terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Aldravia n. 45



majestosa
Mantiqueira
indiferente
aos
humanos
sofrimentos



Foto: A.Vianna, jan 2017, Lorena, SP

Monet

Meus quadros favoritos


Claude Monet

Aldravia n. 44


dor
choro
sofrimento
presença
da
morte

sala de espera


difícil
permanecer
na sala de espera
quando
a morte
já chegou

não há mais
o que esperar
desesperar apenas
por não ter
o que fazer
na sala de espera

Jurandir Rodrigues, poeta



Meu jovem amigo Miledi B. Marotta foi quem me apresentou o poeta Jurandir Rodrigues, através de seu livro Sons e Dissonâncias (Ed. Penalux, 2016). Trata-se de poeta minimalista, é assim que o apresento ao leitor do Loucoporcachorros, blog que cultiva o minimalismo nas artes, especialmente em literatura. Por isso gostei tanto do poeta.
Jurandir é natural de Cachoeira Paulista, SP, formou-se em Letras, é professor de português! Publicou ainda Acontecências (2010), Tessituras (2011), As inteligências e a escola (2013).
Eis minha seleção se seus poemas:

clarinete

Som de angústia
– melancolia em falsete –


em ar

desesperar jamais
esperar às vezes
errar sempre


canibalismo

Música me engole e me cospe
diferente


Sob controle

bom estar em casa
mesa posta
livros na cabeceira


ida

Minha dor é fingida
Poesia tingida
Dessa cor.


            E muito mais... Parabéns, Jurandir Rodrigues, obrigado Miledi.
           

Resposta a Suzete (jan 2017)

Da Correspondência de Suzete

Querida Suzete,

foi com tremendo espanto, mas também com alegria e entusiasmo, que recebi sua carta. Seremos os últimos a escrever cartas neste planeta? Penso que sim; agora, escrever para informar que está viva, isso é extraordinário! (Outro dia assisti um filme interessante, Demolição, no qual o protagonista escrevia cartas. Meu amigo dono do blog Louco por cachorros também assistiu, postou boa crítica, ressaltou o que ele chama de Escrita Criativa, vale a pena ler.)
            Quantas peripécias por que tem passado, Suzete! São “as voltas que o mundo dão”, como diz nosso Rosa. Mas na essência, você tem razão: é muito bom ganhar a liberdade. Você não se deixou entregar, como fez Desdêmona. O ciúme é mesmo um monstro verde.
            Pobre Afonso; mesmo sem conhecê-lo pessoalmente eu gostava dele, talvez por compartilhar o amor à língua portuguesa. A última frase do Folhetim, dita por ele, “É tarde demais”, copiou-a do Otelo, não sei quantas leitores deram-se conta disso. Foi um fecho e tanto, Suzete, embora trágico.
            O melhor de tudo é que você está viva!
            Você tem razão, o Folhetim fez mesmo enorme sucesso. Os leitores gostavam muito de você, reclamaram sua morte, disseram que uma “personagem” dessa não poderia morrer. Veja você, virou personagem... Certamente admiravam sua disposição para o trabalho e para a autoeducação através da Literatura, na leitura e na escrita.
            Educação é tudo na vida, Suzete. Você conhece de nome o poeta Paulo Sergio Viana (que também tem um blog), irmão do nosso amigo autor do Louco por cachorros. Gosto de brincar com ele, que detesta ostras, e que eu tanto aprecio; digo sempre, Tudo É Uma Questão De Educação! Ele fica bravo, porque não admite que se comam ostras. Escargô então, que eu adoro, nem pensar, ele quase surta...
            Suzete, sei que demorei para responder sua carta, mas não foi por desamor. Apenas esperei que a boa nova – sua ressureição – decantasse, dei-me tempo para assimilar a notícia, respirar fundo, e então voltar a corresponder-me com você, com muita alegria.
            Antes de concluir esta cartinha, e para não perder o hábito, quero dizer do magnífico livro que estou lendo (400 páginas!; havia prometido a mim mesmo que, com a idade que tenho, jamais leria livro de mais de 200 páginas), Inferno Provisório, de Luiz Ruffato (Companhia das Letras, 2016). Trata-se da edição definitiva que engloba 5 volumes que começaram a ser escritos em 1998. Quando terminar, comento com mais detalhes, mas vou adiantando que se trata de uma obra prima. (Conheço até um pós-graduando que está escrevendo sua tese sobre a obra.)
            No mais, tudo bem, continuo trabalhando muito, lendo, escrevendo alguma coisa, divertindo-me com o blog do André. Fico esperando, aflito, sua resposta.
Do sempre seu
                                    melhor amigo,

                                                            Alberto.

                                             São Paulo, 10 de janeiro de 2017