domingo, 30 de outubro de 2022


 ARGENTINA 1985


    A Argentina viveu certamente a mais cruel e sangrenta das ditaduras modernas da América do Sul. Em nome do combate à grande ameaça do comunismo daqueles idos especialmente na década de  70 os mais atrozes crimes foram cometidos. Diferentemente de  nós brasileiros os argentinos já há um bom tempo tentam expurgar os excessos.

    O indefectível Ricardo Darín encarna no filme "Argentina 1985" o promotor Strassera que de forma inédita preside um tribunal civil que vai julgar os crimes perpetrados por grupo de militares das mais altas patentes. Há que convencer o povo, o cidadão comum que não acredita que todo o horror se passou sem que dele se apercebesse. Não viram ou preferiram não ver? Os relatos duros, difíceis não resvalam no sentimentalismo. Strassera é um destemido e o grupo de jovens promotores que o segue são incansáveis na procura por testemunhas, na reunião de provas, na demonstração de coragem. 

    As mães e agora avós da Praça de Maio continuam esperando uma resposta, um corpo, um atestado de óbito. Não desistem da luta contra a opressão e obscurantismo que pautou aqueles tempos. Strassera invoca uma frase da qual precisamos nos apropriar: "Nunca mais".


ARGENTINA 1985 disponível na plataforma  PRIME VÍDEO 

sábado, 8 de outubro de 2022

NOBEL DE LITERATURA 2022


    Neste ano de 2022 o prêmio Nobel de Literatura foi concedido à escritora francesa Annie Ernaux de quem tive conhecimento pouco tempo faz. E ainda que não tenha lido nenhum livro seu já me sinto muito interessada no que ela tem a dizer após ter assistido há algumas semanas o filme baseado em sua obra "L'evenement" disponível por aqui com o título "O acontecimento". Ela narra no livro que deu origem ao filme a saga de uma jovem mulher, no caso ela própria, que na década de  60 estuda  literatura para se tornar não professora como é esperado então, e sim escritora, e no entanto tem seus sonhos paralisados quando se vê às voltas com uma gravidez indesejada. No filme com  muita economia de sentimentalismos é impossível não se angustiar com a difícil jornada frente ao preconceito do meio  que a segrega e a muralha de regramento fundamentalmente machista que a impede de fazer um aborto. Em que pese a discordância de tantos em relação ao tema, não podemos ignorar a necessidade de olhar de perto o problema. E é isso que para mim o filme consegue fazer graças à escrita autobiográfica  dessa  autora nascida em 1940 na Normandia e a primeira  mulher  francesa a receber o Nobel de Literatura.
    Podemos entender o que ela defende quando no filme ao ser questionada por um professor a respeito da causa de seus repentinos insucessos escolares: "Você está doente?", "Tenho uma doença que só as mulheres tem e que as transforma em donas de casa." Annie Ernaux é feminista. Sua obra é construída sobre sua biografia, vinda de uma família modesta estuda com dificuldade encom sua arte ao dizer  "eu" está a falar de experiências comuns. Annie Ernaux pertence à categoria de mulheres muito necessárias nesse momento em que o conservadorismo tenta se apoderar de comportamentos, ideias e escolhas dos indivíduos. Seu livro mais recomendado é "Les années"  ("Os anos") de 2008 disponível no Brasil pela editora Fósforo.
    Recomendo muito o filme "O acontecimento" na HBO MAX.