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quinta-feira, 24 de março de 2022

terça-feira, 15 de março de 2022

Charles Darwin no Rio de Janeiro



 

O navio inglês H.M.S. Beagle zarpou da Inglaterra em dezembro

de 1831 e dois meses depois chegou a Salvador

 


 



Encantado com a natureza e indignado com a corrupção: o que Charles Darwin achou do Brasil do século 19. Texto original de André Bernardo, do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil (23 nov 2019), adaptado para o blog.

      Darwin chegou a Salvador (BA) em 28 de fevereiro de 1832, onde permaneceu por 18 dias. "Luxuriante" foi um dos adjetivos que usou para descrever a paisagem local. 

De Salvador seguiu para o Rio de Janeiro, aonde chegou no dia 4 de abril, passando 93 dias na cidade, residindo em Botafogo, aos pés do Corcovado. 

Logo de início, fez críticas à burocracia local: "Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório, mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis as suas pessoas, é quase intolerável.” 

“A cavalo, Darwin e uma comitiva de seis homens empreenderam uma viagem de 16 dias, entre 8 e 24 de abril, até Conceição de Macabu, a 227 km da capital. De maneira geral, a impressão deixada pelos donos de pousada não foi das melhores. Alguns demoravam até duas horas para servir a refeição. "A comida estará pronta quando estiver", respondiam os mais atrevidos. Outros, sequer, tinham garfos, facas ou colheres para oferecer. 

“Na Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, os viajantes deram pela falta de uma bolsa com alguns de seus pertences. "Por que não cuidam do que levam?", retrucou o hospedeiro, mal-humorado. "Talvez tenha sido comida pelos cachorros". 

“Em sua travessia pelo norte fluminense, Darwin deparou-se também com os horrores da escravidão. Dois episódios lhe marcaram profundamente. Um deles aconteceu na Fazenda Itaocaia, em Maricá, a 60 km do Rio, no dia 8 de abril, quando um grupo de caçadores saiu no encalço de alguns escravos. A certa altura, os foragidos se viram encurralados em um precipício. Uma escrava, de certa idade, preferiu atirar-se no abismo a ser capturada pelo capitão do mato. "Praticado por uma matrona romana, esse ato seria interpretado como amor à liberdade", relatou Darwin. "Mas, vindo de uma negra pobre, disseram que tudo não passou de um gesto bruto". 

“O outro episódio ocorreu na Fazenda Sossego, em Conceição de Macabu, no dia 18. Um capataz ameaçou separar 30 famílias de escravos e, em seguida, vendê-los separadamente como forma de punição. Darwin ficou tão indignado com a cena que a descreveu como "infame". 

“Não bastassem os maus-tratos aos escravos, Darwin também se escandalizou com a corrupção. No dia 3 de julho, chegou a rotular os brasileiros de "ignorantes", "covardes" e "indolentes". "Até onde posso julgar, possuem apenas uma fração daquelas qualidades que dão dignidade ao homem", queixou-se. "Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que, em pouco tempo, ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados." 

Em 5 de julho de 1832 a expedição seguiu para o Uruguai e depois Argentina. Em setembro de 1835, chegou às Ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico, o ponto mais famoso da viagem. 

Bernardo afirma: “Apesar de agnóstico, Darwin deu "graças a Deus" por estar, finalmente, deixando as costas do Brasil. "Espero nunca mais visitar um país de escravos", escreveu no dia 19 de agosto. O Beagle retornou à Inglaterra no dia 2 de outubro de 1836. Vinte e três anos depois, em 24 de novembro de 1859, seu tripulante mais ilustre publicaria A Origem das Espécies.” 


Nos envergonha, o que Darwin viu do povo brasileiro.

 

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50467782

 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Medicina dos chimpanzés

Bo, resgatado pelo Projeto Chimps, em Morgantown, EUA

Melissa Golden

 

“Chimpanzés usam insetos para tratar feridas, mostra novo estudo.” Reportagem de Nicholas Bakalar para The New York Times, publicada na Folha de S. Paulo hoje.

