António Damásio é professor de Neurociência, Psicologia e Filosofia, e diretor do Brain and Creativity Institutena University of Southern California, em Los Angeles.
Seu último livro A estranha ordem das coisas – a vida, os sentimentos e as culturas humanas (Ed. Temas e debates – Círculo de leitores, Lisboa, 2017) apresenta uma síntese do conjunto de estudos e pesquisas de uma vida inteira, e por isso mesmo é monumental.
O livro é de uma densidade incrível, cada parágrafo precisa ser lido cuidadosamente pois contém afirmações e conceitos profundos, complexos, revolucionários, e que escapam à nossa mente acostumada às trivialidades do cotidiano.
Impossível resumi-lo, de modo que este blogueiro pretende apresentar alguns trechos esparsos, na esperança de que façam algum sentido ao leitor, e que venham estimular a leitura da obra.
À página 114 Damásio está a discorrer sobre o que chama de “A Grande Conquista”: “A capacidade de gerar imagens possibilitou que os organismos representassem o mundo em seu redor; ... e o mundo do seu interior.” ... “A existência de imagens só foi possível depois da complexidade dos sistemas nervosos atingir um nível particularmente elevado.”
Vamos ao trecho escolhido:
“Assim sendo, os passos a serem seguidos na evolução tornam-se bastante claros.
Em primeiro lugar, servindo-se de imagens feitas a partir dos mais antigos componentes do interior do organismo – os processos de química metabólica desenvolvidos, em geral, nas vísceras e na circulação sanguínea e nos movimentos por eles gerados –, a natureza veio gradualmente a desenvolver sentimentos.
Em segundo lugar, servindo-se de imagens de um componente interior bem menos velho – a estrutura esquelética e os músculos que a ela estão ligados –, a natureza desenvolveu uma representação do envolvente de cada vida, uma representação literal da casa habitada por cada vida. A eventual combinação destes dois conjuntos de representações abriu caminho à consciência.
Em terceiro lugar, servindo-se destes mesmos dispositivos de criação de imagens e do poder inerente às imagens – o poder de representar algo e simbolizar –, a natureza desenvolveu as linguagens verbais.”
Os negritos são meus, para destacar quão fundamentais são os temas aqui abordados.
(O livro ainda não foi publicado no Brasil; a edição referida acima é de Portugal.)