terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Abominável

 

“O que torna o caso de Bolsonaro especialmente revoltante é que o fracasso do Brasil no manejo da Covid-19 não se deve apenas à incompetência das autoridades, um fato da vida, mas à insistência do presidente em sabotar os poucos consensos científicos sobre a doença a fim de extrair ganhos políticos pessoais. E isso é abominável.”

 

Hélio Schwartsman

 

A despeito da opinião de Schwartsman, 52% dos brasileiros  afirmam que o presidente não tem nenhuma culpa pelos mais de 180 mil mortos em todo o país até agora.

            O desvario que reina no Ministério da Saúde parece que não conta. A ausência de um plano de imunização em massa não conta. A imprevidência na compra de insumos necessários para tratamento e vacinação da população não conta. A falha gritante do tal ministro estrategista – a carta na manga do presidente na difícil escolha de um ministro da saúde subserviente – surpreende até mesmo membros do governo. Então o que conta?

            O que conta é o fanatismo em torno de um falso Messias, e quem é fanático não pensa. Conta a ignorância; durante a ditadura militar se dizia que o não cuidar da Educação tinha o propósito de manter o povo na santa ignorância dos que não sabem pensar. Parece que o fenômeno se repete, com a ausência, a falta, a nulidade do Ministério da Educação. Para que educar se já temos um mito?

            Até quando, até quando?

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2020/12/luta-contra-covid-nao-e-so-incompetencia.shtml

O cortador de juncos


 

“O ex-imperador Gotoba fez com que se reformassem mansões imperiais como a de Toba e a de Shirakawa, as quais utilizava com frequência. Contudo além dessas, havia um lugar chamado Minase, onde mandara construir uma mansão de indescritível elegância, frequentada ainda com mais constância por ele, que por mais que se deleitasse fartamente com ela – com suas flores de primavera e suas folhas avermelhadas de outono – sempre se dava ao luxo de voltar e passar lá o seu tempo, promovendo festins musicados, a ponto de esse seu hábito se tornar conhecido. No período Genkyu, entre 1204 e 1206, por ocasião de um concurso de poemas no estilo chinês  e japonês, o imperador Gotoba trouxe à luz este seu poema:

 

“Vislumbro envolto em névoa primaveril o rio Minase aos pés do monte;

A tal vista, como puderam preferir o entardecer de outono?”

 

            O texto acima pertence ao conto O cortador de juncos, de Jun`Ichiro Tanizaki, e compõe o belo volume com a novela A gata, um homem e duas mulheres (Ed. Estação Liberdade, 2016). http://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/12/a-gata-lily.html

            Nos séculos XII e XIII, no Japão, havia a disputa para saber o que era mais bonito, o amanhecer na primavera ou o entardecer no outono, as duas estações preferidas dos japoneses. Pois o imperador Gogota compôs o poema baseado em sua experiência pessoal junto ao rio Minase.

            O cortador de juncos trata dessas delicadas coisas.