“Desde 2005, pesquisadores vêm estudando uma comunidade de aproximadamente 45 chimpanzés no Parque Nacional Loango, no Gabão. De novembro de 2019 a fevereiro de 2021, os pesquisadores notaram 76 feridas abertas em 22 chimpanzés. Em 19 casos eles viram um deles realizar o que parecia um autotratamento da ferida, usando um inseto como remédio. Em alguns casos, um chimpanzé parecia tratar outro. Os cientistas publicaram suas observações na revista Current Biology na segunda-feira.”

“O procedimento era semelhante em todas as ocasiões. Primeiro, os chimpanzés pegavam um inseto voador; depois o imobilizavam, apertando-o entre os lábios. Aí colocavam o inseto sobre a ferida, movendo-o em círculo com as pontas dos dedos. Finalmente, retiravam o inseto, usando a boca ou os dedos. Com frequência eles colocavam o inseto na ferida e o retiravam diversas vezes.”

“Os pesquisadores não sabem que inseto os chimpanzés usavam, ou exatamente como ele pode ajudar a curar um ferimento. Sabem que eram pequenos insetos voadores de cor escura. Não há evidência de que os chimpanzés comam os insetos — eles com certeza os espremem entre os lábios e os aplicam sobre os ferimentos.”

“Em três casos, os pesquisadores viram os chimpanzés usarem a técnica em outro chimpanzé. Em um deles, uma fêmea adulta chamada Carol cuidou de um ferimento na perna de um macho adulto, Littlegrey. Ela pegou um inseto e o deu a Littlegrey, que o colocou entre os lábios e o aplicou na ferida. Mais tarde, Carol e outro macho adulto foram vistos esfregando o inseto em torno da ferida de Littlegrey. Outro macho adulto se aproximou, retirou o inseto da ferida, colocou-o entre seus lábios e depois o reaplicou na perna de Littlegrey.”

“Aaron Sandel, antropólogo na Universidade do Texas em Austin, achou o trabalho valioso, mas ao mesmo tempo manifestou certas dúvidas. "Eles não oferecem uma explicação alternativa para o comportamento, nem fazem conexão com que inseto poderia ser", disse. "O salto para uma potencial função médica é um exagero, nesta altura. Mas, disse ele, "cuidar de seus próprios ferimentos ou de outros usando um instrumento, outro objeto, é muito raro". A documentação dos chimpanzés cuidando de outros é "uma importante contribuição para o estudo do comportamento social dos macacos", acrescentou Sandel. "E é interessante também perguntar se há empatia envolvida nisso, como nos humanos."

            Acrescento eu: as dúvidas levantadas por Aaron Sandel fazem parte do chamado método científico. Pesquisar e duvidar são elementos fundamentais para o desenvolvimento da Ciência. O que não impede que o mesmo pesquisador possa fazer, no caso em questão, a interessantíssima pergunta: “Há empatia envolvida nisso?” A resposta, ninguém sabe ainda.

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/02/chimpanzes-usam-insetos-para-tratar-feridas-mostra-novo-estudo.shtml

domingo, 22 de agosto de 2021

Homem gosta de homem


Dois chimpanzés no Parque Nacional de Gombe, Tanzânia. Ian Gilby

 

 

“Cuidar das amizades, a melhor estratégia para os chimpanzés”: a reportagem é de Javier Salas para El País (17 AGO 2021).

            O artigo começa descrevendo algumas peculiaridades de chimpanzés e bonobos: “Nossos primos mais próximos entre os grandes símios, os chimpanzés e os bonobos, tomaram dois caminhos evolutivos completamente opostos na hora de preparar seu sucesso reprodutivo. Os chimpanzés trilharam o espinhoso trajeto da violência e da coação para assegurar a descendência: os machos que mais batem nas fêmeas, por exemplo, têm mais chances de acasalamento. Já os bonobos continuaram a rota da seda: os machos não sabem quando é o período fértil das fêmeas, que por sua vez dirigem o grupo em um matriarcado, apostando em acasalar muito para aumentar as probabilidades de ter uma prole.”

Porém, se a reprodução ocupa tanto espaço nas relações entre eles, como explicar “que os chimpanzés se dediquem a mimos, cuidados e carícias, catando piolhos e alisando seus pelos mutuamente? Que sentido evolutivo faz reforçar amizades com quem vai tirar a sua oportunidade de procriar?”

