terça-feira, 1 de maio de 2018

Aldravia N.69






exótica
do
gênero
holmskioldia
vulgo
chapéu-chinês


Foto: AVianna, abr 2018, jardim

Cordilheira dos Andes

fotominimalismo




Foto: AVianna, mar 2017, Andes

Triunfo versus Fracasso


A crônica de hoje (1o mai 2018) do escritor português João Pereira Coutinho, com o título Dois impostores - O fracasso e o triunfo não devem depender dos aplausos das bancadas, merece toda a nossa atenção.
Ele começa descrevendo um jantar imaginário, onde pais falam dos filhos, da escola, de todas as atividades fora da escola, do desempenho no esporte, e vão desfilando os sucessos da prole, numa desenfreada competição.
Assinala Coutinho: “Em rigor, eles não falam dos filhos. Falam deles próprios – das suas vaidades e, ponto importante, das suas frustrações.”
Em seguida faz referência ao filme “Borg vs. McEnroe”, de Janus Metz, sobre o famoso duelo em Wimbledon, em 1980, que opôs Björn Borg e John McEnroe, e que desconstrói nossas ideias sobre os ídolos. O que mais interessa no filme é como o talento de ambos respondia à ambição dos respectivos progenitores. 
Afirma Coutinho: “...lembro-me bem das aulas de ginástica, quando as minhas perguntas filosóficas ensandeciam o professor. Ele, como um sargento de filme, gritava para o regimento: “Vamos ver quem chega primeiro!” Os meus colegas iniciavam a corrida como galgos atrás da lebre. Eu, parado na linha da partida, olhava o sargento e questionava: “Mas o que ganho eu com isso?” O sargento, próximo da apoplexia, falava em “respeito por nós próprios” ou qualquer outro clichê. Eu tentava dizer que tinha bastante respeito por mim próprio, sobretudo quando parado. Acontece que a minha desconfiança perante a “alta competição” não é questão pessoal. É, uma vez mais, filosófica. E não se aplica apenas ao desporto; também serve para qualquer atividade humana.”
            Diz o autor: “...existem dois tipos de atividades: as “télicas” e as “atélicas”. As primeiras procuram um fim determinado e são avaliadas pela concretização desse fim. As segundas valem por si, não pelo sucesso ou insucesso do resultado. ... muitas das coisas que fazemos são télicas por definição. Eu, por exemplo, tenho de concluir um livro e entregá-lo no prazo combinado. Mas a minha vida seria insuportável se o ato de escrever estivesse apenas dependente das boas críticas ou dos bons prêmios.”
            Sem o brilhantismo de Coutinho, voltemos à relação entre pais e filhos. O filho, ao entrar na adolescência, deseja estudar Esperanto e ser professor de Português em escola secundária. A mãe, utilitarista por excelência, veta ambas as pretensões: nenhuma delas dá dinheiro! O filho deve estudar inglês e formar-se médico, afirma ela, categórica.
            Que força têm os filhos para lutar contra vaidades e frustrações paternas, se nem mesmo os pais sabem dos sentimentos que estão em jogo? Para eles, só desejam o melhor para seus filhos. Se ao menos o filho conseguisse realizar alguma de suas pretensões originais...
O tema é complexo, extenso, e merece ser revisitado de tempos em tempos. Adultos, agora podemos repensar sobre o significado do triunfo e do fracasso, e se precisamos mesmo dispor as coisas dessa maneira maniqueísta.  
Coutinho conclui o artigo citando dois versos de Rudyard Kipling:  

“Se conseguires enfrentar o Triunfo e o Desastre 
E tratares desses dois impostores da mesma forma”. 
            
Tarefa para uma vida inteira, penso eu.