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quinta-feira, 31 de março de 2022

Hubble ainda vive!

 

A estrela mais distante já vista, em imagem do Hubble,

cuja luz viajou por 12,9 bilhões de anos até chegar à Terra

NASA, ESA, STScI, B. Welch (JHU)

 

 

“Hubble bate recorde e detecta estrela mais distante já vista”: reportagem de Salvador Nogueira para Folha (30.mar.2022). 

“O Telescópio Espacial Hubble bateu mais um recorde, ao registrar a estrela mais distante já vista. Ela pertence a uma galáxia cuja luz partiu de lá apenas 900 milhões de anos depois do Big Bang, o evento que deu origem ao Universo como o conhecemos hoje.”

“Em circunstâncias normais, é impossível observar estrelas individuais mesmo em galáxias mais próximas. O resultado só foi possível por conta de um efeito previsto pela relatividade geral de Albert Einstein, as lentes gravitacionais. O físico alemão concluiu que objetos com alta massa que se interpõem entre nós e outros mais distantes podem desviar os raios luminosos pela gravidade, agindo efetivamente como uma imensa lente no espaço, capaz de distorcer e amplificar a luz no seu caminho até nós.”

      “O novo achado identificou que no ponto mais intenso da lente, onde havia maior magnificação, estava localizada uma estrela dessa galáxia de fundo, agora designado WHL0137-LS, astro que os pesquisadores liderados por Brian Welch, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, apelidaram de Earendel, palavra do inglês arcaico que significa "estrela da manhã" ou "luz ascendente". Imagens posteriores do mesmo objeto mostraram que essa magnificação persistiu por 3,5 anos.”

“O fenômeno tornou a estrela mais de mil vezes mais brilhante do que de fato é, o que permitiu um estudo inicial a seu respeito. Também foi possível determinar que se trata da estrela mais distante, portanto mais antiga, já observada. Afinal, quanto mais longe um objeto, maior o tempo que a luz dele leva para chegar até nós. No caso em questão, a luz viajou por 12,9 bilhões de anos antes de ser detectada pelo Hubble, o que coloca a imagem como um retrato fiel de uma estrela nascida e criada apenas 900 milhões de anos após o Big Bang (estima-se que o Universo tenha 13,8 bilhões de anos).”

“Ou seja, o melhor sobre Earendel está por vir. E podemos apostar que o Webb tem tudo para bater esse recorde e encontrar estrelas ainda mais distantes e primitivas no futuro próximo.”

 

Isso é Ciência! Descobertas se sucedem interminavelmente. Não há verdades definitivas. 

 

https://www1.folha.uol.com.br/blogs/mensageiro-sideral/2022/03/hubble-bate-recorde-e-detecta-estrela-mais-distante-ja-vista.shtml

 

quarta-feira, 23 de março de 2022

Iniciativa Extraordinária!!!

 

“Primeira instituição privada de apoio à ciência no Brasil sonha em frear 'fuga de cérebros'. Instituto Serrapilheira completa 5 anos com mais de R$ 50 milhões investidos em projetos”: reportagem extraordinária de Samuel Fernandes para a Folha hoje (23).

“Primeira instituição privada sem fins lucrativos para financiamento da ciência brasileira, o Instituto Serrapilheira completou cinco anos de existência nesta terça (22). A organização, que assina o blog Ciência Fundamental na Folha, contabiliza já ter investido mais de R$ 50 milhões em projetos de pesquisa científica e em iniciativas voltadas para divulgação da ciência.

Desde seu início, o instituto, fundado pelo documentarista João Moreira Salles e sua mulher, a linguista Branca Vianna Moreira Salles, mantém dois programas de financiamento. O primeiro, de apoio à ciência, é voltado ao suporte de pesquisas de excelência de jovens cientistas de áreas das ciências naturais, matemática e ciência da computação.

Já o segundo tipo de programa é voltado para divulgação científica e subsidia projetos de mídia e de jornalismo. "O que estamos tentando fazer é profissionalizar a divulgação científica." O diretor diz que existe uma grande demanda por financiamento de divulgação científica. Segundo ele, na primeira chamada feita pelo Serrapilheira, foram recebidos mais de mil projetos de todo o Brasil. do campo."

Mais recentemente, o Serrapilheira abriu a formação em biologia e ecologia quantitativas, um programa em ciências da vida para jovens que queiram cursar o doutorado fora do país.

"Vamos fazer investimentos mais focados na ecologia e biologia de sistemas complexos e queremos usar a força que já existe na matemática brasileira para tratar das questões da complexidade da vida", afirma o diretor, sobre essa iniciativa mais recente do Serrapilheira. 

Mesmo que a iniciativa seja importante, o próprio diretor do instituto reitera que o financiamento da ciência precisa ser operado principalmente pelo poder público. "

 

Vale a pena conferir o site Ciência Fundamentalhttps://www1.folha.uol.com.br/blogs/ciencia-fundamental/

 

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/03/primeira-instituicao-privada-de-apoio-a-ciencia-no-brasil-sonha-em-frear-fuga-de-cerebros.shtml

 

quinta-feira, 10 de março de 2022

Pinturas rupestres amazônicas

 

 

Pinturas rupestres amazônicas podem ser 

de mamíferos da Era do Gelo. 

Iriarte et al., Royal Society/The New York Times

 


 

A possível preguiça-gigante, no topo, com reconstruções artísticas modeladas a partir de um parente vivo próximo, a preguiça-de-três-dedos, no centro. O painel inferior considera se o desenho era de uma espécie extinta de urso, Arctotherium, padronizando-o a partir de seu parente vivo mais próximo, o urso-de-óculos

Iriarte et al., Royal Society/The New York Times 

Desenhos de Mike Keesey

 

 

 

 

Arte rupestre na Amazônia mostrou animais da Era do Gelo?: reportagem de Becky Ferreira /THE NEW YORK TIMES para afolha de S. Paulo (9 mar 2022).  