Afirma o primatologista Joseph Feldblum, da Universidade de Michigan: “Os machos não passariam todo este tempo alisando outros machos e renunciando a tentar encontrar fêmeas ou comida a menos que obtivessem algum tipo de ganho com isso”. “Os machos cultivam amizades porque isso funciona.” 

São dados reunidos no Parque Nacional de Gombe (Tanzânia) desde os tempos de Jane Goodall: “os cientistas puderam analisar a descendência dos machos que estreitam laços com outros companheiros, comparando àqueles que não o fazem. E obtiveram dois resultados: o primeiro não é nada surpreendente, e algo que já se sabia: os machos que mais têm contato com o macho alfa da comunidade ganham possibilidades de se reproduzir. Faz sentido: neste patriarcado, o alfa controla as fêmeas e permite a seus amigos que acasalem. “Puxar o saco do chefe não é nenhuma novidade”, observa Anne Pusey, coautora do estudo, da Universidade Duke (EUA), que passou três décadas organizando e digitalizando esse conjunto de dados único. E acrescenta: “Demonstramos que sempre valeu a pena”.

No entanto, os cientistas descobriram que “um chimpanzé macho tem 50% mais probabilidades de ter filhos se mantiver pelo menos duas fortes amizades com outros indivíduos equivalentes. Com exceção do alfa, a patente na hierarquia do grupo não impacta nas possibilidades de ter sucesso reprodutivo, mas, sim, em ter muitos amigos aos quais dedicar tempo e cuidados. A estratégia não é a competição violenta, e sim uma colaboração entre companheiros.”

É a primeira vez que se estuda a influência da sociabilidade na capacidade reprodutiva dos machos porque esta perspectiva sempre foi aplicada unicamente às fêmeas. 

Talvez os benefícios destas relações sociais nos chimpanzés proporcionem pistas sobre o papel da amizade nos seres humanos. O estudo sugere que “os laços fortes entre os machos têm raízes evolutivas profundas e proporcionaram a base para as relações mais complexas que vemos nos humanos”, diz Gilby, da Universidade Estadual do Arizona. 

 

Entre nós, há um dito popular: homem gosta de homem. As reuniões sociais em que casais são convidados revelam essa tendência: homens conversam com homens, mulheres com mulheres. Mas esta é tão somente uma blague, sem qualquer fundamento científico.

 

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-08-17/cuidar-das-amizades-a-melhor-estrategia-para-os-chimpanzes.html

 

sábado, 7 de agosto de 2021

Sagui-de-Schneider


 

 

Nova espécie de primata é descoberta na Amazônia, é a manchete do artigo de Cassandra Carla Silva Castro para a Agência Cenarium (7 ago 2021).

Informa Cassandra Castro: “A espécie de mico descoberta pelo biólogo Rodrigo Araújo, que só é encontrada na Região Norte do Estado do Mato Grosso, recebeu o nome de sagui-de-Schneider (M. schneideri) em homenagem ao professor Horacio Schneider, que é reconhecido pelo pioneirismo e grande contribuição para a pesquisa da diversidade e evolução dos macacos. A descoberta realizada por Rodrigo Araújo é a terceira desde 2019 e integra a pesquisa realizada por ele para a defesa do doutorado em Biologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Antes do micoSchneideri, agora em 2021, o cientista já havia descoberto as espécies Plecturocebus grovesi e o mico Munduruku, ambas em 2019.”

“O pesquisador explica que o mico é um gênero composto por 16 espécies diferentes e que são encontradas na região do arco do desmatamento, que compreende áreas que vão do Oeste do Maranhão e Sul do Pará, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. Durante os trabalhos de campo que realizou, Rodrigo viu regiões bastante degradadas, uma realidade que altera o equilíbrio da floresta e, consequentemente, de seus habitantes.”

“No caso do mico Schneideri, a área onde foi encontrada a espécie está localizada no Rio Teles Pires, onde existem várias hidrelétricas que impactaram o habitat do animal, mas os responsáveis pelos empreendimentos não sabiam da existência dos macacos, o que poderia ter evitado consequências nocivas aos primatas.”

