segunda-feira, 14 de julho de 2014

lembranças


entre tantas árvores
bananeiras no jardim
o gosto da infância

Foto: A.Vianna, junho 2014, Nosso quintal.

Ser cão, ser humano



                   Saramago declarou numa certa entrevista que “O cão se aproxima dos homens para interrogá-los sobre como é essa história de ser humano”.
            O cão, de fato, tem muita dificuldade para compreender o chamado ser humano. Ele não pode entender esta enorme humana oscilação de humor. Ora triste, ora alegre, nem sempre por razões claras ao próprio sujeito, quanto mais ao outro, o homem torna difícil a convivência entre os semelhantes.
   O cão só fica triste quando está longe do dono.

Foto: A.Vianna, maio 2014.

Monterroso e suas fábulas




O texto mais famoso de Augusto Monterroso contem apenas 37 letras e parece que foi a partir dele que surgiu a onda dos chamados microcontos, tão em voga hoje em dia e tão apreciados pelo Loucoporcachorros. Ele abre o livrinho (o formato é pequeno, porém a antologia é de enorme interesse) organizado por Marcelino Freire, Os cem menores contos brasileiros do século (Ateliê Editorial, 2004):

“Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.”

            Freire inspirou-se nesta obra prima do microconto para elaborar sua antologia de autores brasileiros, mas Monterroso, ele mesmo nasceu em Honduras em 1921, mudou-se ainda jovem para a Guatemala, e aos 23 anos fixou-se definitivamente na Cidade do México, como exilado político, onde faleceu em 2003.
Seu primeiro livro foi publicado em 1959, com o curioso título Obras completas (y otros cuentos), denunciando desde cedo o estilo satírico do autor.
            Sua obra é pouquíssimo divulgada no Brasil. Eis que agora surge entre nós A ovelha negra e outras fábulas, originalmente publicado em 1969. E surge, por ironia do destino, muito mais pelo tradutor, Millôr Fernandes, o homenageado da Flip deste ano, do que pelo próprio Monterroso, creio eu. A edição da Cosac Naify é muito bem cuidada, embora merecesse receber uma capa dura.
            Transcrevo, para despertar o interesse de futuros leitores, a fábula que dá título ao livro, A ovelha negra.

“Em um país distante existiu faz muitos anos uma Ovelha negra.
Foi fuzilada.
Um século depois, sucessivamente, cada vez que apareciam ovelhas negras eram rapidamente passadas pelas armas para que as futuras gerações de ovelhas comuns e vulgares pudessem se exercitar também na escultura.”

tempos difíceis



calcinado e triste
seca e fogo a destruí-lo
o cerrado chora

Foto: A.Vianna, Brasília, julho 2014.