Mostrando postagens com marcador Medicina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Medicina. Mostrar todas as postagens

domingo, 5 de junho de 2022

D. Pedro I e o primeiro estetoscópio do Brasil



Estetoscópio usado por Laennec

 

“A chegada do primeiro estetoscópio no Brasil ainda é motivo de polêmica. Nascimento e Silva (1866-1951) sugeriu que ele foi trazido da França por João Fernandes Tavares (1795-1874), futuro Visconde de Ponte Ferreira.

Este aparelho desde 1896 se acha no museu Nacional de Medicina, e o uso que dele fazia o Dr. Tavares mereceu-lhe do povo o cognome de Doutor Canudo.

René Laennec foi inventor do estetoscópio, em 1816, em Paris. Essa descoberta tornou-o um dos fundadores da medicina moderna.

Dr. Tavares foi médico e amigo de D. Pedro I. O estetoscópio deve ter sido usado para avaliar a evolução da fatal tuberculose do Imperador. Ele realizou uma necropsia e assinou o atestado de óbito em 28/09/1834. 

Retornou ao Brasil e fundou o primeiro curso de Medicina Legal. Na Faculdade de Medicina do RJ, foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o primeiro presidente do Imperial Instituto Médico Fluminense (Niterói) em 1867.

 

Referências: Nascimento-Silva A. João Fernandes Tavares, visconde da Ponte Ferreira. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Anais do 2º Congresso de História Nacional (7-14 de abril de 1931). Imprensa Nacional. Rio de Janeiro. 1942: III: 279-290.”

 

 

Texto postado hoje no Twitter pelo Dr. Leopoldo dos Santos Neto, meu dileto amigo, e que reproduzo aqui com sua autorização. Professor da Universidade de Brasília, ele se destaca pelo profundo conhecimento médico e da História da Medicina, além de ser um humanista.

 

terça-feira, 8 de março de 2022

A força do cartoon

 


Monte Wolverton, Courtesy of Cagle Cartoons

 

  

Nos últimos meses este blog tem dado destaque aos cartoons, ou charges, como são conhecidos na língua portuguesa. Não é uma escolha fortuita, eles têm uma capacidade incrível de comunicar uma ideia, de forma impactante, poderosa, especialmente quando se trata de Política, e quase sempre com muito humor. Mas são úteis também nas orientações de saúde, comportamento e outras situações.

Stan Shatenstein, editor da Tobacco Control, em comemoração aos 30 anos da revista, publicou série de cartoons que incentivam a desabituação do uso do tabaco. Aquele que encima este texto é um bom exemplo, pelo impacto que ocasiona. 

Mostro aqui outros exemplos.

 


 Fumante passivo


 

Fumo e Meio Ambiente



Marketing




O vaporizador



Em nosso país, a desorientação social causada pelas absurdas ações governamentais (e de seguidores fanáticos) durante a pandemia de Covid-19 gerou inúmeras charges, representadas aqui por Jean Galvão.


Influência nociva

 


         

            Minha homenagem a todos os cartunistas do mundo!


         Agradeço ao Prof. Dr. Leopoldo dos Santos Neto pelo envio da matéria. 

 

 

 

 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Médicos esgotados



 

O artigo de Zuenir Ventura para O Globo de hoje (8 fev 2022) traz o título Médicos no Limite - A causa do cansaço, e é importante porque trata da classe mais afetada, juntamente com outros profissionais da saúde, pela pandemia.

“... a CPI da Covid, apontou em seu relatório final o presidente Bolsonaro como um dos principais responsáveis, senão o principal, pela maior tragédia sanitária da história do país, que já havia causado 600 mil mortes. Pesaram então sobre ele a acusação de nada menos que nove crimes, entre os quais charlatanismo e prevaricação.”

“O que há de mais impactante na recente pesquisa revelada pela jornalista Evelin Azevedo, promovida pela Associação Médica Brasileira (AMB) em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM), é que a maioria dos participantes (51%), a própria classe, reprova a condução da pandemia pela atual gestão. Trinta e quatro por cento classificaram a atuação como péssima; 16,6%, ruim; e 21%, como regular. Apenas 14,6% dos médicos têm a pasta como referência para indicar um tratamento. A maior parte (65,1%) se baseia na orientação das sociedades de especialidades e associações médicas.”

“A nova onda de Covid-19 provocada pela Ômicron gerou um forte impacto emocional nos médicos, que se disseram apreensivos (51,6%), esgotados (51,1%) e ansiosos (42,7%). Sem falar nos colegas de trabalho que se sentem estressados (62,4%), sobrecarregados (64,2%) ou exaustos (56,2%).”

“Quem melhor resume o atual estado físico e de espírito geral é o médico José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM. Além do aumento de casos e da diminuição de profissionais em atividade devido à contaminação, ele aponta como causa maior do cansaço físico e emocional a “sensação de que estamos enxugando gelo e de que a pandemia não vai acabar logo”. Essa “sensação” é confirmada pelos números, que continuam superando as 700 mortes diárias, vítimas do que Bolsonaro considera uma “gripezinha”.

