sábado, 31 de dezembro de 2022

IN MEMORIAM

 

Aqui no planalto central não usamos muito a palavra verão; as estações na nossa região não obedecem às divisões clássicas. Aqui temos a seca e as águas. E posso dizer que é muito bom assim. Durante a seca com a grama completamente torrada, o céu enevoado e poeirento, nossos olhos se enchem da beleza dos ipês amarelos. Nas águas, céu chumbo, nuvens baixas, verde pra todo lado. Nosso verão é feito de águas. Nesse ano as águas estão tão chuvosas como há muito tempo não se via. Desde o início de novembro chove, e chove muito forte quase que todos os dias. As noites desde então vão ficando cada vez mais fresquinhas, puxamos um cobertor, bebericamos um vinho tinto de noite. O povo do litoral não vai entender nunca isso. 

Essa última sexta-feira do fatídico ano de 2022 não foi diferente: ao invés de chope no boteco da esquina com espuma caindo em cima do pé se estivéssemos no Rio de Janeiro, hoje me decidi por sopa. Sopa no verão?! Descongelei um pacote de carne de panela do freezer, e tal qual a madeleine do Proust, fui invadida pela memória. Este pacote é metade da carne com a qual fiz a última sopa que o André ainda comeu. O fazer, o preparo do que vai nos alimentar, as lembranças de tantas outras sextas-feiras, de tantos outros jantares, de todos os dias que partilhamos juntos, muitos alegres, alguns tantos tristes, mas acima de tudo a memória de uma vida em comum é a nossa história e não há ficção que dê conta disso. 

Nesse ano de 2022 muitas foram as perdas de pessoas essenciais, que nos impactaram e que portanto não morreram de todo, porque seguem conosco com suas ideias, seu brilhantismo, sua genialidade. Senti muito a morte da Nélida Piñon, uma mulher que desbravou um meio literário fortemente masculino, ainda que muito livre no seu viver, foi fortemente devotada às suas raízes, ao seu passado, aos seus antepassados. Coisa meio rara nos dias correntes. Tinha uma devoção quase que religiosa a Homero, da qual compartilho pois não pode haver nada mais lindo que os versos que antes de serem escritos tantas vozes repetiram para que pudessem chegar a nós. Da Nélida no entanto, a frase mais marcante para mim é aquela que descreve a emoção ao ganhar um cachorro salsichinha, o Gravetinho: “Eu não estava preparada para esse amor”. Sei bem do que ela está falando. O amor nos desarma.

Tantos outros morreram nesse ano que vai acabando. O André tinha uma certa birra da Gal Costa “por que ela tem que gritar tanto?”. Mas como esquecer “Brasil”? Atualíssima para os dias tristes que ora vivemos nesse nosso país. 

Celebrou-se o centenário de nascimento do José Saramago. Já morto há algum tempo mas precisamos celebrá-lo sempre. Que privilégio poder ler o que escreveu esse homem. Sua escrita nos encanta, nos impacta e nos transforma. No seu livro muito pessoal  “As pequenas memórias” de 2006, ao relatar  eventos da infância e juventude, sob a amorosa influência dos avós maternos, lavradores, analfabetos, ele nos comove com esse trecho acerca da preciosidade da vida: “Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: ‘O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer.’ Assim mesmo. Eu estava lá.”

Vamos aqui contando os mortos, somando saudades, sem lágrimas que cheguem para falar da falta que nos fazem. Se pudesse crer numa outra vida estaria agora imaginando o André na imensa fila para chegar junto ao rei. E ao se deparar com o Pelé, ele repetiria o gesto da infância quando o viu jogar em Guaratinguetá: um tapinha nas costas e a frase “Oh Pelé!”.

 


quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

    Em meio à arrumação que a morte nos impõe, se pretendemos evoluir no doloroso processo do luto organizamos gavetas, caixas, armários. Quanta coisa guardada, meu deus!  E qual o propósito? Na tentativa de desocupar um móvel meio pesadão,  espaçoso demais (o André certamente diria que eu estava tentando me descartar dele próprio!?), encontrei um de seus inúmeros diários. Este chama a atenção pela letra caprichada, as datas lá estão. Reconheço alguns momentos, de outros não me lembro  e nem poderia porque essa é uma memória dele. Não sinto que estou invadindo, xeretando: o diário ficou aqui por quase trinta anos dentro de um armário e se hoje eu perguntasse a ele "o que é isso?" tenho quase que certeza da resposta "não faço a menor ideia". O que quero dizer é que esse diário há de ter servido naqueles tempos para uma reflexão sobre aqueles dias. Reflexão??? Palavrinha ruim essa na falta de outra melhor. Serviu para  pensar, exercitar a autocrítica e conversar de forma muito verdadeira consigo mesmo. Transcrevo aqui um trecho. A grafia e a pontuação são dele. O pequeno poema também, me corrijam se estiver enganada, mas procurei e não achei autor. Mesmo que haja penso que está bem a propósito.

