quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Non-sense-photography



 

A fotografia postada anteriormente nesse blog http://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/12/insolita-cena.html deu ensejo a um novo marcador: Non-sense-photography. (O título permanece em inglês porque não conheço tradução para a expressão non sense.)

            A utilização de pratos, talheres e respectivos comestíveis revela rico simbolismo. É prato cheio!

            Segue a série, que se presta à criação de microcontos, aforismos, associação de ideias, etc.




Ele nem abriu a lata de comida e já queria comer o almoço.

 


 


Ele não era propriamente um leitor; era um comedor de livros.

 


 


Antropofagia.


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Versinhos de Bem-Querer

A foto do dia 


Bordadeiras do Cutume / Divulgação


 

A reportagem é de Deborah Bresser, para a Folha de S. Paulo.

 

“Distribuir afeto e delicadeza é forma de combater os impactos da pandemia.

Foi a estratégia do Versinhos de Bem-Querer, iniciativa da Associação Jenipapense de Assistência à Infância (Ajenai), ao mobilizar “jogadoras de versos” em rodas de cantigas no Vale do Jequitinhonha.

O resgate da tradição cultural da região com menores índices de desenvolvimento de Minas Gerais virou renda, com a venda de versinhos sob encomenda “cantados” por mulheres da comunidade em plataforma online.

Ao acessar o site ou o Instagram, o comprador manda breve descrição da pessoa a ser presenteada para que os versinhos sejam compostos de forma personalizada, ao custo de R$ 26 cada.”

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2020/12/mulheres-do-vale-do-jequitinhonha-vendem-versos-para-ter-renda.shtml

 

Fotoabstração N. 73

Fotoabstração





Foto: AVianna, dez 2020.

 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Insólita cena

 


 

            Estou atento aos mínimos sinais. Até quando, até quando?

            Uma de minhas funções cotidianas é botar a mesa para o almoço, o que faço sem dificuldade, seguindo as regras da boa etiqueta. Ontem, uma surpresa: me deparo com a intrigante imagem de um prato e duas facas dispostos em meu lugar à mesa. Como assim? Assim não posso comer...

 

            Alinhavo de pronto algumas hipóteses para justificar a cena.

            – Uma piada?

            – Simples distração?

            – Pura falta de atenção?

            A última hipótese me atrai, provavelmente devido a repetição do fato em refeições anteriores, não muitas.

 

            Gosto da palavra lunático, que segundo o Houaiss significa “aquele que vive fora da realidade”. Aquele que vive mais na Lua que na Terra. Se estou na Lua, como posso dispor corretamente os talheres na mesa de minha terráquea casa?

            Talvez esta distração possa ser uma das primeiras manifestações do processo de demenciação, a falta de atenção. 

            Alienação também é uma boa palavra para exprimir tais ideias. Voltemos ao dicionário: afastamento,alheamentodistração, são significados registrados e pertinentes. A mente divaga e o corpo vai junto, naturalmente. 

            Já não sou eu quem bota a mesa? Que outro será este? Permaneço atento aos mínimos detalhes, na tentativa de manter o Eu no lugar onde sempre esteve.

            Ou se trata apenas de uma piada?

            

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Flores e insetos

Meus quadros favoritos 



Jan van Kessel, the Elder

Antuérpia, Bélgica, 1626 - 1679
Pintor flamenco especialista em naturezas mortas

Função da Literatura


A empresária Adriana Ferreira
Foto: Ana Cândida Tofeti

 

A reportagem de Bruna Martinelli  (14 dez 2020) para Revide chama nossa atenção desde o título: Empresa de São Carlos motiva funcionários a ler e escrever em meio à pandemia.

            Adriana Ferreira, 48, formada em jornalismo, é uma grande leitora, mas “seguiu o ramo de negócios para manter a empresa familiar, uma concessionária de veículos de São Carlos”. Sempre com um livro na mão, Adriana despertou a curiosidade dos funcionários; o desejo de compartilhar o hábito da leitura contaminou seu ambiente de trabalho. Criou-se assim uma roda de conversa literária com a participação de mecânicos, estagiários e pessoas de diferentes profissões, com livros financiados pela empresa.