 

De minha parte, fico abismado com o resultado da pesquisa aqui anunciada, ao saber que 14,6% dos médicos têm como referência o Ministério da Saúde, para indicar o tratamento para a Covid-19. De que planeta vieram esses negacionistas, cuja responsabilidade é ainda maior, exatamente por serem médicos?

 

https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/causa-do-cansaco.html

  

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

E agora?


Este blog não se cansa de defender a vacinação, a única maneira de vencermos a trágica pandemia. As postagens abaixo continuam disponíveis.

 

Do fanatismo

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/08/do-fanatismo.html

 

Vacinação em descrédito

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/10/vacinacao-em-descredito.html

 

Vacina e autismo

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2019/03/vacina-e-autismo.html

 

A Darwin o que é de Darwin

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/09/a-darwin-o-que-e-de-darwin.html

 

Vacinação pública ou privada?

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/01/vacinacao-publica-ou-privada.html

 

            Porém, o tema permanece em debate, os negacionistas mais ativos do que nunca. Então, quando surge a imagem avassaladora, é preciso voltar ao assunto!




             E agora?


Ref.:  statnews.com/2021/11/08/not

 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Por quê tanto sofrimento?



Friedrich Nietzsche (1844-1900)

 


Por quê tanto sofrimento no mundo? Quem pergunta é toda a humanidade, independentemente de raça, cor, religião, posição política, ou qualquer outra diferença entre pessoas, países, continentes.

            Voltemos a Viviane Mosé, em seu livro Nietzsche hoje, já apresentado nesse blog:

 http://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/10/nietzsche-hoje.html.

            Vamos ao capítulo Sobre o Sofrimento (p. 100-101):

 

“A dor advém, antes de tudo, do choque que caracteriza a vida como eterna expansão, eterna superação de si mesma. Em outras palavras, a dor é própria da vida, não tem como eliminá-la completamente, especialmente a dor psíquica, a dor de existir, de ter que fazer escolhas, lidar com as perdas, com o erro, com a morte...”

 

            E Viviane complementa:

 

“A dor é uma positividade, possui uma função no organismo; ela é um sinal, um alarme, portanto é preciso aprender a interpretá-la considerando o fluxo da vida, considerando as forças que estão em questão. A dor é sinal de recolhimento, retração, requer cuidados.”

 

            Nos anos 70, era professor em tempo integral e dedicação exclusiva no Hospital de Sobradinho, cidade satélite de Brasília, o então hospital de ensino da Universidade de Brasília, que vinha desenvolvendo interessante projeto de Medicina Integrada. (Um pobre coitado residente no sul do Piauí, com apendicite aguda, tinha acesso ao nosso hospital com mais facilidade do que encontrava atendimento em outra cidade, incluindo a capital de seu estado.) Tínhamos contato com as patologias as mais variadas, e com os respectivos sofrimentos que as acompanhavam.

            

Menina mirrada, perto de 5 anos de idade, chega ao hospital com enorme inchaço em um dos tornozelos, sem outros comemorativos – no jargão médico –, sem febre, sem dor no local da lesão. Ao exame físico, a manipulação do local afetado não ocasiona qualquer sinal de dor. A radiografia revela fratura grave da tíbia e de alguns ossos do tornozelo. Ela nega dor.

Renomado Professor de Pediatria, natural do Chile, atraído a Sobradinho pelo tal projeto de ensino, como tantos outros o fizeram e convidado ver a menina mirrada. Ele a ouve, examina, olha a radiografia, chama a enfermeira e solicita uma agulha hipodérmica, dessas de injeção. Pede gentilmente que a menina desvie o rosto para o outro lado, toma-lhe o fino bracinho, e em frente de todos nós, o transfixa com a agulha. A menina não se mexeu. Com certo tom teatral, anuncia o diagnóstico: 

– Agenesia Congênita da Dor, doença incompatível com a vida.

Complemento eu: uma simples apendicite aguda, uma pneumonia, levam à morte, pois na ausência de dor não se suspeita de que algo esteja errado, não se faz  diagnóstico precoce. (A menina continuava andando, o que agravava ainda mais as lesões, por não sentir dor.)

Inspirada em Nietzsche, Viviane aponta: [a dor] “possui uma função no organismo; ela é um sinal...”

 

Outro conceito que desejo enaltecer nos dois pequenos trechos apresentados por Viviane, sempre inspirada no filósofo alemão, é que “a dor é sinal de recolhimento”. Em se tratando da dor psíquica, penso que o recolhimento significa prudência e ao mesmo tempo terapia. (Talvez por isso tantos procurem o silêncio e a penumbra de uma igreja.)

Diante do sofrimento psíquico alguns gritam, esbravejam, amaldiçoam, praguejam, o que só faz aumentar o desequilíbrio mental. O recolhimento propicia o olhar para dentro, permite sentir a dor – aprendi com a psicanálise que esta dor pode doer muito, mas não mata.

Gosto muito da palavra recolhimento. Penso que escrever é uma forma de recolhimento. 

Segundo Nietzsche, a dor é própria da vida.