23/12/1994: "Véspera de Natal. O cheiro de pêssego no ar, Bach, violino e contínuo. E uma Paz difícil de aceitar. Vontade de escrever ao irmão distante: nada dizer, a não ser da saudade, das lembranças mais queridas, de uma vida que passou.

Como tem passado a Vida!

Quanto ainda há de passar?

Água que corre

às vezes límpida

de riacho quase puro

às vezes turva

de enchente lamosa

transbordante

sem margens o rio da Vida."


domingo, 30 de outubro de 2022


 ARGENTINA 1985


    A Argentina viveu certamente a mais cruel e sangrenta das ditaduras modernas da América do Sul. Em nome do combate à grande ameaça do comunismo daqueles idos especialmente na década de  70 os mais atrozes crimes foram cometidos. Diferentemente de  nós brasileiros os argentinos já há um bom tempo tentam expurgar os excessos.

    O indefectível Ricardo Darín encarna no filme "Argentina 1985" o promotor Strassera que de forma inédita preside um tribunal civil que vai julgar os crimes perpetrados por grupo de militares das mais altas patentes. Há que convencer o povo, o cidadão comum que não acredita que todo o horror se passou sem que dele se apercebesse. Não viram ou preferiram não ver? Os relatos duros, difíceis não resvalam no sentimentalismo. Strassera é um destemido e o grupo de jovens promotores que o segue são incansáveis na procura por testemunhas, na reunião de provas, na demonstração de coragem. 

    As mães e agora avós da Praça de Maio continuam esperando uma resposta, um corpo, um atestado de óbito. Não desistem da luta contra a opressão e obscurantismo que pautou aqueles tempos. Strassera invoca uma frase da qual precisamos nos apropriar: "Nunca mais".


ARGENTINA 1985 disponível na plataforma  PRIME VÍDEO 

sábado, 8 de outubro de 2022

NOBEL DE LITERATURA 2022


    Neste ano de 2022 o prêmio Nobel de Literatura foi concedido à escritora francesa Annie Ernaux de quem tive conhecimento pouco tempo faz. E ainda que não tenha lido nenhum livro seu já me sinto muito interessada no que ela tem a dizer após ter assistido há algumas semanas o filme baseado em sua obra "L'evenement" disponível por aqui com o título "O acontecimento". Ela narra no livro que deu origem ao filme a saga de uma jovem mulher, no caso ela própria, que na década de  60 estuda  literatura para se tornar não professora como é esperado então, e sim escritora, e no entanto tem seus sonhos paralisados quando se vê às voltas com uma gravidez indesejada. No filme com  muita economia de sentimentalismos é impossível não se angustiar com a difícil jornada frente ao preconceito do meio  que a segrega e a muralha de regramento fundamentalmente machista que a impede de fazer um aborto. Em que pese a discordância de tantos em relação ao tema, não podemos ignorar a necessidade de olhar de perto o problema. E é isso que para mim o filme consegue fazer graças à escrita autobiográfica  dessa  autora nascida em 1940 na Normandia e a primeira  mulher  francesa a receber o Nobel de Literatura.
    Podemos entender o que ela defende quando no filme ao ser questionada por um professor a respeito da causa de seus repentinos insucessos escolares: "Você está doente?", "Tenho uma doença que só as mulheres tem e que as transforma em donas de casa." Annie Ernaux é feminista. Sua obra é construída sobre sua biografia, vinda de uma família modesta estuda com dificuldade encom sua arte ao dizer  "eu" está a falar de experiências comuns. Annie Ernaux pertence à categoria de mulheres muito necessárias nesse momento em que o conservadorismo tenta se apoderar de comportamentos, ideias e escolhas dos indivíduos. Seu livro mais recomendado é "Les années"  ("Os anos") de 2008 disponível no Brasil pela editora Fósforo.
    Recomendo muito o filme "O acontecimento" na HBO MAX.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

