Mostrando postagens com marcador Roteiro para cinema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Roteiro para cinema. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Play it safe in Dulwich

 

Dulwich Park


 

Gostei tanto do curta Play it safe, escrito e dirigido por Mitch Kalisa, cineasta nascido em Rwanda e criado na Inglaterra, que resolvi sugerir ao diretor que transforme seu filme num longa-metragem. A empreitada é arriscada, eu sei, pode acabar estragando o curta e gerando um monstro disforme, perdida assim a tremenda força da mensagem original. Mas o esboço de roteiro está tão bem arrumado em minha cabeça que desejo correr o risco.

            O roteiro está dividido em três partes, que aparecem na tela com letras brancas  e fundo preto, à medida que o filme se desenrola: PRÓLOGO, O INCIDENTE, O DESFECHO. Título do filme:

 

Play it safe in Dulwich

 

            PRÓLOGO

 

            Jonathan trabalha como vendedor em uma loja de discos especializada em música clássica em Dulwich, elegante bairro aristocrata ao sul do Tâmisa, Londres, onde se encontram belas residências, um lindo parque e a Dulwich Gallery, com sua rica coleção de pinturas dos séculos XVII e XVIII. Com bolsa de estudos oferecida pelo British Council, Jonathan é aluno de renomado curso de teatro para atores jovens.

            Ele gosta do emprego, e o salário, além da bolsa, são suficientes para mantê-lo numa vida austera, de poucos gastos; sobra algum para o pub numa manhã de domingo – cena externa alegre, ensolarada, cheia de vida . O que Jonathan mais aprecia é o contato na loja com os clientes do bairro, pessoas educadas, sempre bem-vestidas, amantes da música. O que Jonathan não gosta é que, com frequência os clientes se espantam pelo fato de um rapaz negro conhecer tão bem música erudita.

            Essa primeira parte do filme, com 30 min de duração, mostra pessoas entrando e saindo da loja – atenção para o toque de um pequeno sino sempre que a porta se abrir ou fechar, uma tradição londrina –, pedindo informações ao vendedor, conversando com ele com o sotaque posh dos esnobes britânicos, Jonathan atendendo a todos com elegância e paciência. Às vezes ele perde a paciência com o preconceito que os clientes mal disfarçam, mas engole os desaforos, precisa do emprego; isso o torna um tanto arredio, desconfiado, de espírito prevenido.

 

       O INCIDENTE

 

            Agora entra o curta do Kalisa, com seus 12 min 58 seg de duração, como exposto em postagem anterior desse blog. http://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/10/play-it-safe.html

            

            O DESFECHO

 

            Jonathan aceita o convite dos dois colegas do grupo de teatro e vai à festa. A cena se abre na belíssima residência dos Jonhson, tradicional família inglesa há mais de século residente em Dulwich, cujos pais sempre ausentes permitem que os dois filhos homens, os responsáveis pelo convite, e a irmã adolescente vivam à larga, com dinheiro e arrogância de sobra. 

            Desde logo o racismo se revela explícito, mais uma vez Jonathan é o único negro da festa. Desconfortável, ele se pergunta por que aceitou o convite; os demais colegas do grupo dão gargalhadas estridentes, forçadas, nervosas, histéricas, também de certa forma desconfortáveis pelo que sucedeu na aula passada, embora procurem tratá-lo com naturalidade. As repetidas conversas entre os convivas se arrastam monotonamente por 50 min, a câmara trabalha sempre em close e as expressões faciais revelam a natureza crua, primitiva, rude, daquela gente endinheirada, arrogante, uns cretinos, todos brancos racistas. As cenas de interior são entrecortadas por raras tomadas externas, mostrando os vastos gramados desertos do Dulwich Park, o céu sempre coberto de pesadas nuvens escuras.

            Às tantas, provocante e bela, surge a tal mulher interessada em Jonathan, que o assedia acintosamente. Ele a repele com certa rudeza, o que choca os irmãos donos da casa. Interessado desde que a viu pela primeira vez, Jonathan se aproxima de Christina, a filha dos Jonhson, cujos irmãos percebem imediatamente a relação que se descortina. As cenas transcorrem lentas; drogas, álcool e fumo tornam o ambiente enevoado, taciturno, pesado, malévolo mesmo, prenúncio de um possível crime. Pequena orquestra começa tocando jazz dos anos 50 e 60, termina em rock estridente.

            A relação entre Jonathan e Christina se torna cada vez mais íntima, agarrados num canto do grande salão, e não percebem que estão sendo observados atentamente pelos irmãos da moça, contrariados, cheios de ódio. Aquilo era demais para eles, Quem esse macaco pensa que é?! Peter, o mais velho, se aproxima, separa o casal com brutalidade, expulsa aos berros Jonathan da festa.

