sexta-feira, 31 de julho de 2020

Osesp volta a Sala São Paulo




Osesp volta a tocar a partir deste sábado, dia 1º, na Sala São Paulo, sem a presença do público. Os concertos serão transmitidos ao vivo pela internet.  Reportagem de João Luiz Sampaio (31 jul 2020) para O Estado de São Paulo.

O primeiro deles vai reunir músicos do Grupos de Metais da Osesp. 

No dia 7, a orquestra volta ao palco para a Sinfonia nº 7 e a Abertura Leonora nº 1 de Beethoven; e no dia 8, para interpretar a Sinfonia nº 5 e a Abertura Coriolano do compositor. 

A orquestra será regida pelos maestros Wagner Polistchuk e Emmanuele Baldini. 

 

 

https://cultura.estadao.com.br/blogs/joao-luiz-sampaio/osesp-volta-a-tocar-na-sala-sao-paulo-sem-a-presenca-do-publico/

quinta-feira, 30 de julho de 2020

4 aldravias do Moisés


1.

 

domingo

corpos

levam

olhos

para

passear

 

 

2.

 

infância

ócio

sem

tédio

ou

culpa

 

 

3.

 

térmicas

tingem

céu

de

asas-delta

agosto

 

 

4.

 

fulano

presente

sicrano

presente

futuro

faltou

 

 

                        Moisés Lobo Furtado

                        (que dispensa apresentação)

Por quê?


Nunca soube por quê, mas quando de madrugada a lua aparecia na janela de seu quarto, vinham-lhe lágrimas aos olhos.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

O tamanho do ego


Virtuose de fama internacional, pediram-lhe que falasse sobre as sonatas para piano de Beethoven. Saiu apenas uma autobiografia capenga.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Moças altas


"Tinha algo do aspecto indefeso das moças altas."
Guillermo Martínez


A frase escrita por Guillermo Martínez em seu romance Crimes imperceptíveis não de deixa em paz.
            Dois dias antes de ler Martínez – portanto não poderia ter sofrido qualquer influência dele – tive um sonho.
            Sonhei que passava férias na praia, junto de minha família, quando conheci duas meninas da mesma idade que eu, duas amigas hospedadas na mesma pensão barata, pequena, aconchegante, que facilitava encontros. O que diferenciava as amigas logo à primeira vista era a diferença de estatura entre elas, Lúcia mais baixa do que eu, e Beatriz com seu 1 metro e 80. 
            Beatriz me fascinava, mas acabei namorando Lúcia. Às escondidas, flertava com Beatriz; ora era correspondido, ora solenemente desprezado. Eu era feliz com Lúcia, menina delicada, inteligente, gostava de leituras, primeira aluna da classe. Beatriz não era nada disso, mas sua altura me fascinava. 
            Dentro do sonho tive um outro sonho. Sonhei que passeava pela praia com Beatriz, ela com seu braço direito por sobre meu ombro, me envolvendo com um abraço, a enlaçar meu pescoço carinhosamente. Era a felicidade!
            Dois dias antes de terminarem as férias – voltando ao sonho original – briguei com Lúcia. Criei coragem e me declarei a Beatriz: É de você que eu gosto! Foram dois dias de namoro intenso, quando descobri que Beatriz estava apaixonada por mim, mas nunca teve coragem de demonstrar seus sentimentos. Beatriz era alta, porém frágil e indefesa.
            Concluo afirmando que Martínez viveu experiência semelhante à minha, não sei se em sonho ou na vida real, o que, afinal, pouco importa.

Petreas




branco e lilás
são as cores da petrea
cores de inverno


Foto: AVianna, jul 2020.

domingo, 26 de julho de 2020

Moças altas

Frase do dia


"...tinha algo do aspecto indefeso das moças altas."



                                    Guillermo Martínez
                                    Crimes imperceptíveis (Ed. Planeta, 2004)


Aldravia N.89




luz
fria
do
sol
de
inverno


Foto: AVianna, jul 2020, iPhone11

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Aldravia N.88




por-do-sol
no
cerrado
incêndio
no
céu


Foto: Mercêdes Fabiana, mar 2016.

