Mostrando postagens com marcador Futebol. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Futebol. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Palmeiras vence o Campeonato Paulista


 

Gustavo Gomez levanta a taça de Campeão Paulista

Nelson Almeida/AFP

 

 

– Quem é o favorito? 

Quando esta pergunta foi feita na última quarta-feira, antes do primeiro jogo entre Palmeiras (até então invicto) e São Paulo, a resposta mais frequente foi: o Palmeiras, é claro! A mesma pergunta antes do jogo de ontem, depois da convincente vitória do São Paulo no Morumbi por 3 a 1, o favorito passou a ser o tricolor. 

Mas o alviverde venceu, com sobras! Aí está a beleza do futebol, sua imprevisibilidade, a esperança de vitória que faz o torcedor superlotar os estádios, sua eterna fidelidade ao seu clube do coração. Nenhum outro esporte é capaz de proporcionar tamanha alegria para quem sai vencedor.

Assistimos ontem (3 abr 2022) um dos melhores jogos de futebol dos últimos anos, com a vitória histórica do Palmeiras por 4 a 0 sobre o São Paulo. A volta do meia Danilo recompôs a alma palmeirense. O time da casa avançou os dois laterais e formou linha de 5 atacantes. Com ótimo desempenho no meio-de-campo, o São Paulo se viu encurralado e não conseguiu jogar. Mais uma vez o técnico Abel mostrou habilidade tática incomum.

Aos 28 minutos de jogo o Palmeiras vencia por 2 a 0 e assim o placar agregado marcava 3 a 3. O segundo tempo seria decisivo. O vencedor precisa também de sorte: aos 2 minutos do segundo tempo o Palmeiras fez 3 a 0, em contra-ataque puxado por Dudu e finalização de Raphael Veiga. Aos 30 min do segundo tempo, Raphael Veiga volta a marcar, define o placar e o título do Campeonato Paulista 2022. Placar agregado: 5 a 3. Alguém poderia prever tal resultado?!

Glória ao Palmeiras!

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pvc/2022/04/palmeiras-e-campeao-da-tatica-que-nao-e-estatica.shtml

 

quinta-feira, 3 de março de 2022

domingo, 13 de fevereiro de 2022

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Sobrou Palmeiras na final da Copinha



Palmeiras levanta a taça da Copa São Paulo 2022

Foto: Rodrigo Corsi/Copinha



Já virou tradição: no dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo (que ontem completou 468 anos), acontece a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha. Quem deseja conhecer um pouco da história da Copinha, acesse

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2018/01/copinha-2018.html

            Os palmeirenses trazíamos engasgado na garganta o fato do nosso time nunca ter ganho a Copinha, após décadas de chacota por parte de adversários. Ontem fomos à forra, atropelamos o Santos com a brilhante goleada de 4 a 0 no Allianz Parque!

            Aos 5 min, 1 a 0. Aos 10 min, 2 a 0. Aos 15 min, 3 a 0. Este é o resumo do jogo. Como reagir diante do massacre, ainda mais se pensarmos na pouca idade dos jogadores? Mais parecia um pesadelo, para quem perdia.

            O Palmeiras foi o melhor time durante todo o torneio, revelando vários jogadores de alto nível. O já famoso (precipitadamente) Endrick, aos 15 anos de idade, ganhou o título de craque do torneio, autor do gol mais bonito (uma incrível meia-bicicleta da entrada da área no jogo contra o Oeste) e foi campeão pelo Palmeiras.

            Além de Endrick, Giovani e Gabriel Silva foram destaques no jogo e marcaram no primeiro tempo. 

            A mesma rivalidade existente entre profissionais de Palmeiras e Santos estava presente nessa final. Diferentemente dos jogos anteriores, quando nenhum jogador ousava discutir com o árbitro ou rolar no gramado fazendo fita, ontem o clima era de guerra. Ed Carlos, do Santos, recebeu cartão amarelo com menos de cinco minutos. Irritados com o pesadelo, os santistas perderam a cabeça. Ao final do primeiro tempo, Derick foi expulso: com dez jogadores, impossível reverter o resultado. Já os palmeirenses mantiveram tranquilidade profissional!

No segundo tempo, Gabriel Silva voltou a marcar aos 8 min, e o Palmeiras poderia ter feito mais. Preferiu tirar o pé do acelerador (o clichê não pode faltar).

Vanderlan, na lateral esquerda, promete; Mateus, goleiro de 1,98m, mais ainda; Vitinho, ótimo jogador, foi titular em quase todo o torneio; o ponta esquerda Jhonatan já é craque. O técnico Paulo Victor logo estará à frente de time profissional. 

Uma última palavra para destacar o trabalho do jovem árbitro Gustavo Holanda Souza no jogo de ontem: apitou como gente grande. (A função da Copa São Paulo de Futebol Júnior é mesmo revelar os melhores.)

Agora que já temos Copinha, é esperar pelo Mundial, em fevereiro. Quero ver o porco torcer o rabo...

