"Quantas horas serão?"
Luiz Ruffato
In O Verão tardio
Quantas horas serão? É sempre assim. Acordo no meio da noite. Madrugada besta. Eu sem noção das horas. A escuridão é total. O silêncio absoluto. O tempo parou? Pensei. Serei eterno nesse instante? Melhor não voltar a dormir. Aproveitar a eternidade. Sinto-me estranho, imortal. Eterno! Imóvel, apenas posso pensar. Por quanto tempo aguento permanecer imóvel? Tenho medo de dormir. Medo de interromper esta eternidade. Permaneço acordado, faço força. Um super-homem. Super-homem que não pode agir. Só pode pensar, imóvel. Terei então respostas às perguntas fundamentais? Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Faço silêncio (interior). ...Por quanto tempo permaneço em silêncio? Pensei. Difícil responder, o tempo parou. E as respostas não veem. Apenas o silêncio e a escuridão. O super-homem não sabe responder? Ninguém sabe responder? Sinto necessidade de respostas. Tenho a eternidade para descobrir. Pensei. E resolvi mudar meus pensamentos. Tenho todo o tempo do mundo. O último livro que li? O filme de ontem na tv? O resultado do futebol? Os números da loteria? Besteirinhas para distrair as ideias. Preciso limpar a cabeça. Não é pesadelo porque estou acordado. Mas parece. Que nada, não adianta. Retornam as perguntas fundamentais. Que tormento! Será pesadelo? Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? As perguntas martelam martelam martelam. Principalmente para onde vou. Será que vou ficar aqui? Preso no tempo que parou, imóvel. Imobilizado nessa madrugada besta. Que super-homem é esse? Merda de super-homem. Um ignorante. Os pensamentos remoendo. Minha cabeça dói. Eternamente? Pensei. Que eternidade é essa? Monótona cansativa enfadonha inútil estúpida. Não desejo esta eternidade para mim. Tenho medo de dormir. Acordo assustado, encharcado de suor. Ainda é madrugada.