Última visita

Foto do dia




“A história do homem que escalou as paredes de um hospital palestino em Hebron, na Cisjordânia, para visitar a mãe internada por Covid-19 — ela acabou morrendo pela doença — emocionou o mundo.
Jihad Al-Suwaiti, de 30 anos, pediu que as pessoas se cuidassem para que não passassem pela mesma dor que ele sente.”



sábado, 18 de julho de 2020

Nova geração

Galeria de Família



Céu, mar e por do sol são ingredientes infalíveis para uma boa fotografia. A imagem acima revela também a presença de três personagens, das quais se destaca a menina que segura o celular para fazer seu próprio registro do por do sol em Búzios. 
            A menina chama-se Gabriela, minha netinha de 9 anos. Reconheço-a pelo porte e pelo cabelo. O homem atrás dela possivelmente é seu pai. É quase certo que a autora do instantâneo seja minha filha Paula. 
            Desde crianças minhas filhas, Cecília e Paula, me veem com uma câmera nas mãos. Pouco aprendi sobre fotografia, faltou-me arte. Mas o gosto por esta mesma arte, consegui transmitir às filhas, e parece que à neta. 
            Ciça fotografa seus gatos e cachorros várias vezes por dia. Paula tornou-se premiadíssima fotógrafa-sub profissional. Eu, em tempos de pandemia, me distraio em meu jardim.
             Por isso esta fotografia me tocou tanto, e vai para a Galeria!
             Mas é preciso revelar também os dons da mais nova fotógrafa da família: eis o instantâneo realizado por Gabriela, no momento em que a foto acima era batida.



                       Quem fotografa melhor, mãe ou filha?


quinta-feira, 16 de julho de 2020

Fale com ele


São incontáveis as receitas para melhor enfrentar o isolamento social nesses tempos de pandemia. Cinema, televisão com seus filmes e séries, quebra-cabeças, música para ouvir, tocar e cantar, cursos on line sobre tudo e todos, crochê, Internet, tricô, baralho, cozinhar, beber, todos estes e muito outros são recursos para aplacar angústia e solidão. 
Ler e escrever são meus favoritos! Um bom livro pode nos levar a lugares distantes, pode nos apresentar personagens de quem nos tornamos íntimos, vivendo uma outra vida, experimentando liberdade. Escrever faz a mesma coisa, a aguçar ainda mais nossa criatividade.
Porém, há um gesto pouco propagado, se é que alguém o pratica, que recomendo fortemente, e por experiência própria. Escolha um amigo de verdade (ou amiga, é claro) e fale com ele virtualmente – pelo Zoom, WhatsApp, etc – VISUALMENTE, todos os dias. Isso mesmo, TODOS OS DIAS. Haja ou não haja assunto, fale e veja o amigo diariamente. 
– Cortou o cabelo?
– Cortei... 
– E aí, o frio chegou mesmo?
– Chegou! 9 graus de madrugada!
– Aqui também.
– Mas logo esquenta, 28 graus ao meio dia.
– Aqui não, fica gelado o dia inteiro.
– E o que você achou do novo ministro?
– Tenho medo que religião se intrometa no ensino.
...
O assunto pode variar desde o tempo, se choveu, se está frio ou calor, até a existência ou não de Deus, não importa muito, mas fale com o amigo. De preferência, SEMPRE À MESMA HORA.
Assim o dia ficará dividido em duas partes: antes e depois de falar com o amigo. Antes de falar com ele você poderá escolher um tema de interesse, alguma notícia que leu no jornal (virtual), uma certa dor que lhe surgiu ao levantar (sinal de que você está vivo, aviso importantíssimo para os velhos), alguma tristeza, ou alegria, você estará pensando na conversa que ocorrerá daqui a pouco, amorosamente, pois são amigos.
Depois de falar com o amigo, se a conversa foi interessante, se alguma pulga lhe ficou atrás da orelha, se discordaram, se concordaram, se você ouviu uma boa piada e tem vontade de passá-la adiante, se o assunto ficou aberto, então você passará o resto do dia volta-e-meia a se lembrar do amigo, amorosamente.
O amigo torna-se assim uma referência, amorosa. 
Caro leitor, experimente!

