Aquele que
dispuser de 46 minutos para ouvir três especialistas sobre A Revolução
Copernicana haverá de ter muito em que pensar, além de educar-se com gente que
sabe o que fala.
O programa encontra-se no blog Estado da arte, de O Estado de S. Paulo
(7 fev 2018), e tem a seguinte introdução:
“Em nosso tempo
há mais revoluções na terra que estrelas no céu. Noite e dia as mídias
alardeiam qualquer coisa revolucionária e nossa vida atravessa suas pequenas
revoluções. Mas de todas, nem as políticas foram capazes de revolucionar
literalmente o mundo inteiro como a primeira, desencadeada em 1543 por um livro
que trazia seu destino no nome: A Revolução das Esferas Celestes. Ironicamente,
seus cálculos intrincados nada têm da rebeldia e verborragia revolucionária, e
seu autor, um pacato cônego polonês, só o publicaria no último ano de vida com
relutância, talvez menos pelo temor da perseguição que do ridículo.
A ideia da
Terra girando em torno do Sol afrontou a um só tempo o senso comum, as escolas
milenares de Aristóteles e Ptolomeu, e astrônomos competentes como Tycho Brahe.
Em seu poema A Anatomia do Mundo John Donne desabafava:
O sol está
perdido, e a terra, e a sabedoria de nenhum homem
Pode bem
orientá-lo a onde encontrá-la.
Nisso
concordavam os chefes das facções religiosas como Calvino e Lutero. Para
Melanchton, homens como Kepler “por amor à novidade, ou para expor sua
ingenuidade, concluíram que a terra se move. . . . É falta de honestidade ou
decência afirmar tais noções publicamente, e o exemplo é pernicioso”. Por fim a
Igreja católica se uniu à luta, e a condenação do velho Galileu em 1633 passou
para a história como o seu momento mais constrangedor. Durante o século e meio seguinte
“uma crença no universo centrado na terra se transformou gradualmente de um
sinal essencial de sanidade para um indício, primeiro de inflexível
conservadorismo, depois de excessivo paroquialismo, e finalmente de completo
fanatismo” (Thomas Kuhn). Na época de Newton a revolução astronômica já invadia
em ondas as esferas da filosofia e da cultura elevando a ciência ao seu papel
atual de suprema autoridade sobre os saberes.
Mas o que olho
nu de Copérnico viu que nenhum outro vira? Como seus correligionários puseram a
Terra toda para rodar? Como a transformaram de centro do universo num planeta
entre planetas girando ao redor de um Sol que virava uma estrela entre estrelas
perdidas no infinito? Como entendiam a relação entre a fé e a ciência? E como nos
ensinam a pensar duas vezes antes de ridicularizar uma hipótese à primeira
vista lunática?”
Convidados
Claudemir
Tossato: professor de Epistemologia e Filosofia da Ciência na Universidade
Federal de São Paulo e autor de O conhecimento científico.
Eduardo
Kickhöfel: professor de História da Filosofia da Renascença na Universidade
Federal de São Paulo e coordenador do grupo de pesquisa La Fabrica delli
Strumenti de Galileu Galilei .
Pablo Mariconda:
professor de História e Filosofia da Ciência da Universidade de São
Paulo, tradutor e editor do Diálogo de Galileu Galilei.
Para ouvir o
programa, acesse o link: