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terça-feira, 15 de março de 2022

Poder escolher

 

Manifestante segura faixa com inscrição 'Poder Escolher',

após a Corte Constitucional da Colômbia aprovar a

descriminalização do aborto/Luisa Gonzalez (21 fev 2022) Reuters

 


 

Cristina Serra, paraense, jornalista e escritora, publicou hoje: 'Tire o seu rosário do meu ovário!' As condições que permitem aborto no Brasil não dão conta da nossa realidade (14 mar 2022). 

“O discurso do PGR, recendendo a bolor e ranço machista, ignora o direito de escolha que realmente nos interessa: a autonomia sobre nossos corpos para decidir quando e como ser mãe. Nesse sentido, o Brasil está na contramão de importantes vizinhos. A chamada "maré verde" começou com a Argentina (2020) e expandiu-se com o México (2021) e a Colômbia(fevereiro de 2022).”

“As instituições desses países deixaram de considerar o aborto crime, em diferentes fases da gestação, dando às mulheres condições de interromper a gravidez de forma segura, no sistema público de saúde, não sozinhas e desesperadas em clínicas clandestinas, onde muitas encontram a morte. No Brasil, o aborto só é permitido em caso de estupro, risco à vida da mãe e quando o feto não tem cérebro (anencéfalo). São condições que não dão conta da nossa realidade.”

A mescla, proposital e nefasta, entre política e religião, estimulada por Bolsonaro e sua base fundamentalista e argentária, contamina o debate e trava qualquer avanço legislativo que nos permita escapar do risco de prisão, sequelas ou morte diante de uma gravidez indesejada. É por isso que temos que continuar a gritar alto e bom som: "Tirem os seus rosários dos nossos ovários!".

 

Eu, pessoalmente, gostei muito da última frase!

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/cristina-serra/2022/03/tire-o-seu-rosario-do-meu-ovario.shtml

 

terça-feira, 8 de março de 2022

A força do cartoon

 


Monte Wolverton, Courtesy of Cagle Cartoons

 

  

Nos últimos meses este blog tem dado destaque aos cartoons, ou charges, como são conhecidos na língua portuguesa. Não é uma escolha fortuita, eles têm uma capacidade incrível de comunicar uma ideia, de forma impactante, poderosa, especialmente quando se trata de Política, e quase sempre com muito humor. Mas são úteis também nas orientações de saúde, comportamento e outras situações.

Stan Shatenstein, editor da Tobacco Control, em comemoração aos 30 anos da revista, publicou série de cartoons que incentivam a desabituação do uso do tabaco. Aquele que encima este texto é um bom exemplo, pelo impacto que ocasiona. 

Mostro aqui outros exemplos.

 


 Fumante passivo


 

Fumo e Meio Ambiente



Marketing




O vaporizador



Em nosso país, a desorientação social causada pelas absurdas ações governamentais (e de seguidores fanáticos) durante a pandemia de Covid-19 gerou inúmeras charges, representadas aqui por Jean Galvão.


Influência nociva

 


         

            Minha homenagem a todos os cartunistas do mundo!


         Agradeço ao Prof. Dr. Leopoldo dos Santos Neto pelo envio da matéria. 

 

 

 

 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Médicos esgotados



 

O artigo de Zuenir Ventura para O Globo de hoje (8 fev 2022) traz o título Médicos no Limite - A causa do cansaço, e é importante porque trata da classe mais afetada, juntamente com outros profissionais da saúde, pela pandemia.

“... a CPI da Covid, apontou em seu relatório final o presidente Bolsonaro como um dos principais responsáveis, senão o principal, pela maior tragédia sanitária da história do país, que já havia causado 600 mil mortes. Pesaram então sobre ele a acusação de nada menos que nove crimes, entre os quais charlatanismo e prevaricação.”

“O que há de mais impactante na recente pesquisa revelada pela jornalista Evelin Azevedo, promovida pela Associação Médica Brasileira (AMB) em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM), é que a maioria dos participantes (51%), a própria classe, reprova a condução da pandemia pela atual gestão. Trinta e quatro por cento classificaram a atuação como péssima; 16,6%, ruim; e 21%, como regular. Apenas 14,6% dos médicos têm a pasta como referência para indicar um tratamento. A maior parte (65,1%) se baseia na orientação das sociedades de especialidades e associações médicas.”

