Artigo assinado por Pablo Barrecheguren, para El País (26 mar 2018), traz o título O doutorado
é prejudicial à saúde mental, o que,
afinal, eu já sabia.
Trabalho
recente publicado na Nature Biotechnology revelou que os doutorandos são
seis vezes mais propensos a desenvolverem ansiedade e depressão em comparação a
população geral. Ainda segundo o mesmo trabalho, dirigido por Nathan
Vanderford, da Universidade de Kentucky (EUA), isto significa que 39% dos
candidatos a doutor sofrem de depressão moderada ou severa, frente a 6% da
população geral.
Diz ainda o artigo de Katia Levecque,
da Universidade de Gent, que reuniu amostra de 3.659 doutorandos de
universidades flamengas: 41% dos doutorandos se sentiam sob pressão constante,
30% deprimidos ou infelizes, e 16% se sentiam inúteis.
Levecque afirma que o “desenvolvimento
desses sintomas é independente da disciplina do doutorado, sejam ciências,
ciências sociais, humanidades, ciências aplicadas ou ciências biomédicas. Não
ocorre o mesmo quanto ao gênero, já que as mulheres que fazem doutorado
têm 27% mais possibilidades de sofrerem problemas psiquiátricos que os homens.”
(Até aqui nenhuma palavra sobre o
orientador, pensei eu.)
Eis que: “Outro fator que pode
influir na saúde do estudante, nesse caso tanto negativa quanto positivamente,
é o tipo de orientador: a saúde mental dos doutorandos era melhor do que o
normal quando tinham um mentor cuja liderança lhes inspirava. Pelo contrário,
outros estilos de liderança eram neutras, ou no caso dos orientadores que se
abstinham de dirigir ou guiar o doutorando — um tipo de liderança laissez-faire —
seus orientandos tinham 8% mais chances de desenvolverem sofrimento
psicológico. Mas, além do estilo de liderança, há outros fatores importantes,
como o nível de pressão no ambiente profissional, o próprio controle sobre o
ritmo de trabalho ou quando fazer pausas, que também estão relacionadas com o
orientador. Por isso o orientador é relevante tanto direta como indiretamente
para a saúde mental dos doutorandos”, afirma a pesquisadora.
A conciliação familiar é outro tema
importante, já que, quem tem uma situação conflitiva na família apresenta 52%
mais chance de desenvolver um problema psiquiátrico. E o mesmo ocorre com a
carga de trabalho, que pode chegar a aumentar em 65% a aparição de distúrbios
psiquiátricos.
Poucos
meses antes que eu saísse do país, nos idos de 1980, para o doutorado, chegou a
notícia de que um colega nosso, após permanecer quatro anos na Inglaterra,
voltou sem o seu diploma. Em consequência, foi constrangido a deixar a
universidade.
Este
foi, para mim, o fator de maior estresse durante todo o processo, quando eu
pensava na possibilidade do retorno sem o título pretendido. Verdadeiro
pesadelo.
Teria
muito a relatar sobre minha experiência pessoal, mas não sei se já estou
preparado para tanto, decorridos mais de trinta anos de meu retorno ao Brasil. Consequência
do trauma.