segunda-feira, 8 de julho de 2013

Juras de amor sobre o Sena






Em algumas pontes sobre o Sena, em Paris, a moda agora é trancar-se um cadeado com os nomes dos enamorados, ou apenas as iniciais, nas proteções laterais da ponte, uma espécie de jura de amor, suponho.

O número dos tais cadeados é assombroso! Há locais onde não cabe mais nem um daqueles cadeadinhos de mala, bem pequenos. São milhares deles, às vezes colocados às pencas, sabe-se lá se representando algum tipo de amor grupal. 
       
Para o viajante que presencia o fenômeno pela primeira vez, ele causa sem dúvida uma certa surpresa, há um efeito plástico interessante, especialmente quando visto de longe, ou durante um passeio de barco pelo Sena. O metal dourado dos cadeados brilha à luz do sol parisiense, iluminando ainda mais uma cidade já iluminada. De perto, gera mais curiosidade que outra coisa.

O viajante não se animou a colocar seu cadeado, seja porque no momento sentisse seu amor bem preso, seja porque não acredita em juras de amor eterno, nem mesmo as trancadas à chave nas pontes sobre o Sena. 

Para que não se corra o risco de um dos amantes algum dia desejar destrancar o cadeado, suponho que a chave seja jogada na água. Mas não pude comprovar este fato.


Fotos: A.Vianna, Paris, 2013.

Briga de rua


No almoço semanal com dois amigos, disparo a pergunta assim-sem-mais-nem-menos, sem qualquer expectativa, como quem não quer nada, Quem já teve uma briga de rua?
            A resposta do primeiro veio imediata, Dei umas porradas num colega de turma, e quando pensei que iria ser punido por isso, minha atitude recebeu aprovação generalizada, só porque eu era considerado bom aluno, e nem bom aluno eu era! Saí envergonhado do episódio.
            Na primeira chance o segundo amigo emendou, Um vez dei um soco na cara de um menino que ele caiu desconjuntado e eu saí cantando de galo! No dia seguinte ele me pegou desprevenido, me deu uma porrada no olho direito, deixou aquele roxo enorme tomando metade da cara, e passei toda a semana sendo gozado na escola, porque tinha apanhado.
            Chegou a vez de contar minha façanha (e esta foi a razão da pergunta assim-sem-mais-nem-menos-como-quem-não-quer-nada no início do almoço...). Foi com um menino que morava em frente a nossa casa, da mesma idade que eu, um pouco mais alto (todos eram mais altos), colega de turma na escola primária, ambos com 7 anos de idade. Não faço a menor ideia da razão da tal briga, mas me lembro bem que num golpe de sorte derrubei-o ao chão e o calçamento de paralelepípedo fez o resto do serviço: abriu-lhe a testa. Sangrando, entrou chorando para casa. Eu, vitorioso.
            Na hora do frege, não pude me lembrar de um detalhe importantíssimo, o de que o pai do menino era Juiz! Na época, eu não sabia bem o que significava de ser um Juiz, mas pensava que era o homem que mandava prender as pessoas. Pelo menos, em casa falava-se dele com respeito. Passei o resto da tarde apreensivo, até que no início da noite toca a campainha, meu pai foi atender, era o Juiz! Tremendo de medo, ouvi a conversa atrás da porta.
            O Juiz nem sequer foi convidado a entrar, a conversa deu-se ali mesmo, à porta da frente. O homem falou falou falou, protestou até não poder mais, ameaçou meu pai, disse outras tantas coisas das quais não me lembro (em mim só cabia o medo de ser preso), esbravejou esbravejou esbravejou.  Meu pai permanecia em silêncio, nem uma única palavra, enquanto o magistrado despejava toda sua indignação.
    Não tem jeito, vou ser preso mesmo, pensei.
            Às tantas, parece que o homem se cansou, fez uma pausa, era a chance que meu pai parecia esperar:
            – Foi só uma briga entre meninos.
            Fechou a porta em seguida, e nunca mais se falou do assunto.