“A nova onda de Covid-19 provocada pela Ômicron gerou um forte impacto emocional nos médicos, que se disseram apreensivos (51,6%), esgotados (51,1%) e ansiosos (42,7%). Sem falar nos colegas de trabalho que se sentem estressados (62,4%), sobrecarregados (64,2%) ou exaustos (56,2%).”

“Quem melhor resume o atual estado físico e de espírito geral é o médico José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM. Além do aumento de casos e da diminuição de profissionais em atividade devido à contaminação, ele aponta como causa maior do cansaço físico e emocional a “sensação de que estamos enxugando gelo e de que a pandemia não vai acabar logo”. Essa “sensação” é confirmada pelos números, que continuam superando as 700 mortes diárias, vítimas do que Bolsonaro considera uma “gripezinha”.

 

De minha parte, fico abismado com o resultado da pesquisa aqui anunciada, ao saber que 14,6% dos médicos têm como referência o Ministério da Saúde, para indicar o tratamento para a Covid-19. De que planeta vieram esses negacionistas, cuja responsabilidade é ainda maior, exatamente por serem médicos?

 

https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/causa-do-cansaco.html

  

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Indignados e mamulengos

 

Este blog publicou 35 textos nos quais se destaca a palavra indignação, em determinadas situações que se faz necessária a capacidade do homem de se indignar. Esta capacidade precisa ser conservada a todo custo, sob risco de se perder a condição de humanidade!

Em 3 de março de 2017 publiquei pequeno texto sobre certa indignação de José Saramago: “Pudesse eu, fecharia todos os zoológicos do mundo. Pudesse eu, proibiria a utilização de animais nos espetáculos de circo. Não devo ser o único a pensar assim, mas arrisco o protesto, a indignação, a ira da maioria a quem encanta ver animais atrás das grades ou em espaços onde mal podem mover-se como lhes pede a natureza”, escreveu o escritor português José Saramago em seu blog no dia 20 de fevereiro de 2009. “Todos que amamos os animais assinamos em baixo”, acrescentei eu. 

(https://loucoporcachorros.blogspot.com/2017/03/saramago-sempre.html)

Outras postagens tratam do estupro de crianças, dos abusos perpetrados por padres pedófilos, dos incontáveis ‘epítetos presidenciais’ que pululam nas redes sociais, do precaríssimo saneamento básico do nosso país, do dia em que atingimos 500.000 mortes pela covid-19. Nada disso se compara à minha indignação diante do macabro capítulo de nossa história, que vivemos nos dias atuais, o da vacinação das crianças entre 5 e 11 anos de idade.

Ouvi ontem em noticiário da tevê a Dra. Margareth Dalcolmo afirmar que as medidas recentemente tomadas pelo governo federal sobre a vacinação de crianças não passam de “medidas protelatórias”. Durante a pandemia de covid-19, a Dra. Margareth Maria Pretti Dalcolmo ganhou papel de destaque, sendo considerada uma das principais especialistas em covid-19 e doenças pulmonares do país. Tornou-se participante ativa dos principais telejornais e programas brasileiros com o intuito de alertar a população dos riscos da doença e difundir a ciência para os telespectadores. Por isso foi nomeada Personalidade 2020 pelo Prêmio Faz Diferença

Pois esta respeitadíssima cientista afirma com todas as letras que o governo federal tem feito uso de “medidas protelatórias” na vacinação de crianças. O nome disso é CRIME! E crime exige julgamento e punição!

Destaco as principais atitudes governamentais que configuram e reafirmam o crime continuado, por se tratarem tão somente de medidas protelatórias: estabelecimento de consulta pública para tratar do assunto; em seguida, realização de audiência pública; exigência de receita médica para a aplicação da vacina; retardo na compra das vacinas da Pfizer, específicas para crianças; em meados de dezembro passado a Anvisa autorizou o emprego desta vacina, considerando-a segura e eficaz, e nenhuma providência foi tomada pelo ministério da saúde; seguidas declarações do presidente da República tentando desmoralizar a vacinação infantil, utilizando como exemplo a própria filha, que segundo ele não será vacinada; incontáveis declarações do ministro da Saúde, médico, procurando engambelar a imprensa e a população, afirmando não haver urgência para tal vacinação; por último, e a mais importante notícia, a morte de uma criança a cada 2 dias por covid-19 no Brasil, mortes evitáveis, portanto, pela vacinação.