“No final da última era do gelo, a América do Sul era habitada por animais estranhos que desde então entraram em extinção: preguiças-gigantes, herbívoros semelhantes a elefantes e uma linhagem antiga de cavalos. Um novo estudo sugere que podemos ver esses animais extintos em pinturas encantadoras de ocre feitas por humanos da era do gelo num afloramento rochoso na Amazônia colombiana.  

"Toda a biodiversidade da Amazônia está pintada ali", disse Iriarte – animais e plantas aquáticos e terrestres, além de "animais que são muito interessantes e aparentam ser mamíferos de grande porte da Era do Gelo".

“Iriarte e seus colegas integram um projeto que estuda a chegada de humanos na América do Sul. Em um estudo publicado no periódico Philosophical Transactions of the Royal Society B, eles defendem o argumento de que a arte rupestre retrata megafauna da Era do Gelo. Mas, como o próprio estudo reconhece, a identificação de animais extintos em arte rupestre é controversa – e o sítio de La Lindosa não constitui exceção.”

“Os arqueólogos Fernando Urbina e Jorge Peña, da Universidade Nacional da Colômbia, rejeitam a hipótese de que as pinturas remontam à Era do Gelo.” 


Ciência é assim. Demora-se a estabelecer a verdade definitiva. Mas a verdade precisa ser perseguida a todo custo. Este é método científico. 

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/03/arte-rupestre-na-amazonia-mostrou-animais-da-era-do-gelo.shtml

 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

James Webb faz selfie

 

Primeira imagem enviada pelo telescópio James Webb,

mosaico com 18 pontos brancos em um fundo preto,

todos mostrando o mesmo objeto: a estrela HD 84406

da constelação Ursa Maior - AFP/Nasa


Selfie tirada pelo telescópio James Webb após ajustar

os equipamentos no espaço - AFP/Nasa

 

 

De Washington/AFP: “Telescópio James Webb avista sua primeira estrela e tira selfie” (11 fev 2022). 

“O Telescópio Espacial James Webb avistou sua primeira estrela, embora não exatamente esta noite, e até tirou uma 'selfie' para registrar o momento, anunciou a Nasa nesta sexta-feira. Essas etapas fazem parte de um processo de meses de alinhamento do enorme espelho dourado do observatório que os astrônomos esperam que ajude a desvendar os mistérios do início do universo. A primeira fotografia enviada do cosmos é mais do que impressionante. São 18 pontos brancos difusos em um fundo preto, todos mostrando o mesmo alvo: HD84406, uma estrela solitária e brilhante na constelação da Ursa Maior.”

“Os 18 pontos foram capturados pelo espelho principal em 18 segmentos individuais, e a imagem agora é a base para alinhar e focar essas peças hexagonais.

“O observatório de US$ 10 bilhões foi lançado ao espaço da Guiana Francesa em 25 de dezembro e agora está em uma órbita alinhada com a Terra ao redor do Sol, a cerca de 1,5 milhão de quilômetros do nosso planeta, em uma região do espaço chamada de segundo ponto de Lagrange.”

“O Webb começará sua missão científica neste verão, que inclui usar seus instrumentos de alta resolução para voltar no tempo 13,5 bilhões de anos até a primeira geração de galáxias que se formaram após o Big Bang.”

“A luz visível e ultravioleta emitida pelos primeiros objetos luminosos foi esticada pelo Universo em expansão, chegando hoje na forma de infravermelho, que o Webb está equipado para detectar com clareza sem precedentes.

Sua missão também inclui um estudo de planetas distantes, conhecidos como exoplanetas, para determinar sua origem, evolução e habitabilidade.”




            E há quem não acredite na Ciência!

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/02/telescopio-james-webb-avista-sua-primeira-estrela-e-tira-selfie-veja-fotos.shtml

 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência



 

Hoje, 11 de fevereiro, é o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Data instituída em 2015, pela do ONU, para comemorar avanços e refletir sobre as dificuldades que persistem. “E, mais importante do que isso, uma data para propor novas ações que continuem a transformar essa realidade e dar visibilidade às cientistas do gênero feminino.” (Reportagem de Soraya Smaili, Maria Angélica Minhoto e Pedro Arantes, para a Foha de S. Paulo hoje.)

Dentre as descobertas mais relevantes, estão: 

Dra. Katalin Karikó, cujos estudos de mais de três décadas com o RNA (ácido ribonucleico) levaram a uma tecnologia aplicável a vacinas para covid-19; 

Dra. Sarah Gilbert, pesquisadora da Universidade de Oxford e principal responsável pelo desenvolvimento de outro imunizante;

Dra. Lily Weckx, que junto com sua equipe da Unifesp coordenou todos os dados que levaram aos estudos de fase 3 e ao registro da vacina Astrazeneca pela Anvisa;

Dra. Ester Sabino que, com a pesquisadora Jaqueline Goes de Jesus, possibilitou a identificação e sequenciamento do primeiro Sars-Cov-2 que chegou ao Brasil.

      Exemplo maior, Marie Curie, responsável pela descoberta da radioatividade e que se destacou como a primeira mulher a receber dois Prêmios Nobel em áreas da Ciência.

Ao longo da história: Ada Lovelace na matemática, Nettie Stevens na genética, Luise Meitner na física, Rosalind Franklin na genética, Katherine Johnson na matemática. 

