quarta-feira, 15 de abril de 2015

bem-vinda!

cerrado agradece
a chuvarada de abril
a seca adiada


Quem não precisa de consolo?




O excelente escritor e psicanalista Francisco Daudt publica na Folha de hoje a crônica intitulada “Consolo” (1), e formula uma pergunta direta e interessante: “E quem, como eu, não tem religião? Como faz para se consolar do desamparo e da solidão?”
            Ele mesmo responde:

“Pois venho conversando com elas, as filosofias, e o que tenho ouvido delas me é de grande consolo. Primeiro foi a escola grega dos estoicos. Um estoico é alguém que simplesmente aceita a realidade que não pode ser mudada. ...Depois foram os céticos. Esses buscadores do conhecimento ("episteme") reconhecem que sua procura não tem fim, já que não chegam a nenhuma certeza absoluta, e sim a verdades funcionais.”

            Ao final, Daudt confessa que precisa de referências. Entenda-se, precisa de consolo, como todos nós, humanos. Não digo que todo o tempo, mas de vez em quando todos precisamos de um colo. Bom admitir isso, pois dá a medida de nossa humana fragilidade.
            Se a religião pode desempenhar este papel para um grande número de pessoas, ótimo! Voltemos à pergunta do cronista: e quem não tem religião?
            Ele citou a Filosofia. Eu acrescento a Arte.
            Dentre as artes, penso que a Literatura pode nos servir de grande consolo. Desde de Sófocles até os contemporâneos, passando indispensavelmente por D. Quixote e William Shakespeare. A lista dos “consoladores” é interminável. Kafka é um grande consolador! (“O Processo” e “O Castelo” indicam claramente que o sentido da vida é a falta de sentido da vida.) José Saramago, idem. Nelson Rodrigues, com a sua “A vida como ela é”, também consola. Cada um de nós tem seus autores favoritos, e esta pluralidade de pontos de vista é bastante saudável (o que não ocorre com as religiões...).
            A Música pode desempenhar o mesmo papel. Se não chega a consolar, acalma, relaxa, tranquiliza, tão prazerosa que é. Estou a pensar em Bach, Mozart, Beethoven, Brahms, Chopin, Villa-Lobos, Arvo Pärt. Há quem prefira outros estilos: nada contra, se o efeito é o mesmo.
            Se as finanças permitirem, viajar para Paris e visitar aqueles maravilhosos museus também será um ótimo consolo, além de comer pato e beber o vinho nacional. (Há quem prefira as churrascarias...)
            Não canso de repetir que, para mim, poder escrever é um grande consolo, pois ajuda a pensar melhor e enfrentar os tais desamparo e solidão a que se refere Francisco Daudt.