Há muito ainda por descobrir na Amazônia, antes que acabem com ela.

 

https://cultura.uol.com.br/cenarium/2021/08/07/173845_nova-especie-de-primata-e-descoberta-na-amazonia.html

 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

No dia seguinte...

Uma pequena história ilustrada
para minha querida Gabriela




No dia seguinte abriram-se as flores



A bunda-de-ouro procura o mel
no bico da pétala




Continua procurando
na ponta de outra pétala



Não encontra nada
limpa as mãos



A bunda dourada vai embora
completamente desapontada



O dia seguinte refere-se à postagem de ontem:



Fotos: AVianna, maio 2020, iPhoto 11 Pro Max 2x






quarta-feira, 6 de maio de 2020

Formiga bunda-de-ouro


O termo Formiga-feiticeira é a designação comum a diversas espécies de vespas da família Mutillidae, especialmente as fêmeas ápteras, que têm aparência de formiga e são geralmente pretas, aveludadas e com vistosas manchas vermelhas, amarelas ou brancas

Além de formiga-feiticeira, nome recebido porque o animal era utilizado para prática de feitiçaria, a espécie também é conhecida pelos seguintes nomes: bunda-de-ouro (este é meu preferido), cachorrinho-de-mulher, cachorrinho-de-nossa-senhora, chiadeira, feiticeira, filho-de-onça, formiga-cascavel, formiga-cega, formiga-chiadeira, formiga-conga, formiga-de-bentinho, formiga-de-onça, formiga-ferro, formiga-maravilha, formiga-oncinha, formiga-suprema, formiga-picadeira, formiga-rainha, formiga-rica, rei-formiga, formiga-sete-socos, formiga-sozinha, formiga-veludo, formiga-rei, formiga-vespa, gatinha, oncinha, piolho-de-onça, tajipucu.

São parasitóides em sua fase larval; apresentam dimorfismo sexual acentuado; as fêmeas são ápteras (não têm asas) e os machos, normalmente macrópteros, ápteros ou raramente braquípteros;  possuem grande variação de tamanho (relacionada com a alimentação na fase larval), sendo observados indivíduos de 5 a 50mm.



Peguei-as sugando o melzinho dos botões das orquídeas em meu jardim. (Clique para ampliar)

       











Fotos: AVianna, mai 2010, iPhone 11 pro Max 2x

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Arqueia de Asgard



Uma arqueia de Asgard vista no microscópio. 
/ Nature.

Encontrado o organismo que explica a origem de toda a vida complexa da Terra: título espetacular da reportagem de Nuño Domínguez (18 jan 2020) com o subtítulo Cientistas japoneses observam pela primeira vez arqueias de Asgard, micróbios cujos ancestrais deram o passo inicial para a aparição de animais e plantas há dois bilhões de anos, para El País. 
“Após quase 15 anos de trabalho, cientistas japoneses conseguiram pela primeira vez tirar do fundo do mar e criar em laboratório arqueias de Asgard, o misterioso organismo que pode explicar a origem de todas as formas de vida complexa da Terra, incluindo os humanos.”
            Domínguez explica: “Todos os seres vivos que podemos ver a olho nu são feitos com os mesmos tijolos: células complexas, com organelas internas, chamadas eucariotas. Uma pessoa é um conjunto de 30 bilhões de células eucariotas que cooperam entre si com um objetivo comum. Todas as plantas, animais e fungos são eucariotas.”
“Na Terra há outros dois grandes domínios da vida: o das bactérias e o das arqueias, mais primitivas, sem organelas internas. Pois acredita-se que, há cerca de dois bilhões de anos, uma arqueia engoliu e assimilou outro micróbio, transformando-se na primeira célula complexa. Foi o primeiro passo até nós, e ainda não se sabe como aconteceu.”
A partir de 2015 cientistas escandinavos descobriram várias espécies de arqueias: Loki (em homenagem ao deus nórdico), Thor, Odin, Heimdall, Hel, que foram agrupadas na família Asgard, o lar dos deuses vikings.
“As arqueias de Asgard medem um décimo de milésimo de um centímetro e se reproduzem muito devagar para os padrões de um micróbio: mais ou menos uma vez por mês. O mais curioso são seus longos tentáculos entrelaçados. Os cientistas ainda não sabem por que os usam.”
“Segundo a teoria, exposta na revista Nature, o ancestral dos eucariotas era uma arqueia similar à de Asgard. A vida complexa surgiu seguindo o que eles chamam de os três “E”. Primeiro, a arqueia enredou uma bactéria com seus tentáculos, depois a engoliu e, por último, a endogenizou, o seja, estabeleceu com ela uma relação de cooperação para trocar nutrientes conhecida como sintrofia. A bactéria, que até então era um organismo independente, transformou-se numa mitocôndria – uma organela que fornece energia ao seu hóspede.”
“Imachi, chefe do Instituto de Ciência e Tecnologia do Mar e da Terra, no Japão,  deu um novo nome aos organismos retirados da fossa de Nankai: arqueia Prometeu (Prometheoarchaeum syntrophicum), em alusão ao ser mitológico que roubou o fogo dos deuses para dar aos humanos. Dois bilhões de anos depois, as mitocôndrias continuam presentes em todas as células eucariotas com idêntica função. A origem da vida complexa foi a cooperação.”
São descobertas espetaculares, a Ciência a avançar lenta e inexoravelmente.