No Brasil, Nise da Silveira na psiquiatria, Carolina Bori na psicologia, Bertha Lutz na biologia, Elisa Frota Pessoa na física, Elsa Gomide na matemática, Niede Guidon na arqueologia, Berta Becker na geografia, Maria da Conceição Tavares na economia, Emília Viotti na história, Lélia Gonzales na antropologia, Heleieth Saffioti na sociologia, e tantas outras.

“É preciso reconhecer e intensificar a formação de redes que auxiliem as mulheres a romperem barreiras e aumentem as conexões entre todos os pesquisadores para que, juntos, atuem pela Ciência, Cultura e toda formação humana.”

Acrescento eu, minha homenagem a todas as mulheres que, anônima e honestamente, trabalham por suas famílias e pelo bem do país.


https://www1.folha.uol.com.br/blogs/sou-ciencia/2022/02/mulheres-e-meninas-fazem-ciencia.shtml

 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Medicina dos chimpanzés

Bo, resgatado pelo Projeto Chimps, em Morgantown, EUA

Melissa Golden

 

“Chimpanzés usam insetos para tratar feridas, mostra novo estudo.” Reportagem de Nicholas Bakalar para The New York Times, publicada na Folha de S. Paulo hoje.

“Desde 2005, pesquisadores vêm estudando uma comunidade de aproximadamente 45 chimpanzés no Parque Nacional Loango, no Gabão. De novembro de 2019 a fevereiro de 2021, os pesquisadores notaram 76 feridas abertas em 22 chimpanzés. Em 19 casos eles viram um deles realizar o que parecia um autotratamento da ferida, usando um inseto como remédio. Em alguns casos, um chimpanzé parecia tratar outro. Os cientistas publicaram suas observações na revista Current Biology na segunda-feira.”

“O procedimento era semelhante em todas as ocasiões. Primeiro, os chimpanzés pegavam um inseto voador; depois o imobilizavam, apertando-o entre os lábios. Aí colocavam o inseto sobre a ferida, movendo-o em círculo com as pontas dos dedos. Finalmente, retiravam o inseto, usando a boca ou os dedos. Com frequência eles colocavam o inseto na ferida e o retiravam diversas vezes.”

“Os pesquisadores não sabem que inseto os chimpanzés usavam, ou exatamente como ele pode ajudar a curar um ferimento. Sabem que eram pequenos insetos voadores de cor escura. Não há evidência de que os chimpanzés comam os insetos — eles com certeza os espremem entre os lábios e os aplicam sobre os ferimentos.”

“Em três casos, os pesquisadores viram os chimpanzés usarem a técnica em outro chimpanzé. Em um deles, uma fêmea adulta chamada Carol cuidou de um ferimento na perna de um macho adulto, Littlegrey. Ela pegou um inseto e o deu a Littlegrey, que o colocou entre os lábios e o aplicou na ferida. Mais tarde, Carol e outro macho adulto foram vistos esfregando o inseto em torno da ferida de Littlegrey. Outro macho adulto se aproximou, retirou o inseto da ferida, colocou-o entre seus lábios e depois o reaplicou na perna de Littlegrey.”

“Aaron Sandel, antropólogo na Universidade do Texas em Austin, achou o trabalho valioso, mas ao mesmo tempo manifestou certas dúvidas. "Eles não oferecem uma explicação alternativa para o comportamento, nem fazem conexão com que inseto poderia ser", disse. "O salto para uma potencial função médica é um exagero, nesta altura. Mas, disse ele, "cuidar de seus próprios ferimentos ou de outros usando um instrumento, outro objeto, é muito raro". A documentação dos chimpanzés cuidando de outros é "uma importante contribuição para o estudo do comportamento social dos macacos", acrescentou Sandel. "E é interessante também perguntar se há empatia envolvida nisso, como nos humanos."

            Acrescento eu: as dúvidas levantadas por Aaron Sandel fazem parte do chamado método científico. Pesquisar e duvidar são elementos fundamentais para o desenvolvimento da Ciência. O que não impede que o mesmo pesquisador possa fazer, no caso em questão, a interessantíssima pergunta: “Há empatia envolvida nisso?” A resposta, ninguém sabe ainda.

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/02/chimpanzes-usam-insetos-para-tratar-feridas-mostra-novo-estudo.shtml

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Avós e netos, uma relação especial



 Minha avó Cici

 

Pesquisa inédita analisou a ligação entre avós e netos por meio de exames cerebrais - A relação tem mais empatia e é mais emocional do que com os filhos, comprova estudo: texto de João Pedro Fragoso (30 nov 2021) para O Globo. 

“Não existe amor igual ao das avós”. O dito popular pode ter sido comprovado pelo estudo de James Rilling, antropólogo da Universidade de Emory, em Atlanta, Estados Unidos, que avaliou a “reação das avós ao observar fotos de seus netos em diversas situações, e de seus próprios filhos.” 

“Foram recrutadas 50 mulheres com pelo menos um neto biológico na faixa etária dos 3 e 12. Os pesquisadores utilizaram exames de ressonância magnética funcional, que mede as mudanças no fluxo sanguíneo que acontecem com a atividade cerebral, ao mesmo tempo em que mostravam imagens do neto, de outra criança que não conheciam, de pessoas que não conheciam e do pai do neto.”

O estudo revelou “aumento nas atividades na área do cérebro associada à empatia emocional, relacionado, por exemplo, ao instinto de segurar, se aproximar e interagir com a criança.” “A pesquisa sugere que as avós são levadas a sentir o que seus netos estão sentindo quanto interagem com eles. Se o neto está sorrindo, elas sentem a alegria dele. Se está chorando, sentem a dor e a angústia da criança.” 