 


 

Endrick fez o primeiro gol da vitória

Foto: Alexandre Battibugli/Copinha


 

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Futebol, sabor de infância


 

Deyverson marca o segundo gol do Palmeiras

Andres Cuenca Olaondo/ReutersMAIS

 

 

Por quê gosto tanto de futebol? Porque futebol, para mim, tem sabor de infância. Desde pequeno era levado pelas mãos de meu pai ao campo da Esportiva de Guaratinguetá, onde vi jogar Pelé, Coutinho, Djalma Santos, Waldir, Bauer (pelo Bragantino), entre tantos outros craques, além do goleiro e da famosíssima zaga local: Costa, Bolar e Jorge! Dos 6 aos 16 anos de idade, joguei bola quase todo santo dia; aos domingos, de manhã e à tarde! Como tive uma boa infância, futebol para mim sempre foi um manjar.

            Serve a pequena introdução para justificar o amor deste septuagenário pelo esporte bretão – o chavão é indispensável à boa crônica esportiva. Passemos à incontestável vitória do Palmeiras, no último sábado, no Uruguai. O adversário era ninguém menos que o melhor time do país no momento, o Flamengo de Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabriel, e por que não, Michael. Minha previsão, 3 a 0 para os cariocas.

            Então deu zebra? Não deu zebra porque o Palmeiras jogou melhor, com disciplina tática e disposição física, desde o início do primeiro tempo. Mereceu a vitória, com a ajuda do imponderável!

            O belíssimo gol de Rafael Veiga, o craque do time (juntamente com Weverton, o goleiro), ocorreu aos 6 min de jogo, num passe perfeito de Mayke, lateral reserva de Marcos Rocha. Isso é sempre um perigo para o time que sai na frente, pois haverá tempo de sobra para a reação do adversário. Mas o alviverde continuou jogando bem, com sólida defesa, bem articulada com o meio-de-campo, na espera dos contra-ataques sempre perigosos.

            Esperava-se um Flamengo mais aguerrido, agressivo no segundo tempo, e não deu outra. Até que Gabriel empata o jogo com belo gol, em jogada ensaiada e com dose de sorte, pois a bola passa no mínimo espaço entre a trave e a luva do Weverton. O Palmeiras continuou se defendendo, e o jogo foi para a nervosa prorrogação, sobre-humana mesmo para jogadores e torcedores. Meu deus!

            Quando o histérico português Abel substituiu Rafael Veiga por Deyverson, pensei seriamente em desligar a tevê, a vaca célere em direção ao brejo. Porém, repito à exaustão, Futebol Não Tem Lógica! O pior jogador do time – e escrevo isso me referindo ao jogador, não à pessoa do Deyverson, que nunca vi mais gordo – rouba a bola em falha clamorosa do adversário cujo nome não reproduzo, avança livre para o gol, chuta mal, a bola bate no pé do Diego Alves, passa rente à trave e morre no fundo da rede. Gol do imponderável!

            Dois a um, aos 5 min da prorrogação! O perigo se repete, o Flamengo agora terá 25 min para empatar e até virar o jogo. Sofrimento indescritível para ambas as torcidas!

            O Palmeiras vence. Um grande jogo, o que é incomum em finais desse porte. Jogo limpo, poucas faltas, Gabriel e Felipe Neto sempre reclamando, o que é habitual. De resto, a atuação do árbitro, sem trapalhadas do VAR, foi impecável quase até o final; terminado o tempo regulamentar, ele ainda deu 3 min de prorrogação, num laivo de sadismo. Meu deus!

            Palmeiras Campeão da Libertadores pela segunda vez em 2021! E eu, de volta à boa infância.

      Que venha o Chelsea.

 

 

 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Cotovelada tem consequências

 

Cotovelada de Otamendi em Raphinha

Andres Larrovere/AFP 

 


Em continuação à postagem anterior deste blog:

 

“A Conmebol anunciou hoje (17 nov 2021) a suspensão de dois árbitros que atuaram no empate entre Argentina e Brasil, pelas Eliminatórias da Copa 2022. Os uruguaios Andrés Cunha, que estava no campo, e Esteban Ostojich, que estava no VAR, foram punidos pela comissão de arbitragem por não terem mostrado cartão vermelho ao zagueiro Otamendi, que acertou uma cotovelada no rosto de Raphinha.” 

O lance foi checado pelo VAR e “Ostojich considerou que o golpe foi de "intensidade média", e ponderou que seria lance para amarelo. Segundo o texto de Igor Siqueira para o UOL, “Cunha nem viu a existência do golpe, assim como seu assistente, Richard Trinidad”.

“No ofício em que comunicou a punição, a Conmebol considerou que a atuação de Cunha e Ostojich "foram analisadas tecnicamente pela comissão, concluindo que os mesmos incorreram em erros graves e manifestos no exercício de suas funções no desenvolvimento da partida". O documento é assinado por Wilson Seneme, brasileiro que preside a comissão de arbitragem da Conmebol. A sanção é "por tempo indeterminado".