 O HOMEM IDEAL


    Nos habituamos o André e eu há muitos anos a assistir juntos a um ou dois filmes nos finais de semana. Alguns inesquecíveis e muitos umas verdadeiras patacoadas. Quando bons, tínhamos mote certo para longas conversas. Nas últimas semanas de vida do André sem querer arriscar perder tempo, passamos a rever bons filmes mais antigos: "As horas", "Fale com ela". O último filme que vimos juntos era um filme novo de 2021 que tem em português um título a meu ver pobre para o que é - "O homem ideal". Dirigido pela alemã Maria Schrader, tem como título original "Ich bin dein Mensch", que meu amigo alemão traduziu como em inglês "Eu sou o seu homem". Há meses após ler crítica elogiosa sobre o premiado filme aguardo seu lançamento nas plataformas de streaming, até que há pouco mais de um mês apareceu para alugar numa delas. O início é meio desconcertante, um pouco desconfortável. O expectador titubeia um pouco, mas segue. Ainda bem. Acompanhado por uma trilha sonora além do impecável o filme é de uma delicadeza que alguns certamente atribuirão à condução feminina da trama, eu penso que ela vem simplesmente celebrar o tema tratado: o que é SER humano e estar aberto ao amor.

    Sem entrar em detalhes para não dar spoiler, até porque as sinopses falam disso, a protagonista aceita participar de um experimento no qual vai conviver por alguns dias com um robô, um androide ou como se queira designar uma máquina em formato de homem, desenhado para atender a todos os seus desejos, necessidades e fantasias, devendo ao final fazer um relatório recomendando ou não a experiência. A ação se passa numa Berlim moderna, mas nada a ver com o cenário futurista de filmes semelhantes (quem se lembrou de Blade Runner pode tratar de esquecer). O homem ideal quer agradar com cuidadinhos, flores, champagne e sexo, por que não? No entanto esse ser humanoide não é de modo algum desprovido de senso crítico, ele observa os humanos com curiosidade e algum sarcasmo. Nada lhe escapa. Pensará a máquina no que está fazendo num mundo desses? Ele é aceito naturalmente pelos animais e se espanta com a falta de empatia dos humanos.

    E o que parecia uma experiência fácil para uma mulher já madura, uma cientista especialista em escrita cuneiforme tradutora de acádio, transforma-se numa armadilha na qual ela é forçada a olhar de frente os sonhos que foram desfeitos, frustrações que a vida amorosa e profissional nos impõem, a decrepitude e fragilidade da velhice, a morte, a inveja da felicidade alheia. E se de repente nada mais disso acontecesse? E se a imprevisibilidade da vida se extinguisse? Seríamos então destituídos do que nos faz humanos, transformados em autômatos perderíamos a capacidade extraordinária que temos de aprender a lidar com as perdas, encontrar consolo para esperanças frustradas, usar como se diz na psicanálise os recursos da mente. O resto fica por conta de quem se interesse por assistir.

    A atriz principal Maren Eggert tem uma beleza sem adornos e uma atuação maravilhosa que lhe rendeu o Urso de Prata no Festival de Berlim 2021. Já seu par Dan Stevens consegue compor um personagem que não é humano mas que nos comove ao expor ao longo do filme atitudes do homem que muitas mulheres desejam. A diretora Maria Schrader já é conhecida do público brasileiro pela impressionante minissérie exibida em plataforma de streaming "Nada ortodoxa" que trata da fuga de uma jovem da comunidade judaica ortodoxa de Nova Iorque.

    O homem ideal tem apenas uma característica que nos tempos atuais invejo: não morre nunca. Até a última vez que pude conversar com o André repeti para ele: queria muito que você fosse o homem ideal. Dávamos juntos uma risadinha triste sempre que eu falava isso. O homem ideal não existe. 




Disponível para aluguel na Apple TV ou para os assinantes Prime da Amazon

   

sábado, 13 de agosto de 2022

O LUTO E A TORTA DE MAÇÃ

 

            O luto é o tempo da saudade, das lembranças, da solidão, do remorso, por vezes do desespero. A mente retorna à experiência de uma vida muito compartilhada numa conversação aberta, fértil troca de ideias e pensamentos expostos sem censura. Um ou outro desejo silenciado. É essa a tessitura da convivência harmônica. A vida transcorreu como se as ameaças cotidianas fossem unicamente vislumbres de um futuro muito, muito distante. Mas elas estavam lá sempre à espreita.

