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segunda-feira, 16 de maio de 2022

Avaliação do desempenho de cotistas e demais alunos da USP


 

'Colegas viajavam para fora nas férias, e eu trabalhava', 

diz cotista recém-formado na USP

Karime Xavier/Folhapress

 

 

 

“Diferença entre nota de cotistas e demais alunos na USP cai ao longo do curso.”

Reportagem de Laura Mattos, para a Folha de S. Paulo hoje (15).

 

Desde o lançamento do programa de cotas assumi posição francamente favorável, ainda atuando na vida universitária, mesmo no tempo em que o assunto era ainda mais polêmico do que nos dias atuais. Portanto, é com imensa alegria que tomo conhecimento da presente pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo. Vejamos os destaques da pesquisa.

“Na formatura da primeira turma da Universidade de São Paulo, desde a implementação da política de cotas para estudantes de escolas públicas e para pretos, pardos e indígenas, uma pesquisa inédita obtida com exclusividade pela Folha revela que o desempenho dos cotistas foi pouco inferior ao dos demais alunos e melhorou progressivamente ao longo do curso, tornando a distância entre as notas cada vez menor.”

“O estudo acompanhou por quatro anos as notas dos cerca de 11 mil ingressantes da capital paulista de 2018, quando começou o programa de cotas. Parte desses estudantes, aqueles das faculdades de quatro anos de duração, graduaram-se no início de 2022, em razão do atraso da pandemia, e estão recebendo agora o diploma.”

“De acordo com a pesquisa sobre o desempenho desses alunos, mesmo nas faculdades mais concorridas, a distância máxima entre os oriundos de escolas públicas e os de particulares foi de 1,2 ponto na mediana das notas, de 0 a 10. A mediana é a nota central de cada grupo —50% dos alunos estão acima dessa marca e os outro 50%, abaixo. Essa diferença de 1,2 ponto se deu no 1º semestre de 2018. Já no 2º semestre de 2019, ou seja, no último boletim pré-pandemia, a distância havia sido reduzida para menos de um ponto, 0,9 na média. No fim de 2021, após quase dois anos de aulas online, foi de 0,7.”

“Para a coordenadora da pesquisa e professora da FFLCH, Marta Arretche, os dados demonstram que a inclusão dos cotistas não compromete a excelência da USP. A hipótese de que as cotas poderiam reduzir a qualidade da universidade costuma ser aventada por críticos das políticas de inclusão. "Essa é uma preocupação legítima, mas que se baseia em suposições", afirma.”

“Reitor da USP e professor de medicina, Carlos Gilberto Carlotti Junior afirma que a pesquisa sobre o desempenho dos estudantes comprova que "o programa de cotas acerta ao acreditar no potencial das pessoas". "São alunos que não tiveram uma educação da mesma qualidade que os de escolas privadas, mas têm potencial para superar essa diferença e chegar ao final da graduação com as mesmas condições."

Arretche e Carlotti não acreditam na possibilidade de que a exigência nas aulas e nas provas tenha sido reduzida. A coordenadora da pesquisa aponta que, muitas vezes, há diferença grande de notas em cada grupo. "Há alunos escolas particulares, brancos ou PPI, que tiram 10 e os que tiram zero, da mesma forma que os de escolas públicas."

Ela pondera que "notas nunca são perfeitas para avaliar alunos", mas são "o instrumento mais aproximado para observar empiricamente o desempenho". Por isso, ressalta, é importante que o estudo seja prolongado.”

“Para o reitor, "não há, desde a implementação das cotas, nenhuma sinalização de queda de prestígio da USP, da produção acadêmica, científica". "A USP precisa mostrar para a sociedade que o programa de cotas é interessante, aumenta a diversidade e qualifica ainda mais as nossas pesquisas, porque temos alunos de diversas realidades, vivências e pensamentos", afirma. "As grandes universidades internacionais têm programas de inclusão altamente fortalecidos. Se a universidade brasileira ficar fora disso, estará excluída do mundo acadêmico", complementa o reitor.”

Estas são ótimas notícias, fruto de estudos científicos qualificados.

