sábado, 8 de setembro de 2018

Gata em branco e preto

fotominimalismo




Foto: Cecília Vianna, set 2018.


A visita da velha senhora




A programação cultural do fim de semana em São Paulo foi intensa e brilhante para toda a família.
            Começamos pela Nona Sinfonia de Beethoven, na sala S. Paulo, com a OSESP, um concerto inesquecível! Em seguida, no MASP, a exposição Histórias Afro-Atlânticas, maravilhosa! À noite, no teatro Sérgio Cardoso, vimos a peça A visita da velha senhora, de Friedrich Dürenmatt, sob a direção de Luiz Villaça. O elenco de primeira linha, com destaque para Denise Fraga, Tuca Andrada, Fábio Herford, entre outros.
            Não me considero crítico de coisa alguma, muito menos de teatro, área em que meu conhecimento deixa muito  desejar. O que faço a seguir é um simples registro de minhas ideias depois de assistir a peça.
            Saí do teatro sem saber se tinha visto uma comédia, uma farsa ou uma tragédia mal contada. Que a história era trágica, não havia dúvida. Será que o diretor errou a mão e a história virou uma falsa comédia? Foi o que pensei. A própria escolha de Denise Fraga, uma comediante reconhecidíssima, não teria sido um erro, a reforçar o exagerado tom de humor? 
            São boas perguntas, e só havia uma solução, pensei, era ler o texto original. Encontrei na Estante Virtual um único volume da obra, da Livraria Agir Editora (1963), com tradução de Mário Silva, livrinho em mau estado de conservação, cheirando a mofo.
            Pois não é que o diretor foi fidelíssimo à obra!
            E minha dúvida perdurou; melhor, acentuou-se: tragédia ou comédia?
            Até que cheguei ao Posfácio, escrito pelo próprio Dürenmatt. Reproduzo aqui o trecho final, “bastante esclarecedor”, em meu ponto de vista:

“A visita da velha senhora é uma peça má, mas, justamente por isso, não deve ser representada de modo mau, senão, ao contrário, do modo mais humano possível, com tristeza, não com cólera, mas, também, com certo bom humor, pois nada prejudicaria tanto esta comédia, que acaba tragicamente, quanto uma excessiva seriedade.”

Veja o leitor! Uma comédia que acaba tragicamente! Penso então que “não entendi” perfeitamente a tal visita... 

            

Nenhum mistério



Lançamento do sétimo livro de poemas de Paulo Henriques Britto:   
NENHUM MISTÉRIO
(Editora: Companhia das Letras ). 

            Dois poemas:

1.

Aprender enfim
a cruel lição:
a que só se aprende
por subtração:  
  
a que não saber
não é desvantagem
(pois nem sempre é ganho
um aprendizagem 
  
(o que vai de encontro
ao que muitos pensam),
e sim uma sorte,
uma vera benção:  
  
a que não é arte
nem tampouco ciência:
pois não há teoria –
só práxis – da ausência. 
  
(Mas dizer-lhe o nome
já é exorcizá-la:
quem a vivencia
cala.) 

2.

Não há nenhum mistério nesta história
em que o culpado se anuncia
ainda na primeira hora,  
  
e são tão copiosas as pistas
quanto inúteis, e o final
– que, é claro, já se sabia 
  
desde o início – é banal,
melancólico, besta
e isento de moral. 
  
Mesmo assim, esta
é a história lida
até por quem detesta  
  
toda a inútil narrativa,
até por não haver alternativa.