segunda-feira, 22 de junho de 2015

Uma espécie de cegueira

A foto do dia.



Caminhando com os olhos no celular!


Humor judaico

                                          


            O humor judaico é nosso conhecido, quase sempre manifesto em forma de piadas, de preferência com a mãe no meio. Agora ele chega também à Literatura.
            Surgem entre nós duas traduções de Etgar Keret, nascido em Tel Aviv em 1967, escritor, diretor de cinema e roteirista de histórias em quadrinhos. Refiro-me a dois livros do autor: De repente, uma batida na porta (Tradução de Nancy Rozenchan) e Sete anos bons (tradução de Maria Parula), ambos editados pela Rocco (2010, 2015) e com boas traduções.
            Salman Rushdie chamou-o e “um escritor brilhante, totalmente diferente de qualquer outro. A voz da próxima geração.”
            El País confirmou este ponto de vista: “O estilo de Keret é tão original que é difícil de rotular. Não há equivalente em nenhuma geração de novos escritores de qualquer lugar.”
            E a BBC acrescentou : “Se Kafka tivesse sido um comediante, suas histórias provavelmente se pareceriam com as de Keret.”
            O escritor mistura humor e ironia com o nonsense kafkiano, características que, penso eu, aplicam-se bem à cultura judaica. Os temas são os mais prosaicos: conversas de mães em parques de Tel Aviv, os incidentes de uma viagem de avião, relato de um sonho recorrente, uma visita ao Leste Europeu, as viagens do escritor para participar de mesas literárias pelo mundo, a relação nem sempre pacífica entre pais e filhos, o que o filho pequeno vai ser quando crescer, mais especificamente se vai entrar para o Exército ou não.
            Assim tem início o conto intitulado Escrita criativa:

“O primeiro conto que Maya escreveu foi sobre um mundo em que as pessoas se dividem em duas, em vez de se reproduzir. Nesse mundo  cada pessoa pode, a qualquer momento, se transformar em dois seres, cada um com metade de sua idade. Há quem escolha fazer isso enquanto jovem, mulheres de dezoito anos se dividem em duas meninas de nove. Outros esperam até se estabelecer profissionalmente, e fazem isto apenas na meia-idade.”


            Convenhamos, é um bom começo para uma boa história! Vale a pena conferir.

O ovo da serpente brasileiro

          Não sou leitor assíduo de frei Betto, acompanho de longe alguma notícia sobre ele, porém a manchete publicada recentemente na Internet chamou-me a atenção:

          “O escritor e teólogo Frei Betto disse que a bancada evangélica — um movimento político-religioso fundamentalista, ressaltou — ameaça a democracia brasileira porque equivale ao “ovo da serpente” dos anos 30 do qual nasceu o nazismo.”

           A matéria é assinada pelo jornalista Paulo Lopes, que acrescenta:

           “A Frente Parlamentar Evangélica, à qual Frei Betto se referiu, é presidida pelo deputado João Campos (PSDB/GO). É composta por deputados (a maioria) e por senadores de diferentes partidos, no total de 79. Ela tem se destacado por ser contra, por exemplo, as propostas de igualdade aos homossexuais. Se pauta principalmente por uma leitura conservadora da Bíblia. Um de seus integrantes, Marco Feliciano, é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara.”

           E frei Betto conclui:

           “Precisamos abrir o olho porque está sendo chocado no Brasil o poder fundamentalista de confessionalização da política”, afirmou. “Isso vai dar no fascismo.”

            Penso que o alerta procede! Quem não se lembra do terrível filme de Bergman? Ainda mais ilustrativo, porque reafirma a rigidez e o fundamentalismo religioso hipócrita da Alemanha pré-guerra, é A fita branca, de Michael Haneke?
            Discute-se no Congresso a instituição da “cristofobia” (?), com grau de crime hediondo, para quem interromper ou perturbar um culto religioso.
            O ensino de religião nas escolas públicas volta à baila, sem falar do ensino do criacionismo.
             Este blog já visitou o tema com crônica intitulada “O que é isso?”, ao descrever os jovens da Igreja Universal que se autodenominam Gladiadores do Altar. (http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2015/03/o-que-e-isso.html)
           O Brasil já não é um estado laico, se é que algum dia o foi. (Quem nunca reparou no crucifixo e seu respectivo crucificado no nicho de mármore do belo auditório do STF, em Brasília, bem atrás da mesa do Presidente do Supremo?)
            O alerta de frei Betto procede!