 

No meu tempo de criança, no campo da Esportiva de Guaratinguetá, a gente gritava JUIZ LADRÃO!

 

 

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2021/11/17/conmebol-suspende-arbitros-de-argentina-x-brasil.htm?utm_source=twitter&utm_medium=social-media&utm_content=geral&utm_campaign=uol

 

Jogo bruto



Jogo bruto entre Brasil e Argentina, em San Juan 

Juan Mabromata/AFP/Folha de S.Paulo



Brasil e Argentina empatam em jogo sem gols, ontem em San Juan. 

            Brasil mantém invencibilidade nas Eliminatórias, com 11 vitórias e 2 empates. Argentina também se classifica por antecipação para a Copa do Mundo no Qatar. 

            Lionel Messi completamente apagado durante o jogo. Neymar fez falta? Jogo nervoso, ríspido, bruto mesmo. Uma ou outra jogada de boa técnica de ambos os lados ao longo de toda a partida, com destaque para Paquetá. Nada mais.

            Apenas um triste lance marcou para sempre a história do principal clássico sul-americano. Aos 34 minutos do primeiro tempo, Otamendi desferiu acintosa cotovelada na boca de Raphinha, em disputa de bola junto à linha de fundo da defesa argentina, depois do defensor ter sido seguidamente driblado pelo ponta brasileiro. Ele simplesmente foi à forra, não tolerou a humilhação, partiu para a agressão física, pública e criminosa, sem qualquer pudor. A tevê mostrou a boca sangrando do brasileiro.

            É possível que o árbitro uruguaio Andres Cunha não tenha visto o lance, é possível. Mas ele consultou o VAR, nada marcou, a partida seguiu. O árbitro de vídeo era Esteban Ostojich, que apitou a final da Copa América este ano, no Maracanã, vencida pela Argentina.

            A repetição das imagens a partir de então não deixou qualquer dúvida: infração grave, claríssima, o argentino deveria ter sido expulso. Hoje não há mais discussão para este tipo de lance, é cartão vermelho. Se o juiz não viu, o VAR viu. Por quê não recomendou a expulsão? 

      Para mim, o jogo perdeu a graça depois disso. Os argentinos continuaram com provocações, deboche, rispidez, deslealdade, estimulados pela torcida, como há muito não se via. Penso que os brasileiros reagiram mal a tais provocações, ou nem reagiram. Triste zero a zero.

            

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Por uma camisa

 

Torcedores do Grêmio invadem o gramado

na derrota para o Palmeiras

Raul Pereira (31.out.2021), AFP

 

​No último domingo (7 nov 2021) um fato insólito ocorreu nas arquibancadas da Vila Belmiro, em Santos, ao final do jogo em que o Palmeiras derrotou o Santos por 2 a 0. Duas informações que podem ter relação com o episódio que passo a narrar em seguida: o Palmeiras não vencia o adversário na casa do Santos há 12 anos, e os donos da casa estão seriamente ameaçados de rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro.

            Os jogadores deixavam o campo quando um menino de 9 anos, que joga nas categorias de base do Santos, que afirma ser santista e não palmeirense, pediu a camisa de Jailson, goleiro do Palmeiras. E foi atendido. 

            Daí que aconteceu o absurdo: um grupo de torcedores santistas hostilizou agressivamente o pai do menino e seu filho. Houve aglomeração, a polícia foi chamada, pai e filho muito assustados.

            No dia seguinte, constrangido, o menino publicou vídeo em rede social, afirmando ser santista e pedindo desculpas “caso alguém tenha se sentido ofendido”, por ele ter recebido camisa do rival. "É que eu gosto muito dele [Jailson]. Também gosto do Weverton, que é da seleção brasileira [e goleiro do Palmeiras]. Eu não sou palmeirense, eu sou santista", afirmou na mensagem. A gravação viralizou na internet, rodou o mundo; da França, Jorge Sampaoli enviou ao menino camisa do Olympique, em solidariedade.

            Comentário do pai da criança ao fim do episódio: "Acredito que isso pode mudar a relação do meu filho com o futebol”.

Indiscutível onda de intolerância se difunde pelo país. A sociedade está doente e o futebol reproduz fielmente a violenta polarização. A faixa exposta na fotografia acima é a imagem da idiotia, inspirada erroneamente na famosa frase que teria sido proferida pelo grande Didi: “Treino é treino, jogo é jogo”. 

Hoje, jogo virou guerra. O ser humano, imbecilizado, revela o que tem de pior.

         

 

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2021/11/crianca-atacada-por-santistas-fez-video-de-desculpas-escondido-diz-pai.shtml

 

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Palmeiras na final!

