segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Mergulho na literatura



A ilustração acima encabeça interessantíssimo artigo de Alberto Manguel, sobre as primeiras palavras de livros famosos, publicado em El País (18 ago 2018). (https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/15/cultura/1534349346_859583.html)
            De tão sugestiva – um mergulho na literatura – e tão bem elaborada, a ilustração ganhou destaque neste blog.
Autor: Pep Boatella.

Ainda os abusos da Pensilvânia

O Vaticano divulgou nesta segunda-feira (20-ago-2018) carta do papa Francisco direcionada aos católicos: ele reconhece que abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica dos EUA foram acobertados (ao menos "301 padres predadores" abusaram de mais de mil crianças). (Como poderia não os reconhecer?)
"Mostramos não ter nenhum cuidado com os pequeninos; os abandonamos", escreveu o papa. 
         “É essencial que nós, como igreja, sejamos capazes de reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades perpetradas pelas pessoas consagradas, clérigos e todos aqueles a quem confiamos a missão de zelar e cuidar dos mais vulneráveis", disse.
O papa afirmou ainda que a maioria dos casos "pertençam ao passado”. (Para os abusados, trata-se de um passado que não passa.)
Francisco pediu que todos os católicos ajudem a igreja a "extirpar" a cultura do abuso "em nossas comunidades". 
Ativistas ligados às vítimas de abuso sexual pela igreja expressaram desapontamento em relação à fala de Francisco. É verdade que Francisco chamou os casos de "crimes", ao contrário da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, que se referiu apenas a "pecados e omissões" em resposta ao relatório da Pensilvânia.
"Mais ações, menos palavras", disse Anne Barrett-Doyle, co-diretora da BishopAccountability.org, centro americano que registra casos de abusos pela igreja ao redor do mundo. 
Aquelas pobres crianças, infelizmente, não têm voz própria para se defenderem.




Paraíso Perdido, o Filme!



Um bom filme lava a alma!
         Assisto o argentino/espanhol O Cidadão Ilustre e me delicio com a mistura literatura e cinema; vejo o americano Luckyque me fala ao coração ao tratar da velhice e da morte; e agora me deparo com filme brasileiro da melhor qualidade, comparável ao melhor cinema do mundo, com o título maravilhoso de Paraíso perdido, que trata da paixão.
         Não há outra razão para colocá-los juntos nesta crônica, a não ser que ambos têm bons diretores, ótimos atores, uma boa história para ser contada, e excelentes roteiros. Que mais é preciso para se rodar um bom filme?
         A baiana nascida em Salvador Monique Gardenberg (1958) é cineasta, diretora teatral e produtora cultural. Pensou realizar um filme popular; recorreu à musica dita brega e foi buscar um clássico do gênero, Márcio Greyck, autor de Impossível Acreditar que Perdi Você: “Venha me dizer sorrindo / Que você brincou / E que ainda é meu / Só meu, o seu amor.”   
(Interrompo aqui esta crônica e peço ao meu caro leitor que ouça essa música, composta em 1973, antes de prosseguir na leitura: https://www.youtube.com/watch?v=N9N1ymZObCg).
         Monique reuniu elenco espetacular: Erasmo Carlos, Júlio Andrade, Seu Jorge, Hermila Guedes, Júlia Konrad, Malu Galli, Jaloo, Lee Taylor, Humberto Carrão, Marjorie Estiano e outros. O desempenho de cada um deles, a começar por Erasmo Carlos, o patriarca da família, certamente sob a melhor direção, é ponto alto do filme. (Erasmo conta que a diretora o orientou a assistir a "Violência e paixão" (1974), do diretor italiano Luchino Visconti, para compor o personagem.)
         A história se passa num cabaré ou boate de qualquer cidade brasileira. Melhor dizer as histórias, pois a trama é composta de histórias de amor dos membros da família que administra a boate. Homofobia, violência contra a mulher, amor livre, a paixão levada ao limite extremo, são apresentados através de fantástica trilha sonora (a cargo de Zeca Baleiro).
         A música brega embala a paixão vivida por cada um: o sofrimento de um homem cuja mulher desapareceu, a paixão de um travesti por um rapaz que não se aceita homossexual, o amor livre entre duas ex-presidiárias e um policial, o cantor que deseja ser ator (Seu Jorge está magnífico nesse papel, além de ser um grande cantor). Paixão na medida certa.
         Compõem a trilha sonora nomes bem conhecidos como Márcio Greyck, Reginaldo Rossi, Ângela Maria, Paulo Sérgio, Odair José, José Augusto, Roberto Carlos, Zé Ramalho, Waldick Soriano e outros mais.   
         Eis como a diretora define seu filme: “O filme é um grito de amor e liberdade em contraposição a esse conservadorismo e moralismo, que eu não esperava do Brasil”. ..."É uma homenagem a essa música romântica que já foi tão rejeitada e vítima de preconceito, exatamente como nos outros temas que trato no filme.”  ... Completa Marjorie Estiano: "Para mim, brega é uma maneira extrema, desmedida e rasgada de falar. Não acho que seja pejorativo. Às vezes, dizemos como é preciso se portar para parecer elegante. Mas no amor não há esse lugar de elegância".
         Uma palavra sobre Ímã, personagem central do filme, representada por Jaloo, um estreante no cinema. Dono de voz original, potente, canta vestido de mulher mas só admite ser chamado de homem.
         Enfim, um grande e emocionante filme, brasileiríssimo!