quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Como pensam jovens e velhos

A crônica de hoje de Luis Fernando Verissimo intitulada “Salada”,
em O Estado de S. Paulo (13/8), traz um primeiro parágrafo primoroso:
                 
“Quem não for de esquerda na juventude, não tem coração, quem não for de direita na maturidade, não tem cérebro. Como todas as máximas categóricas, esta não resiste muito. Há criancinhas reacionárias do berço e velhinhos carbonários até a morte. Mas não deixa de haver algo de, digamos, antinatural num jovem que pensa como velho e num velho que pensa, e age, como jovem. Num caso “coração” é sinônimo de consciência social, de ideal igualitário, de inconformidade com toda injustiça. No outro caso, “cérebro” é sinônimo de uma sabedoria que vem com a idade, que não exclui o coração – já se disse que ninguém tem o monopólio dos bons sentimentos –, mas repele a consciência ativa, que quer mudar o homem e o mundo.”

            Em seguida Veríssimo passa a discorrer sobre a política nacional, o que não vem ao caso no Louco por cachorros, nesse momento.
            Porém, a introdução acima trouxe-me a lembrança de uma conversa ocorrida há muitos anos, com um velho amigo e seu filho adolescente, estudante de direito. Não restava dúvida de que o menino era – e deve continuar assim – muitíssimo inteligente. Ele empenhava-se em mostrar erudição acima do que era esperado para a idade, mas enfatizava mesmo é que havia lido Olavo de Carvalho, e defendia as ideias do filósofo, sabidamente de direita, com furor inusitado! Talvez mais conservadoramente que o próprio filósofo, o que também chamou-me a atenção. A defesa de qualquer ideia de maneira absolutamente convicta, como quem defende a verdade última, parece-me sempre perigosa. (Num jovem, perdoa-se; num velho, não.)
O pai mantinha-se em silêncio, pois não conhecia o autor; apenas revelava inequívocos sinais de orgulho pelo desempenho do pimpolho. Eu, ouvia sem saber o que pensar, mas achando muito estranho aquilo tudo. Confesso que cheguei a associar (inconscientemente) aquele comportamento com os da juventude hitlerista... A única ligação que consegui fazer daquelas ideias foi com a Faculdade de Direito, talvez a responsável por formação tão conservadora, pensei, sem convicção.
Não tive mais contato com a família, não sei o que pensa hoje o advogado adulto. Mas posso entender melhor meu sentimento de estranheza, com a ajuda do Veríssimo, ao ver um jovem pensando como velho, ou um velho pensando como jovem. Não é natural, independentemente de qualquer julgamento sobre o certo e o errado.