segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O perigo do Fanatismo


             O livro Contra o fanatismo, de Amós Oz (Ediouro, 2004), permanece mais atual do que nunca, particularmente diante da explosão do Estado Islâmico no Oriente Médio. Embora o autor dê ênfase maior ao problema Israel-Palestina, ele assinala que “O fanatismo é mais antigo que o Islã, mais velho que o Cristianismo, que o Judaísmo, que qualquer estado, governo ou sistema político, que qualquer ideologia ou fé no mundo. O fanatismo é, infelizmente, um componente onipresente da natureza humana, um gene do mal, se quiserem chama-lo dessa forma.”
            O vocábulo fanatismo tem duas acepções no Houaiss: 1. zelo religioso obsessivo que pode levar a extremos de intolerância; 2. (por extensão) faccionismo partidário; adesão cega a um sistema ou doutrina; dedicação excessiva a alguém ou algo; paixão.
            Termo que exprime, portanto, sentimento perigoso, muito próximo da intolerância a qualquer posição diferente ou discordante.
            Esta pequena introdução tem como objetivo chegar ao artigo de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 83, físico, Professor Emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, publicado ontem (31/08/2014) na Folha de São Paulo e intitulado Desvendando Marina.(1) Resumo o texto numa única frase do autor: “Não me sinto confortável em ter como presidente uma pessoa que acredita concretamente que o Universo foi criado em sete dias há apenas 4.000 anos, aproximadamente.”
            Professar esta ou aquela religião, até mesmo ser ateu, é direito inalienável de todo cidadão, num país livre como o nosso. Isso não se discute. Agora, ignorar todo o conhecimento acumulado (duramente) pela Ciência até hoje, que não é pequeno embora muito haja ainda para ser desvendado, e abraçar cegamente uma doutrina que não mais se sustenta, como o Criacionismo, isso é fanatismo. E isso é muito perigoso.
            O Estado Islâmico vem aterrorizando milhares de pessoas no Oriente porque adquiriu Poder, através do recrutamento maciço de militantes, de ganhos financeiros vultosos, incluindo dinheiro oriundo de resgates de estrangeiros sequestrados e de saques das cidades conquistadas, e, acima de tudo, o poder obtido pela força da pregação religiosa fundamentalista. Fanatismo e Poder, isso é muito perigoso.
            Termino esta pequena crônica com uma frase de Amós Oz: “Muito frequentemente, o fanático só consegue contar até um, dois é um número muito grande para ele.” E isso é muito perigoso...