 

            

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Nobel de Medicina

 




Os cientistas Harvey J. AlterMichael Houghton e Charles M. Rice foram laureados na manhã desta segunda (5 out 2020) com o Nobel de Medicina, pela descoberta do vírus da hepatite C.

 

 Foto: Jonathan Nackstrand/AFP


 https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,nobel-de-medicina-vai-para-trio-de-pesquisadores-que-descobriu-o-virus-da-hepatite-c,70003460838


sábado, 28 de março de 2020

Terapia desnecessária


Hélio Schwartsman, que não é médico (mas a esposa dele é!), trata hoje de tema fundamental na Medicina, porém relegado a segundo plano por pacientes, familiares e pelos próprios médicos, diante da dificuldade de encarar a morte, e até de falar sobre a morte (Mais que um paliativo, Folha de S. Paulo, 28 mar 2020). Vejamos o que diz Schwartsman:

“Mesmo antes da epidemia, uma falha da medicina brasileira era a pouca atenção dada aos cuidados paliativos. Todo o mundo sabe que vai morrer um dia, mas, por uma série de fatores, esse é um assunto que preferimos evitar, inclusive nos hospitais. O resultado é o prolongamento de esforços terapêuticos para além do razoável, muitas vezes aumentando o sofrimento do paciente e incorrendo em gastos difíceis de justificar.”

O articulista salienta a falta de leitos de UTI em todo o Brasil, o que se torna ainda mais grave nesses tempos de pandemia. Os 47 mil leitos de UTI do país têm taxas de ocupação de 95% no SUS e 80% na rede particular, antes da COVID-19. Assim, “pacientes paliados que já não tenham como se beneficiar de internação devem, até para reduzir o risco de contrair nova moléstia, ser transferidos para casa ou unidades de retaguarda”, afirma Schwartsman.
            Esta é uma realidade antiga em nosso sistema de saúde. Para início de conversa, fala-se muito pouco da morte e do processo de morrer em nossas Faculdades de Medicina. Diante de um paciente terminal, fica mais fácil colocá-lo numa UTI do que conversar com a família, explicar adequadamente a situação, e encaminhar o paciente para casa, com o devido suporte paliativo. Falta habilidade aos médicos para tratar do tema. Falta disposição e coragem aos familiares para encarar a perda de um ente querido.
Ao final de sua crônica, Schwartsman faz uma pergunta importantíssima, sobre outro assunto tabu entre médicos e pacientes: “Como estão os estoques e a distribuição de morfina?” Médicos ainda têm muita dificuldade em administrar morfina mesmo a pacientes terminais, sob a absurda alegação de que “eles vão se viciar”. (Ouvi com frequência esta frase ao longo de minha vida de cirurgião.) Trata-se da negação da morte, sem dúvida, e com ela, o sofrimento desnecessário do paciente.
Muito importante que um pensador do nível de um Hélio Schwartsman traga o tema à baila em artigo de jornal.




terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Trabalhando no Adolescentro




Tendo em vista a polêmica instituída com o programa de prevenção da gravidez em adolescentes, baseado na abstinência sexual, vamos dar voz a quem sabe das coisas. Cecília Vianna é médica, formada pela Universidade de Brasília, com qualificação em Ginecologia da Infância e Adolescência, e trabalha no Adolescentro de Brasília. 
          Dra. Cecília afirma:

“O Adolescentro é uma unidade de saúde referência do Distrito Federal especializado no acolhimento e tratamento de adolescentes e suas famílias. Os mais de quatro mil atendimentos mensais refletem o impacto do serviço prestado aos usuários da rede pública de saúde.
Em 21 anos de existência, o órgão atendeu adolescentes com depressão, ansiedade, transtornos alimentares e de aprendizagem, vítimas de automutilação ou tentativa de suicídio. Uma das grandes vantagens da unidade é utilizar a abordagem biopsicossocial, incluindo os responsáveis pelos jovens na compreensão e na solução das questões trazidas. 
Destaca-se entre os serviços oferecidos o Grupo de Diversidade, que  cuida de jovens nas questões relacionadas às diversidades sexual e de gênero. Ou seja, cuida das especialidades da sexualidade LGBTI, serviço agraciado com as Boas Práticas em Atenção Psicossocial, trabalho apresentado em Montevidéu para países do Mercosul.
        Desde a sua criação, em setembro de 1998, o Adolescentro vem colhendo prêmios de reconhecimento por seu trabalho. O mais recente foi o Selo de Qualidade, distinção para serviços diferenciados a adolescentes em várias frentes de atuação. Em 2017, foi agraciado com o prêmio Boas Práticas em Atenção Psicossocial, na categoria de Infância e Juventude.
O Adolescentro presta atendimento individual e em grupo para adolescentes de 10 a 18 anos de idade, nas modalidades listadas a seguir:
1. Programa Biopsicossocial (BPS) – acompanha o crescimento e desenvolvimento de jovens, com ênfase em transtornos mentais.
2. Programa de Atenção a Adolescentes com Vivência de Violência Sexual (PAV) – integra a rede de assistência a pessoas em situação de violência no DF.
3. Assistência e tratamento em psiquiatria e neurologia a adolescentes com demandas específicas.
Oferece aos adolescentes já acompanhados no serviço (bem como aos seus familiares e/ou responsáveis) atendimento ambulatorial nas seguintes áreas: Pediatria com atuação em Adolescência; Psiquiatria; Neurologia; Ginecologia; Psicologia; Terapia Ocupacional; Fisioterapia; Fonoaudiologia; Enfermagem; Nutrição; Serviço Social; Odontologia; Práticas Integrativas em Saúde (Hatha Yoga e Reiki).
        Realiza testagens (detecção rápida de gravidez, HIV, sífilis e hepatites virais) em adolescentes em situações indicadas, in loco. Oferece atendimento às vítimas de violência sexual: atendimento individual realizada por equipe multidisciplinar, atendimento a pais e/ou responsáveis com dificuldade no limite e autoridade.
        A área da Ginecologia da Adolescência possui papel necessário e crucial para a evolução do bem estar das adolescentes. Essa especialidade atua no Adolescentro para dar suporte nas áreas da sexualidade, proteção para gravidez na adolescência e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).  
O Adolescentro lida com uma população de adolescentes com risco aumentado para comportamento sexual, o que inclui, início precoce de relação sexual, relacionamento com parceiros mais velhos, múltiplos parceiros, dificuldade de adesão ao preservativo e aos métodos contraceptivos. Outro fator que aumenta o risco de gravidez nesse grupo é o desejo fantasioso de uma gravidez. O trabalho do ginecologista consiste em assegurar a proteção imediata, com inicio de método contraceptivo eficaz, associado a orientações constantes com incentivo ao uso do preservativo.  Aí sim, gradativamente, construir junto à adolescente objetivos de vida e perspectivas para o futuro, que são os melhores elementos de prevenção da gravidez precoce. 
Dessa forma, em concordância com a literatura mundial, o Adolescentro preconiza cada vez mais o uso dos Contraceptivos Reversíveis de Longa Ação (LARCs) para adolescentes.”

                                                           Cecília Vianna 


sábado, 21 de dezembro de 2019

Histórias breves





Com grande alegria recebo, com a devida dedicatória, Histórias breves de uma arte longa (Ed. Kiron, 2019), de autoria de Jordano Pereira de Araújo, médico interessado na História da Medicina e sobretudo em escrever, o que é bastante raro.
            Antes de mais nada, destaco a beleza do título do livro, verdadeiro decassílabo de poética sonoridade. São mesmo histórias curtas, variadíssimas, aleatoriamente apresentadas, que surpreendem o leitor a todo instante, ora pelo inusitado, ora pelo interesse que são capazes de despertar. 
            A escrita é correta, simples, direta, como quem deseja apenas contar um determinado fato sem rodeios ou floreios. Às vezes, uma pitada de humor. O livro é repleto de ilustrações, com as devidas referências; apresenta ainda uma bela capa.
            Li o livro do meu ex-aluno e ex-residente com enorme prazer! Parabéns, Jordano!