“Antes do experimento com as avós, Rilling realizou um exercício semelhante com pais que olhavam para as fotos de seus filhos. As atividades cerebrais processadas foram na mesma área das avós, da empatia emocional, mas em nível bastante inferior — embora alguns pais tenham atingido picos de ativação semelhantes.

 Por outro lado, quando essas avós olhavam para as imagens de seus filhos, as áreas cerebrais ativadas foram diferentes. Em vez de serem associadas ao lado emocional, as exercitadas foram as relacionadas à empatia cognitiva. Ou seja, segundo o estudo, essas avós estavam tentando compreender cognitivamente o seu filho adulto em vez de experimentar uma conexão emocional mais direta.”

“— Empatia emocional é quando você é capaz de sentir o que outra pessoa está sentindo,  empatia cognitiva é quando você entende o que outra pessoa está sentindo e por quê — falou, em entrevista ao The Guardian, Rilling. 

“Estudo coordenado pela Berlin Aging Study mostrou que avós que cuidam de netos têm 37% menos risco de morte do que pessoas na mesma faixa etária que não cuidam das crianças. A proximidade emocional entre netos e avós é protetora da depressão e de outros transtornos mentais, além de favorecer habilidades socioemocionais. Já para a criança, sentir-se aceito e amado pelas avós contribui para a autoestima. Ela acredita ser alguém com qualidades para ser amada.”

 

 Reproduzo aqui tais achados pensando em minha querida avó Cici, por quem tinha enorme afinidade, sentimento recíproco, sem dúvida. Penso também na minha queridíssima neta Gabriela, que espero rever em breve, após prolongado isolamento causado pela pandemia. Uma experiência grandiosa essa de ter sido neto e ser avô. Sou grato à Vida por isso.

 

https://oglobo.globo.com/saude/pesquisa-inedita-analisou-ligacao-entre-avos-netos-por-meio-de-exames-cerebrais-25287102

 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Variante Ômicron


Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula 

(marrom) fortemente infectada com partículas do 

Coronavírus (Sars-CoV-2, em verde) isolada de um paciente.

Foto: NIH/NIAID

 

 

“A nova variante do coronavírus encontrada na África do Sul já tem um nome provavel: Nu. Com a pronúncia "niu", ela é a 13ª letra do alfabeto grego, que tem sido usado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para nomear as variantes do Sars-CoV-2 que precisam ser monitoradas.” 

 

https://oglobo.globo.com/saude/nova-variante-do-coronavirus-ja-tem-nome-nu-25293581?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo



Uma hora após esta postagem saiu o nome oficial da nova variante: Ômicron.


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Estranhas palavras

 

Uma palavra estranha: misocinesia. O radical miso indica raiva, ódio; cinesia se refere a movimento. “Em resumo: os pequenos gestos irritantes dos outros que disparam nossos gatilhos de ódio”. É o que afirma Leandro Karnal, para O Estado de S.Paulo (24 nov 2021), na bela crônica intitulada O diabo das pequenas coisas.

Ao pé da letra, portanto, misocinesia significa “ódio aos movimentos”, uma forte resposta emocional negativa a movimentos pequenos e repetitivos de outras pessoas. Trata-se de condição comum: estudo publicado no periódico Scientific Reports mostrou que um terço da população é misocinésica.

Karnal faz referência a uma segunda palavra igualmente estranha: misofonia. “Sons como o estalar de dedos e outros podem despertar em algumas pessoas um ataque de fúria”, explica ele.

Como surgem, pergunta Karnal.  “Segundo o estudo da UBC, é que nossos neurônios-espelhos seriam ativados com a repetição. São os que impulsionam a seguir o que estamos presenciando. Sumeet M. Jaswal e Todd Handy, pesquisadores do tema, reconhecem que não sabemos exatamente por que a irritação cresce tanto em algumas pessoas.”

Agora a parte mais interessante dessa história. Segundo Karnal, “Santa Teresinha do Menino Jesus, a popular doutora da Igreja, afirmava que sofria de misocinesia. Tinha antipatia por uma religiosa no claustro e o simples fato de a confreira agitar seu rosário a irritava. ... No mesmo texto que ela identifica o horror do simples manejo das contas do rosário, a mística católica indica a solução. Passou a combater a antipatia. Criou reação oposta: todas as vezes que cruzava com a freira que a irritava, Teresinha sorria e manifestava alguma fala simpática e de acolhimento. A religiosa chegou a perguntar a ela sobre o sorriso, desconfiada. Nossa ex-irritada combateu sua disposição de antipatia e a transformou em empatia treinada e eficaz. Uma autossugestão funcional.” 

De fato, reconhecer o problema em si próprio constitui o primeiro passo para a solução. Entretanto, esta mesma solução não vem com facilidade, automática, só porque agora eu sei que que o problema existe. (Talvez isso funcione no caso de uma Santa...) Difícil “domesticar” nossos sentimentos, em especial o ódio profundamente enraizado em nós. 

Nas situações mais graves, quando o distúrbio acarreta intenso sofrimento psíquico, a abordagem psicanalítica pode ajudar. Quando analista e analisando podem trabalhar, quando a dupla analítica funciona, é possível encontrar no Inconsciente as verdadeiras razões para comportamentos estranhos, definidos por palavras estranhas. 

 

 

https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,o-diabo-das-pequenas-coisas,70003906723

 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Maioria dos franceses

 

A notícia há de chamar a atenção dos que creem e dos que não creem: pesquisa recente revela que 51% dos franceses não acreditam em Deus. O responsável pelo anúncio é o jornalista Mario Sergio Conti, para a Folha de S. Paulo (2 out 2021).