 Charge futebolística


Caio Neves (Caiorabisca)


Eu não conhecia a 'charge futebolística'! Muito bonito o desenho: passe de Gabriel Veron, gol de Dudu! Palmeiras na final da Libertadores. (Deixa eu aproveitar enquanto o Flamengo não chega.)

terça-feira, 9 de março de 2021

Palmeiras Tetracampeão


Futebol é coisa séria. A final de uma árdua disputa como a Copa do Brasil ocorrida há dois dias mexe com muita gente e com interesses os mais diversos. (O campeão embolsou 54 milhões de reais, num país em sérias dificuldades econômicas!)

            Aos simples torcedores do time vencedor cabe a alegria infantil do sentimento de vitória. Falo por mim: nada mais infantil que a alegria de ser campeão!

            Não posso imaginar o que rola entre cartolas e suas ocultas transações. Nem me interessa. Guardo comigo a lembrança das tardes de domingo, quando nosso pai nos levava a mim e meu irmão Paulo ao estádio da Esportiva de Guaratinguetá, para assistir aos jogos do campeonato paulista. Foi lá que vimos jogar Bauer, Djalma Santos, e tantos outros craques. Além do Palmeiras, naturalmente, trago comigo a imagem do Bragantino, já na época um grande time, ainda na Segunda Divisão. Da Esportiva, guardo com carinho os nomes de Costa, Bolar e Jorge, o goleiro e a ótima zaga, o último com chute capaz de atirar a pelota para fora do estádio e cairia vizinha Aparecida do Norte. São mais de 60 anos de memórias do esporte!

            Foi com este espírito que vi o Palmeiras vencer com méritos a última Copa do Brasil, batendo o Grêmio no campo do adversário e no “chiqueirinho”: 3 a 0 na contagem geral.

            Por quê o Palmeiras venceu três títulos – Paulistão, Libertadores e Copa do Brasil – na temporada 2020? Por que, dentre outros fatores, o clube teve 13 jogadores da base, durante a temporada, incorporados ao time profissional, alguns de nível de seleção, formando plantel (o jargão não pode faltar) de respeito em número e qualidade, com gastos relativamente modestos. 

            Fundamentais para as conquistas foram o goleiro Weverton (melhor do Brasil), o paraguaio Gustavo Gomez (o melhor zagueiro do país, o veterano Felipe Neto que virou craque na frente da área, os armadores Zé Rafael e Raphael Veiga, este o melhor do time nos últimos jogos, e o português Abel Ferreira, que tem a virtude de não complicar (ainda). E, naturalmente, a sorte – se o Grêmio marca aquele gol com 5 minutos de jogo...

            Futebol é coisa séria, porém mais sério ainda é o que o país vem sofrendo com a peste. Em meio a tantas mortes e tanto sofrimento, não há lugar para comemorações de qualquer espécie.

Palmeiras Campeão!

 


Copa do Brasil 2020

domingo, 7 de março de 2021

Tardes de sábado

 

Roger comemora o gol pela Inter de Limeira

Foto: Ítalo Gabriel / Inter de Limeira

 

 

Tarde de sábado, o ar lavado pela bátega caída ainda há pouco a rescender o perfume do jardim. Zapeio os canais de esporte em busca de um bom jogo do campeonato paulista e encontro verdadeiro clássico interiorano: Internacional de Limeira versus Novorizontino, prestes a começar. Vejo as escalações e encontro apenas um nome conhecido, Roger, veterano centroavante da Inter, ex-jogador do Corinthians. O gramado se apresenta em bom estado, o jogo promete!

            A Inter vem de duas derrotas, contra a Ferroviária e São Paulo; o time de Novo Horizonte vem de dois empates, contra Ponte Preta e Mirassol; ambos precisam vencer. Daí o jogo disputadíssimo no Limeirão, franco, aberto desde o início, com o máximo empenho dos atletas. No final do primeiro tempo, em contra-ataque mortal, Roger desloca o pesado zagueiro adversário para a esquerda e chuta da entrada da área no canto direito do goleiro, num belo gol: 1 a 0 para a Inter.

            No segundo tempo o Novorizontino reage, pressiona, ganha um escanteio, o atacante coloca a bola na marca do corner, vem o bandeirinha e aponta a posição irregular da pelota: ela precisa tocar a marca de cal (que já não é mais de cal, agora as demarcações do campo são pintadas com tinta branca). Eis que surge a pérola vinda do locutor esportivo, inconformado com o preciosismo do bandeira, dessas que me enchem de alegria as tardes de sábado: 

            – Os senhores sabem, a bola é redonda, então basta que um lado dela toque a linha para que a posição seja considerada regular, afirmou o indignado locutor.

            Matuto comigo mesmo, a casa em silêncio, até os cães dormem: “a bola é redonda” deve ser o pleonasmo do século! E se é redonda, os únicos “lados” que tem são o interno e o externo. O locutor fala demais; no tempo do radinho de pilha colado na orelha o locutor precisava falar muito, para descrever o que se passava em campo e até o que não se passava em campo, verdadeiro artista incumbido de transmitir aos ávidos ouvintes do mundo toda a emoção da partida; nas transmissões pela tevê o expectador precisa no máximo do nome dos jogadores, nada mais; mas o locutor fala fala fala, precisa aparecer, defender seu precioso salário em tempos de peste. Dá nisso: a bola é redonda!