            Remorso não tenho das palavras atravessadas, do que poderia ter sido dito, de desculpas nunca verbalizadas. Não almejando a perfeição fui até onde consegui. O que me mortifica são as tortas de maçã que deixei de fazer. Numa gaveta da geladeira ficaram cinco maçãs verdes à espera de uma torta que foi sendo adiada. Foram ficando. O desinteresse pela vida contagia. Cozinhar para que? Qual é mesmo o sentido de acordar de manhã, se arrumar para o trabalho, tomar café (que difícil que desce esse café!), dirigir até o trabalho, escutar histórias banais tidas como trágicas, escutar histórias trágicas e prescrever um analgésico para dor de garganta? Então é disso que se trata estar vivo? É!

Hoje celebramos o dia dos pais com três pais ausentes: dois mortos e um distante. Todos muito importantes para as quatro filhas que aqui estamos. Cada um a seu modo absolutamente insubstituível como é natural que seja. Hoje a torta de maçã foi ao forno e sem falsa modéstia estava perfeita. Não poderei jamais e nem quero saber se minimamente se aproximou daquela feita pela mãe, aquela da memória afetiva. Por vezes tentei inovar: sem tampa, com creme de gemas, tarte tatin. Nenhuma convenceu: “eu gosto de torta com recheio massa em cima e em baixo.” Para os entendidos está dito. Que arrogância que é tentar competir com mãe! 

Gostava muito que você estivesse aqui comendo essa torta que foi feita para você, André. Servi um vinho italiano no almoço, fiz um churrasco de bife ancho muito bom, tomates, cebolas e abobrinhas assados na brasa como você gostava! E preciso contar que a Gabi está linda com o cabelo cortado curto e pintado de ruivo. Está a cara da Shirley MacLaine quando muito jovem, mas não pode falar que ela fica encabulada. As meninas estão com saudades e eu também. “Com açúcar e com afeto..."

domingo, 3 de julho de 2022

A Morte e o pequeno cão

 


 

 

À hora do repouso noturno deitou-se com seu pequeno cão que, como de costume, se acomodou ao pé do leito. Ao lado jazia a Morte, com sua presença quase física, paciente silenciosa determinada.

          Naquele estado de semiconsciência, do lugar mais secreto de sua alma, aflorou nítido o pensamento:

          – Eis o sentimento da mais profunda solidão. 

          Passados alguns segundos o cão despertou, caminhou pelo leito e se aninhou em seu peito. 

          Sem pedir licença, a Morte se fastou, ciente de que fora apenas uma batalha perdida. Levou consigo a Solidão!

 

segunda-feira, 27 de junho de 2022

domingo, 26 de junho de 2022

A vírgula e o buraco negro

Após longo período de silêncio sinto irresistível vontade de escrever. É que a cabeça anda vazia, os miolos consumidos pela doença, e desse oco não pode sair nada mesmo. Minha cabeça virou um buraco negro.

            Mas o desejo de escrever persiste, forte, autoritário, uma necessidade, ou mais que isso, uma ordem. Mas as ideias? Rosa Montero vem em meu socorro com seu novo livro A Boa sorte (Todavia, 2022). Meu improvável leitor não espere texto crítico sério, qualquer consideração literária de peso, mesmo porque a autora é das melhores que há nesta quadra, dona de escrita contemporânea privilegiada, livre de ranços e passadismos. (Se é para escrever puta, ela escreve puta.) Quase perfeita!

            Eu desejo apenas tocar num assunto do qual tenho me ocupado por longo tempo: o problema da vírgula. Que eu saiba, apenas Marcel Proust soube utilizar a vírgula com propriedade. Nem Machado, ouso dizer. (Isso veio do buraco negro.)

            Não sei por quanto tempo vou aguentar sentado diante do computador. Passemos sem perda de tempo à frase de Montero, à página 12.

 

“A maioria das lojas está fechada, e o fechamento deve ter ocorrido noutra era geológica.”

 

            Frase perfeita, dirão os leitores normais. Simples, clara, com arremate cheio de humor. De fato, não se pode apontar erro de qualquer espécie. Pergunto eu: para que essa vírgula? Peço que o leitor leia em voz alta a alternativa que ofereço:

 

“A maioria das lojas está fechada e o fechamento deve ter ocorrido noutra era geológica.”

