segunda-feira, 8 de abril de 2019

Reversão de expectativa


Para quem é fanático por José Saramago, a publicação de um último Caderno – depois de ter devorado os Cadernos anteriores –, é um presente dos céus, ainda mais que os editores afirmam que estes últimos diários permaneciam ocultos, perdidos no computador do ilustre português. Trata-se nada mais nada menos que O Diário Do Ano Do Nobel!
            Todos queremos saber o que passou pela cabeça de Saramago ao receber a notícia de que ganhou o Grande Prêmio, até mesmo os que nunca leram algum livro seu. Foi o primeiro – e até hoje o único – a ganhar o Nobel de Literatura da língua portuguesa.
            Pois venho degustando estes últimos diários, textos maravilhosos como sempre, na expectativa de chegar o grande dia. Não me passou pela cabeça – a não ser agora, no momento em que escrevo esse texto, folhear o livro à procura do momento fatal, capaz de matar minha curiosidade. Não, fui lendo página por página, pacientemente, até que cheguei à véspera do anúncio:

7 de outubro
Frankfurt. Colóquio na feira sobre comunismo.

            Através do livro de Ricardo Viel, Um país levantado em alegria – 20 anos do prêmio Nobel de literatura a José Saramago, eu já sabia que o escritor estava em Frankfurt quando recebeu a notícia da premiação. Agora só restava ler o que o escritor sentiu, a grande emoção traduzida em palavras por quem sabe usá-las, naquele momento único. Então, a reversão de expectativa:

8 de outubro
Aeroporto de Frankfurt. Prémio Nobel. A hospedeira. Teresa Cruz. Entrevistas.

9 de outubro
Madrid. Conferência de imprensa.

10 de outubro
Lanzarote.

12 de outubro
Chegada a Lisboa.

13 de outubro
Terreiro do Paço. CGTP. Centro Cultural de Belém.

16 de outubro
 Porto. Encontro de Literaturas Ibero-Americanas.

17 de outubro
Matosinhos. Fidel Castro.

            E assim vamos até o dia 28 de outubro, na mesma lengalenga. 
Bem, em 7 de dezembro o livro traz o magnífico discurso do autor à Academia Sueca, sob o título De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz. Isso vale o livro! (Mas eu já o havia lido e relido não sei quantas vezes.) 
            Em seguida, outras tantas ocupações burocráticas do nobelizado, dia a dia. 
            Portanto, os fanáticos como eu, se quiserem saber alguma coisa do que pensou e sentiu José Saramago a respeito do prêmio que recebeu, leiam Um país levantado em alegria, de Ricardo Viel (Companhia da Letras, 2018, vendido juntamente com o Último Caderno.)