Quem não se indignar com isso é porque perdeu completamente a capacidade de se indignar. Tornou-se um mero mamulengo.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Uso controlado de drogas em NY



 Sala em Nova York para uso controlado de drogas

The New York Times

 

 

Nova York / Reuters (1º dez 2021): 


“Nova York inaugurou nesta terça-feira (30) as primeiras salas dos Estados Unidos para que dependentes químicos usem drogas de forma supervisionada, medida que integra os esforços para tentar conter a epidemia de mortes por overdose no país.

Defensores de políticas de drogas voltadas à promoção da saúde argumentam que é melhor oferecer locais limpos e seguros para dependentes químicos como uma medida de redução de danos. Estudo do departamento de saúde da prefeitura estima que esses centros poderiam evitar 130 mortes por ano por overdose na cidade.”

Há os que são críticos desse tipo de serviço; alegam que “tais espaços representam uma ameaça às comunidades onde estão localizados, porque facilitariam o uso de drogas”.

Locais como esse já existem na Alemanha, Austrália, Canadá, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Luxemburgo, Noruega e Suíça. “Além de permitir que os usuários injetem drogas sob supervisão, os centros devem fornecer aos usuários seringas e outros suprimentos, bem como medicamentos para reverter overdoses e opções de tratamento.”

“No ano passado, as mortes por overdose na cidade de Nova York saltaram para mais de 2.000, o maior número desde o início do rastreamento em 2000. Quase 600 pessoas morreram no primeiro trimestre de 2021, de acordo com dados preliminares da cidade, a maior parte em um único trimestre. ...A maior parte dessas mortes (85%) envolveu opioides.” 

“O aumento foi potencializado por opioides sintéticos, sobretudo pelo fentanil fabricado ilegalmente —a droga, cem vezes mais poderosa que a morfina, é muitas vezes usada com outras substâncias que intensificam seus efeitos. Segundo a Prefeitura de Nova York, em 77% das overdoses registradas na cidade em 2020 havia fentanil envolvido, em geral misturado com heroína, cocaína, álcool, analgésicos à base de opioides e anfetaminas.”

 

            Assim caminha a humanidade.

 

sábado, 27 de novembro de 2021

Festa do corona


Austríaco vai a festa na Itália para pegar Covid-19 de propósito e morre: esta a manchete do G1 hoje (26 nov 2021).

“Um austríaco de 55 anos morreu de Covid-19 após se infectar propositalmente com o coronavírus na Itália para obter um passaporte sanitário — as autoridades italianas adotam em alguns casos a infecção prévia como alternativa à vacina para acesso a determinados locais. 

O alerta foi feito na semana passada por Patrick Franzoni, coordenador da unidade anti-Covid de Bolzano, cidade italiana perto da fronteira com a Áustria. Em entrevista à emissora RAI, ele diz que pessoas, jovens e velhas, têm participado de "festas do coronavírus" para tentar se infectar propositalmente e, assim, não precisar se vacinar. 

"Aqui, temos um menino que se recupera na unidade pediátrica e um morto de 55 anos que se infectou em uma 'festa do corona'", disse.

As vacinas aprovadas contra a Covid-19 até agora têm altos graus de efetividade contra todas as formas da doença, especialmente as mais graves. Além disso, mesmo pessoas jovens e saudáveis podem contrair o coronavírus e desenvolver quadros sérios ou até morrer.”

 

            Até onde chega a estupidez humana!

 

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/26/austriaco-vai-a-festa-na-italia-para-pegar-covid-19-de-proposito-e-morre.ghtml

 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Variante Ômicron


Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula 

(marrom) fortemente infectada com partículas do 

Coronavírus (Sars-CoV-2, em verde) isolada de um paciente.

Foto: NIH/NIAID

 

 

“A nova variante do coronavírus encontrada na África do Sul já tem um nome provavel: Nu. Com a pronúncia "niu", ela é a 13ª letra do alfabeto grego, que tem sido usado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para nomear as variantes do Sars-CoV-2 que precisam ser monitoradas.” 

 

https://oglobo.globo.com/saude/nova-variante-do-coronavirus-ja-tem-nome-nu-25293581?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo



Uma hora após esta postagem saiu o nome oficial da nova variante: Ômicron.