 

            A ideia da autora é que a maioria das lojas está fechada há muito tempo. (Pois faz muito tempo que o povoado entrou em franca decadência.) A ideia é una, indivisível, o que vem depois da vírgula é inseparável daquilo que vem antes. A quebra da ideia por uma vírgula desnecessária enfraquece a frase. Não está errado, mas a ideia perde força. E uma ótima escritora deve manter a força de suas ideias e de sua escrita, se possível durante todo o livro.

 

            Tenho perfeita consciência da insignificância do texto acima, a não ser para os obcecados pela vírgula, como eu. Mas era tanta minha vontade de escrever! (Outra vez a Escrita Terapêutica.) De uma cabeça vazia, o que mais poderia sair? Apenas uma vírgula.

            Dois últimos comentários. Ao chegar à página 50, do total de 250, estou encantado com o livro. Ótima literatura, com destaque para a vívida construção e apresentação das personagens. Acho que vai continuar bom até o fim. Rosa Montero é uma craque; o leitor não perca seu livro anterior: A ridícula ideia de nunca mais te ver. (Alguém pode perguntar: se a leitura estava tão interessante, por que interrompê-la para escrever essa bobagem sobre uma ínfima vírgula?  Minha resposta é que UMA VÍRGULA É UMA VÍRGULA, É UMA VÍRGULA, É UMA VÍRGULA.)

            O segundo comentário refere-se à capa do livro. Poucas vezes vi coisa tão horrorosa. Portando, meu conselho é: não deixe de comprar um livro por causa da capa.

 

terça-feira, 14 de junho de 2022

De Cape Town a Magadan

Eu amo mapas 


A mais longa estrada para se caminhar, de Cape Town (África do Sul) até Magadan (Rússia). Sem necessidade de avião ou barco, pois há pontes onde necessário. São 22.387Km de extensão. 


Fonte: Dr M.F.Khan (Twitter)

Carnaval

Meus quadros favoritos

 


Candido Portinari



Nosso ipê-rosa



tochas do ipê-rosa

florescem em nosso jardim

imensa alegria 




Foto: Vanderlei, o jardineiro! 

Jun 2022.

Manhattan, NY

Cidades

 



Impressionate a extensão do Central Park na Ilha de Manhattan. É o coração da cidade, fonte inesgotável de beleza e lazer.


Foto de autor desconhecido.

A guerra continua

Segunda charge do dia

 


Aroeira


Outro olhar

 Imagem & Microconto


Quando a catarata agravou, não lhe restou alternativa senão olhar para dentro. E foram tantas as descobertas!





Foto: Paulo Sergio Viana, jun 2022.


https://blogdopaulosergioviana.blogspot.com/2022/06/catarata.html

Cortina de fumaça

 Charge do dia

Lotti


sexta-feira, 10 de junho de 2022

Em pleno oceano

Imagem & Microconto

 


Para o menino, seu barquinho singrava nada menos que o Oceano Atlântico. Com risco de enfrentar terríveis tempestades!



Foto: Robert Doisneau

domingo, 5 de junho de 2022

D. Pedro I e o primeiro estetoscópio do Brasil



Estetoscópio usado por Laennec

 

“A chegada do primeiro estetoscópio no Brasil ainda é motivo de polêmica. Nascimento e Silva (1866-1951) sugeriu que ele foi trazido da França por João Fernandes Tavares (1795-1874), futuro Visconde de Ponte Ferreira.

Este aparelho desde 1896 se acha no museu Nacional de Medicina, e o uso que dele fazia o Dr. Tavares mereceu-lhe do povo o cognome de Doutor Canudo.

René Laennec foi inventor do estetoscópio, em 1816, em Paris. Essa descoberta tornou-o um dos fundadores da medicina moderna.

Dr. Tavares foi médico e amigo de D. Pedro I. O estetoscópio deve ter sido usado para avaliar a evolução da fatal tuberculose do Imperador. Ele realizou uma necropsia e assinou o atestado de óbito em 28/09/1834. 

Retornou ao Brasil e fundou o primeiro curso de Medicina Legal. Na Faculdade de Medicina do RJ, foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o primeiro presidente do Imperial Instituto Médico Fluminense (Niterói) em 1867.