            Conti pergunta: “Por que o movimento antivacina prospera em países desenvolvidos?” Afirma em seguida: “A França tem um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Além de gratuito e igualitário, ele é laico, humanista e enfatiza o raciocínio dedutivo. A educação ajuda a explicar por que o país tem um dos maiores índices de produtividade do planeta. Ela explica também uma pesquisa divulgada há dias, registrando um recorde. Pela primeira vez, a maioria dos franceses, 51%, não acredita em Deus. A França, a ancestral filha da Igreja, à qual se soma a recente vaga muçulmana, já não é majoritariamente religiosa.” (Grifo meu.)

            E Conti apresenta o paradoxo: “O pensamento científico está em alta.

Só que não é bem assim. A França tem uma das maiores taxas de resistência a vacinas contra a Covid do globo —13%.”

            O artigo, que merece ser lido, continua a discorrer sobre a antivacinação. Este blogueiro escreveu sobre o tema recentemente, expondo sua perplexidade:

 http://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/09/a-darwin-o-que-e-de-darwin.html .

            Porém, desejo destacar o problema religioso enunciado acima. A maioria do povo francês não é religiosa, afirma o articulista.

            Primeiro: não conheço a origem da pesquisa e não posso atestar a veracidade dela, embora o jornalista que a veicula seja respeitabilíssimo.

            Segundo: não desejo convencer ninguém de coisa alguma, muito menos em questões religiosas.

            Terceiro: não estou certo se esta é mesmo uma boa notícia.

            Quarto: se a notícia for verdadeira, os ateus de todo o mundo não precisam permanecer tão marginalizados, muitas vezes taxados de degenerados. (Certa feita ouvi de um colega que quem não acreditasse em Deus não deveria ser considerado um ser humano.)  

      Quinto: este deveria ser então mais um preconceito a ser revisto.

      Melhor pensar sobre isso.

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mariosergioconti/2021/10/por-que-movimento-antivacina-prospera-em-paises-desenvolvidos.shtml

 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Átomos de praseodímio

A foto do dia

 

Reconstrução de imagem de átomos de um cristal

de praseodímio ampliado em 100 milhões de vezes 

Divulgação/Universidade Cornell

 


Isso é absolutamente extraordinário!!! 


Reportagem de Everton Lopes Batista para a Folha de S. Paulo (14 jul2021): 

“A melhor imagem de um átomo até o momento foi obtida por cientistas da Universidade Cornell (Estados Unidos).

Para obter a foto, os cientistas usaram um microscópio eletrônico para ampliar em 100 milhões de vezes um cristal de praseodímio (Pr), um tipo de mineral. O microscópio usado emite um feixe de elétrons para capturar padrões no objeto por meio da interação. Os padrões depois podem ser traduzidos em imagens.

A grande sacada dos pesquisadores foi usar um algoritmo próprio capaz de formar uma imagem de altíssima resolução tendo os padrões como base. O único borrão que pode ser visto na imagem vem do próprio movimento dos átomos, um estremecimento constante. A técnica usada é chamada de pticografia.

O resultado foi uma imagem de uma precisão imensa, da ordem de picômetros, ou um trilionésimo de um metro. A descrição do estudo que deu origem à fotografia foi publicada em artigo no final de maio na revista científica Science.

“Além de estabelecer um novo recorde, o feito nos leva a um novo limite final para a resolução [de imagens]. Podemos agora descobrir onde os átomos estão de uma maneira muito fácil. Isso abre um monte de novas possibilidades de coisas que queremos fazer há muito tempo", afirmou o físico David Muller, um dos responsáveis pela pesquisa, em um comunicado publicado pela Universidade Cornell.”

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2021/07/cientistas-tiram-melhor-foto-de-atomos-ate-o-momento-com-ajuda-de-algoritmos.shtml

 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Por que somos o que somos


Crânio do Homo longi e uma reconstituição de sua aparência / C. Zha

 

Por que somos a única espécie humana do planeta? A reportagem de Nuño Domínguez para El País traz ótimo resumo do conhecimento atual sobre a evolução humana (4 jul 2021).

“Três descobertas nos últimos dias acabam de mudar o que sabíamos sobre a origem da raça humana e da nossa própria espécie, Homo sapiens. Talvez − dizem alguns especialistas − precisemos abandonar esse conceito para nos referir a nós mesmos, pois as novas descobertas sugerem que somos uma criatura de Frankenstein com partes de outras espécies humanas com as quais, não muito tempo atrás, compartilhamos planeta, sexo e filhos.

As descobertas da última semana indicam que cerca de 200.000 anos atrás havia até oito espécies ou grupos humanos diferentes. Todos faziam parte do gênero Homo, que nos engloba. Os recém-chegados apresentam uma interessante mistura de traços primitivos − arcos enormes acima das sobrancelhas, cabeça achatada − e modernos. O “homem dragão” da China tinha uma capacidade craniana tão grande quanto a dos humanos atuais, ou até superior. O Homo de Nesher Ramla, encontrado em Israel, pode ter sido o que deu origem aos neandertais e aos denisovanos que ocuparam, respectivamente, a Europa e a Ásia e com quem nossa espécie teve repetidos encontros sexuais, dos quais nasceram filhos mestiços que foram aceitos em suas respectivas tribos como mais um. 

Agora sabemos que devido àqueles cruzamentos todas as pessoas de fora da África têm 3% de DNA neandertal, ou que os habitantes do Tibete têm genes transmitidos pelos denisovanos para poder viver em grandes altitudes. Algo muito mais inquietante foi revelado pela análise genética das populações atuais da Nova Guiné: é possível que os denisovanos − um ramo irmão dos neandertais − tenham vivido até apenas 15.000 anos atrás, uma distância muito pequena em termos evolutivos.