domingo, 24 de novembro de 2019

Formação de professores

Durante os anos de trabalho como professor universitário, e não foram poucos, certo tema me ocupou permanentemente, seguro que estava de sua importância para o bom desenvolvimento da relação ensino/aprendizagem. Trata-se da formação do professor, fator relegado a segundo plano naquela época, segundo minha experiência pessoal. Alguma coisa teria mudado desde então?
            Com satisfação, vejo hoje na Folha de S. Paulo (24.nov.2019) artigo intitulado Novas diretrizes para a formação de professores – Qualidade do docente é o fator principal na educação, de autoria de Mozart Neves Ramos, membro e relator deste tema no CNE (Conselho Nacional de Educação), e diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna.
O CNE aprovou recentemente as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação Inicial de professores para a Educação Básica  — da educação infantil ao ensino médio — e instituiu a Base Nacional Comum para essa formação. A qualidade do professor, segundo pesquisas e estudos científicos, é o fator mais determinante para a melhora da qualidade da educação básica, afirma Mozart.
“O documento intitulado “Proposta para Base Nacional Comum da Formação de Professores da Educação Básica” definiu as competências profissionais docentes tendo por base três dimensões: conhecimento profissional, prática profissional e engajamento profissional.” Buscam-se “estratégias para melhorar a relação entre a teoria e a prática da formação docente”.
Analisemos as três competências profissionais apontadas pelo documento, segundo minha experiência profissional, repito, desde a formação na UERJ, no saudoso Hospital Pedro Ernesto, como médico residente, até tornar-me professor de Cirurgia na Universidade de Brasília (UnB). 
O (1) conhecimento profissional dos docentes sempre foi de bom ou ótimo nível em ambas as instituições, em especial na UnB. No início de minha carreira não havia pós-graduação em Cirurgia para o curso superior, com exceção da Residência Médica, considerada pós-graduação stricto sensu. Atribuo esta qualidade à boa formação profissional oferecida pelas Faculdades de Medicina à época, além do interesse pessoal daqueles que desejavam engajar-se na carreira universitária – gente que tinha amor pelo estudo e pelo conhecimento. 
A (2) prática profissional adquirida durante a Residência só podia ser aprimorada com a experiência vivida no cotidiano. Se tal experiência pudesse se desenvolver em um Hospital Universitário de bom nível, em alguns anos (há quem afirme que são necessários 15 anos para a formação de um bom cirurgião) teríamos um profissional satisfatório.
O (3) engajamento profissional, este sim, sempre foi um problema. Os baixos salários de professor sempre foram um desestímulo para a continuidade da carreira universitária, o que não constitui novidade. A clínica privada era, e ainda é competidora imbatível. 
Porém, este não é o único fator a afetar o engajamento na carreira universitária. A pesquisa é parte inerente da vida universitária, e nem todos estão dispostos a abraçá-la. Junto com ela vem a necessidade de publicar aquilo que se pesquisa, e a disposição para escrever sempre foi problema. Sem publicações não se aprimora o chamado currículo profissional, o que impede a ascensão acadêmica. 
No entanto, há um outro elemento que reputo ainda mais relevante: o gosto pelo ensino. Sem o prazer de ensinar, quer seja em sala de aula ou junto ao paciente – situação frequente em se tratando da Medicina – fica muito difícil perseverar na vida acadêmica. O professor pode ser dotado de ótimo conhecimento profissional, exercer prática médica adequada, mas não ter qualquer compromisso com o ensino, o que não é raro de acontecer. No início de minha careira não havia qualquer programa pedagógico para que o professor se inteirasse do significado pleno da palavra ensinar. Os cursos de pós-graduação lato sensu surgiram também para amenizar esta lacuna na formação do professor, mas os resultados nem sempre são satisfatórios. 
Ensinar não é tarefa fácil, se é que é possível ser realmente exercida. Já se afirmou que ninguém ensina nada a alguém, a pessoa aprende. Ao mesmo tempo, a relação aluno-professor pode vir a ser bastante desgastante, a ponto de desestimular o prosseguimento na carreira docente. Com absoluta certeza, tal relação durante a residência médica em cirurgia, em que o jovem profissional precisa  aprender a operar sem mesmo saber como empunhar um bisturi, é terrivelmente complexa. O ensino é realizado numa relação íntima de um para um. Ao cabo de dois ou três anos o médico residente aprende o suficiente para iniciar a carreira de cirurgião e se desliga do serviço. Os novatos continuam a chegar a cada ano, mas o professor é o mesmo, um ano mais velho, sempre. Se a operação é bem sucedida, o residente é aplaudido, se enche de orgulho, ganha a confiança tão necessária para prosseguir na profissão. Se surgem complicações, se o paciente morre, a responsabilidade é do professor. E os novatos não param de chegar...
Num belo dia de fim de inverno, o professor, cansado, precisa se aposentar.
Este singelo texto não pretende esgotar o tema, enumerar todos os fatores que interferem nos atos de ensinar e aprender, pouco falamos do aprendiz e de suas vicissitudes, enfim, desejo apenas ressaltar o que diz Mozart Neves Ramos, que a “Qualidade do docente é o fator principal na educação”.



segunda-feira, 22 de julho de 2019

Visitas prolongadas em UTI




Foto:Folhapress

De modo geral, as visitas em uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) são restritas a cerca de duas horas diárias, o que pode causar impacto na saúde de quem não está doente, ou seja, nos familiares. O estudo em questão resolveu testar os efeitos da ampliação do tempo de visita dos familiares para 12 horas por dia. A reportagem é de Paula Sperb para a Folha de S. Paulo (22.jul.2019).
            “Resultado: a mudança reduziu em 50% os sintomas de ansiedade e depressão que os parentes desenvolvem no período em que alguém da família está na UTI sem aumentar o risco de infecções para os pacientes.”
            “É tão efetivo quanto um antidepressivo, mas sem os efeitos adversos. Sabe-se que aproximadamente a metade dos familiares desenvolve níveis patológicos de depressão. Ter uma estratégia para reduzi-los é muito importante”, explica o médico pesquisador Regis Goulart Rosa, que coordenou a pesquisa UTI Visitas, publicada na edição mais recente do Jornal da Associação Americana de Medicina (Jama).”
“O estudo foi conduzido pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS) do Ministério da Saúde, e realizado em 36 UTIs de hospitais públicos e filantrópicos do Brasil. Em São Paulo, o estudo foi feito no HCor (Hospital do Coração) e no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. No total, 1.685 pacientes e 1.295 familiares participaram do estudo.
O tempo reduzido de visitas à UTI advém da ideia de que o contato com mais pessoas por mais horas resulta em maior risco de infecções aos pacientes e maior estresse para as equipes médicas. O estudo, porém, desmente o risco ampliado de infecções e conseguiu minimizar a possível sobrecarga dos profissionais educando os familiares sobre o funcionamento de uma UTI. Acompanhantes receberam as devidas instruções e aprenderam sobre o que faz cada profissional, como enfermeiros intensivistas, médicos e técnicos de enfermagem. 
O estudo avaliou ainda se a presença prolongada dos visitantes poderia diminuir a confusão mental dos pacientes, mas os resultados mostraram não houve diferença.
Pareceu-me ótima iniciativa; talvez haja necessidade de novos estudos, em diferentes instituições, para uma conclusão definitiva.
                        