 

Referências: Nascimento-Silva A. João Fernandes Tavares, visconde da Ponte Ferreira. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Anais do 2º Congresso de História Nacional (7-14 de abril de 1931). Imprensa Nacional. Rio de Janeiro. 1942: III: 279-290.”

 

 

Texto postado hoje no Twitter pelo Dr. Leopoldo dos Santos Neto, meu dileto amigo, e que reproduzo aqui com sua autorização. Professor da Universidade de Brasília, ele se destaca pelo profundo conhecimento médico e da História da Medicina, além de ser um humanista.

 

sexta-feira, 27 de maio de 2022

2 pesos, 2 medidas

 Política sem palavras



Genivaldo, portador de transtorno mental, asfixiado em camburão da PRF, foi abordado por policiais porque não usava capacete! 


Foto de autor desconhecido.

Polvo e moreia

A foto do dia

 



Paula Vianna
Armação dos Búzios, RJ
maio 2022

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Câmara de gás

Terceira charge do dia

 


Nando Motta

Política de segurança eleitoral

Segunda charge do dia

 


Aroeira


Homenagem a Nise da Silveira




Nise Magalhães da Silveira (Maceió, 1905 — Rio de Janeiro, 1999) foi uma médica psiquiatra brasileira. Reconhecida mundialmente por sua contribuição à psiquiatria, revolucionou o tratamento mental no Brasil. Foi aluna de Carl Jung.

          Dedicou sua vida ao trabalho com doentes mentais, manifestando-se radicalmente contra as formas que julgava serem agressivas em tratamentos de sua época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia.

          Nise ainda foi pioneira ao enxergar o valor terapêutico da interação de pacientes com animais.” 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Nise_da_Silveira

 


          O não reconhecimento da importância de Nise da Silveira pelo presidente da república por si mesmo já é uma grande homenagem a esta mulher. Ao longo da vida, ela esbanjou empatia. Não poderia mesmo ser homenageada por que não sabe o que tal sentimento significa.

Um Rio de chacinas

 Charge do dia


Benett para a Folha hoje

Em Veneza

Imagem & Microconto

 


Planejado ao longo de muitos anos, aquele era para ter sido o passeio mais romântico de suas vidas.



Foto de autor desconhecido.

terça-feira, 17 de maio de 2022

Quem chegar primeiro...

Imagem & Microconto

 


Disse o mais velho:

– Quem chegar primeiro na pracinha leva a baguete! E disparou.




Foto: Robert Doisneau, 1950.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

A arte de Aurora Cursino

Pintura sem título e sem data de Aurora Cursino

Coleção: Museu de Arte Osório Cesar. Cortesia: 

Complexo Hospitalar do Juquery 

e Prefeitura de Franco da Rocha.

Foto: Gisele Ottoboni/ Prefeitura de Franco da Rocha.

 

 

Publicação a ser lançada na próxima quarta-feira, Dia da Luta Antimanicomial: biografia "Aurora: Memórias e Delírios de Uma Mulher da Vida", de autoria da historiadora Silvana Jeha e do psicanalista Joel Birman. 

“A dupla reconstrói a vida dessa anti-heroína com base em documentos de diversos arquivos, notícias de jornal e nos próprios escritos da artista, intercalando o texto com pinturas dela e sugerindo conexões dos quadros com fatos da vida de Cursino.” 

"Puta, louca e finalmente artista, ela condensa em sua obra algo que diz respeito a todas as mulheres", escrevem os autores na introdução do livro. "Sobretudo, o que ela pinta é o patriarcado. Os quadros dela são basicamente um ataque do patriarcado à mulher. Se alguém desenhou para mim o que é o patriarcado, foi a Aurora", afirma Jeha, em entrevista. A autora acrescenta que muitos temas tratados nos quadros da artista viriam a aparecer décadas mais tarde na arte feminista, engajada.”

“Cursino aprendeu a pintar na Escola Livre de Artes Plásticas do Juquery, onde a pintora Maria Leontina deu aulas durante alguns anos. Suas telas a óleo misturavam personagens das ruas do Rio de Janeiro, autoridades do governo e representações de si mesma e dos filhos que teria tido com escritos que davam dicas sobre as situações retratadas. Suas frases não eram muito claras e ela tratava a palavra como imagem, afirma Raphael Fonseca, um dos organizadores da exposição "Raio que o Parta", em cartaz agora em São Paulo, no Sesc 24 de Maio.”