Clichês

Frase do dia


“A frase feita nos dispensa de pensar, nos acolhe em seu pacto morninho de compreensão suficiente, de premissas aceitas por todos, para que possamos tocar a vida.”

                                                           Sérgio Rodrigues




Mapeamento tridimensional do Universo


Câmera é preparada para iniciar
mapeamento tridimensional do universo


“A câmera JPCam, instalada no mês de junho deste ano no telescópio de 2,5 metros (m) Javalambre Survey Telescope (JST/T250) do Observatório Astrofísico de Javalambre (OAJ), na Espanha, registrou na noite de 29 de junho sua primeira luz técnica, obtendo com sucesso suas primeiras imagens do céu. Com a instalação dessa câmera, o OAJ passa a contar com toda a sua instrumentação definitiva de primeira geração para levar adiante sua atividade científica nos próximos anos. 
O projeto da câmera tem participação de pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e do Instituto de Física, ambos da USP, além do Observatório Nacional (ON), no Rio de Janeiro.”

         Não posso nem imaginar o que poderá sair daí...

Escreveu hoje em sua crônica Luis Fernando Verissimo: “Santo Agostinho disse que, entre todas as tentações do homem, a pior era a “doença da curiosidade”. Ela nos levava a especular sobre as razões da existência e os mistérios do universo, ou sobre tudo que estava além da compreensão humana e só a fé explicava. Antes de Agostinho outra autoridade, Deus, já advertira Adão e Eva a não comer o fruto da árvore do saber, para não contrair a doença da curiosidade e perder para sempre o paraíso da ignorância satisfeita. Deus, Agostinho e outros tentaram nos convencer a aceitar os limites da fé como os limites do conhecimento. Tentar compreender mais longe só traz perplexidade e angústia.”

            Não adiantou nada!







terça-feira, 14 de julho de 2020

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Paula e as tartarugas




“Esta tartaruga verde descansava num coral mole
enquanto um budião juvenil prestava o serviço de limpeza.
Que benção é mergulhar!”

                                               Paula Vianna

Pseudopaludicola coracoralinae


Pseudopaludicola coracoralinae é batizado em
homenagem à poetisa goiana Cora Coralina
Foto: Reprodução


A reportagem, muito boa, é de Lailton Costa, para O Estado de S. Paulo (6 de jul 2020): Nova espécie de anfíbio é batizada em homenagem a Cora Coralina.
         Ela começa inspirada em poema de Cora Coralina:  “Quando o tempo muda, a saúva revoa e um trovão surdo, tropeiro, ecoa na vazante lameira do brejo e dá para ouvir o sapo-fole, o sapo-ferreiro e o sapo-cachorro, como um canto de acauã de madrugada, para marcar o tempo e chamar a chuva. Esse é um dos cenários que envolvem uma roça sertaneja no Poema do Milho, de Cora Coralina.”
O canto é de uma espécie minúscula de anfíbio de tamanho entre 1,25 cm e 1,53 cm, só agora revelado por um grupo de pesquisadores das Universidades Estaduais de Campinas (Unicamp), Paulista (Unesp), no campus Rio Claro, e da Universidade Federal de Uberlândia, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 
Descreve Lailton: “E foi numa poça d’água temporária em meio ao milharal, formada após uma chuva no ano passado, que os pesquisadores Felipe Silva de Andrade, primeiro autor do trabalho, e Isabelle Aquemi Haga, captaram a vocalização da nova espécie em Palmeiras de Goiás, distante cerca de 71 km de Goiânia.” 
“O achado no meio do milharal levou o pesquisador Felipe Andrade a batizá-la de Pseudopaludicola coracoralinae, em homenagem à poetisa goiana Cora Coralina.” 
“A partir da análise genética e do sequenciamento do DNA, os pesquisadores puderam descobrir que uma população anfíbia anteriormente descrita como Pseudopaludicola facureae, do centro do Brasil e no próprio município de Palmeiras de Goiás, corresponde a essa nova espécie, a coracoralinae.”
Os autores explicam que decidiram homenagear a escritora por sua importância para a poesia brasileira. 
Transcrevo aqui trecho do Poema do milho.