terça-feira, 26 de novembro de 2019

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Caryota mitis, flor-borboleta


Nome Científico: Caryota mitis
Sinonímia: Caryota furfuracea, Caryota griffithii, Caryota javanica, Caryota nana, Caryota propinqua, Caryota sobolifera, Caryota speciosa, Drymophloeus zippellii, Thuessinkia speciosa
Nomes Populares: Palmeira-rabo-de-peixe, Cariota-de-touceira , Palmeira-rabo-de-peixe-de-touceira
Família: Arecaceae
Categoria: Árvores, Palmeiras
Clima: Equatorial, Mediterrâneo, Oceânico, Subtropical, Tropical
Origem: Ásia, Birmânia, Bornéu, China, Filipinas, Java, Malásia, Oceania, Sri Lanka, Tailândia, Vietnã


***

No dia 7 de julho iniciamos o registro fotográfico da abertura da flor da nossa cariota. Ela aparece parcialmente envolta pela capa protetora, resistente, e seu desabrochar começa pela parte média; ela permanece fortemente presa nas extremidades. O processo iniciou-se já a alguns dias.



Cinco dias depois, acentua-se o desabrochar. Os pendões estão presos ainda nas extremidades, aparentemente prontos a se desfazerem.



Após 6 dias temos a impressão de que a flor estará livre a qualquer momento.



A foto mostra em detalhe a interessante amarração inferior.



Nove dias depois a flor ainda permanece atada nas extremidades. 



Visão do lado oposto, 18 dias depois do primeiro registro, mostra pequena parte dos pendões já soltos. A amarração prossegue.



Vinte e três dias depois a flor está prestes a se libertar.

 


Após 24 dias – um longo período de tempo – desfaz-se a amarração superior, abre-se a flor, o casulo fibroso ainda pendurado.  



E o processo termina, com um mês de duração. Por que é tão lento? Penso em uma borboleta que sai lentamente de seu casulo. Maturação?



Fotos: AVianna, jul 2019, jardim.
iPhone8, sem qualquer edição.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Herança do trauma


