Oásis de vegetação na África
Foto: Monica Nobrega/Estadão
O biólogo Fernando Reinach, em artigo para O Estado de S.Paulo (6 out 2018), Oásis na Savana, destaca que há milhares de anos, no período neolítico, o homem conseguiu melhorar o ambiente em que vivia, deixando marcas que podem ser observadas até hoje.
Afirma Reinach: “As Savanas africanas, onde pastam os grandes herbívoros e vivem os grandes carnívoros, têm um solo extremamente pobre, que sustenta uma vegetação rala. Florestas e campos luxuriantes são raros. Mas se você observar a região com um satélite vai descobrir milhares de círculos de aproximadamente 100 metros de raio onde a vegetação é luxuriante, e pequenas florestas podem ser vistas.”
Muitos desses círculos têm pequenos vilarejos habitados por criadores de gado e outros herbívoros, contendo um curral onde o gado é recolhido durante a noite. Naturalmente, as fezes do gado tornam o solo mais fértil. Porém, há um número muito maior desses círculos que o esperado pela quantidade de habitantes que existe na área.
Agora surge o fato mais interessante: os cientistas decidiram escavar exatamente onde estavam esses círculos férteis não ocupados. O resultado foi surpreendente, afirma Reinach: “Em quase todos esses locais, foram descobertas ruínas de povos pastorais da época neolítica (1,5 mil a 3,7 mil anos atrás), o que indicava que talvez esses locais fossem os currais das culturas neolíticas da África. Mais interessante é o fato de que nesses locais não se acharam indícios de ocupação recente, o que indica que essa ilha de fertilidade teria sido criada por seres humanos milhares de anos atrás.”
A presença de seres humanos do neolítico fertilizou essas ilhas de terra, resultando em aumento da biodiversidade, atraindo mais herbívoros, árvores e pássaros.
Conclui Reinach: “É boa notícia, que reforça a ideia de que as intervenções humanas não são obrigatoriamente destrutivas. Quem poderia imaginar 2 mil anos atrás que um curral cheio de fezes iria se transformar em um luxuriante oásis?”
O que chamou a atenção deste blogueiro foi a fantástica ideia dos cientistas de escavar exatamente nos oásis inabitados, em busca de algo que ignoravam completamente. Encontraram vestígios de povos pastorais.
Lembrei-me de minha experiência no hospital King’s College, em Londres, nos anos 80. Quanto os pesquisadores, médicos e cientistas, sentavam-se para o chá – acompanhado de insípidos biscoitos –, pela manhã e à tarde, a conversa entre eles era quase sempre sobre pesquisa. Surgiam ideias brilhantes, às vezes mirabolantes; eles não estavam preocupados com a viabilidade dos projetos, apenas exerciam a arte de pensar sobre Pesquisa. Muitas ideias eram aproveitadas e desenvolvidas pelos 50 componentes da Unidade de Fígado do hospital, quase todos estrangeiros. A conversa era sempre enriquecedora. Penso que isso faz a diferença.