A terceira grande descoberta dos últimos dias é quase detetivesca. Na análise de DNA conservado no solo da caverna de Denisova, na Sibéria, foi encontrado material genético dos humanos autóctones, os denisovanos, de neandertais e de sapiens em períodos tão próximos que poderiam até se sobrepor. Lá foram encontrados há três anos os restos do primeiro híbrido entre espécies humanas que se conhece: uma menina filha de uma neandertal e de um denisovano.

O paleoantropólogo Florent Detroit descobriu para a ciência outra dessas novas espécies humanas: o Homo luzonensis, que viveu em uma ilha das Filipinas há 67.000 anos e que apresenta uma estranha mistura de traços que poderiam ser o resultado de sua longa evolução em isolamento durante mais de um milhão de anos. É um pouco parecido com o que experimentou seu contemporâneo Homo floresiensis, ou “homem de Flores”, um humano de um metro e meio que viveu em uma ilha indonésia. Tinha um cérebro do tamanho do de um chimpanzé, mas se for aplicado a ele o teste de inteligência mais usado pelos paleoantropólogos, podemos dizer que era tão avançado quanto o sapiens, pois suas ferramentas de pedra eram igualmente evoluídas.

A esses dois habitantes insulares se soma o Homo erectus, o primeiro Homo viajante que saiu da África há cerca de dois milhões de anos. Ele conquistou a Ásia e lá viveu até pelo menos 100.000 anos atrás. O oitavo passageiro desta história seria o Homo daliensis, um fóssil encontrado na China com uma mistura de erectus e sapiens, embora seja possível que acabe sendo incluído na nova linhagem do Homo longi. 

Por que nós, os sapiens, somos os únicos sobreviventes? Para Juan Luis Arsuaga, paleoantropólogo do sítio arqueológico de Atapuerca, no norte da Espanha, a resposta é que “somos uma espécie hipersocial, os únicos capazes de construir laços além do parentesco, ao contrário dos demais mamíferos”. “Compartilhamos ficções consensuais como pátria, religião, língua, times de futebol; e chegamos a sacrificar muitas coisas por elas”, assinala. 

María Martinón-Torres, diretora do Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana, com sede em Burgos, acredita que o segredo seja a “hiperadaptabilidade”. “A nossa é uma espécie invasiva, não necessariamente mal-intencionada, mas somos como o cavalo de Átila da evolução”, compara. “Por onde passamos, e com nosso estilo de vida, diminui a diversidade biológica, incluindo a humana. Somos uma das forças ecológicas de maior impacto do planeta e essa história, a nossa, começou a se delinear no Pleistoceno [o período que começou há 2,5 milhões de anos e terminou há cerca de 10.000, quando o sapiens já era a única espécie humana que restava no planeta]”, acrescenta.”

 

As descobertas permanecem em curso. Esta é a beleza da Ciência: não há verdade definitiva, porém os avanços conquistados baseiam-se em fatos, e fatos são verdades. Há muita gente no Brasil precisando pensar sobre isso.

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-07-04/por-que-somos-a-unica-especie-humana-do-planeta.html

 

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Cataclismo cósmico



Representação da fusão entre um buraco negro,
no centro, e uma estrela de nêutrons.
Instituto Max Planck

 

 

“Dois detectores de ondas gravitacionais na Europa e nos Estados Unidos captaram o sinal de um cataclismo cósmico que nunca havia sido observado: a colisão entre buracos negros e estrelas de nêutrons.

Os dois eventos detectados ocorreram há centenas de milhões de anos. Desde então, as ondulações que produziram no espaço-tempo estão viajando em direção à Terra à velocidade da luz. Há muitos anos, os físicos utilizaram as equações da relatividade geral de Albert Einstein e calcularam o tipo de onda gravitacional que um evento como esse produziria. Os dois sinais captados agora pelos detectores LIGO, nos Estados Unidos, e Virgo, na Europa, coincidem com as previsões feitas pelo físico alemão há um século.” 

Reportagem de Nuño Domínguez para El País (29 Jun 2021) .


                     Isso é fantástico!

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-06-29/captado-um-sinal-de-ondas-gravitacionais-nunca-visto.html

sábado, 26 de junho de 2021

Homem Dragão





A descoberta do crânio do ‘homem dragão’ pode adicionar espécie à árvore genealógica da humanidade. Esta é a manchete do artigo de Carl Zimmer, para The New York Times (26 jun 2021), com tradução de Augusto Calil.

“Cientistas anunciaram nesta sexta-feira, 25, que um grande crânio fossilizado de pelo menos 140 mil anos pertence a uma espécie humana ancestral desconhecida anteriormente, uma descoberta com capacidade de transformar a visão científica a respeito de como - e mesmo onde - nossa espécie, Homo sapiens, evoluiu. 

O crânio é de um hominídeo adulto, que tinha um cérebro enorme, testa proeminente, olhos profundos e um nariz bulboso. O fóssil ficou escondido em um poço abandonado por 85 anos, após um operário encontrá-lo em uma construção na China.” 

“Os pesquisadores batizaram a nova espécie como Homo longi e lhe deram o apelido de "Homem Dragão", em homenagem à região do Rio do Dragão, no noroeste da China, onde o crânio foi descoberto.”  

É possível que o Homo longi seja a espécie humana mais próxima à nossa, e não os neandertais, como se pensava até agora. Vários especialistas discordaram desta hipótese.

"É lindo", afirmou John Hawks, paleoantropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison. "É muito raro encontrar um fóssil como esse, com a face em boas condições. A gente sonha em encontrar algo assim." 

“O crânio do Homo longi parece de um adulto de porte grande. Suas bochechas eram achatadas e sua boca, larga. A mandíbula inferior está faltando, mas com base no aspecto da mandíbula superior do Homem Dragão e de outros crânios humanos fossilizados os pesquisadores inferiram que ele tinha pouco queixo. Os cientistas afirmam que o cérebro dele era aproximadamente 7% maior do que o cérebro dos humanos atuais.” 