“Tem gente que nunca tinha lido um livro, só resumo para vestibular e faculdade. Eles estão lendo e tendo boas discussões sobre livros que eu leio e que os outros vão indicando. Desse grupo já surgiu um outro, pois os funcionários tinham interesse em incluir parentes, amigos, então acabei montando um outro grupo aberto para não ter muitas pessoas e dar espaço para todos falarem. Hoje temos dois grupos: um de pessoas da empresa e outro de pessoas de fora”, conta Adriana.

Adriana notou mudanças positivas tanto no ambiente de trabalho quanto no lado pessoal dos funcionários, que afirmam: “eu não sabia que ler é tão bom”. 

Em seguida foi inaugurada uma oficina de escrita criativa, promovida pela funcionária Andressa Leonardo, formada em linguística, e que reúne dez pessoas para aprimorar a escrita através de textos e poesias. 

São palavras da própria Adriana: “Meu sonho era sempre levar para mais alguém tudo que a literatura fez de bom para mim. A gente percebe pelos relatos que isso amplia a vida delas. É um novo espaço dentro da gente, um espaço de sonho e compreensão que você não volta mais para trás. Em vez de fazer uma rodada de cerveja para os funcionários em um fim de tarde, compra um livro e faz uma roda de leitura que você terá muito mais resultado. O investimento é muito baixo, é só comprar um livro e abrir um espaço para as pessoas se reunirem em roda. Não interessa que no começo serão 5, amanhã serão 7, e assim vai”.

 

Sem dúvida um belo exemplo, a ser seguido em todo lugar que haja um determinado grupo de pessoas, juntas por qualquer razão.

Relembro aqui a afirmação de Antonio Candido: 

 

“A literatura é, ou ao menos deveria ser, um direito básico do ser humano, pois a ficção/fabulação atua no caráter e na formação dos sujeitos”.

 

            É isso que Adriana Ferreira vem promovendo.

 

 

http://www.revide.com.br/blog/ana-candida-tofeti/empresa-de-sao-carlos-motiva-funcionarios-ler-e-es/

 

Depois da chuva

Fotominimalismo 






Foto: AVianna, dez 2020

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Bicho

“O bicho é o homem que nós não somos.”

 

 

                        Nélida Piñon
                        Um dia chegarei a Sagres, Record 2020



Água funda, prosa poética


“A gente passa nessa vida, como canoa em água funda. Passa. A água bole um pouco. E depois não fica mais nada.”

 

 

                        Ruth Guimarães

          Água Funda, Editora 34, 2020.

Conto de Natal 2020


Bem antes da diáspora, o pai reuniu a família, fez a proposta, Natal está chegando, vamos fazer um concurso para ver quem escreve o Conto de Natal mais bonito, o vencedor ganhará um prêmio!

            A recepção ao belo e inocente desafio foi a mais gelada possível, como se o Natal estivesse sendo comemorado na Sibéria. Nem um a palavra, nem sim nem não, o pai insistiu mais um pouco, estabeleceu a data limite para que os textos fossem entregues, o assunto morreu ali. Ninguém escreveu nada.

            Desde então, em alguns natais, seja por sentimento de culpa, seja apenas pela simples vontade de escrever, ensaio um Conto de Natal: às vezes vinga, outras não. Assim sendo, aqui estou eu, neste final do fatídico ano de 2020, em completo isolamento social, pensando em algo para comemorar.

            Tenho a comemorar tão somente – e isso é tudo! – o fato de estar vivo, prestes a completar 74 anos. Os que creem, agradecem ao seu deus. Os que não creem, devem agradecer a quem?

            Penso que os que não creem devem agradecer pela experiência fantástica de viver, na maioria das vezes dolorosa, triste, desafiadora, repleta de armadilhas, de imprevistos, alguns funestos em demasia, porém fantástica pelo contraponto, pelos momentos de alegria inebriante, o nascimento de um filho, o amor pela companheira, a amizade dos cães, poder molhar os pés na água do mar. 

A depender da resiliência de cada um, a experiência de viver só se compara a um grande romance, que tem início há muitas gerações que nunca chegamos a conhecer, e que se desenrola por a nos a fio, com nascimentos e mortes, prolongando-se no tempo até onde nunca saberemos. É o “romance familiar”, que nos envolve a todos, nos afeta profundamente, nos molda para a vida, modifica nosso modo de ser – o que nem sempre percebemos. 

