Moonlight, o filme dirigido por Barry Jenkins, que também
assina o roteiro, é autobiográfico, segundo o próprio diretor.
Chiron,
chamado pelos colegas de Litlle (Pequeno), é vítima de abandono afetivo durante
toda a infância. Ele tem uma “mãe morta”, na concepção de André Green,
psicanalista francês nascido no Cairo (1927-1912). A mãe, prostituta e viciada
em crack (Naomie Harris, com ótima atuação), oferece a Chiron o que há de pior
para uma criança: a falta de afeto. (Se esta mãe viesse a morrer, provavelmente
o menino teria um destino melhor, seria adotado por Teresa, que às vezes faz o
papel de mãe. Isso pode ocorrer na vida real.)
Pai,
Chiron nunca teve. Até que surge John (o excelente
ator Mahershala Ali), um traficante de crack que se impressiona (chega a
se emocionar em certo momento) com a apatia e mutismo do garoto, e faz as vezes
de pai.
Esta
é apenas a introdução para o que virá depois!
Chiron
adolescente e adulto revela as consequências daquela infância traumática, pobre
em afeto: um homem triste perdido no mundo.
No
entanto, o filme que parece igualmente pobre pela descrição que apresento até
aqui, torna-se extremamente rico, pleno de sensibilidade, originalíssimo, com a
introdução da sexualidade como elemento fundamental na vida de Chiron. O tema não tem sido tratado no cinema entre os negros.
Um
grande filme, para ser visto, revisto, e discutido com que gosta de cinema.
(Recebeu 8 indicações para o Oscar, o que não tem a menor importância.)