segunda-feira, 10 de junho de 2019

Habilidades



A restrição ao número de horas de trabalho dos residentes significa que eles acumulam menos experiência com operações
Foto: Michael Buholzer/Reuters


A reportagem é de Kate Murphy, para The New York Times (10 jun 2019), e traz o título Brincadeiras infantis podem ajudar na formação de cirurgiõesA despeito de estar aposentado, o assunto me cativou! Explico.
Estudos em faculdades de medicina dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha revelaram queda na destreza manual de estudantes e médicos residentes. “Alguns dizem que o problema é o menor número de cursos práticos e manuais nos ensinos fundamental e médio – artesanato, desenho e música. Outros dizem que a culpa é do tempo excessivo deslizando os dedos sobre telas em vez de desempenhando atividades que ajudem a desenvolver o controle motor fino, como a costura.” 
Robert Spetzler, neurocirurgião, disse ter desenvolvido a destreza ao tocar piano quando criança e ao realizar cirurgias em ratos-do-deserto no ensino médio. "Quanto mais cedo começamos a nos dedicar a tarefas físicas e repetitivas, mais aprofundado e instintivo se torna o desenvolvimento das habilidades motoras", disse ele. 
“Estudos revelam que, quanto maior o número de procedimentos realizados por um cirurgião, maior a probabilidade de sobrevivência de seus pacientes. 
Atenção para esta informação: “A introdução do limite máximo de carga horária de 80 horas semanais para os cursos de medicina dos EUA em 2003 teve como consequência indesejada limitar a disponibilidade dos residentes de cirurgia de participar das operações.” "Quando estava me formando, por bem ou por mal, eu trabalhava cerca de 120 horas por semana", disse Thomas Scalea, cirurgião e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, em Baltimore. "Hoje, os estudantes concluem suas residências com cerca de 900 casos operatórios. Eu tinha quase o dobro disso". 
“Maria Siemionow, cirurgiã especializada em transplantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Illinois, em Chicago, passava horas, na juventude, recortando fotos de revistas e criando colagens. Além de desenvolverem a destreza, segundo ela, atividades como essa também exigem uma imaginação tridimensional, planejamento, paciência e precisão.”
“Maria acredita que os estudantes podem aprender a ser grandes cirurgiões, mas precisam de algumas habilidades como pré-requisito.” "Analisamos as médias deles e suas notas nas provas, sua produtividade na pesquisa e na autoria de estudos, mas, na realidade, ser um bom cirurgião nada tem a ver com esses pontos", explicou Michael Lawton, sucessor de Spetzler no Instituto Neurológico Barrow. "O mais importante é seu manuseio dos instrumentos e sua maneira de lidar com os tecidos, bem como sua reação e capacidade de adaptação sob estresse". 
            
            Participei durante muitos anos de provas de seleção para médicos residentes de Cirurgia na Universidade de Brasília e não me lembro de ter avaliado as habilidades dos candidatos, o que na prática seria bem difícil. No máximo, olhava para ver se o gajo tinha as duas mãos. (Com o passar do tempo as mulheres se apresentaram como candidatas.) Também por isso a reportagem acima despertou tanto interesse.
            Há um outro motivo, entretanto, mais forte e que me trouxe gratas lembranças. Eu não tinha mais que 7 anos de idade quando minha mãe me pediu para fazer uma limpeza e lubrificar a máquina de costura dela, da famosíssima marca Singer. Na época foi um grande desafio, cumprido com tanta eficiência, que todo ano o expediente se repetia. O menino ouvia os elogios, que não eram poucos, com enorme satisfação (nossos pais jamais foram pródigos em elogios).
            Até que certa feita a mãe vaticinou, Quando crescer você vai ser cirurgião! Ao que respondi, Eu não! Minha negativa não funcionou. As negativas nunca funcionam, apenas reafirmam.





segunda-feira, 27 de maio de 2019

Síndrome de burnout





“GENEBRA - O esgotamento profissional, conhecido como síndrome de burnout, foi incluído na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS).”  É o que informa hoje a  Agência AFP para O Estado de S. Paulo (27 mai 2019).
A lista, elaborada pela OMS, é baseada nas conclusões de especialistas de todo o mundo e a classificação é utilizada para estabelecer tendências e estatísticas de saúde.  
"É a primeira vez que o esgotamento profissional entra na classificação", anunciou o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic.  
burnout, incluído no capítulo de problemas relacionados ao emprego e desemprego, recebeu o código QD85.  
O problema foi descrito como "uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito" e que se caracteriza por três elementos: "sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados a seu trabalho e eficácia profissional reduzida".  
A nova classificação, chamada CIP-11, publicada ano passado, foi aprovada durante a 72ª Assembleia Mundial da OMS e entrará em vigor no dia 1 de janeiro de 2022. 
            A síndrome de burnout acomete com frequência médicos e enfermeiros, em particular os profissionais submetidos a trabalho em regime de plantão e que têm mais de um emprego. Passam a noite trabalhando e na manhã seguinte permanecem em atividade, em outro emprego, driblando assim a legislação trabalhista.
           Importante observar que, além dos danos provocados no próprio profissional, a chamada relação médico-paciente nesses casos fica completamente deteriorada.
            Eu mesmo pratiquei este tipo de trabalho nos anos em que fazia a Residência Médica. O esgotamento que aquilo provocou – o burnout– levou-me a mudar completamente minha opção profissional, mudar de cidade, enfim, mudar de vida, embora tenha permanecido na Medicina. Isso é possível.