            Se temos a comemorar a experiência de viver, quê mais precisamos comemorar? Nesse 2020, fiquemos em casa. De minha parte, só posso mesmo escrever uma pobre crônica e desejar a todos um feliz Natal.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Alinhamento de Júpter e Saturno

A foto do dia 


Júpiter (à esq.) e Saturno chegam ao seu maior ponto 
de aproximação em quase 400 anos 
Foto: Patrick T. Fallon/AFP

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O sumiço de Amaro

 

Aqueles que estudam e falam o Esperanto, quase todos podem ser denominados idealistas. Tudo por um ideal! Amaro é uma dessas pessoas e foi isso que determinou seu destino.

         (Antes de prosseguirmos, cabe aqui um a ressalva: os esperantistas geralmente não gostam desse rótulo, ou pecha para os mais radicais; afirmam, convictos, que o Esperanto não é um ideal e sim uma realidade que avança cada vez mais, com adeptos em todo o mundo, até na China. Pessoalmente, compartilho dessa opinião.)

         Amaro é leitor voraz, em português e Esperanto. Já verteu inúmeros autores brasileiros para o Esperanto, Machado, Drummond, Rubem Braga, Luiz Ruffato, imbuído do espírito de divulgar a língua de Ludwik Zamenhof mundo afora. (Embora o Houaiss registre a palavra esperanto com minúscula, os aficionados a escrevem com maiúscula. Sigo esta regra.) 

Pois o fado de Amaro tem início quando ele acaba a leitura do Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, transtornado, o coração saindo pela boca, o deslumbramento tomando conta dele, nunca lera coisa igual, que maravilha de livro, o melhor livro do mundo!  

         – Preciso traduzir esse livro para o Esperanto!

         O verbo diz tudo: precisar é uma obrigação frequentemente de fundo moral, uma missão, algo imperioso mesmo. Quando Amaro diz que “precisa traduzir”, o idealismo vem à tona, inunda a alma, os futuros obstáculos se tornam pequenos diante de tamanha determinação.

         A primeira providência antes de encarar o Himalaia foi comunicar aos parentes e amigos que ele estaria fora do ar nos próximos dez anos, espaço de tempo que julgava suficiente para a hercúlea tarefa.

         – Não me telefonem, não enviem e-mails, nada de WhatsZapp, não me distraiam nem me interrompam, esqueçam que eu existo, por dez anos; depois, voltamos a nos falar.

         Não tão imprevidente quanto o leitor possa supor, Amaro designou o melhor amigo como única pessoa com quem manteria contato em absoluto sigilo. Isso somente em casos urgentíssimos, imprevistos incontornáveis, a morte de um parente próximo – porque “viver é muito perigoso”, ele aprendera com Rosa. Ernesto poderia falar com ele usando o número secreto de telefone. Ernesto sentiu-se honrado, prometeu cumprir as exigências do amigo, embora não estivesse completamente convencido que aquilo iria dar certo; Amaro desiste logo dessa loucura, pensava ele. 

         E Amaro sumiu no mundo, o Grande Sertão debaixo do braço.

Os amigos comuns, todos esperantistas, também não botaram fé na empreitada, A qualquer momento Amaro desiste dessa bobagem e aparece, Essa tradução é impossível, Amaro não vai dar conta; não que torcessem contra, ao contrário, no fundo bem que gostariam de ver o livro vertido para o Esperanto, idealistas que eram, para a glória Zamenhof!

Passados seis meses Amaro permanecia incógnito. Ernesto, preocupado, aflito mesmo, enviou lacônico e-mail:

– Olá, Amaro. Como vai o trabalho? Abraço.

Amaro respondeu algumas semanas depois, mais sintético ainda:

– Mal. Empacado no título. Como traduzir Sertão?

Ernesto achou graça na resposta mas não houve réplica. Passaram-se outros seis meses, como não houvesse notícia do amigo, Ernesto voltou a insistir:

– E aí, Amaro! Tudo bem? Sua tia Ermenegilda faleceu, sinto muito. E o trabalho, como vai?

 – Mal. Empacado em Nonada. Deixei Sertão para mais tarde.

Foi aí que Ernesto começou se preocupar seriamente com a saúde mental do amigo. Puta que o pariu, se depois de um ano ele ainda está na primeira palavra do romance, ele vai pirar; e a palavra sertão ainda ficou para mais tarde! Preocupado estava, preocupado permaneceu, em respeito às determinações do amigo. Qualquer hora ele aparece, pensou.

