segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Resposta a Suzete ao findar o ano


Minha querida Suzete,

não posso deixar de responder ainda nesse ano sua última cartinha, uma gostosura de se ler, muito bem escrita; adorei os “eleven do supremo”, você deve ter assistido o filme Ocean’s Eleven(Onze homens e um segredo), com o George Clooney, bom filme, para aplicar o título à nossa suprema corte tão malfalada hoje em dia.
            Preciso destacar sua sensibilidade, Suzete, capaz de pinçar o haicai mais bonito de todo o Haicais Tropicais! “Desejava varrer o jardim antes de partir” é mesmo um belíssimo verso; o poeta deseja fazer algo bem simples e desimportante antes de morrer, ao mesmo tempo que quer deixar tudo limpo. Simplicidade, desimportância, texto limpo são atributos da boa poesia. O haicai segue tais preceitos.
            Quanto a nossa MPB penso como você: quando a gente pensa que chegamos ao fundo do poço, vem a sofrência...
            Parabéns pelo novo salão de beleza! A ideia de abrir filial em Nova Iorque é maravilhosa. Sinceramente, espero que não precisemos deixar o Brasil, com os recentes ventos do conservadorismo. Confesso que estou meio assustado, mas não completamente pessimista. Faz bem manter viva alguma esperança de que daqui a 30 ou 50 anos a Educação seja capaz de transformar esse país em terra de gente civilizada.
O que me preocupa é o viés religioso que aparentemente se quer estabelecer como regra institucional. Minutos antes de receber o diploma pela vitória, nosso presidente eleito pediu a um pastor que fizesse uma oração para seleto grupo. Comentei o assunto com uma amiga evangélica, e ela me respondeu, Mas que mal há em rezar? Isso só pode fazer bem!  
Penso eu, por que não rezar na intimidade da própria casa, numa igreja, em algum templo seja de que religião for? O Superior Tribunal Eleitoral talvez não seja o local mais apropriado.  (Dirão os que creem, Qualquer lugar é bom para rezar...)
Com tal viés, temas importantes como o aborto, o direito de morrer em paz (http://loucoporcachorros.blogspot.com/2018/12/direito-de-morrer-em-paz.html), a eutanásia, não poderão ser debatidos nesse ambiente fundamentalista. Implicações com certas manifestações artísticas contemporâneas igualmente poderão ser mal recebidas e rejeitadas a priori
Enfim, querida Suzete, vamos esperar para ver.
Encerro minha resposta à sua cartinha com um haicai do meu querido José Paulo Paes, com o título 

Teoria da Relatividade

devagar se vai longe

mais perto de deus o ateu
do que o monge

            Receba o meu afetuoso abraço, com votos de Feliz 2019.

andré



            

Ensinamento precioso


Da crônica dominical de Leandro Karnal, Ouro, incenso e mirra, em O Estado de S. Paulo (23 dez 2018).

“A crença em Deus também amparou minha mãe até o fim. Dentre os muitos erros da minha vida e que me assombram como os espíritos a Lord Macbeth, em noite de angústia dela em meio a uma crise de tosse e temor pela morte, discorri no quarto sobre filosofia e postura racional diante do medo. Eu deveria ter rezado com ela, apenas, abraçado e compartilhado a angústia da nossa finitude. Decidi ser professor em um momento em que ela só desejava um filho e ofereci a objetividade de um cérebro à mãe que suspirava pelo calor de um coração. Aprendi muito, mas, como sempre, depois de ter errado. Amar é pedir e conceder perdão. Arrependo-me, amargamente, da minha insensibilidade.”

Texto irretocável!


Paula debaixo d'água em Papua




















Fotos submarinas em Papua-Nova-Guiné, em dez 2018.
Paula cada vez melhor!