terça-feira, 28 de setembro de 2021

Efêmero



 

Com a chegada das chuvas, numa manhã de céu azul e sol de primavera, plantei em meu jardim muda de ipê, alheio à sua natureza, se roxo, amarelo ou branco. Certeza mesmo, apenas que não o verei florir.

Isso fez brotar em mim sentimento de quase felicidade, leveza amena, meigo desprendimento, desapego enfim de saber o meu lugar na vida, no mundo.

Produziu em mim a calma de antecipar que a árvore há de florir na minha ausência e será grandiosa, admirada por todos que a virem, porque será bela e 

porque é árvore.

      A súbita percepção tornou a vida um rio fluido e fácil, a remover em seu caudaloso leito todo o peso da pedra, dos nós, das farpas e quinas, a lavar qualquer culpa ou responsabilidade por me saber passageiro, mais efêmero que o próprio ipê.

      Alguém há de cuidar que cresça forte e sadio a pequenina muda de ipê que plantei em meu jardim. Isso me basta, fiz o que pude.