segunda-feira, 2 de abril de 2018

Doutorado pode enlouquecer


Artigo assinado por Pablo Barrecheguren, para El País (26 mar 2018), traz o título O doutorado é prejudicial à saúde mental, o que, afinal, eu já sabia.
            Trabalho recente publicado na Nature Biotechnology revelou que os doutorandos são seis vezes mais propensos a desenvolverem ansiedade e depressão em comparação a população geral. Ainda segundo o mesmo trabalho, dirigido por Nathan Vanderford, da Universidade de Kentucky (EUA), isto significa que 39% dos candidatos a doutor sofrem de depressão moderada ou severa, frente a 6% da população geral.
Diz ainda o artigo de Katia Levecque, da Universidade de Gent, que reuniu amostra de 3.659 doutorandos de universidades flamengas: 41% dos doutorandos se sentiam sob pressão constante, 30% deprimidos ou infelizes, e 16% se sentiam inúteis.
Levecque afirma que o “desenvolvimento desses sintomas é independente da disciplina do doutorado, sejam ciências, ciências sociais, humanidades, ciências aplicadas ou ciências biomédicas. Não ocorre o mesmo quanto ao gênero, já que as mulheres que fazem doutorado têm 27% mais possibilidades de sofrerem problemas psiquiátricos que os homens.”
(Até aqui nenhuma palavra sobre o orientador, pensei eu.)
Eis que: “Outro fator que pode influir na saúde do estudante, nesse caso tanto negativa quanto positivamente, é o tipo de orientador: a saúde mental dos doutorandos era melhor do que o normal quando tinham um mentor cuja liderança lhes inspirava. Pelo contrário, outros estilos de liderança eram neutras, ou no caso dos orientadores que se abstinham de dirigir ou guiar o doutorando — um tipo de liderança laissez-faire — seus orientandos tinham 8% mais chances de desenvolverem sofrimento psicológico. Mas, além do estilo de liderança, há outros fatores importantes, como o nível de pressão no ambiente profissional, o próprio controle sobre o ritmo de trabalho ou quando fazer pausas, que também estão relacionadas com o orientador. Por isso o orientador é relevante tanto direta como indiretamente para a saúde mental dos doutorandos”, afirma a pesquisadora.
A conciliação familiar é outro tema importante, já que, quem tem uma situação conflitiva na família apresenta 52% mais chance de desenvolver um problema psiquiátrico. E o mesmo ocorre com a carga de trabalho, que pode chegar a aumentar em 65% a aparição de distúrbios psiquiátricos.
            Poucos meses antes que eu saísse do país, nos idos de 1980, para o doutorado, chegou a notícia de que um colega nosso, após permanecer quatro anos na Inglaterra, voltou sem o seu diploma. Em consequência, foi constrangido a deixar a universidade.
            Este foi, para mim, o fator de maior estresse durante todo o processo, quando eu pensava na possibilidade do retorno sem o título pretendido. Verdadeiro pesadelo.
            Teria muito a relatar sobre minha experiência pessoal, mas não sei se já estou preparado para tanto, decorridos mais de trinta anos de meu retorno ao Brasil. Consequência do trauma.