            O escanteio é cobrado sem perigo de gol. O time visitante ataca, o time da casa se defende bem. A Inter volta a marcar, gol invalidado pelo VAR, isso mesmo, o implacável VAR está presente na partida.

Às tantas, falta perigosa para o Novorizontino; quem vai bater é o mesmo beque que levou o drible do Roger, dono de chute potentíssimo; ele tenta se recuperar da falha anterior; a barreira é formada, com a lentidão de sempre, a catimba de quem está ganhando o jogo; vem o chutão, e como diz o grande Milton Leite a bola sai do Limeirão, passa por cima de Araraquara e cai em São Carlos, na chácara do meu amigo Sergio Pripas!

            Ficamos no 1 a 0, um bom jogo. Nada como o futebolzinho nas tardes amenas de sábado.        

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Final do Brasileirão

 

Ao meu amigo Sergio Pripas



Jogadores do Flamengo aguardam
final do jogo do Internacional
Foto: Marcello Zambrana/AGIF

 

Terminou ontem o Campeonato Brasileiro de Futebol, da melhor maneira possível para o sistema de pontos corridos: a decisão ficou para a última rodada. (Quando um time dispara na liderança, as últimas rodadas perdem a graça. Explico essas coisas para minha mulher, que pouco entende de futebol, mas que sabe tudo de otorrinolaringologia.)

            O Palmeiras jogou contra o Atlético de MG, mas preferi ver São Paulo versus Flamengo. E não me arrependi. Há meses o Flamengo vem despontando como o melhor time do Brasil, com ótimos valores individuais e conjunto bem azeitado; o meio de campo com Gerson, e o ataque com Arrascaeta, Gabriel e Bruno Henrique, são o que há de melhor no futebol brasileiro. Merecidamente é o campeão!

            Mas vejam as surpresas que nos pregam o futebol. O São Paulo vem perdendo todas as últimas partidas, jogando mal, sem técnico titular; o Flamengo só precisava de um empate; iniciou o jogo com total domínio sobre o adversário, e perdeu de 2 a 1.

            Na outra decisão, Internacional versus Corinthians, o Inter precisava de vitória simples para ganhar o campeonato; o adversário passa por péssima fase; e o jogo ficou no 0 a 0. Muita incompetência do time gaúcho em não conseguir um único golzinho. (A foto acima mostra o anticlímax da decisão: jogadores do Flamengo na espera do encerramento do jogo do Inter.)

            Mais uma vez prevalece o chavão: futebol não tem lógica. Mas o resultado final confirmou: venceu o melhor!

            O Palmeiras, bem, o Palmeiras venceu a Libertadores, e no próximo domingo joga a primeira partida (melhor de duas) contra o Grêmio de Porto Alegre, pela Copa do Brasil. O time precisa melhorar. Daí esta crônica tão insípida insossa desenxabida.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Sonho que findou

 

Findo o sonho do mundial, fica o registro melancólico: se o jogo é ruim e seu time perde, difícil escrever uma crônica sobre tão infausto acontecimento. 

            Faltam jogadores ao Palmeiras com a qualidade exigida para disputa daquela  envergadura. A exceção evidente é a do goleiro, pois Weverton é hoje o melhor do Brasil. Não fosse a atuação dele o placar de ontem teria se alargado.

            A zaga do time é fraquíssima; dos laterais, salva-se o chileno Viñas, que sabe defender e atacar. Os volantes, crias da casa, são bons, mas lhes falta experiência para jogos de decisão. Dois armadores são bons, nada brilhantes. E os atacantes inexistem. Depender de um ponta de inteligência limítrofe não pode levar a bons resultados.

            Aquele que acompanhou o Palmeiras na última temporada acostumou-se com a irregularidade do time; faz um grande jogo, a torcida se empolga, e em seguida vem a derrota inexplicável, muitas vezes de virada no segundo tempo. (Quando o jogo é de decisão a coisa piora muito.)

Inexplicável? Não, faltam jogadores, falta um padrão de jogo. O novo técnico parece bom, jeitoso no trato com os comandados, bem educado. Precisa de mais tempo para trabalhar o time, além de contratações de peso, caso não se bandeie logo para a Europa. Os lusitanos estão em alta.

Resta o consolo: ganhamos a Libertadores, o que não é pouco.

Minha mulher percebeu meu abatimento depois do jogo e perguntou, Por que você, nessa idade, ainda perde tempo com futebol? Porque não se pode e nem se deve apagar a infância, respondi.

domingo, 31 de janeiro de 2021

Palmeiras: Campeão da Libertadores 2020



 

Aqueles menos afeitos às manhas do futebol dirão, Que jogo feio!