            E as descobertas que reafirmam a Evolução das Espécies prosseguem!

 

 

https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,a-descoberta-do-cranio-do-homem-dragao-pode-adicionar-especie-a-arvore-genealogica-da-humanidade,70003759800

 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Bactérias restauram Michelangelo



A sacristia após o processo de restauração 
da Capela Médici Giovanni Cipriano/NYT

 


 

Donata Magrini, Anna Rosa Sprocati, Daniela Manna, Paola D'Agostino, Monica Bietti e Marina Vincenti (da esq. para dir.), da equipe, formada exclusivamente por mulheres, que usou bactérias para limpar obras de Michelangelo - Gianni Cipriano/NYT

 

 

“Michelangelo ganha limpeza realizada por uma salada bacteriana em Florença – Micróbios são usados no processo de retirada de resíduos nas obras do renascentista na Capela Médici”. Esta a manchete da reportagem de Jason Horowitz, de Florença, para The New York Times, com tradução de Paulo Migliacci, publicada hoje na Folha de S.Paulo.

“Já em 1595, descrições de manchas e descolorações começaram a aparecer em relatos sobre um sarcófago na graciosa capela que Michelangelo criou como repouso final para os membros da família Médici. Nos séculos seguintes, o gesso usado para copiar incessantemente as obras-primas que ele esculpiu por sobre as tumbas deixou resíduos que causaram descoloração. As paredes brancas e ornadas que ele concebeu perderam o brilho.”

“Enquanto o vírus se espalhava lá fora, restauradores e cientistas discretamente colocaram em ação micróbios dotados de bom gosto e incrível apetite, espalhando-os sobre o mármore e transformando a capela deliberadamente em uma salada bacteriana.”

“Foi tudo feito em segredo”, disse Daniela Manna, uma das restauradoras, que atribui a sujeira a Alessandro Médici, que governou Florença, morreu assassinado e teve seu corpo sepultado no sarcófago sem ser devidamente eviscerado. Ao longo dos séculos, os resíduos que seu corpo produziu vazaram para o mármore de Michelangelo, criando manchas profundas, e mais recentemente oferecendo um banquete ao produto de limpeza preferido na capela, uma bactéria chamada Serratia, a SH7."

“Anna Rosa Sprocati, bióloga da Agência Nacional Italiana de Novas Tecnologias, escolheu a bactéria mais adequada entre as quase mil variedades disponíveis, usadas mais frequentemente para romper moléculas de petróleo em casos de derramamento ou reduzir a toxicidade de metais pesados. Algumas das bactérias disponíveis em seu laboratório comiam fosfatos e proteínas, mas também o mármore de Carrara preferido por Michelangelo, e não foram selecionadas.”

"Em seguida a equipe de restauração testou as oito variantes mais promissoras, atrás do altar, em uma pequena palheta retangular sobre a qual foram pintadas fileiras de quadrados, como uma cartela de bingo. Todas as bactérias selecionadas para teste são inofensivas para seres humanos e não têm esporos."

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/06/michelangelo-ganha-limpeza-realizada-por-uma-salada-bacteriana-em-florenca.shtml

 

 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Por que seguir a Ciência?

 

“Por uma série de problemas, que vão da metodologia à estrutura das carreiras e das publicações, boa parte das conclusões de trabalhos científicos que são feitos atualmente está errada. Nas contas de John Ioannidis (Stanford), a maioria das pesquisas em medicina não merece crédito. Para Jeffrey Leek (Universidade de Washington), os erros alcançam só 14% dos estudos. Os números melhoram na física, mas pioram nas ciências sociais e na psicologia.

Se as coisas são tão precárias, por que seguir a ciência? Creio que a ciência é um pouco como a democracia. É um sistema confuso, cheio de ruídos e distante de qualquer ideal. Ainda assim, é o melhor sistema que temos, se não para encontrar verdades, para produzir conclusões provisórias que dependem mais da realidade do que de nossos desejos. Não é pouco.”

Hélio Schwartsman

 

            A despeito das reais limitações expostas acima por Schwartsman, o método científico traz em si uma grande virtude: ele busca a verdade, encontra o erro, reconhece-o como tal, e torna a buscar a verdade, incansavelmente. Não verificamos tal virtude na Religião, que é feita de dogmas, verdades imutáveis por definição, fonte perene do fundamentalismo tão pernicioso de algumas crenças.

            Não se trata de voltar à velha disputa Religião versus Ciência, que não leva a coisa alguma. Trata-se de reconhecer o real valor da Ciência em tempos de pandemia. Isolamento social, uso de máscaras e vacinação constituem prescrições da Ciência. Por que então não são obedecidas por grande parte da população de nosso país, até mesmo quando a pandemia se agrava? O decantado Leblon ignora a Ciência, de dia na praia, à noite nos bares e boates. Não será por falta de informação, o nível sócio-econômico lá é dos melhores, a maioria é de gente educada; por acaso desprezam a vida? 

            Em Israel, judeus ultraortodoxos teimam em realizar casamentos e funerais com grandes aglomerações. “O que é mais importante?”, indagou Esti Shushan, ativista ultraortodoxa do movimento pelos direitos das mulheres, depois de ver imagens do funeral. “Ir ao funeral e estudar a Torá? Ou continuar vivo?” 

            Entre nós, o que é mais importante, acreditar na Ciência ou aferrar-se à ideologia política de falsos profetas?

            A crônica deste domingo de Hélio Schwartsman para a Folha de S.Paulo, A fé na Ciência, bate na mesma tecla dos últimos meses. Parece que é preciso mesmo repetir repetir repetir.