Dois anos após o sumiço de Amaro a correspondência entre ele e Ernesto cessou. Não havia resposta para os insistentes e-mails do amigo. Ernesto pensou em procurar a polícia. Talvez fossem as dificuldades próprias da tradução, quem sabe o trabalho agora tivesse deslanchado, não era caso para pânico. Afinal, Amaro pediu dez anos para cumprir a tarefa. Paciência.

Depois de sete anos de silêncio, a angústia de Ernesto tornou-se insuportável, a tal ponto que resolveu comunicar aos amigos mais próximos o ocorrido. Desejava repartir a responsabilidade, diante da ausência de Amaro. O alvoroço foi geral! Iniciaram-se buscas pelos hospitais psiquiátricos, pelos asilos de pessoas em situação de rua (nunca pensei que um dia conseguiria utilizar-me dessa expressão!), nas principais capitais do país, no interior, na cidade de Amaro, porém sem saber exatamente o paradeiro do esperantista. Nada, nada de Amaro, nem sombra de Amaro.

O tempo passou, não se falou mais em Amaro e em sua tresloucada tarefa, só Ernesto não se esqueceu do amigo. Ao contrário, sonhava com ele, encontrava-o em Londres, Paris, na Indonésia, bem disposto, a tradução chegando ao fim após quinze anos de ausência, para glória de Zamenhof e seguidores; tudo sonho. Ernesto lia diariamente na Internet os principais jornais, incluindo os de língua inglesa e francesa, em busca de alguma notícia. Esmiuçava obituários. Aquilo acabou por tornar-se uma obsessão. 

Até que leu na Edição Brasil do El País a notícia que perambulava pelas ruas tortas e ladeiras íngremes de Ouro Preto um homem em frangalhos, maltrapilho, magérrimo, cabelo e barba há muito por fazer, falando um língua estranha. Levado a um posto de saúde, foi atendido por um médico esperantista, que identificou de pronto a língua misteriosa: Esperanto! Ernesto não conversou, tomou o primeiro avião para Belo Horizonte, e de lá um táxi para Ouro Preto. Encontraria finalmente o amigo.

Vinte e quatro horas após ter lido a notícia no jornal Ernesto estava em Ouro Preto. Não conhecia a cidade, ficou extasiado. Conteve-se, tratou de se informar, acabou encontrando o homem que falava a tal língua misteriosa. De fato, ele falava Esperanto, mas não se chamava Amaro e nunca havia lido o Grande Sertão. Sabia apenas que viver é muito perigoso.

 

         

         

         

sábado, 19 de dezembro de 2020

Retorno à infância ou Tomilho


 

...

– Pega pra mim, na horta, cebolinha e tomilho.

– É prá já.

...

– Isso não é tomilho, é orégano.

– Ah!

– Tomilho é miudinho.

– Ah!

– Gabi, com 6 anos, sabia o que é tomilho!

– Ah!

...

Serra do Marauiá

A foto do dia



Sebastião Salgado 

Serra do Marauiá, Terra Yanomami




Chiquinha aprés Goya

 


Chiquinha meio escondida

aprés Goya






Francisco de Goya (1746-1828)
Pinturas Negras. O cão semi-oculto.



Detalhe

O poder da Arte! Uma vez tendo se impressionado com uma pintura, a visualização de um fotografia com alguma remota semelhança traz à mente a imagem original. A arte nos amplia o modo de ver as coisas e o mundo. A associação de ideia no caso em questão foi apresentada por Mercêdes Fabiana, depois de ver Chiquinha meio escondida.


Foto: AVianna, dez 2020.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

250 anos do nascimento de Beethoven





Casa onde Beethoven nasceu, em Bonn, há 250 anos, 

hoje um museu

Foto: Andreas Meichsner/NYT

 

 

 

Piano de Beethoven, exposto na casa onde nasceu, em Bonn

Foto: Andreas Meichsner/NYT

 

 

Por sugestão de meu irmão Paulo, começo o dia ouvindo a Radio Cultura FM São Paulo, que desde à zero hora toca Beethoven. 


Preciso dizer que acho isso tudo emocionante, em especial essas duas fotos da casa onde ele nasceu, tamanha minha veneração pelo homem. Um super-homem, diria Nietzsche. 


É preciso ouvir Beethoven hoje e sempre.


Aos jovens da família, fica a sugestão de uma futura visita à casa dele, em Bonn!