quinta-feira, 7 de março de 2019

Vacina e autismo


Por mais absurdo que pareça, ainda se discute a ocorrência de possíveis efeitos colaterais das vacinas, como o autismo.
A tese de que a vacina contra a rubéola, caxumba e sarampo, conhecida como tríplice viral, provoca o autismo surgiu após a publicação de um artigo de Andrew Wakefield, em 1998, no The Lancet. O boato persiste até hoje.
Daí a importância do recente estudo desenvolvido na Dinamarca, envolvendo 600.000 crianças e publicado nesta segunda-feira no Annals of Internal Medicine, como mostra El País de hoje (6 mar 2019), por Carolina Garcia, com o título Vacinas não causam autismo: o mais amplo estudo do tema sai na Dinamarca. 
Os pesquisadores “estudaram as características das crianças e o tempo decorrido desde a vacinação, um total de 657.461 nascidos na Dinamarca de 1999 a 2010, e as acompanharam desde o primeiro ano de vida até agosto de 2013. 
Em todos os casos se avaliou se as crianças foram vacinadas, se tinham sido diagnosticadas com autismo, se havia algum membro da família com esse transtorno neurobiológica ou algum outro fator de risco para o autismo. No total, foram avaliadas mais de cinco milhões de pessoas, das quais apenas 6.517 crianças foram diagnosticadas com a incidência de autismo, dizem os autores, ou seja, 129,7 para cada 100.000 habitantes. 
Não se observou nenhuma diferença entre as crianças vacinadas e as que não eram, e não se verificou nenhum risco adicional para padecer de TEA entre os vacinados.”
“Nossa conclusão é que a vacina tríplice viral não aumenta o risco de sofrer de autismo".
A óptica dos grandes números tem força para estabelecer a verdade. 



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Cannabis e surto psicótico



Estudos mostram provável elo entre o uso da cannabis e a esquizofrenia em pessoas com predisposição genética 
Foto: Carlos Osorio/Reuters


“Uso de cannabis de 'alta potência' pode desencadear surto psicótico. Segundo especialistas, os riscos são para adolescentes e jovens que fazem uso de maconha e possuem histórico familiar de distúrbios mentais.” A reportagem é de Benedict Carey, para The New York Times (11 Fev 2019).
Prossegue a reportagem: “Legisladores e médicos estão cada vez mais preocupados com os perigos da maconha. Especialistas diferenciam entre a "nova cannabis" – legalizada, altamente potente, disponível sob a forma de produtos comestíveis ou em vaporizadores – e a versão antiga, uma erva mais fraca. Faz pelo menos três décadas que os níveis do THC, elemento químico responsável pelo efeito da maconha, estão aumentando.” 
Preocupa a todos o uso contínuo da erva e o surgimento de psicose entre os jovens, pois há 70 anos as evidências se acumulam. “No livro “Tell Your Children” [Conte aos seus filhos], o autor Alex Berenson, que já foi repórter do New York Times, argumenta que a legalização está expondo uma geração inteira a um elevado risco de esquizofrenia e outras síndromes psicóticas.”
“Há evidências circunstanciais de um mecanismo biológico por meio do qual o uso da cannabis poderia causar um distúrbio psicótico, episódios que tendem a ocorrer no fim da adolescência e início da vida adulta, durante ou após um período de rápido desenvolvimento do cérebro.”
“Durante a adolescência, o cérebro desfaz algumas conexões desnecessárias entre os neurônios do córtex pré-frontal - onde ocorrem o pensamento e o planejamento - e a região que é perturbada pelos distúrbios psicóticos. A região é rica em receptores CB1, envolvidos nessa "poda" e estimulados pelo uso da cannabis. Alterações no processo de poda podem aumentar o risco de esquizofrenia, de acordo com pesquisas recentes.”  
Parece que o histórico familiar de distúrbios psicóticos tem papel muito mais preponderante que qualquer efeito causado pelo uso da cannabis. Um estudo de 2014 indicou um maior risco de esquizofrenia entre pessoas com histórico familiar desse distúrbio, independentemente do uso da Cannabis. 
"Meu estudo mostra claramente que a cannabis não causa, sozinha, a esquizofrenia", disse a Dra. Lynn E. DeLisi, da Faculdade de Medicina de Harvard. "Na verdade, é necessária uma predisposição genética." Ela acrescentou que é provável que o uso da cannabis durante a adolescência e até os 25 anos pode desencadear um quadro de esquizofrenia.  
            Aguardamos estudos que apresentem conclusões definitivas sobre o assunto.