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

E agora?


Este blog não se cansa de defender a vacinação, a única maneira de vencermos a trágica pandemia. As postagens abaixo continuam disponíveis.

 

Do fanatismo

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/08/do-fanatismo.html

 

Vacinação em descrédito

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/10/vacinacao-em-descredito.html

 

Vacina e autismo

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2019/03/vacina-e-autismo.html

 

A Darwin o que é de Darwin

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/09/a-darwin-o-que-e-de-darwin.html

 

Vacinação pública ou privada?

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/01/vacinacao-publica-ou-privada.html

 

            Porém, o tema permanece em debate, os negacionistas mais ativos do que nunca. Então, quando surge a imagem avassaladora, é preciso voltar ao assunto!




             E agora?


Ref.:  statnews.com/2021/11/08/not

 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Maioria dos franceses

 

A notícia há de chamar a atenção dos que creem e dos que não creem: pesquisa recente revela que 51% dos franceses não acreditam em Deus. O responsável pelo anúncio é o jornalista Mario Sergio Conti, para a Folha de S. Paulo (2 out 2021).

            Conti pergunta: “Por que o movimento antivacina prospera em países desenvolvidos?” Afirma em seguida: “A França tem um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Além de gratuito e igualitário, ele é laico, humanista e enfatiza o raciocínio dedutivo. A educação ajuda a explicar por que o país tem um dos maiores índices de produtividade do planeta. Ela explica também uma pesquisa divulgada há dias, registrando um recorde. Pela primeira vez, a maioria dos franceses, 51%, não acredita em Deus. A França, a ancestral filha da Igreja, à qual se soma a recente vaga muçulmana, já não é majoritariamente religiosa.” (Grifo meu.)

            E Conti apresenta o paradoxo: “O pensamento científico está em alta.

Só que não é bem assim. A França tem uma das maiores taxas de resistência a vacinas contra a Covid do globo —13%.”

            O artigo, que merece ser lido, continua a discorrer sobre a antivacinação. Este blogueiro escreveu sobre o tema recentemente, expondo sua perplexidade:

 http://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/09/a-darwin-o-que-e-de-darwin.html .

            Porém, desejo destacar o problema religioso enunciado acima. A maioria do povo francês não é religiosa, afirma o articulista.

            Primeiro: não conheço a origem da pesquisa e não posso atestar a veracidade dela, embora o jornalista que a veicula seja respeitabilíssimo.

            Segundo: não desejo convencer ninguém de coisa alguma, muito menos em questões religiosas.

            Terceiro: não estou certo se esta é mesmo uma boa notícia.

            Quarto: se a notícia for verdadeira, os ateus de todo o mundo não precisam permanecer tão marginalizados, muitas vezes taxados de degenerados. (Certa feita ouvi de um colega que quem não acreditasse em Deus não deveria ser considerado um ser humano.)  

      Quinto: este deveria ser então mais um preconceito a ser revisto.

      Melhor pensar sobre isso.

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mariosergioconti/2021/10/por-que-movimento-antivacina-prospera-em-paises-desenvolvidos.shtml

 

sábado, 25 de setembro de 2021

A Darwin o que é de Darwin

 

Em sua crônica de hoje (24 set 2021) para a Folha de S. Paulo, Na vacinação, a Darwin o que é de Darwin, Hélio Schwartsman encontra resposta para um enigma que tenho sido incapaz de decifrar, desde o início dessa pandemia. Por que algumas pessoas – e são muitas pessoas, no Brasil e no mundo! – não aceitam se vacinar contra a covid-19?!

            O país desfruta de reconhecida capacidade para vacinação em massa contra várias doenças, das quais se destaca a poliomielite, afecção gravíssima erradicada graças à imunização. Nos primeiros anos da Faculdade de Medicina aprendíamos que uma boa anamnese deveria conter o registro das chamadas ‘doenças comuns da infância’, que se tornaram cada vez menos comuns. Naquela época não se ouvia falar em recusa de vacinação.

            A imunização anual contra a gripe tornou-se rotineira entre nós, com resultados espetaculares, igualmente com pouca ou quase nenhuma recusa.