            Feia mesmo a decisão da Libertadores da América ocorrida ontem no emblemático Maracanã entre Palmeiras e Santos. Mas só podia ser feia; esta é uma característica quase que infalível de toda decisão de campeonato ou até mesmo de Copa do Mundo, o jogo amarrado, truncado por sucessivas faltas, bruto, mas nem tão bruto que acarrete expulsão de jogadores, com predomínio das estratégias sobre o jogo aberto, franco, bonito de se ver. Antes de vencer, não se pode perder. O que conta é o resultado! Passado algum tempo, ninguém mais dirá que o jogo foi bonito ou feio, mas todos se lembrarão que o Palmeiras venceu, com todos os méritos, a Libertadores de 2020.

            (Na Copa de 1970 o jogo entre Brasil e Inglaterra era um divisor de águas; quem ganhasse teria grande chance de ser campeão. Jogo duríssimo, amarrado no meio de campo, pouca criatividade, embora o jogadores fossem de alto nível, lances ríspidos – o tal jogo feio. Em dia memorável, o Brasil venceu por 1 a 0 e acabou levando o caneco! Em minha opinião, essa foi a disputa que mais bem ilustra a ‘feiura de uma decisão’.)

            Na comparação individual entre os jogadores de ambas as equipes, o Palmeiras entrou em campo ontem com time mais bem qualificado. Isso pouco ou nada importa em uma decisão. Agora, a garra com que os times entram em campo, isso importa muito. Penso que o Palmeiras jogou com mais vontade de vencer. (Marinho, grande artilheiro do Santos, considerado o melhor jogador desta Libertadores e que poderia decidir a partida, sumiu em campo, bem marcado pela defesa alviverde.)

            Final de campeonato é decidido quase sempre no detalhe – este é mesmo um dos jargões do futebol. O jogo de ontem entrava nos acréscimos quando o técnico do Santos, homem experiente, segurou a bola na lateral do campo, retardando a cobrança pelo adversário. Marcos Rocha, lateral do Palmeiras, reagiu, criou-se tumulto, Cuca acabou expulso, o que aparentemente tirou a concentração dos jogadores do Santos. Cobrado o lateral logo em seguida, Rony centrou com improvável perfeição a bola para a área do Santos e encontrou o mais improvável ainda Breno Lopes bem colocado, que desferiu belíssima cabeçada, encobrindo o goleiro John Victor, dando o título ao Palmeiras. Um a zero em decisão de Libertadores é goleada!

            Aos afeitos às manhas do futebol, decisão é jogo de xadrez. Ontem tivemos um  lindo jogo, porque meu time venceu! 

            

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

O melhor time do Brasil

 

Thiago é meu fisioterapeuta, sabe tudo de recuperação física, dos músculos, ossos, cartilagens, articulações, coluna. Ele nunca foi técnico de futebol, muito menos comentarista esportivo, mas aprendo muito com ele, embora torça para o Vasco. Nem ele nem eu, notório palmeirense, temos simpatia pelo Flamengo, importante assinalar, para que o leitor possa bem compreender o que se segue.

            Assim falou Thiago, no meio da piscina de hidroterapia, com grande autoridade:

            – Hoje, o Flamengo tem o melhor time do Brasil! César no gol, um bom goleiro, não é um Weverton do Palmeiras, mas é bom. A defesa, com Isla, R. Caio, G. Henrique e F. Luís, não podia ser melhor, os laterais com grande competência para atacar. O meio de campo poderia estar na seleção: E. Ribeiro, Wilian Arão, Gerson e Arrascaeta; com destaque para Arrascaeta, para mim um dos melhores jogadores em atuação no Brasil. No ataque, Gabriel e Bruno Henrique, que também poderiam figurar na Seleção. De quebra, o artilheiro Pedro. Que time precisa mais do que isso para ser campeão? Basta colocar um 4-4-2 em campo e pronto, o jogo está ganho.

            – Concordo inteiramente com você, Thiago, um timaço tem o Flamengo. O que está faltando então, que justifique as últimas derrotas? perguntei.

            – Está a faltar o técnico, pá!

            – Você agora disse tudo! Saudade de Jesus, não é mesmo?

            – Ai Jesus..., lamentou o flamenguista Raimundo, fisioterapeuta sênior, com sua voz de trovão!

            Moisés, também torcedor do Flamengo, e que ouvia calado a conversa, riu do gemido melancólico do Raimundo e concordou com o diagnóstico do Thiago.

            Então acrescentei:

            – Sempre disse que técnico não ganha jogo, mas perde! Se ele começa a inventar e escala mal o time, se de repente se implica com determinado jogador e passa a deixá-lo no banco, se faz substituições atrapalhadas durante o jogo ou não faz substituição alguma, se manda o time recuar quando deve atacar, se dá ordem para o ataque fora de hora e leva um gol de contra-ataque, então o técnico precisa ser demitido. Não há alternativa, pois os jogadores começam a sabotá-lo, e o time a sofrer repetidas derrotas. Quando um técnico é substituído, aquele que entra vence invariavelmente os primeiros jogos, o time torna a se motivar para a vitória, cessam as desavenças.