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2021/02/a-fe-na-ciencia.shtml

 

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,funerais-ultraortodoxos-em-massa-durante-pandemia-alimentam-tensoes-em-israel,70003621806

 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Função do esquecimento


“Os cientistas cognitivos Steven Sloman e Philip Fernbach sustentam que nossos cérebros foram projetados para não guardar detalhes justamente para maximizar a capacidade de fazer generalizações.”

 

O trecho acima está na crônica de ontem (12 fev 2021) de Hélio Schwartsman: O esquecimento como virtude, para a Folha de S. Paulo. 

O ponto de partida para o tema foi a recente decisão do STF em não reconhecer o direito ao esquecimento. Ainda bem que foi assim. Porém, alerta o articulista: “Daí não decorre que o esquecimento não seja, tanto quanto a memória, um ingrediente importante para o bom funcionamento da sociedade e do próprio cérebro humano. A razão pela qual humanos não temos uma memória perfeita não é de bioengenharia. Existe uma síndrome rara, a hipertimesia, que faz com que seus portadores se lembrem de praticamente tudo — algo próximo ao que Jorge Luis Borges descreveu no conto "Funes, o Memorioso".”

            O mais interessante dessa história, e que destaco aqui como epígrafe, é a descoberta de que é preciso haver espaço no cérebro para as abstrações; inundado por fatos, resta ao cérebro apenas lidar com eles, perdendo a capacidade de construir generalizações. Isso me parece uma grande novidade. Costumamos dizer: é preciso haver tempo para pensar. Agora acrescentamos: é preciso haver espaço para pensar.

            (Conheci de perto uma pessoa que exibia memória espantosa. Guardava as placas de carros que via no estacionamento de onde trabalhávamos; cpfs para ele eram fichinha; os registros de prontuários milagrosamente guardados. Ao longo do tempo essa característica se agravou de tal modo que, quando não havia fatos para memorizar, ele os inventava, e a partir de então os tomava por verdade; surgiu daí um mitômano.)

            Schwartsman conclui de modo brilhante: “A vida social também depende de esquecimentos, que às vezes chamamos de perdão.” Sob tal perspectiva, a palavra perdão aparece despida de qualquer conotação religiosa, significando tão somente uma certa função cerebral, a de oferecer espaço para o bom convívio social. 

            Em tempo, é preciso reconhecer a importância da ficção. Borges antecipou isso tudo no espantoso conto citado por Schwartsman! O final de Funes, o memorioso, foi trágico!

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2021/02/o-esquecimento-como-virtude.shtml

 

 

 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Chimpanzés em guerra


 

Imagem tomada por cientistas durante o ataque fatal

a 'Basie', na qual se vê suas presas no centro da imagem

 

 

“Os três assassinatos que desataram a segunda ‘guerra civil’ entre chimpanzés - A brutalidade das mortes entre ex-companheiros surpreende os cientistas que os observam há décadas.” Esta é a chamada para a reportagem de Javier Salas para El País (29 jan 2021).

Relata Salas: “O primatologista Aaron Sandel estava lá quando um grupo de chimpanzés matou Erroll, um macho do baixo escalão. Durante muito tempo, todos eles compartilharam um clã na comunidade de Ngogo, Uganda. Mas o grupo havia crescido muito, mais de 200 chimpanzés, algo nunca visto antes. E se dividiu. Desde 2015, cada vez que se encontravam entre as árvores frutíferas, crescia a tensão entre os grupos. Até que em janeiro de 2018, três machos do grupo ocidental seguraram este jovem de 15 anos e acabaram com sua vida com golpes e dentadas.”

Os chimpanzés conseguiram manter a coesão de um grande grupo de  150 indivíduos. Mas quando ultrapassaram 200 indivíduos, espontaneamente eles se dividiram em três comunidades. Uma delas teve três de seus machos assassinados na fronteira entre grupos, em disputa por árvores frutíferas.  

Certo dia os cientistas presenciaram o cerco de um grupo de chimpanzés por grupo rival, com gritos e gestos ameaçadores, “até que Basie, um macho de 33 anos de alto escalão na hierarquia de Ngogo, caiu ou saltou de galhos de 15 metros de altura, encurralado pelos atacantes. No solo, os agressores cercaram Basie rapidamente, atacando-o com golpes e mordidas, deixando-o mortalmente ferido.” 

Os cientistas concluíram que não havia mais simples atritos entre grupos, era uma guerra de morte. Muitos primatologistas recusam o nome de “guerra”, pois faltam os significados social e político específico para tanto. Outros cientistas veem na “agressão letal dos chimpanzés, cooperativa e coordenada”, como algo semelhante às origens evolutivas da guerra nos humanos.

Afirma Salas: “Os chimpanzés são um exemplo paralelo interessante, mais do que uma prova de nossas origens violentas. Sobretudo porque temos outros primos igualmente próximos, os bonobos, que vivem em um plácido matriarcado em que os conflitos se resolvem com encontros sexuais, também homossexuais.”

Explica Sandel: “É tentador concluir que, se os chimpanzés se matam, então a violência está em nossa natureza. A violência pode estar em nossa natureza. Mas nossa natureza é fortemente moldada pela sociedade. Não sou historiador nem filósofo, mas suponho que não precisamos olhar muito além do capitalismo, do imperialismo e do patriarcado para entender por que os humanos são violentos. Vamos começar aí, pelo menos.”

Tudo isso dá muito o que pensar, digo eu, quando observamos o comportamento do Homo sapiens através dos tempos e ainda nos dias de hoje.

 

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-01-30/os-tres-assassinatos-que-desataram-a-segunda-guerra-civil-entre-chimpanzes.html