quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Um mau conselho

Charge do dia


 Nando Motta

O conselho fica ainda pior quando dito por um médico e ministro da saúde!

A crônica vive

 

O bom cronista é aquele que, ao escrever sobre algum gênio do gênero, um Rubem Braga, um Carlinhos de Oliveira, uma Clarice Lispector, é capaz de revelar luz própria e sair da sombra daquele sobre quem ele escreve. Não é fácil, pois o brilho do gênio ofusca, atemoriza, acovarda mesmo; como ele se tornou uma referência, a tendência é de que seja copiado, desastre na certa. 

            A crônica deve ser leve por natureza; ela não pretende aprofundar assuntos, entrar em altas filosofias, descobrir o sentido da vida. Mas não pode se tornar pueril. Não é fácil escrever uma crônica original. Ainda mais que a forma conta muitíssimo.

            Gregorio Duvivier pode ser considerado um cronista da nova geração. Os mais rigorosos diriam que ele ainda está em cueiros nesse gênero literário. Mas hoje ele brilhou sozinho – Rubem Braga sorriu no céu dos cronistas!

            Duvivier publicou hoje na Folha texto com o título Ou Sérgio Porto adivinhava o futuro, ou é o Brasil que nunca saiu do passado. O título está perfeito, antecipa o tema, por si só constitui um aforismo na forma de interrogação.

Escreve ele: “Stanislaw Ponte Preta não foi um personagem nem um escritor, mas uma espécie de espírito zombeteiro que baixou em Sérgio Porto. Incorporado, realizou o sonho oswaldiano: serviu às massas o biscoito fino da autoironia. Devora-me ou devoro-me. Sua antropofagia começava por deglutir a si mesma.”

Ainda: "Se Vinicius de Moraes não fossem muitos, se chamaria Vinicio de Moral" dizia a Tia Zulmira, heterônimo do Stanislaw Ponte Preta, que por sua vez era um heterônimo do Sérgio Porto. Sim, os heterônimos de Sérgio tinham, por sua vez, heterônimos. Quando falava sobre Vinicius, falava sobre si mesmo: devia se chamar Sergius Portos.” 

Duvivier conclui avisando que Álvaro Costa e Silva acaba de lançar "A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta", coletânea de crônicas que poderiam ter sido escritas hoje: “militares locupletados, moralistas de araque, tá tudo lá. Ou era o Sérgio Porto que adivinhava o futuro, ou é o Brasil que nunca saiu do passado”.

Parabéns, Gregório Duvivier!

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2021/12/ou-sergio-porto-adivinhava-o-futuro-ou-e-o-brasil-que-nunca-saiu-do-passado.shtml