– Rogério Ceni, coloque as barbas de molho... vaticinou o filósofo Moisés, na vã esperança de ver o Flamengo campeão.

            Prosseguem os exercícios, cada qual com suas deficiências; o ambiente é de ingênua alegria. Todos trabalham com grande amizade na Reativa.

 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Tem lógica?

 

 

Viña comemora o terceiro gol do Palmeiras

Juan Ignacio Roncoroni/Reuters

 

 

Quem gosta de futebol adora e cultiva o riquíssimo jargão futebolístico, a emprestar precioso toque de humor ao esporte. Algumas frases são verdadeiras pérolas da mais pura ingenuidade infantil, repetidas ao longo das décadas. O jogo só acaba quando termina! Futebol é coisa séria! Clássico é clássico! Estes são exemplos desse folclore!

            Porém, há um dito que considero infalível, e deve ser aplicado quando seu time vai enfrentar adversário sabidamente superior – como ocorreu ontem à noite, no jogo de ida da Libertadores, entre River Plate e Palmeiras, na Argentina. A frase é: Futebol não tem lógica.

            O Palmeiras vem de uma série extenuante de jogos, com muitos jogadores contundidos (do jargão), e uma contaminação generalizada pela covid-19 há poucas semanas. O River, em casa, é considerado imbatível, mesmo porque tem um ótimo conjunto e preserva o mesmo técnico há vários anos. Minha previsão era de que se perdêssemos por 1 a 0, este seria um bom resultado. 

O adversário começou jogando melhor, com preciso toque de bola, errando poucos passes. Mas o alviverde (jargão de novo) não recuou, e Weverton, o goleiro, fazendo lançamentos surpreendentes para Rony, um perna-de-pau desmiolado. Pois foi esse desmiolado que abriu o placar (jargão...) com belo chute (que desviou no beque), depois de clamorosa falha do goleiro portenho. 1 a 0! O técnico argentino estampou sorriso irônico e balançou a cabeça, Isso é apenas um acidente.

O Palmeiras aproveitou a leve desorientação do adversário e continuou no ataque, com gol anulado por poucos centímetros de impedimento (não vou explicar para as mulheres o que isso significa).

Logo no começo do segundo tempo, belíssimo gol de contra-ataque do Verdão! Inacreditável! 2 a 0! O técnico argentino mostrou novamente seu sorriso irônico e tornou a balançar a cabeça.

Às tantas, Gabriel Menino deu uma de argentino, matou a bola de letra, e causou o maior destempero no time adversário, que se sentiu humilhado. Na primeira oportunidade, um esquentadinho desferiu incrível pontapé em Gabriel, na cara do juiz, sendo imediatamente expulso de campo. Era a vitória que se anunciava.

O River não desistiu, continuou atacando. De repente, de bola parada, em escanteio, Viña marcou de cabeça: 3 a 0 para o Palmeiras! Muito sério, carrancudo, o técnico argentino agora olhava para o chão. Eu, ria à toa!

Mais que improvável, tal resultado era impensável antes da partida. Porém, reza a cartilha popular, futebol não tem lógica.

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Imprevisibilidade



Matheus Davó comemora o gol da vitória corinthiana 

sobre o Internacional Amanda Perobelli/Reuters


 

Muita gente não gosta de futebol, as mulheres não costumam gostar, é claro, não jogaram bola quando criança, alguns homens não gostam, pudera, sempre iam para o gol quando criança, mas os que viveram a infância num campinho de pelada e lá aprenderam que futebol é jogo para homem, lá aprenderam a falar palavrão, a  experimentar caneladas joelhos ralados cotoveladas na cara tornozelos torcidos braços quebrados e outros desaforos, para esses, impossível deixar de gostar de futebol. É o eterno retorno da infância.

            Agora adultos, para nós o esporte ganha outra dimensão, outros interesses, dentre os quais se destaca a imprevisibilidade.

            Vivemos um Campeonato Brasileiro atípico, como quase tudo no mundo de hoje, por causa da peste. Aos trancos e barrancos, os times vão sobrevivendo, lutando contra o vírus, a falta de preparo físico, a ausência de entrosamento em campo. Apenas dois times conseguem manter um bom nível de jogo: o Flamengo, que vinha muito bem antes da pandemia, treinado por Jesus, e o Internacional, mostrando futebol de respeito, competitivo.

            Neste fim de semana ambos contavam com mais três pontos na tabela, a preservar a disputada liderança. No Maracanã, o Flamengo pegaria o São Paulo, time de desempenho irregular, embora bem colocado na tabela. Em Itaquera, o Corinthians, que não vai lá das pernas, mais para a lanterna que para o topo do campeonato, pegaria o Internacional. Os comentaristas de futebol, raça em franca expansão em tempos de peste, eram quase unânimes: O Mengo vai sobrar, O Inter vai enfiar 5.