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/05/diferenca-entre-nota-de-cotistas-e-demais-alunos-na-usp-cai-ao-longo-do-curso.shtml

 

terça-feira, 3 de maio de 2022

É isto um juiz? 2


Este blog publicou recentemente (24 abr 2022) É isto um juiz?, comentando as atitudes do Sr. André Mendonça frente ao Supremo Tribunal Federal, no caso da condenação de Daniel Silveira.

http://loucoporcachorros.blogspot.com/2022/04/e-isto-um-juiz.html

 

            Hoje, a bem da verdade, se faz necessária a complementação do funesto episódio. Aqui vai:

 

“Mendonça explicou a Bolsonaro razões para seu voto pela prisão de Daniel Silveira: notícia publicada hoje na Folha.Uol (2.mai.2022).” 

 

“O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, tiveram uma conversa telefônica após o julgamento do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), que foi condenado à prisão por 10 votos a 1.”

 

“Mendonça foi um dos ministros que votaram pela condenação, embora propondo uma pena menor do que seus colegas.”

 

Segundo o Painel apurou, Mendonça explicou ao presidente os motivos de ter dado uma pena menor ao parlamentar e foi elogiado por Bolsonaro, que depois o defendeu em público das críticas da base conservadora em um evento.”

 

            Ou seja, houve desdobramentos...

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2022/05/mendonca-explicou-a-bolsonaro-razoes-para-seu-voto-pela-prisao-de-daniel-silveira.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha

 

 

quarta-feira, 27 de abril de 2022

A educação de Montaigne




Michel de Montaigne 


 

O caderno Ilustríssima, da Folha de S. Paulo publicou no último fim de semana (23 abr 2022) texto reproduzindo a aula magna proferida pelo empresário Luiz Frias, Publisher da Folha, no último 7 de abril, Dia do Jornalista, na Faap. A aula é magnífica, mas destaco aqui apenas o trecho em que Frias fala da educação recebida por Montaigne. O tema há de interessar a todos nós.

 

“Planejei comentar três sugestões/palpites práticos para a formação de futuros jornalistas e profissionais de mídia e comunicações e terminar com algumas considerações sobre tecnologia, a abundância e a disponibilidade de informações propiciadas pela rede, algumas palavras sobre fake news e sobre a importância do jornalismo profissional daqui para a frente.

Gostaria de começar falando um pouco sobre Montaigne. Não a avenida luxuosa e famosa de Paris, mas o pensador renascentista francês Michel de Montaigne. Ele nasceu em 1533 e morreu em 1592, vivendo, portanto, 59 anos. Sua existência transcorre no auge do Renascimento e num mundo recém-transformado pelas grandes navegações e pelo descobrimento das Américas.

Como referência, Montaigne estava a dez dias de completar 31 anos quando Michelangelo Buonarroti morreu. E nasceu quase 14 e 13 anos após as mortes de Leonardo da Vinci e Raphael (Sanzio), o pintor, respectivamente. Teve grande influência sobre numerosos autores do Ocidente, como Shakespeare, Descartes, Voltaire, Darwin, Marx, Emerson, Foucault, Nietzsche e Freud, entre outros. De família próspera, seu avô fez fortuna como comerciante de arenque, e seu pai foi prefeito de Bordeaux.

Mas o que gostaria de destacar é a educação sui generis de Montaigne, planejada e executada em detalhe por seu pai. Logo que nasce, é levado para uma pequena cabana, onde vive seus primeiros três anos exclusivamente na companhia de uma humilde família camponesa, de modo a, nas próprias palavras de Montaigne, "atrair o menino para perto das pessoas, e das condições de vida dessas pessoas, que necessitam de nossa ajuda".

Após esses três primeiros anos de vida espartana, Montaigne é levado de volta para o château do pai. Dos 3 aos 6 anos, a educação do menino é atribuída a um tutor alemão, especialmente contratado pelo pai, um doutor que não falava uma palavra em francês, mas fluente em latim, com o objetivo de fazer dessa língua seu primeiro idioma.

O pai também admitiu outros dois auxiliares que falavam latim, com ordens estritas para apenas se dirigirem à criança nessa língua. A mesma regra era respeitada pelos pais da criança e pelos funcionários que ali trabalhavam. Só a partir dos 6 anos é que Montaigne começa a falar e estudar o francês.

