terça-feira, 1 de setembro de 2020

Considerações sobre a palavra arroubo

A palavra arroubo me intriga. Os mais diferentes dicionários registram que se trata de manifestação repentina de entusiasmo; êxtase, enlevo, manifestação ou expressão súbita de intensa êxtase; arrebatamento; expressão ou demonstração de êxtase, de enlevo ou de encanto; num arroubo de felicidade; sensação de contentamento causada por uma grande admiração ou felicidade.

            A etimologia da palavra parece ser obscura. O grande Deonísio da Silva não faz referência a ela em De onde vêm as palavras (Ed. Novo século). Antônio Geral de Cunha, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Ed. Lexicon), registra o verbo arroubar, extasiar-se, enlevar-se, arrebatar-se; do castelhano arrobar, ligado a robar, roubar. 

Roubar o quê e de quem?

Já o bom Dicionário inFormal registra como Sinônimos de arroubo:  

 

arrebatamento anagogia encantamento enlevo entusiasmo 

excitação êxtase focagem furor ímpeto incandescência ira raiva 

rapto rompante transporte encanto amenidade atrativo beleza 

charme deleite deslumbramento fascinação graça imã magia 

mágica sedução suavidade tetéia ebriedade embevecimento 

embriaguez admiração espasmo condução translação trasladação delírio vôo suspensão

 

            Chamo a atenção do leitor para os sinônimos iraraivarompante. São eles que me interessam nessa pequena crônica. (Façamos o desconto necessário: sinônimos perfeitos não existem; cada palavra tem seu próprio e único significado.)

Sempre acreditei que a palavra arroubo carregasse uma boa porção de raiva e rompante, que surgem do inconsciente. Rompante implica reação. E reação muitas vezes como resposta inconsciente, automática, deflagrada por determinado estímulo sobre o qual não temos controle naquele momento em que ele é disparado. A tal resposta chamo de arroubo. 

            Passado o arroubo, podemos pensar sobre ele. Se arroubo significa tão somente manifestação repentina de entusiasmo, não há muito o que dizer sobre isso, é apenas enlevo, encanto. (O que não é pouco.)

            Quando é rompante, com raiva, furor e ímpeto, trata-se de algo oriundo do próprio sujeito, daquele que rompe, e não daquele que é atingido pelo arroubo. Entretanto, ambos podem tirar proveito do ocorrido, desde que possam pensar. O autor do rompante, se puder, fará então profunda autocrítica: por que reagir daquela forma? O alvo do arroubo poderá considerar tanto as razões do outro como sua própria maneira de ser, vítima de um rompante.

            O roubo, de que fala a etimologia, talvez se refira à capacidade de pensar: o ego é roubado da função fundamental que lhe cabe, a capacidade de pensar. Em vez de pensar surge o arroubo.

         Por que razão haverá de me intrigar a palavra arroubo?

 

Insônia

Sopro frio pela fresta da janela.

Noite de inverno.

Escorrem pálidos pensamentos na parede do quarto.

Um pássaro sombrio resmunga perto, gutural.

Para além, severo silêncio.

A boca, precária, cala.

Hálito morno isento de palavras.

Paralíticas mãos.

Gesto nenhum, por inútil.

Mínima alma impotente. 

Neste momento haverá um mendigo a morrer de frio

[em alguma esquina.

Como adormecer o desalento?


                                               Paulo Sergio Viana

 

 https://blogdopaulosergioviana.blogspot.com/2020/08/insonia.html?showComment=1598965655562#c2427171526392860518

 

 

Quer que embrulhe?

Charge do dia 



Angeli


Angeli, o maior chargista brasileiro, na opinião de André Dahmer.

Lição de composição



 

Lição de Composição

 

A fotografia acima, de autoria da nossa Paula Vianna, é uma lição de composição, muito útil a pintores e fotógrafos.

            Vejamos o que dizem Eduardo Lima e Rita Trevisan (NOVA ESCOLA) sobre a Lei dos terços:

 

“A regra dos terços é uma técnica de composição frequentemente utilizada por pintores e fotógrafos. Sobre a cena a ser retratada, o artista traça quatro linhas imaginárias (ou seja, divide o quadro em terços) e coloca o objeto principal em um dos pontos formados pelas intersecções. Isso geralmente garante um enquadramento mais harmonioso. ...A explicação para isso tem a ver com a Geometria. A regra dos terços não passa de uma derivação daquilo que se convencionou chamar de proporção áurea - uma razão de proporcionalidade muito comum na natureza, presente, por exemplo, nas conchas espirais de alguns moluscos. É por isso, segundo filósofos e matemáticos, que a gente tende a preferir composições que seguem ou se aproximam desse padrão: elas redundam em imagens naturalmente equilibradas. Vale lembrar, no entanto, que regras são sempre muito boas no trânsito ou em jogos de futebol. Na Arte, elas existem para ser quebradas.” 

 



     Parabéns, Paula Vianna!

 

https://novaescola.org.br/conteudo/1015/o-que-e-e-como-funciona-a-regra-dos-tercos