            Por que agora, diante de vírus altamente contagiante e muitas vezes mortal, considerável número de pessoas, mesmo em países ditos civilizados, com altos índices educacionais, esse tal negacionismo e a inaceitação da vacina? Dizem que a razão é ideológica. Que ideologia é essa, que mais parece suicídio? 

            Os judeus ortodoxos são contra a vacinação, mas não posso compreender que o D`us deles seja contra uma medida que vise preservar a vida. Soa mais como certo tipo de fundamentalismo, o religioso.

            No Brasil, tal ideologia parece estar ligada à extrema direita; igualmente me é incompreensível que determinada posição política seja contra a vida. Talvez se trate mesmo do fundamentalismo político, tão burro quanto o religioso. Em tempo: Todo Fundamentalismo É Burro.

            Antes que minha irritação aumente, vamos ao Hélio Schwartsman, que nos oferece brilhante explicação para tanta insanidade. Ao comentar o papel do Estado, que não deve utilizar de violência para obrigar pessoas a se vacinarem, ele assim termina sua crônica:

 

“O Estado deve oferecer e convencer. Na emergência, pode pressionar. Mas, a partir de certo ponto, a recusa obstinada deve ser interpretada como um autossacrifício darwiniano pela melhoria da espécie.”

            

            Portanto, a Darwin o que é de Darwin!

 

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2021/09/na-vacinacao-a-darwin-o-que-e-de-darwin.shtml

 

domingo, 18 de abril de 2021

Tragédia de longa duração



 

"Uma única morte é uma tragédia; um milhão de mortes é uma estatística". Assim Hélio Schwartsman inicia sua crônica Vivendo com a tragédia nesse domingo, no Estadão (18 abr 2021).

Segundo ele, a frase teria sido proferida por Stálin, sem que haja comprovação disso. De qualquer modo, o fenômeno existe e é chamado de habituação: “uma forma de aprendizado caracterizada pela diminuição da intensidade com que respondemos a um estímulo à medida que a exposição se repete ou se prolonga”. 

Minha casa fica próxima a uma via de grande movimento, que liga o centro a uma certa periferia de Brasília, de alta densidade populacional e acentuada pobreza socioeconômica. Desde o início desta pandemia, e isso já vai para mais de ano, ouço a macabra sirene das ambulâncias que vão e vêm, buscando pacientes acometidos da Covid-19 e transportando-os para hospitais distribuídos pela cidade, incontáveis vezes ao dia. 

Durante os primeiros meses o som das ambulâncias produzia em mim forte comoção – não exagero –, por duas razões bem claras. A primeira era a dor da tragédia em si, o sofrimento das gentes mais necessitadas expostas à infecção, principalmente no precário transporte coletivo da Capital do país, de que são todos dependentes. Como não aglomerar, se vão trabalhar em ônibus lotados? 

O segundo motivo do abalo emocional era tão evidente e talvez até mais insuportável que o primeiro: a ameaça da morte, de minha própria morte. Aprendi a diferenciar o som das ambulâncias daquele dos carros da polícia; é incrível, mas a sirene da polícia oferecia um certo alívio.

É aí que entra a habituação de que fala Schwartsman: ela permite espécie de adaptação a dura realidade, questão de sobrevivência emocional, um certo tipo de aprendizado, porque a vida segue. Uma reação bastante humana.

Prossegue Schwartsman: “O lado menos brilhante da habituação é que ela normaliza aquilo que, no plano moral, não deveria ser normalizado. É o que está acontecendo agora no Brasil com a epidemia de Covid-19. Estamos há tanto tempo lendo sobre o aumento de mortes e vendo imagens dos congestionamentos de caixões que a carnificina por que estamos passando já não desencadeia em nós a reação adequada, que seria a de exigir dos governantes medidas efetivas e imediatas para minorar a crise.”

É por isso que o brilhante articulista afirma que “No plano valorativo, a habituação é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição.”

      Enquanto isso, as sirenes continuam a soar.


 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2021/04/vivendo-com-a-tragedia.shtml

 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Do garrote vil ao vil garrote da covid-19

 

Garrote vil era o nome de um instrumento de consumação de pena de morte na Espanha. Consistia em um torniquete de couro que garroteava o pescoço do condenado e  era apertado lentamente. Na ditadura franquista esse instrumento foi aprimorado e a tira de couro foi substituída por um anel de metal que era apertado por uma tarraxa que o carrasco torcia mais lentamente, dependendo de sua disposição de aumentar o sofrimento ou permitir uma morte mais rápida. Isso aconteceu na Espanha até a morte do General Franco e o advento da democracia espanhola.