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

É isso Medicina?

Conselho de Medicina regulamenta consulta, diagnóstico e cirurgia onlineeste o título da reportagem de Lígia Formenti para  O Estado de S.Paulo (3 Fev 2019).
“Médicos poderão atender seus pacientes pela internet. Resolução aprovada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que deverá ser publicada na próxima semana, permite que profissionais façam consultas, diagnósticos e cirurgias online. A regra, que entra em vigor dentro de três meses, surge no momento em que os governos se deparam com vazios de assistência em regiões distantes do País, provocados pela saída de profissionais cubanos do Mais Médicos.” 
O relator da resolução no CFM, Aldemir Soares, afirma que “as consultas a distância podem ser úteis para levar assistência nas cidades que não conseguem atrair profissionais.” 
A consulta a distância somente pode ser feita com a concordância do paciente. Um termo por escrito, com autorização expressa, tem de ser assinado. (A afirmação chega a ser ridícula. Imagine o leitor alguma situação na qual o paciente fosse “obrigado” a ser atendido a distância!)
O texto aprovado pelo CFM permite também o diagnóstico a distância. “O relator conta que a tecnologia já permite que alguns exames, como o de ouvido e garganta, possam ser feitos pela internet.” 
A resolução prevê ainda a teletriagem, quando um médico avalia o paciente e determina qual o tipo de atendimento que ele deve receber. “Isso pode ser muito útil, evita que o paciente, por exemplo, seja encaminhado para uma especialidade que não é tão apropriada para o seu caso.” 
As regras estabelecidas se aplicam para a assistência em geral, seja de médicos particulares, que atuam no Sistema Único de Saúde, ou para planos. 
“A resolução do Conselho Federal de Medicina permite também cirurgias a distância. Soares conta que já existe no País cerca de 40 centros habilitados para esse tipo de procedimento em que um médico opera, por meio de um robô, um paciente que pode estar a muitos quilômetros de distância. A norma que deverá ser publicada nesta semana prevê que o procedimento somente poderá ser feito em locais com infraestrutura adequada. E, além do cirurgião remoto, é preciso estar presente, no local onde está um paciente, um cirurgião da mesma especialidade. “Ele pode auxiliar na operação, com manipulação de alguns instrumentos e, caso haja qualquer problema, pode assumir a operação.”
(Hospitais e postos de atendimento com frequência estão desprovidos de um simples esfigmomanômetro; como falar em cirurgia a distância?)
Uma pergunta me ocorre de imediato: É isso Medicina?
Ou teremos de dar outro nome a esta prática, que não envolve necessariamente a presença física de médico e seu paciente? A tão festejada relação médico-paciente agora torna-se virtual. 
            Tempos estranhos esses.






quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Síndrome de Stendhal



Um homem contempla 'O nascimento de Vênus'
Alberto Pizzoli / Getty Images


“Um turista italiano de 70 anos sofre uma parada cardíaca e desaba enquanto contempla O Nascimento de Vênus. À sua direita ficam as telas A Primavera e A Adoração dos Magos; à sua esquerda, A Anunciação; às suas costas, o imponente Tríptico Portinari, do pintor flamengo Hugo van der Goes. Aconteceu no último dia 15, em Florença. Um grupo de médicos que também visitava a exposição conseguiu reanimá-lo com os desfibriladores da pinacoteca.” Trata-se da maravilhosa  Galeria degli Uffizi!
            É o que nos conta Lorena Pacho, de Roma para El País (26 dez 2018). Aventou-se logo o diagnóstico de síndrome de Stendhal, uma espécie overdose de beleza, de intoxicação pela Arte. 
Foi em Florença que o escritor francês Stendhal, em 1817, apresentou sintomas de profundo mal-estar, ao entrar na basílica da Santa Cruz, afetado por tamanho esplendor. “Tinha alcançado esse nível de emoção em que as emoções celestiais das artes e os sentimentos apaixonados se encontram. Senti palpitações no coração, caminhava temendo cair”, escreveu. 
Informa ainda a reportagem: “Este caso é o mais grave já visto no museu, mas não o único. O diretor relata que há alguns anos um jovem sofreu um ataque epilético em frente à tela A Primavera, também de Botticelli. “Nossos assistentes de sala têm formação em primeiros socorros, e um deles o atendeu”, relata. E acrescenta que esses funcionários já estão praticamente familiarizados com os desmaios dos visitantes. “Acontece em frente às obras de arte maiores, mais famosas”,  observa. O exemplo mais recente se deu há alguns meses, durante a inauguração da nova sala dedicada a Caravaggio. Um homem desmaiou em frente à Cabeça de Medusa, uma das obras mais inquietantes do gênio do barroco. “Quando se trata de simples desmaios é mais fácil teorizar sobre uma síndrome de Stendhal”, opina.”
Notícia interessantíssima!