Horácio, em ilustração de Anton von Werner
Escrevi
recentemente neste Louco por cachorros, em Narrativas poéticas II (1), em 31 de março último, a
propósito de minha visita à bela exposição no Museu da Língua Portuguesa, em
São Paulo, que “Ouvi
de Adélia Prado, em sua última participação no Roda Viva, que a arte que mais
se aproxima da poesia é a pintura! (Ainda mais que a música.) Acho que ela tem
razão.”
Alertou-me
meu cultíssimo amigo Aldo P. Neto que a ideia de associar pintura e poesia como
artes afins, para dizer pouco, vem de longa data, mais precisamente de Quinto
Horácio Flaco, ou simplesmente Horácio (65 a.C. – 8 a.C.), registrada em sua
obra Ars Poetica.
Sobre o
assunto, encontrei interessante trecho no E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia (2), que define a expressão
latina Ut Pictura Poesis (3):
“Expressão usada por Horácio na sua Arte Poética (c. 20 a. C.),
que significa “como a pintura, é a poesia” e que, apesar de não possuir um
significado estrutural, veio a ser interpretada como um princípio de
similaridade entre a pintura e poesia. A afinidade entre as duas artes já fora
mencionada por Plutarco, o qual atribuiu ao poeta Simónides de Céos o dito
segundo o qual “a pintura é poesia calada e a poesia, pintura que fala” (De
gloria Atheniensium, 346 F). Na mesma obra (17 F - 18 a), Plutarco esclarece
ainda que tal comparação se baseia no facto de pintura e poesia serem,
supostamente, imitações da natureza, princípio este que se revelaria fulcral
nas reformulações sofridas pela analogia entre ambas as artes ao longo da
Antiguidade clássica.”
O tema não é isento de controvérsia, e eis a opinião de
um ilustre português, encontrada na mesma fonte acima:
“Almeida Garrett, na fase inicial da sua carreira, também se
pronunciou sobre a “sentença” de Horácio e rejeitou a equivalência entre as
duas artes, porque, na Antiguidade, a pintura estava “atrasada” em relação à
poesia. É que os Gregos não tinham então Homeros em pintura. A argumentação de
Garrett já irá privilegiar a pintura, porque é a arte que melhor se adequa à
imitação da natureza: “A poesia animada da pintura exprime a natureza toda; a
dos versos, porém, menos viva e exacta, falha em muita parte na expressão de
suas belezas. Que poeta poderia dar uma ideia de Rómulo como David no seu
quadro das Sabinas? “Que versos nos poderiam fazer imaginar a Divindade como a
Transfiguração de Rafael? Que poema nos faria conceber a majestade dum Deus
criador dando forma ao caos, e ser ao universo, como a pintura de Miguel
Ângelo?” (Ensaio sobre a História da Pintura, Obras Completas, vol. 1, Lisboa,
1904, p. 27 a-b).”
Estou certo
de que a própria Adélia Prado, formada em Filosofia, conhece de sobra o
assunto. Mas é sempre interessante citar a fonte, quando exprimimos ideias que
não são originalmente nossas.
( (1) http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/search?updated-max=2014-03-31T05:02:00-07:00&max-results=10