Tempo mudado. Revôo de saúva.
Trovão surdo, tropeiro.
Na vazante do brejo, no lameiro,
o sapo-fole, o sapo-ferreiro, o sapo-cachorro.
Acauã de rnadrugada
marcando o tempo, chamando chuva.
Roça nova encoivarada,
começo de brotação.
Roça velha destocada.
Palhada batida, riscada de arado.
Barrufo de chuva.
Cheiro de terra; cheiro de mato,
Terra molhada, Terra saroia.
Noite chuvada, relampeada.
Dia sombrio. Tempo mudado, dando sinais.
Observatório: lua virada. Lua pendida . . .
Circo amarelo, distanciado,
marcando chuva.
Calendário, Astronomia do lavrador.

                  Cora Coralina







sexta-feira, 3 de julho de 2020

Um certo sorriso


Galeria de Família


Há poucos dias fiz um vídeo contando o caso da Cecília, péssima para comer, quando bebê, é claro. Ficou faltando a imagem.
            Ela só comia iogurte. Danone, para ser preciso. Isso ela gostava.
Certa feita, sentada no cadeirão na cozinha da 206 aqui de Brasília, onde ela nasceu, dei-lhe um potinho de Danone sabor morango, que ela traçou avidamente, em 3 ou 4 colheradas. 
(Quando menos espero, olha eu contando a história novamente!)
Tive a impressão que ela pedia mais. Empolgado, abri outro potinho, mesmo sabor, e ela o devorou gulosa, eu surpreso e maravilhado com a façanha.
Questão de segundos, e ela vomitou os dois potinhos no chão da cozinha: me olhou calmamente e sorriu.
Nunca me esquecerei daquele sorriso.



O cadeirão


quinta-feira, 2 de julho de 2020

Destruição por inépcia


A crônica de hoje de Sérgio Rodrigues para a Folha de S. Paulo (2 jul 2020) é antológica, a começar pelo título: “Ave Maria’, cheia de desgraça.”
Primeiro foi a “restauração” desastrosa do Ecce Homo, todos haverão de se lembrar:


A versão original deteriorada e a desastrosa
restauração do "Ecce Homo" –
Centro de Estudios Borjanos, Divulgação/Reuters


Depois a vítima foi a Virgem Maria, do pintor espanhol Bartolomé Esteban Murillo (1617-1682):


Murillo vandalizado / Europa Press


Então Sérgio Rodrigues se pergunta: “E se for esta, a destruição por inépcia, a marca mais característica de nossa época? ... A ideia me ocorreu dois dias depois de ler sobre o fim inglório da Maria de Murillo, quando me expus ao já histórico vídeo da "Ave Maria" da Embratur, destinado a ser uma das imagens-síntese do governo Bolsonaro. Coincidência ou espírito do tempo?”
Rodrigues refere-se naturalmente à live presidencial de 25 de junho, em que o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, “entre um fole tocado com bolsonara incompetência e uns vagidos roucos de bezerro agônico, executa no fundo da cena (o verbo não é gratuito) a "Ave Maria" de Gounod. Em primeiro plano, Paulo Guedes sua gordas gotas de cartum”.
Rodrigues conclui: “O bolsonarismo é o triunfo mais acabado — e com menos superego — de uma tendência contemporânea que atravessa fronteiras: a exaltação do amadorismo inepto, da tosqueira de raiz, do trogloditismo "sincero" em contraponto à razão, à ciência, à arte, à justiça.”
O retrato perfeito dos dias que vivemos.

Máximas de Brás Cubas





Memórias Póstumas de Brás Cubas é um livro delicioso. Relê-lo quantas vezes o fizermos, o prazer será o mesmo.              Às tantas, surge o CXIX Capítulo, nomeado Parêntesis, contendo seis máximas do defunto autor.
Aqui vão reproduzidas as máximas de Brás Cubas, a que ele chamou de “bocejos de enfado”:

Suporta-se com paciência a cólica do próximo.


Matamos o tempo; o tempo nos enterra.


Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem.


Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros.


Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro.


Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar.


            Reli o Memórias Póstumas em belíssima edição da editora Antofágica, 2019, com ilustrações de Candido Portinari.