            Ao atravessar o grande portão dos jardins da mansão dos Jonhson e entrar no Dulwich Park, deserto àquela hora da noite, na volta para casa Jonathan é brutalmente assassinado a tiros por três homens encapuçados que o esperam no interior de um carro preto.

 

The end

            

segunda-feira, 29 de abril de 2019

É porrada!


Roteiro para curta-metragem


Cenário:

Mesa na calçada de bar –  o conhecido pé sujo – no Bixiga, SP (mas pode ser na Lapa, RJ). Dois homens se encaram, prontos para começar o bate-boca. Um bebe Pitu, o outro groselha. Forma-se uma roda de curiosos em torno da mesa, mas não há ninguém disposto a apartar a briga; todos querem ver o circo pegar fogo.

Cena 1 ( diálogo edificante): 

– Isso é governo de maluco!

– Pelo menos não é de cachaceiro!

– Viado.

– Corno.

– Por que não vai tomá no c*?

– Vai você, seu filho da p*!

Cena 2 (o pau come):

Os dois homens se atracam, puxam o cabelo do outro, mordem o braço perna pescoço, é porrada que não acaba mais, a roda de curiosos engrossa, Ninguém se mete, ninguém se mete!, grita um expectador exaltado, Isso é coisa de homem, isso é coisa de homem!, grita outro sujeito animado com o espetáculo. A cena rola por exatamente 57 segundos.

Cena 3 (epílogo):

Chega curioso desavisado e pergunta: 

– Que furdunço é este?

– Dois marginais desbocados falando de política, mais nada.

CORTA


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Amor de Perdição




Roteiro para longa metragem

Título do filme: Amor de Perdição

Cena de abertura:
Aparente assalto, tiroteio intenso. Quarto todo decorado em vermelho, bastante suspeito. A jovem, bonita, sumariamente vestida, os seios à mostra, leva um tiro no pé. Grita de dor. Os bandidos fogem, resta um cadáver na cama de casal.
(A cena é longa, mais ou menos 15 minutos, sombria, antes de morrer o jovem reage com tiros, rajadas e mais rajadas de metralhadoras varrem a penteadeira, explodem vidros da única janela do quarto, marcas das balas nas paredes.)
(A cidade onde ocorrem estes fatos não é identificada, pode estar em qualquer lugar no mundo.)

2a cena:
Chegada da polícia. O cadáver é removido para o IML. Georgette conduzida ao pronto-socorro para tratar do ferimento no pé.

3a cena:
Dr. Hudson (George Clooney) dá o primeiro atendimento a Georgette (Scarlett Johansson): a bala transfixou o dorso do pé. Será preciso operar, alguns tendões foram rompidos, é preciso suturá-los, o que é feito pelo próprio Dr. Hudson. Georgette mostra-se muito agradecida e ambos trocam olhares cândidos.
(Cenário: sala de cirurgia com paredes azuis e um enorme foco no teto.) (Cena razoavelmente longa, para esticar o filme.)

4a cena:
Com o pretexto de examinar a moça, Hudson vai ao apartamento dela, o mesmo do início do filme, agora recuperado mas ainda decorado em vermelho. Segue-se longa tórrida cena de sexo, porque agora todos os filmes mostram tórridas cenas de sexo logo nos primeiros minutos, não sei bem por quê.
Georgette confessa que é garota de programa. Hudson afasta-se, magoado, mas acaba por sentir pena da garota. (Dr. Hudson é um bom homem, crédulo acima de tudo, além de muito religioso.) Promete ajudá-la no que for preciso.

5a cena:
Georgette em seu novo apartamento, alugado por Hudson. Decoração de bom gosto, discreta, em tons azuis. Mas ela continua “exercendo”, como dizia Jorge Amado.
Hudson e a garota discutem violentamente, ele sente ciúmes, chama-a de PUTA. A cena termina com longuíssimo meloso molhado beijo apaixonado.

6a cena:
Dois dias depois: Georgette liga aflita para Hudson, precisa de um favor urgente. A mãe vai chegar do interior para visitá-la e ela não terá como explicar o padrão de vida que leva, sendo prostituta. Implora a Hudson que finja ser o namorado que a sustenta. Hudson aceita! (Dr. Hudson é um bom homem, crédulo...)

7a cena:
A mãe, Dona Oswaldina (Susan Sarandon), chega. Reencontro feliz entre mãe e filha. Hudson é apresentado com orgulho. A mãe se emociona. A conversa entre eles flui sobre os mais diferentes assuntos.
Georgette serve fino jantar, regado a vinho branco e coca-light (Hudson só bebe coca-light à temperatura natural).
(Chegamos ao ponto central do drama. Os atores devem caprichar nas respectivas interpretações. Os diálogos devem ser rápidos e interessantes. A mãe lança olhares repletos de desejo para o genro. Georgette acha graça e Hudson mostra-se constrangido. Percebe que entrou numa fria... O jantar termina bem, porém persiste uma sombra de dúvida no olhar de Hudson.)
Depois de uma semana Dona Oswaldina despede-se agradecida e orgulhosa da filha, e volta para casa.

