
          "Como sequência litúrgica, o Dolorosa foi suprimido pelo Concílio de Trento, mas retornou ao missal por ordem do papa Bento XIII, em 1727, na festa de Nossa Senhora das Dores.” 
“O hino mais alegre, Stabat Mater Speciosa ("A mãe permaneceu, bela") apareceu pela primeira vez numa edição de 1495 dos poemas de Jacopone da Todi. Porém, o Speciosa permaneceu praticamente esquecido até reaparecer no "Poètes Franciscains en Italie au Treizième siècle", em Paris. O Speciosa desde então tem sido visto como um dos mais doces hinos em honra a Maria e um dos sete grandes hinos latinos.” 




Recomendo fortemente aos amantes da música sacra que ouçam o Stabat Mater composto em 1985 por Arvo Pärt, autor estoniano. Clique em: 










domingo, 29 de dezembro de 2019

Trio para piano, antes e depois



Ao meu querido leitor Emerson


Não me canso de afirmar que não sou crítico musical; me faltam conhecimentos técnicos para tal. No entanto, gosto de registrar observações quase sempre sobre música erudita – que pretensão, meu deus! –, a música que costumo ouvir, irresponsavelmente. (Acontece que gosto muito de escrever.)
            Sabemos que há duas eras com relação à forma Concerto para Piano e Orquestra: antes e depois de Beethoven. Não há necessidade de explicações técnicas para compreender tal afirmativa; basta ouvir e comparar. E acrescento, “antes e depois” não se restringe ao desenrolar linear do tempo. Beethoven nasceu em 1770 e morreu em 1827; Chopin nasceu em 1818, portanto tinha 17 anos quando Beethoven morreu, e não aprendeu com o Mestre a arte do Concerto para piano. (São interessantes os dois concertos de Chopin – e ainda bastante requisitados pelo público –, mas pecam pela orquestração, já dizia minha mãe Ondina, que os ouvia sob restrições.)
            Bem, depois de ouvir o Trio N.2 em mi bemol maior D919, de Franz Shubert, um contemporâneo de Beethoven, interpretado pelo The Florestan Trio, com seus cinco movimentos, pensei em traçar o mesmo paralelo de excelência, comparando a forma Trio para piano a Beethoven. 
Para tanto, escolho o Trio para piano n.1, op. 70, em ré maior, de Beethoven. Desde o início do primeiro movimento a diferença é gritante: enquanto Shubert privilegia descaradamente o piano – sei que esta palavra há de chocar os puristas, mas como não sou crítico musical e adoro as palavras... – em  detrimento do violino e do violoncelo, Beethoven inicia seu trio com a voz do violino, belíssima, acompanhada do cello – e só depois entra o piano. Piano, violino e cello conversam todo o tempo, cada qual sabedor de seu próprio valor. E ele sabia disso.
No Trio op. 11, em si bemol maior, surge uma novidade: no terceiro movimento Beethovem apresenta um tema, “Pria ch’ l’impegno” sob a forma de Alegretto. Em seguida, ouvimos 9 variações curtíssimas, 30 a 40 segundos cada, sobre este tema. A peça termina com um Alegro. Fica evidente a intenção do compositor em desenvolver e expandir a forma Trio para piano.
Talvez os Trios para piano também possam ser divididos em “antes e depois” de Beethovem.