 

https://viagem.estadao.com.br/noticias/geral,roteiro-beethoven-conheca-os-locais-mais-emblematicos-na-vida-do-musico,70003554746

 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

A caipirinha


Tarsila do Amaral

 

O Quadro que agora vai a leilão, por decisão judicial, foi pintado em 1923, durante uma das estadias de Tarsila em Paris, de onde escreveu à sua família: “Na arte, quero ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com bonecas de mato, como no último quadro que estou pintando”.

 


https://brasil.elpais.com/cultura/2020-12-14/vai-a-leilao-por-decisao-judicial-um-dos-quadros-mais-caros-do-brasil-um-tarsila-do-amaral.html

 

Atchim!

 

A casa está à venda, em Bristol, Inglaterra. Mas o preço aumentou quando surgiu em uma parede lateral o mural de Banksy, intilulado Atchim!

            Voam a dentadura, bengala, bolsa e a mulher faz a careta de quem está espirrando. 

            A identidade do artista permanece em segredo!

 

 

Foto: Rebecca Naden/ Reuters

 

https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,mural-de-banksy-de-mulher-espirrando-faz-dono-adiar-plano-de-venda-de-imovel,70003552393

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Abominável

 

“O que torna o caso de Bolsonaro especialmente revoltante é que o fracasso do Brasil no manejo da Covid-19 não se deve apenas à incompetência das autoridades, um fato da vida, mas à insistência do presidente em sabotar os poucos consensos científicos sobre a doença a fim de extrair ganhos políticos pessoais. E isso é abominável.”

 

Hélio Schwartsman

 

A despeito da opinião de Schwartsman, 52% dos brasileiros  afirmam que o presidente não tem nenhuma culpa pelos mais de 180 mil mortos em todo o país até agora.

            O desvario que reina no Ministério da Saúde parece que não conta. A ausência de um plano de imunização em massa não conta. A imprevidência na compra de insumos necessários para tratamento e vacinação da população não conta. A falha gritante do tal ministro estrategista – a carta na manga do presidente na difícil escolha de um ministro da saúde subserviente – surpreende até mesmo membros do governo. Então o que conta?

            O que conta é o fanatismo em torno de um falso Messias, e quem é fanático não pensa. Conta a ignorância; durante a ditadura militar se dizia que o não cuidar da Educação tinha o propósito de manter o povo na santa ignorância dos que não sabem pensar. Parece que o fenômeno se repete, com a ausência, a falta, a nulidade do Ministério da Educação. Para que educar se já temos um mito?

            Até quando, até quando?

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2020/12/luta-contra-covid-nao-e-so-incompetencia.shtml

O cortador de juncos


 

“O ex-imperador Gotoba fez com que se reformassem mansões imperiais como a de Toba e a de Shirakawa, as quais utilizava com frequência. Contudo além dessas, havia um lugar chamado Minase, onde mandara construir uma mansão de indescritível elegância, frequentada ainda com mais constância por ele, que por mais que se deleitasse fartamente com ela – com suas flores de primavera e suas folhas avermelhadas de outono – sempre se dava ao luxo de voltar e passar lá o seu tempo, promovendo festins musicados, a ponto de esse seu hábito se tornar conhecido. No período Genkyu, entre 1204 e 1206, por ocasião de um concurso de poemas no estilo chinês  e japonês, o imperador Gotoba trouxe à luz este seu poema:

 

“Vislumbro envolto em névoa primaveril o rio Minase aos pés do monte;

A tal vista, como puderam preferir o entardecer de outono?”

 

            O texto acima pertence ao conto O cortador de juncos, de Jun`Ichiro Tanizaki, e compõe o belo volume com a novela A gata, um homem e duas mulheres (Ed. Estação Liberdade, 2016). http://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/12/a-gata-lily.html

            Nos séculos XII e XIII, no Japão, havia a disputa para saber o que era mais bonito, o amanhecer na primavera ou o entardecer no outono, as duas estações preferidas dos japoneses. Pois o imperador Gogota compôs o poema baseado em sua experiência pessoal junto ao rio Minase.

            O cortador de juncos trata dessas delicadas coisas. 

domingo, 13 de dezembro de 2020

A gata Lily


Os temas são, amor, ódio, mentira, traição, engano, dissimulação, egoísmo – tudo coisa de gente. O pretexto, uma gatinha já velha chamada Lily. É disso que trata a originalíssima novela de Jun`Ichiro Tanizaki, com o sugestivo título A gata, um homem e duas mulheres. A edição, muito bem cuidada, é da Estação Liberdade, 2016; na capa, bela pintura do início do século XIX.