            O bonito do esporte é a tal imprevisibilidade, contra tudo e contra todos, contra a estatística, o mando de campo, os desfalques, a ausência do craque do time, a torcida contrária ou até a ausência de torcida. Daí o ditado infalível: Clássico é clássico! (Explico, para quem não é do ramo: tudo pode acontecer em um clássico!)

            Não deu outra. Jogando bem o Corinthians ganhou de 1 a 0 do poderoso Internacional e o São Paulo goleou o grande Flamengo por 4 a 1.

            Agora é esperar pela próxima rodada.

 

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

80 anos de Pelé



 

Em um certo dia de minha adolescência estive frente a frente com Pelé, toquei-lhe o ombro esquerdo e disse, Oi, Pelé.

            Aconteceu em Guaratinguetá, numa comemoração da qual não tenho a menor lembrança. Uma partida de futebol beneficente? Algum evento municipal? Jogo de campeonato paulista não era. 

            De repente, lá estava eu no gramado, ao lado de muita gente desconhecida. (Não me lembro de meu pai estar comigo ou mesmo estar em companhia de um amigo.)

            Porém, me lembro como se fosse hoje, passados mais de 60 anos, eu frente a frente com Pelé, a tocar-lhe o ombro esquerdo, como se fosse um sonho. Cumprimentei-o, sorri, extasiado diante de um deus. 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Pequena crônica esportiva

Não é segredo para os raros leitores que me acompanham nesse blog que sou louco por futebol, além de cachorros, ainda mais em tempos de pandemia, e vou logo dizendo que adorei o retorno dos jogos pela tevê, sou totalmente a favor, mesmo sem torcida, os jogadores testados continuamente, com todos os cuidados possíveis contra a peste. Mas a bola rolando.

Entre um programa e outro, mudo de canal e vejo que estão jogando dois times bem fraquinhos, não lhes aponto os nomes para não ofender possíveis torcedores. Com agravante: jogam pela Série B do Campeonato Brasileiro. Continuo assistindo mesmo assim. Zero a zero, muitos erros de passe, técnica pobríssima, os dois times recuados, com medo de atacar, aparentemente satisfeitos com o empate. Continuo assistindo mesmo assim.

            De repente, o meia armador do time da casa dá um belo passe de primeira para o ponta direita que dribla o lateral, avança até a linha de fundo e cruza forte à meia altura rente à trave. O centroavante se antecipa ao goleiro e com o peito empurra a pelota para dentro do gol. Gol! Golaço! GOLAÇO!

            Por isso continuo assistindo mesmo assim: pela imprevisibilidade, pela surpresa, pela jogada genial desferida por jogador desconhecido e que nunca mais fará algo igual, pelo belíssimo gol inesperado – momento de felicidade.

            Um a zero para o time da casa, faltando 20 minutos para acabar o jogo. Começa a cera. O goleiro demora para bater o tiro-de-meta, ninguém quer bater o lateral, inicia-se o cai-cai, todos reclamam do árbitro, não tem mais jogo. Pior, os gandulas (da casa) custam para repor a bola em jogo, até que um deles é expulso. 

Nesse ponto é que retorno à infância: meu pai, eu, e o irmão mais novo, sempre a meu lado, sentados em uma arquibancada, torcendo pela Esportiva de Guaratinguetá, jogo duro contra o Bragantino, timaço já naquela época, da chamada Segunda Divisão. Estamos ganhado de um a zero. Jorjão, crioulo de 2 metros de altura por 3 de largura, beque central de chute potentíssimo, isola a bola em direção à arquibancada, o torcedor que a pega não a devolve para o campo, esconde a bola debaixo do assento, a torcida grita de satisfação – a torcida urra de alegria! –, o juiz pede providências ao chefe de polícia que nada pode fazer, o jogo está parado. 

(Interrompo aqui esta vibrante narrativa porque uma explicação se faz necessária. Naquele tempo se jogava com uma única bola! Se era chutada para fora do campo, era preciso esperar pelo retorno da mesma, para o reinício do jogo. Excepcionalmente havia permissão para substituição da bola pelo juiz (não se usava a palavra árbitro), não me perguntem a razão de tal procedimento, não saberia responder.)

Voltemos à arquibancada da Esportiva. Durante o impasse, o jogo interrompido, eu, menino, observo de soslaio a reação de meu pai diante de algo visivelmente irregular, até mesmo para o julgamento de um menino – a bola sequestrada por um torcedor porque estamos ganhando de um a zero. Meu pai ri à solta! Ele tão severo, tão cumpridor, acima de tudo respeitador da lei e da ordem e da moral, apenas ri, alegre e divertidamente. Observo e compartilho com ele daquele momento de intimidade mágica. (Tempo da inocência, que não existe mais: hoje o gandula é expulso de campo.)

Enfim a bola é devolvida sob efusivos apupos e o jogo reinicia, faltando 20 minutos para o apito final. A catimba persiste até a vitória! 

Por essas e por outras é que hoje teimo em assistir até o joguinho ruim da Série B.