8a cena:
Georgette resolve deixar a vida fácil. Pede que Hudson se case com ela, agora de verdade, convite que é recusado com muito cuidado para não ferir os sentimentos da moça. A cena termina com um beijo delicado, em meio às lágrimas de Georgette.

9a cena:
Seis meses depois Georgette, pelo celular, pede socorro a Hudson, pois foi despejada do apartamento por falta de pagamento de aluguel, já que manteve a decisão de não mais prostituir-se. O resultado é que se encontra na miséria.
Hudson recusa o pedido de socorro, mas ao desligar o telefone tem intensa crise de consciência (cena que exigirá forte desempenho por parte de George Clooney).

Cena final:
Georgette, malvestida, sentada na areia, fuma um cigarro, o olhar perdido no horizonte, vê as ondas quebrarem na praia. Ao final, a câmera fixa-se nas volutas imagens da fumaça do cigarro.

Observação: Exceto a primeira cena, as outras são bem lentas,  para esticar o filme, o que será chique.


FIM


Em tempo: o filme foi dirigido por P. Viana e recebeu avaliações desfavoráveis de crítica e público.

quinta-feira, 23 de março de 2017

José e Maria: roteiro para curta-metragem


Cena 1:

José e Maria, gêmeos, 3 anos de idade, brincam debaixo do chuveiro; é uma verdadeira festa, jogam água para fora da banheira, enchem a boca de água e espirram um no outro, há muitos brinquedos de plástico boiando na banheira, patinhos, cachorrinhos, vaquinhas, até livros à prova d’água; José joga o cachorrinho em Maria, Maria atira a vaquinha em José. A cena traduz a completa felicidade infantil.

        (Surgem respingos na lente da câmera.)

De repente, João, o pai, médico, homem sério, honestíssimo, severo, amoroso contudo, entra no banheiro e anuncia com voz solene:

– De agora em diante os banhos deverão ser mais curtos porque está faltando água no Planeta Terra!

José e Maria entreolham-se com espanto.

Cena 2:

Sônia, a mãe, igualmente médica, séria, honestíssima, também severa, amorosa contudo para com os filhos, prepara o jantar.
José e Maria entram na cozinha e o menino pergunta, timidamente:

– Mamãe, posso beber água, mas só um pouquinho, porque está faltando água no Planeta Terra?

Agora é a mãe quem se espanta.


CORTA.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Três Yorkshires e uma Shih Tzu ou Pequena encenação de Natal

Roteiro para um curta de animação



Nina Simone    – Vocês viram a grande novidade?
Lola                 – Que novidade?
Camões             Eu não soube de nada.
Nina Simone    – O que disse o Papa!
Camões           – Disse o que?
Nina Simone    – Para consolar um menino que perdeu seu cão ele
                            disse, “O paraíso está aberto a todas as criaturas
                            de Deus".
Lola                 – Minha nossa senhora!
Camões            – Eu não falei que nosso dia ia chegar!
Nina Simone    – Mas quem disse que vocês vão para o Céu depois
                            que morrerem?!
Lola                 – Mas o Papa falou que há Inferno para os
                           cachorros?
Nina Simone    – Bem, isso ele não falou, mas se há Céu...
Lola                    E Purgatório, será que há?
Nina Simone    – Carteiros não deve haver, ou não seria um Céu...
Lola                  – O Papa Francisco que me perdoe, mas também
                           não gosto de carteiros.
Camões            – Não vamos complicar as coisas
                        : nunca desejamos o mal a ninguém;
                        : somos fieis aos nossos donos;
                        : nosso amor é incondicional;
                        : somos obedientes;
                        : vigilantes;
                        : raramente fazemos xixi ou cocô pela casa;
                        : não roemos os sapatos da mamãe;
                        : latimos quando toca a campainha porque o papai
                          não escuta;
                        : não brigamos com as cachorras grandes [Lenda,
                         Juliette e Falena];
                        : nem com a gata [Albiera];
                        : somos asseados, tomamos banho toda semana;
                        : sentimos muito ciúme da Gabriela [a netinha], 
                          mas acho que isso nem é pecado;
                        : somos uma matilha, porém incapazes de uma
                          cachorrada;
                        : somos a alegria da casa;
                        : então, é certo que vamos para o Céu.
Nina Simone    – Acho que concordo...
Lola                 – Viva o Papa Francisco de Assis!
Todos              – Vivaaaa!

(Blimunda apenas late de alegria, nada fala, porque com 4 meses de idade ainda não sabe falar, mas não pode ficar fora deste filme.)