No Brasil, este instrumento foi resgatado em Manaus, com uma aparência diferente, pela falta de oxigênio que possa garantir uma oxigenação adequada à vida das pessoas acometidas pela Covid 19 e em estado grave. Em Manaus, o carrasco são as autoridades que não se preocuparam com a vida alheia, muito menos com um sofrimento terrível, ao se ter uma asfixia lenta, gradativa e inexorável, que vai matando tão lentamente como o carrasco franquista que escolhia quem iria sofrer mais ou sofrer menos. 

Pois é! O Planeta inteiro sabia que isso poderia acontecer. O Planeta inteiro se preparou, menos o Brasil. Compete ao Poder Público Federal, leia-se Presidente e seus Ministros, a responsabilidade pela saúde e vida das pessoas nacionais brasileiras, não se trata de apenas uma necessidade humanística, mas de um imperativo constitucional. Está na Constituição Federal em seu “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (in verbis).

Quem instrumentaliza o Estado Brasileiro é o Presidente da República, da mesma forma que quem instrumentaliza o fazer cirurgia é o cirurgião. Nem adianta tentar culpar o anestesista ou quem quer que seja, a culpa será sempre daquele a quem é outorgada a prerrogativa do fazer, o domínio do fato.

A falta de oxigênio em Manaus exteriorizou a face mais cruel de uma governança sanitária desprovida de pudores, caracterizada por uma incompetência abissal, pois, na maioria das vezes, é depositada nas mãos de quem nem sabe muito bem o que é saúde e quais são os determinantes dela. São indicações de uma política de compadrio e de cumplicidade, na maioria dos casos, o que possibilita as iniquidades que se perpetuam diante dos olhos foscos por uma catarata moral dos tais representantes do povo que se aboletam nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativa e no Congresso Nacional, não para atender os anseios e necessidades do povo, mas para se manterem sobrenadando nas águas pútridas da politicalha brasileira. 

Enquanto em Manaus as câmaras de gás de Hitler são recuperadas, disfarçadas de UTI, os responsáveis pelo cumprimento do Artigo 196 da Constituição da República permanecem em silêncio de catedral sem missa ou de cemitérios a meia noite. 

Onde está o que se diz presidente desta república? E seu ministro da doença, que mesmo estando na cena do crime não identificou nenhum sinal de sangue, deve ser porque Covid 19 só sangra dentro do corpo e o sangue não é exteriorizado; a morte não ocorreu por bala de fuzil, mas por algo que o ministro nem sabe o que é, por ser portador de um obstáculo epistemológico que o impede de tomar consciência do fato.

Há um silêncio lá pelas bandas do Congresso Nacional, porque eles estão muitíssimo preocupados em eleger seus subalternos para comandar as duas casas do legislativo. Para eles, isso é infinitamente mais importante do que vidas humanas perdidas em sofrimento intenso e inimaginável. Espero que sejam garroteados e asfixiados pelos votos nas próximas eleições para, ao menos, sentirem um pouco do dissabor da derrota.

Há um terceiro e majestosos silêncio; o do Judiciário. Por onde andam os falastrões que se assumem como guardiões da liberdade? Mas de que serve a liberdade após uma morte em sofrimento atroz? Ao menos as almas dos falecidos encontrarão a paz no encontro com Deus!

Entretanto há um silêncio muito doloroso para mim, o silêncio da afasia dolosa do Conselho Federal de Medicina, encastelado em algum lugar desta República, escudados em uma ética literária, mas desprovida de veracidade, porque diante do cenário escandaloso e após cobrança pública de muitos médicos respeitados neste País, emitiram uma nota água com açúcar, um delírio do óbvio, como diria Nelson Rodrigues, falaram sobre o nada, pois tudo o que foi dito só demonstra uma cumplicidade obsequiosa.

Falta-me ar, sufocado pela impiedade de muitos agentes públicos, mal respiro. Suspiro incessantemente tentando entender o morticínio antecipadamente prevenido, mas simplesmente desconsiderado, catástrofe moral, mundialmente sem igual, enfim... falta o ar, falta o a... falta o ... falta... falt... fal... fa... f..... 

