segunda-feira, 23 de abril de 2018

Dia de chuva

fotominimalismo




Foto: AVianna, abr 2018, Pirenópolis
Nikon D7200

Aldravia n. 68




ribeirão
de
minha
infância
doce
lembrança


Foto: AVianna, abr 2018, Pirenópolis

Porta & janela

Fotominimalismo




Foto: AVianna, abr 2018, Pirenópolis

Neolítico, uma revolução


Pintura rupestre de uma cena cotidiana com gado no Neolítico,
Tassili n’Ajjer (Argélia).
De Agostini Picture Library (Getty)


A extensa reportagem é de Guillermo Altares (21 Abr 2018), para El País, e assim tem início:

“O Neolítico é o período mais importante da história e um dos mais desconhecidos do grande público. Com a adoção da pecuária e da agricultura foram criadas as primeiras cidades, nasceu a aristocracia, a divisão de poderes, a guerra, a propriedade, a escrita, o crescimento populacional... Surgiram, em poucas palavras, os pilares do mundo em que vivemos. As sociedades atuais são suas herdeiras diretas: nunca fez tanto sentido falar de revolução porque deu origem a um mundo totalmente novo. E talvez tenha sido também o momento em que começaram os problemas da humanidade, não as soluções.”

Há 10.000 anos a humanidade começou a transformar o meio ambiente para adaptá-lo às suas necessidades, o que coincidiu com o crescimento exponencial da população do planeta. Hoje vivemos uma mudança profunda, a passagem para uma nova era geológica, do Holoceno ao Antropoceno, uma mudança planetária imensa. De fato, alguns estudiosos acreditam que esse salto começou no Neolítico.
Escreve o arqueólogo francês Jean-Paul Demoule: “Acredito que é a única verdadeira revolução na história da humanidade. A revolução digital que estamos vivendo atualmente não é mais do que uma consequência de longo prazo daquela. Mas, curiosamente, é a menos ensinada na escola.” 
O antropólogo James C. Scott, afirma: “Podemos dizer sem problemas que vivíamos melhor como caçadores-coletores. Estudamos corpos de áreas onde o Neolítico estava sendo introduzido e encontramos sinais de estresse nutricional em agricultores que não encontramos em caçadores-coletores. É ainda pior nas mulheres, onde identificamos uma clara carência de ferro. A dieta anterior era sem dúvida mais nutritiva. Encontramos também muitas doenças que não existiam até os humanos passarem a viver mais concentrados e com os animais. Além disso, sempre que ocorreram assentamentos de populações, começaram guerras”. 
Scott argumenta que já se utilizava a agricultura e a irrigação antes do nascimento dos Estados, e que diferentes catástrofes como epidemias ou desmatamento, e a salinização do solo fizeram que o “Neolítico fosse um processo de ida e volta e que sociedades agrícolas voltassem a ser caçadoras-coletoras. Durante 5.000 anos passaram de um estado a outro dependendo das condições climáticas.” 
Os historiadores continuam procurando respostas para saber por que a agricultura foi inventada, se nos alimentávamos melhor quando éramos caçadores-coletores. O fenômeno coincidiu com um período de aquecimento global do planeta depois da última glaciação, há cerca de 10.000 anos, e foi um processo gradual que ocorreu em diferentes pontos, levando ao florescimento de civilizações como a etrusca e a romana. A introdução da agricultura e da pecuária foi seguida pelo trabalho com os metais, a fundação de cidades, o surgimento de aristocracias.
Informa Altares: “Quase ninguém mais acredita que houve uma única revolução neolítica que eclodiu no Oriente Médio com a domesticação do trigo e que daí se espalhou a todo o planeta. A ideia mais difundida é que houve vários pontos de partida mais ou menos simultâneos, na China com o arroz ou na América com o milho. Por outro lado, existe a certeza, graças à genética, de que o trigo chegou à Europa por meio das migrações dos primeiros camponeses, em um momento de grandes movimentos populacionais.”  



Vaso campaniforme do Neolítico, encontrado em Sabadell
Phas / Uig / Getty


“Um caso fascinante que ilustra como o Neolítico se estabeleceu é o da cerâmica campaniforme, que se expandiu em grande parte da Europa durante a Idade do Bronze, há cerca de 4.900 anos. A partir da Península Ibérica, especificamente do estuário do Tejo, chegou ao norte e ao leste da Europa, às Ilhas Britânicas, mas também à Sicília e à Sardenha. Além de Portugal e Espanha, essa cerâmica, que não está associada ao uso cotidiano, mas ritual, apareceu na França, Itália, Reino Unido (incluindo a Escócia), Irlanda, Holanda, Alemanha, Áustria, República Tcheca, Eslováquia, Polônia, Dinamarca, Hungria e Romênia. “Sua escala geográfica não tem precedentes no continente até a chegada da União Europeia”, escreve Lalueza-Fox em seu ensaio. Guardando todas as proporções, seu alcance geográfico poderia ser comparado ao de um Tok &Stok do fim da pré-história.”
Conclui Altares: “Nem a genética nem a arqueologia conseguiram desvendar ainda todos os mistérios cruciais que esse período esconde. Também chegou nesse período à Europa o indo-europeu, do qual derivam as línguas faladas por metade da população mundial, um processo sobre o qual ainda existe um intenso debate. A única certeza é que aquela revolução remota mudou tudo e que ainda não acabou.”