Pieter Bruegel, the Elder (1562)
Manuscritos de até 5000 a.C. da biblioteca pública de
Mossul, no Iraque, 8 mil livros, incluindo os do período do Império Otomano,
antiguidades de valor histórico inestimável, tudo queimado recentemente por
militantes do Estado Islâmico!
Não é de hoje o costume de queimar livros. A Igreja
praticou-o durante séculos, particularmente no período da Inquisição. Os
nazistas foram incendiários ferozes de livros em praça pública. Agora, o Estado
Islâmico encarrega-se de preservar esta humana tradição.
Não por simples coincidência, estas três instituições
também queimaram e continuam queimando gente. (Dizem que Freud, ao saber de
seus livros destruídos pelo fogo, teria comentado, não com essas palavras: O
homem está mais civilizado; antes, queimava os autores, agora queima suas
obras. Mal sabia ele...)
Quando a decapitação tornou-se banal, o Estado
Islâmico apelou para o fogo, para o sacrifício dos infiéis.
No Brasil, nas grandes cidades, seja lá por que razão
for, queimam-se ônibus. Às vezes, com gente dentro.
Traficantes utilizam-se dos chamados micro-ondas,
engenhosos artefatos construídos com pneus empilhados, onde outro tipo de
infiel é colocado, molhado com gasolina, queimado vivo. É a fogueira
inquisitorial moderna.
Manifestantes, de toda coloração política, queimam
pneus para obstruir ruas e estradas. A fumaça é sempre negra.
Os já lendários coquetéis molotov – dizem, inventados
pelos russos, cujo nome é homenagem a Vlacheslav Molotov – ainda têm serventia
nas manifestações populares mundo afora.
Além da destruição que
acarreta, o fogo parece ter um forte conteúdo simbólico, o de produzir a
purificação do Mal.