segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Tudo dominado

Segunda charge do dia


 André Dahmer

Progresso?




 

O processo de demenciação avança em ritmo acelerado. O progresso – ou se trata de retrocesso? – do distúrbio ganhou novo ímpeto, talvez seja sua evolução natural, ou ando abusando da costelinha-de-porco criado em Coromandel.

            Filme que vi ontem.

            Livro que estou lendo.

            Notícias mais recentes.

            Tudo se escoa por um ralo invisível, as imagens desaparecem na escuridão da memória, as palavras voam céleres para o mundo do nada.

            Os nomes próprios, para onde foram? Eu não sabia que era tão difícil conversar quando não lembramos dos nomes próprios. Aquele cara que fez aquele filme em que trabalha aquela atriz famosa lindíssima... como é meeeesmo o nome dele? Que filme?, pergunta minha mulher com cara de espanto.

            Outro dia aconteceu numa livraria:

– Moça, eu queria muito um livro, mas esqueci o nome.

– Lembra o autor?

– Não.

– A editora?

– Também não.

– Qual o assunto?

– Perda de memória.

            Ainda bem que me lembrei do assunto, não era nome próprio.

            Há vantagens! Estou revendo filmes ótimos no streaming (como é que consigo lembrar com facilidade dessa palavra que nem é do português?). Revendo pela primeira vez! Explico melhor: estou revendo com absoluta certeza que assisto pela primeira vez. Filmes ótimos! Outro dia assisti Um homem de sorte, com 2 h 47 min de duração!; à noite, com minha mulher, Vi um filme excelente hoje, a história se passa na Escandinávia (tenho me utilizado desse expediente com frequência: não me lembrava se era na Finlândia, Dinamarca ou Noruega, então mandei Escandinávia).  Ao reproduzir o título (escrito num pedacinho de papel), ela sapecou, Mas já vimos esse filme antes, é bom mesmo! E eu, Como assim?

            Estou pensando em pendurar no pescoço uma pequena lousa, um punhado de giz num bolso, um apagador no outro. Só para voltar a conversar.

            Enquanto isso, o terapêutico Diário da Demenciação prossegue firme.

 

Na livraria

 

– Moça, eu queria muito um livro, mas esqueci o nome.

– Lembra o autor?

– Não.

– A editora?

– Também não.

– Qual o assunto?

– Perda de memória.

Vaso com íris

Meus quadros favoritos 


Vincent van Gogh, 1890

Herança macabra

Charge do dia 



Laerte, tira de 2010, atualíssima!

Felicidade

Imagem & microconto 



– Mãe, quero tomar banho de piscina.

– Então senta aí nessa bacia, menino enjoado!



Foto: autor desconhecido.

Florence Price

 

 

Florence Beatrice Price foi uma compositora de música clássica norte-americana, a primeira mulher negra reconhecida como compositora sinfônica. 

“Florence nasceu em Little Rock, em 1887, filha de Florence Gulliver e James H. Smith, uma das três filhas de um casal inter-racial. Apesar de esta ser uma época de preconceito e opressão, a família era valorizada e respeitada em sua comunidade. Seu pai era dentista e sua mãe era professora de música, que acabou passando para a filha Florence o gosto pela música e as primeiras aulas. Sua primeira apresentação no piano foi aos 4 anos de idade e sua primeira composição clássica foi aos 11 anos. 

Aos 14 anos, Florence se formou na escola como a primeira da classe se matriculou no Conservatório da Nova Inglaterra, graduando-se em piano e órgão. Em seus tempos de estudante compôs seu primeiro trio e uma sinfonia. Formou-se com honras em 1906, tanto nos instrumentos quanto no magistério. 

Em Atlanta, tornou-se chefe do departamento de música da Universidade Clark Atlanta. Em 1912, casou-se com o advogado Thomas J. Price e se mudaram de volta para Little Rock. Após uma série de incidentes racistas na cidade, até mesmo um linchamento em 1927, a família se mudou para Chicago, onde Florence passou a se dedicar integralmente à carreira de compositora. 

Dificuldades financeiras levaram o casal ao divórcio em 1931, quando Florence se tornou mãe solteira de duas filhas. Para manter a família, ela trabalhou como organista em abertura de filmes mudos e compôs músicas para propagandas de rádio com um pseudônimo. Acabou se mudando para a casa de uma amiga e estudante, Margaret Bonds, pianista e compositora negra. A amizade com Margaret a fez entrar em contato com o escritor Langston Hughes e com a contralto Marian Anderson, duas figuras proeminentes no mundo artístico, que ajudaram a alçar o nome de Florence no meio da música. Junto de Margaret, Florence conseguiu reconhecimento nacional por suas composições e performances. 

Em 1932, as duas submeteram composição para o Prêmio da Fundação Wanamaker, onde Florence ganhou o primeiro prêmio com sua Sinfonia em Mi Menor e o terceiro prêmio com sua sonata para piano, que lhe rendeu 500 dólares na premiação. A Orquestra Sinfônica de Chicago tocou a sinfonia ganhadora de Florence em 1933, tornando-a a primeira negra a ter uma peça tocada por uma orquestra sinfônica. 

Seu trabalho era variado, com sinfonias, música de câmara, consertos para piano e violino, e arranjos para órgão. Alguns de seus trabalhos mais populares são "Three Little Negro Dances," "Songs to a Dark Virgin", "My Soul's Been Anchored in de Lord" e "Moon Bridge". Muitas de suas obras eram marcadas pelos ritmos e melodias das músicas negras. 

Apesar de ter recebido uma educação quase que inteiramente centrada na tradição europeia, a música de Florence adotava o inglês e trazia as raízes do sul dos Estados Unidos na melodia. Compunha com um estilo vernacular, usando sons e ideias que serviam à realidade da moderna sociedade urbana. Sendo bastante religiosa, frequentemente usava as músicas das igrejas negras como material para seus arranjos. Suas melodias eram inspiradas na técnica romântica europeia tradicional, mesclada com tons de blues e jazz. 

Florence faleceu em 3 de junho de 1953, devido a um acidente vascular cerebral. Após sua morte, muitos de seus trabalhos caíram no esquecimento e apenas recentemente foram redescobertos pela comunidade da música. Alguns de seus trabalhos se perderam, mas assim como muitas intérpretes negras estão ganhando notoriedade, também seu trabalho tem sido reconhecido. Em 2001, a Filarmônica das Mulheres gravou um álbum apenas com seus trabalhos.”

 

A Sinfonia n. 1 em mi menor está disponível no YouTube, bem como outras gravações da compositora: https://www.youtube.com/watch?v=9s4yY_A2A2k

 

 


https://pt.wikipedia.org/wiki/Florence_Price