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2022/05/quem-foi-aurora-cursino-artista-lobotomizada-que-pintou-a-submissao-feminina.shtml

 

Avaliação do desempenho de cotistas e demais alunos da USP


 

'Colegas viajavam para fora nas férias, e eu trabalhava', 

diz cotista recém-formado na USP

Karime Xavier/Folhapress

 

 

 

“Diferença entre nota de cotistas e demais alunos na USP cai ao longo do curso.”

Reportagem de Laura Mattos, para a Folha de S. Paulo hoje (15).

 

Desde o lançamento do programa de cotas assumi posição francamente favorável, ainda atuando na vida universitária, mesmo no tempo em que o assunto era ainda mais polêmico do que nos dias atuais. Portanto, é com imensa alegria que tomo conhecimento da presente pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo. Vejamos os destaques da pesquisa.

“Na formatura da primeira turma da Universidade de São Paulo, desde a implementação da política de cotas para estudantes de escolas públicas e para pretos, pardos e indígenas, uma pesquisa inédita obtida com exclusividade pela Folha revela que o desempenho dos cotistas foi pouco inferior ao dos demais alunos e melhorou progressivamente ao longo do curso, tornando a distância entre as notas cada vez menor.”

“O estudo acompanhou por quatro anos as notas dos cerca de 11 mil ingressantes da capital paulista de 2018, quando começou o programa de cotas. Parte desses estudantes, aqueles das faculdades de quatro anos de duração, graduaram-se no início de 2022, em razão do atraso da pandemia, e estão recebendo agora o diploma.”

“De acordo com a pesquisa sobre o desempenho desses alunos, mesmo nas faculdades mais concorridas, a distância máxima entre os oriundos de escolas públicas e os de particulares foi de 1,2 ponto na mediana das notas, de 0 a 10. A mediana é a nota central de cada grupo —50% dos alunos estão acima dessa marca e os outro 50%, abaixo. Essa diferença de 1,2 ponto se deu no 1º semestre de 2018. Já no 2º semestre de 2019, ou seja, no último boletim pré-pandemia, a distância havia sido reduzida para menos de um ponto, 0,9 na média. No fim de 2021, após quase dois anos de aulas online, foi de 0,7.”

“Para a coordenadora da pesquisa e professora da FFLCH, Marta Arretche, os dados demonstram que a inclusão dos cotistas não compromete a excelência da USP. A hipótese de que as cotas poderiam reduzir a qualidade da universidade costuma ser aventada por críticos das políticas de inclusão. "Essa é uma preocupação legítima, mas que se baseia em suposições", afirma.”

“Reitor da USP e professor de medicina, Carlos Gilberto Carlotti Junior afirma que a pesquisa sobre o desempenho dos estudantes comprova que "o programa de cotas acerta ao acreditar no potencial das pessoas". "São alunos que não tiveram uma educação da mesma qualidade que os de escolas privadas, mas têm potencial para superar essa diferença e chegar ao final da graduação com as mesmas condições."

Arretche e Carlotti não acreditam na possibilidade de que a exigência nas aulas e nas provas tenha sido reduzida. A coordenadora da pesquisa aponta que, muitas vezes, há diferença grande de notas em cada grupo. "Há alunos escolas particulares, brancos ou PPI, que tiram 10 e os que tiram zero, da mesma forma que os de escolas públicas."

Ela pondera que "notas nunca são perfeitas para avaliar alunos", mas são "o instrumento mais aproximado para observar empiricamente o desempenho". Por isso, ressalta, é importante que o estudo seja prolongado.”

“Para o reitor, "não há, desde a implementação das cotas, nenhuma sinalização de queda de prestígio da USP, da produção acadêmica, científica". "A USP precisa mostrar para a sociedade que o programa de cotas é interessante, aumenta a diversidade e qualifica ainda mais as nossas pesquisas, porque temos alunos de diversas realidades, vivências e pensamentos", afirma. "As grandes universidades internacionais têm programas de inclusão altamente fortalecidos. Se a universidade brasileira ficar fora disso, estará excluída do mundo acadêmico", complementa o reitor.”

Estas são ótimas notícias, fruto de estudos científicos qualificados.

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/05/diferenca-entre-nota-de-cotistas-e-demais-alunos-na-usp-cai-ao-longo-do-curso.shtml