Medusa com a cabeça de Perseu,
obra do artista argentino Luciano Garbati
Jeenah Moon/The New York Times
“Estátua de Medusa pelada e sexy é abraçada e atacada pelo MeToo em Nova York”, informa a reportagem de Julia Jacobs para The New York Times (14.out.2020).
Luciano Garbati fez a escultura de Medusa segurando a cabeça de Perseu sem preocupar-se com ideias feministas; realizou apenas genial inversão do antigo mito. A obra é de 2008, bem antes do MeToo, e as discussões sobre gênero que despertou não interessam para esta crônica.
Garbati inspirou-se em escultura em bronze do século 16, “Perseu com a Cabeça de Medusa”, de Benvenuto Cellini.
Perseu com a cabeça de Medusa
Benvenuto Cellini
esculpida entre 1545 e 1554
Num golpe de mestre, ele inverteu o papel dos agentes, contando “a história da perspectiva de Medusa – escultura com mais de 2 m de altura – e revelando a mulher por trás do monstro”, exposta na calçada oposta ao tribunal criminal da rua Centre, ao sul de Manhattan.
Acrescenta Julia Jacobs: “Em sua inscrição no programa "Art in the Parks", que revisa propostas para obras de arte em instalações públicas como a da estátua, Garbati apontou para o fato de que Medusa foi estuprada por Poseidon no templo de Atena, de acordo com o mito. Como punição, Atena volta seu rancor contra Medusa e transforma seus cabelos em serpentes. A inscrição afirmava que a história “comunicou às mulheres por milênios que, caso fossem estupradas, a culpa seria delas”.
“Desestabilizar a narrativa usualmente feita sob uma lente patriarcal é o verdadeiro poder da obra”, afirmou Garbati. “Isso faz com que as pessoas parem para pensar.”
E parar para pensar é uma das inúmeras funções da Arte.