            O estilo de Tanizaki é, no mínimo, delicioso. Ele conta suas histórias bem devagar, repete, acrescenta pequenos detalhes a cada nova versão, beira a ingenuidade, apenas na aparência. Porém, fala mesmo é dos sentimentos humanos, complexos e conflitantes, com as particularidades da cultura nipônica.

            Vejamos o início da história, uma curiosa carta de uma das mulheres, para a outra:

 

“Cara Fukuko,

 

Começo pedindo desculpas por me fazer passar por Yukiko para lhe enviar esta carta. Mas, quando você abriu este envelope, já sabia quem era o remetente, não é? E deve estar pensando, aborrecida: “Que mulher descarada, usando sem permissão o nome da minha amiga para me escrever... que grosseria!” Entenda, por favor, que se eu pusesse meu nome no envelope, com certeza ele acharia esta carta e a esconderia. Queria muito que você soubesse de algumas coisas que eu tenho para lhe contar. Por isso, não tive outra escolha.”

            

            A carta que dá início ao relato, portanto, começa com uma mentira, a esconder o remetente. As relações são de dominação e submissão, características da obra do escritor japonês.

            Vale a pena conhecer Jun`Ichiro Tanizaki!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Orvalho

Fotominimalismo



as pequenas folhas

belas, cor indefinida

amparam o orvalho


Foto: AVianna, dez 2020, jardim

100 anos de Clarice


Comemoramos hoje o aniversário de nascimento – 100 anos – de Clarice Lispector.


O IMS criou interessantíssimo site especialmente para esta data:  


www.claricelispector.ims.com.br

Em Paris

Fotografia 


Elegância parisiense


Foto: AVianna, maio 2016.

iPhone 6 Plus

A vida e os espinhos

 


A vida é uma pinguela repleta de espinhos por onde andamos com a certeza de que em algum momento vamos tropeçar.



Foto: AVianna, dez 2020

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

50 anos de formados

 



Minha turma de Medicina comemora hoje os 50 anos de formados! Na foto acima, estamos no primeiro ano da Faculdade, estudando anatomia. Bons tempos! Conseguem me reconhecer?


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Qual a melhor legenda?



 

Qual a melhor legenda diante de tamanha insensatez? Cada um pode fazer a sua própria lista:

 

Cinismo

Falastronice

Escárnio

Insultuoso

Arrogante

Despiciente

Derrisório

Nojento

Repugnante

Surto

Contumelioso

Asqueroso

Engulhoso

Abjeto

Metido

Pequenez

Ignorância

Patético

Inaceitável 

Obsceno

Constrangedor

Vergonhoso

Que merda é essa?

...


(Estou perdendo meu tempo, sei disso.)

 

 

O tempo passa, mortes se repetem

Charge do dia 


Laerte Coutinho


Feito extraordinário da Ciência

A foto do dia





"Margaret Keenan, de 90 anos, é aplaudida pela equipe ao retornar à sua enfermaria depois de se tornar a primeira pessoa na Grã-Bretanha a receber a vacina Pfizer / BioNTech COVID-19 no Hospital Universitário, em Coventry, no início do maior programa de imunização já feito na história britânica." 


Um feito extraordinário da Ciência!


Foto: Jacob King / Pool / Reuters


Olhar Estadão, https://www.estadao.com.br



do alto da fonte


 
do alto da fonte
o imponente bem-te-vi
domina o jardim


Foto: AVianna, dez 2020

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Algo que nunca se apaga

Homenagem 


Hoje, 22 anos da morte de meu pai


Foto: AVianna, dez 2020

Siena in the rain

Fotografia 


Fritz Henle, 1934

Fritz Henle foi fotógrafo nascido na Alemanha, conhecido como Sr. Rollei pelo uso do filme de formato quadrado de 2,25 usado na câmera Rolleiflex.
Nascimento: 9 de junho de 1909, Dortmund, Alemanha
Falecimento: 31 de janeiro de 1993, San Juan, Porto Rico

Foto belíssima. O conjunto harmonioso de linhas retas das construções é quebrado pela figura humana de guarda-chuva.