A reportagem é de Benedict Carey, para The New York Times (21 dez 2018), com o chamativo título Cientistas debatem se é possível herdar geneticamente um trauma – Estudos recentes sugerem que o trauma pode alterar os genes de uma pessoa.
Pesquisadores da Califórnia publicaram estudo sobre prisioneiros da Guerra Civil americana e chegaram a uma conclusão notável: filhos do sexo masculino de prisioneiros de guerra que sofreram abusos tinham cerca de 10% mais propensão a morrer do que seus semelhantes, a partir da meia-idade. 
O resultado sugeria uma “explicação epigenética”. “A ideia é que o trauma pode deixar uma marca química nos genes de uma pessoa, a qual é transmitida para as gerações seguintes. A marca não danifica o gene; não há mutação. Mas altera o mecanismo pelo qual o gene se manifesta ou é convertido em proteínas funcionais.”  
O campo da epigenética ganhou força há cerca de uma década. Estudos sobre os descendentes de sobreviventes do Holocausto, por exemplo, sugerem que “herdamos alguns traços da experiência de nossos pais e avós, particularmente o sofrimento deles, o que, por sua vez, modifica nossa própria saúde – e talvez a de nossos filhos também.” 
Afirma Carey: “Uma das teorias se baseia em pesquisas com animais. Em estudos recentes, cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, liderados por Tracy Bale, criaram camundongos machos em ambientes difíceis, balançando periodicamente suas gaiolas ou deixando as luzes acesas durante a noite. Isso altera o comportamento subsequente dos genes desses ratos de tal modo que eles mudam a forma como gerenciam os surtos de hormônios do estresse. E essa mudança está associada a alterações na maneira como seus filhos lidam com o estresse: de modo geral, esses camundongos jovens são menos reativos aos hormônios, em comparação aos animais que não passaram pela experiência, disse Bale. “São resultados claros e consistentes”, disse ela. “O campo avançou muito nos últimos cinco anos”.
Assunto interessantíssimo, ainda por ser mais bem esclarecido pela Biologia e Genética. 



terça-feira, 9 de outubro de 2018

Oásis na Savana


     
  
Oásis de vegetação na África
Foto: Monica Nobrega/Estadão


O biólogo Fernando Reinach, em artigo para O Estado de S.Paulo (6 out 2018), Oásis na Savana, destaca que há milhares de anos, no período neolítico, o homem conseguiu melhorar o ambiente em que vivia, deixando marcas que podem ser observadas até hoje. 
Afirma Reinach: “As Savanas africanas, onde pastam os grandes herbívoros e vivem os grandes carnívoros, têm um solo extremamente pobre, que sustenta uma vegetação rala. Florestas e campos luxuriantes são raros. Mas se você observar a região com um satélite vai descobrir milhares de círculos de aproximadamente 100 metros de raio onde a vegetação é luxuriante, e pequenas florestas podem ser vistas.”  
Muitos desses círculos têm pequenos vilarejos habitados por criadores de gado e outros herbívoros, contendo um curral onde o gado é recolhido durante a noite. Naturalmente, as fezes do gado tornam o solo mais fértil. Porém, há um número muito maior desses círculos que o esperado pela quantidade de habitantes que existe na área. 
Agora surge o fato mais interessante: os cientistas decidiram escavar exatamente onde estavam esses círculos férteis não ocupados. O resultado foi surpreendente, afirma Reinach: “Em quase todos esses locais, foram descobertas ruínas de povos pastorais da época neolítica (1,5 mil a 3,7 mil anos atrás), o que indicava que talvez esses locais fossem os currais das culturas neolíticas da África. Mais interessante é o fato de que nesses locais não se acharam indícios de ocupação recente, o que indica que essa ilha de fertilidade teria sido criada por seres humanos milhares de anos atrás.” 
A presença de seres humanos do neolítico fertilizou essas ilhas de terra, resultando em aumento da biodiversidade, atraindo mais herbívoros, árvores e pássaros. 
Conclui Reinach: “É boa notícia, que reforça a ideia de que as intervenções humanas não são obrigatoriamente destrutivas. Quem poderia imaginar 2 mil anos atrás que um curral cheio de fezes iria se transformar em um luxuriante oásis?”
            O que chamou a atenção deste blogueiro foi a fantástica ideia dos cientistas de escavar exatamente nos oásis inabitados, em busca de algo que ignoravam completamente. Encontraram vestígios de povos pastorais.
            Lembrei-me de minha experiência no hospital King’s College, em Londres, nos anos 80. Quanto os pesquisadores, médicos e cientistas, sentavam-se para o chá – acompanhado de insípidos biscoitos –, pela manhã e à tarde, a conversa entre eles era quase sempre sobre pesquisa. Surgiam ideias brilhantes, às vezes mirabolantes; eles não estavam preocupados com a viabilidade dos projetos, apenas exerciam a arte de pensar sobre Pesquisa. Muitas ideias eram aproveitadas e desenvolvidas pelos 50 componentes da Unidade de Fígado do hospital, quase todos estrangeiros. A conversa era sempre enriquecedora. Penso que isso faz a diferença.
            



quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Unha-de-gato


A unha-de-gato (Dolichandra unguis-cati), pertencente à família Bignoniaceae, floresce no mês de outubro na região central do Brasil, em geral no alto da copa das árvores, e tem coloração amarelo forte. É popularmente conhecida como unha-de-gato, cipó-de-gato, cipó-de-morcego ou cipó-ouro. 
Pode ser usada como planta ornamental, principalmente na decoração e cobertura de muros e paredes externas, semelhante ao uso da hera (Hedera helix). 
A unha de gato (D. unguis-cati) é utilizada na medicina tradicional, para tratamento de doenças venéreas, como anti-inflamatório e antimalárico. “Suas propriedades anti-inflamatórias são atribuídas à presença de lapachol, um composto que também está presente em outras Bignoniáceas, como nas cascas do Ipê-roxo (Handronathus impetiginosus). A espécie é rica em flavonoides e também em ácido quinóvico, um composto que pode ser utilizado como antidoto nos acidentes com cobras venenosas. O caule ainda pode ser fonte de tanino, utilizado em curtumes e corante para tinturaria.” 
O crescimento da planta pode levar vários anos, sem florescimento, o que só vai acontecer com a ramagem madura, quando forma vistosa cascata de flores amarelas.
Há vários anos observamos na matinha que enfeita nosso quintal uma certa árvore que ficava amarela nessa época do ano, ao final da seca. Seriam flores ou folhas amarelecidas pela seca? Até que nesse ano desvendou-se o mistério, com a explosão de flores nas copas de várias árvores, uma lindeza mesmo, que tentei registrar nas fotos abaixo. É a unha-de-gato!









Fotos: AVianna, out 2018
Nikon D7200, lente Nikkor 18-300 mm

quinta-feira, 7 de junho de 2018

A Grande Conquista



António Damásio é professor de Neurociência, Psicologia e Filosofia, e diretor do Brain and Creativity Institutena University of Southern California, em Los Angeles.
            Seu último livro A estranha ordem das coisas – a vida, os sentimentos e as culturas humanas (Ed. Temas e debates – Círculo de leitores, Lisboa, 2017) apresenta uma síntese do conjunto de estudos e pesquisas de uma vida inteira, e por isso mesmo é monumental.
            O livro é de uma densidade incrível, cada parágrafo precisa ser lido cuidadosamente pois contém afirmações e conceitos profundos, complexos, revolucionários, e que escapam à nossa mente acostumada às trivialidades do cotidiano. 
            Impossível resumi-lo, de modo que este blogueiro pretende apresentar alguns trechos esparsos, na esperança de que façam algum sentido ao leitor, e que venham estimular a leitura da obra.
            À página 114 Damásio está a discorrer sobre o que chama de “A Grande Conquista”: “A capacidade de gerar imagens possibilitou que os organismos representassem o mundo em seu redor; ... e o mundo do seu interior.” ...  “A existência de imagens só foi possível depois da complexidade dos sistemas nervosos atingir um nível particularmente elevado.”
            Vamos ao trecho escolhido:

“Assim sendo, os passos a serem seguidos na evolução tornam-se bastante claros. 
Em primeiro lugar, servindo-se de imagens feitas a partir dos mais antigos componentes do interior do organismo – os processos de química metabólica desenvolvidos, em geral, nas vísceras e na circulação sanguínea e nos movimentos por eles gerados –, a natureza veio gradualmente a desenvolver sentimentos.
Em segundo lugar, servindo-se de imagens de um componente interior bem menos velho – a estrutura esquelética e os músculos que a ela estão ligados –, a natureza desenvolveu uma representação do envolvente de cada vida, uma representação literal da casa habitada por cada vida. A eventual combinação destes dois conjuntos de representações abriu caminho à consciência.
Em terceiro lugar, servindo-se destes mesmos dispositivos de criação de imagens e do poder inerente às imagens – o poder de representar algo e simbolizar –, a natureza desenvolveu as linguagens verbais.”

            Os negritos são meus, para destacar quão fundamentais são os temas aqui abordados.

(O livro ainda não foi publicado no Brasil; a edição referida acima é de Portugal.)