 

José Pedro Rodrigues Gonçalves (15/01/2021) 

Médico, meu colega de turma, aos 50 anos de formados pela UEG, hoje UERJ.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Vacinação pública ou privada?

 

 

A discussão sobre a vacinação contra o coronavírus, se pública ou privada, ganha corpo na mídia. Como sempre, é bom ler a opinião ponderada de Hélio Schwartsman para a Folha de S.Paulo (5.jan.2021). Diz ele:

 

“A vacinação só será capaz de pôr fim à epidemia se estiver no âmbito de um programa universal e público. E, se a circulação do vírus permanecer muito elevada, nem quem tem dinheiro para pagar por um imunizante estará livre de riscos. Vacinações são por excelência uma estratégia coletiva de saúde.”

 

         Este o ponto fundamental: trata-se de questão de saúde coletiva, e assim deve ser atacada. 

         Por outro lado, a medicina privada é atividade difundida em todos os países democráticos, e não seria justo impedi-la agora de exercer sua nobre função, tomando-se os cuidados necessários. Destaca Schwartsman:

 

“Seria decerto um despropósito se a iniciativa privada e o setor público entrassem numa disputa suicida pelos mesmos imunizantes.”

 

Ao concluir sua crônica, Schwartsman, indiretamente, ressalta o papel decisivo do SUS na imunização da população brasileira:

 

“Só voltaremos a algum tipo de normalidade depois que a maioria dos brasileiros tiver recebido sua vacina —e apenas o poder público é capaz de fazer isso.”

 

         Mais bem colocado, impossível!

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2021/01/vacinacao-publica-ou-privada.shtml

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Abominável

 

“O que torna o caso de Bolsonaro especialmente revoltante é que o fracasso do Brasil no manejo da Covid-19 não se deve apenas à incompetência das autoridades, um fato da vida, mas à insistência do presidente em sabotar os poucos consensos científicos sobre a doença a fim de extrair ganhos políticos pessoais. E isso é abominável.”

 

Hélio Schwartsman

 

A despeito da opinião de Schwartsman, 52% dos brasileiros  afirmam que o presidente não tem nenhuma culpa pelos mais de 180 mil mortos em todo o país até agora.

            O desvario que reina no Ministério da Saúde parece que não conta. A ausência de um plano de imunização em massa não conta. A imprevidência na compra de insumos necessários para tratamento e vacinação da população não conta. A falha gritante do tal ministro estrategista – a carta na manga do presidente na difícil escolha de um ministro da saúde subserviente – surpreende até mesmo membros do governo. Então o que conta?

            O que conta é o fanatismo em torno de um falso Messias, e quem é fanático não pensa. Conta a ignorância; durante a ditadura militar se dizia que o não cuidar da Educação tinha o propósito de manter o povo na santa ignorância dos que não sabem pensar. Parece que o fenômeno se repete, com a ausência, a falta, a nulidade do Ministério da Educação. Para que educar se já temos um mito?

            Até quando, até quando?

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2020/12/luta-contra-covid-nao-e-so-incompetencia.shtml

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Feito extraordinário da Ciência

A foto do dia





"Margaret Keenan, de 90 anos, é aplaudida pela equipe ao retornar à sua enfermaria depois de se tornar a primeira pessoa na Grã-Bretanha a receber a vacina Pfizer / BioNTech COVID-19 no Hospital Universitário, em Coventry, no início do maior programa de imunização já feito na história britânica." 


Um feito extraordinário da Ciência!


Foto: Jacob King / Pool / Reuters


Olhar Estadão, https://www.estadao.com.br



quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Erro desumano

 


Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello 

Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

 


A reportagem de Julia Lindner para O Globo (18 nov 2020) traz informação estarrecedora, porque impensável a “retratação” do Ministério da Saúde sobre a importância do isolamento social e a ausência de qualquer medicação no tratamento da Covid-19. 

            Eis a nota:

 

“BRASÍLIA - O Ministério da Saúde classificou como "erro humano" a publicação feita mais cedo em defesa do isolamento social como principal medida de combate ao novo coronavírus. No texto, que acabou apagado, a pasta reconhecia a inexistência de remédios que previnam ou acabem com a Covid-19, o que contraria o discurso do presidente Jair Bolsonaro. O ministério alega agora que as informações estavam equivocadas e por isso foram deletadas.

Em nota, pasta defendeu tratamento precoce para a Covid-19, mas reconheceu que ainda não há "solução efetiva" que evite risco de contágio.”

 

            Em resumo, o MS lançou nota informando duas verdades: a importância do isolamento e a ausência de tratamento eficaz contra a doença. Em seguida apaga o texto e alega que houve erro humano na publicação! (Estou sendo repetitivo, eu sei, mas é tão difícil de acreditar que preciso repetir, para que eu mesmo possa compreender.)

            Quem será o autor do tal erro humano? (Se não fosse humano, de quem mais poderia ser? De algum lobisomem que habita o ministério?) Algum funcionário cochilou e a verdade vazou? Ou foi o próprio ministro quem escorregou, em lampejo de coragem e honestidade? (Não seria a primeira vez...)

            O erro desumano é do próprio Presidente da República, garoto propaganda da cloroquina, negacionista contumaz, que costuma humilhar subalternos, mesmo que se trate de ministros designados por ele próprio, obrigando-os a desmentir eventuais verdades.

            Mas não vou atacar aqui o Presidente. O parágrafo inicial da crônica de Mario Serio Conti,  O Amapá de hoje será o Brasil de amanhã se o Cavalão não for detido, para a Folha de São Paulo (13.nov.2020), é imbatível: descreve com precisão quem governa o país. Ei-lo, o parágrafo:

 

“O presidente é aquilo que a sua camarilha da caserna dizia: um Cavalão com maiúscula. Cavaleiros da elite quiseram botar-lhe cabresto e tomaram coices. Arisco, ele relincha e baba fel nos que tentam ajudá-lo. É uma besta.

Besta fera política, um quadrúpede da extrema direita. Não adianta tomá-lo por interlocutor. Mesmo xingá-lo é inócuo. O bate-boca é o pasto no qual empapa a pança.

Não admitiu a derrota de Trump? Danem-se os dois. Disse que os brasileiros são maricas? Afe, está inseguro da sua macheza. Vai bombardear os Estados Unidos? Que se exploda.

É de caso pensado que ele bate os cascos no asfalto e provoca faíscas. Acha que as centelhas da idiotice disfarçam o tropel trôpego do seu desgoverno.”

 

            Depois de Conti, dizer mais o quê?

 

 

https://oglobo.globo.com/sociedade/ministerio-da-saude-diz-que-publicacao-favor-de-isolamento-social-foi-erro-humano-1-24754158

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mariosergioconti/2020/11/o-amapa-de-hoje-sera-o-brasil-de-amanha-se-o-cavalao-nao-for-detido.shtml

 

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Vacinação em descrédito


 


Em outubro, apenas 5 milhões de crianças 

de até 5 anos de idade receberam o imunizante. 

A meta para o mês era aplicar pouco mais 

de 11 milhões de doses. Getty Images



Campanha de vacinação contra a poliomielite termina e não atingiu metade da meta para o período (UOL, 30 out 2020). O Brasil não tem a circulação da polio desde 1994, mas é necessário que as taxas de vacinação alcancem as metas do Governo Federal. Será que as pessoas se esqueceram das medonhas sequelas deixadas por essa doença?

            Triste e preocupante o descaso com que a população vem negligenciando os programas de vacinação estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Suponho que tenham influência sobre tal atitude a própria pandemia, a falta de confiança no comando do Ministério da Saúde, a ausência de uma voz que inspire liderança em todo o governo; as trapalhadas inconsequentes, burras, irresponsáveis, a politização da vacina, quer seja contra o coronavírus ou qualquer outra doença, diariamente cometidas pelo presidente da república acabam também por desmoralizar a vacinação, especialmente para aqueles que não aprenderam a pensar.

            As instituições médicas, universidades, o Congresso Nacional, precisam se manifestar contra isso, reafirmando a necessidade da imunização.

            As pessoas continuam acreditando em astrologia, mas descreem da vacina!

            Por ora os negacionistas vencem, as crianças adoecem, os adultos morrem. O Brasil caminha para trás. 

 

 

https://cultura.uol.com.br/noticias/13751_campanha-de-vacinacao-contra-a-poliomielite-termina-e-nao-atingiu-metade-da-meta-para-o-periodo.html