Outra curiosidade engendrada pelo pai foi acordar a criança todos os dias com música tocada ao vivo. Diz Montaigne no ensaio "Sobre a Educação das Crianças": "Quanto ao grego, meu pai tencionou que eu o aprendesse metodicamente. Mas de um jeito novo, de forma de brincadeira. Ele fora aconselhado a me fazer apreciar a ciência, mas sem forçar minha vontade, meu desejo; e a educar minha alma com doçura e liberdade, sem rigor nem coação. Alguns pretendem acordar crianças de manhã aos sobressaltos e com violência perturbar seu tenro miolo, meu pai chegou a mandar me acordar ao som de um instrumento, e nunca fiquei sem alguém que me prestasse esse serviço".

Ter como primeira língua o latim facilitou a Montaigne, leitor voraz, ler os clássicos gregos e romanos e colocou a sua disposição a maior biblioteca disponível na época. E nos leva a especular se Montaigne, sem essa peculiar formação, poderia ter escrito os "Ensaios", sua única obra, de três volumes e aproximadamente mil páginas.

Aos 38 anos (lembrando que naquela época poucos ultrapassavam os 40), resolve afastar-se de seus compromissos públicos e delega a administração de seus bens a terceiros. Dentro de uma torre de sua propriedade no château que herdara do pai, Montaigne instala sua impressionante biblioteca e seu quarto. Ali trancado a maior parte do tempo, dedica seus últimos 20 anos de vida à leitura de livros e à redação dos ensaios.

"Nunca viajo sem livros, seja em tempos de paz ou de guerra. Livros, creio, são a melhor provisão que um homem pode levar na jornada de uma vida." Com essa frase de Montaigne, elenco minha primeira sugestão na formação de qualquer jovem e, em particular, daquele que almeja ser um jornalista ou trabalhar no mundo das comunicações. Leia muito. Leia tudo o que possa despertar seu interesse. Não há como aprender a escrever bem sem escrever, mas ler ajuda muito a escrever bem. Em mais de 40 anos nesse negócio, nunca vi ninguém escrever bem, com inteligência, clareza, objetividade e estilo, que não fosse um leitor compulsivo. Escreva sempre e muito, mas leia muito mais do que escreva.  (Grifo meu.)

E, se for em português, leia Machado de Assis, aconselhava Cláudio Abramo, grande jornalista brasileiro, talvez um dos mais influentes jornalistas, tanto na história da Folha como na do Estado de S. Paulo.”

 

            No início de século XVI, o pai de Montaigne sabia como educar uma criança. Os resultados comprovam a eficácia de seu método. E hoje, o que sabemos sobre isso? O que praticamos sobre isso? Vale a pena refletir.

 

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/04/apartidarismo-e-base-para-jornalismo-critico-e-independente-diz-publisher-da-folha.shtml

 

segunda-feira, 28 de março de 2022

Vendilhões do Templo segundo Saramago

 100 anos de José Saramago

 

O trecho a seguir, de autoria de José Saramago, está em O Evangelho segundo Jesus Cristo (Companhia das Letras, 1991, p. 425-426):

 

“Chegados às portas da cidade, logo se viu que maiores diferenças de variedade e número na multidão não as havia, e que, como de costume, iam ser precisos muito tempo e muita paciência para abrir caminho e chegar ao Templo. Não foi assim, contudo. O aspecto dos treze homens, quase todos descalços, com os seus grandes cajados, as barbas soltas, os pesados e escuros mantos sobre túnicas que pareciam terem visto o princípio do mundo, fazia afastar a gente amedrontada, perguntando uns aos outros, Quem são estes, quem é o que vai à frente, e não sabiam responder, até que um que tinha descido da Galileia disse, É Jesus de Nazaré, o que diz ser filho de Deus e faz milagres, E aonde vão, perguntava-se, e como a única maneira de o saberem era seguiram-nos, foram muitos atrás deles, de modo que ao chegarem à entrada do Templo, da parte de fora, não eram treze, mas mil, mas estes ficaram-se por ali, à espera de que os outros lhes satisfizessem a curiosidade. Foi Jesus para o lado onde estavam os cambistas e disse aos discípulos, Eis o que viemos fazer, acto contínuo começou a derrubar as mesas, empurrando e batendo a eito nos que compravam e vendiam, com o que se levantou ali um tumulto tal que não teria deixado ouvir as palavras que proferia se não se desse o estranho caso de soar a sua voz natural como um estentor de bronze, assim, Desta casa que deveria ser de oração para todos os povos, fizestes vós um covil de ladrões, e continuava a deitar as mesas abaixo, fazendo espalhar e saltar as moedas, com enorme gáudio de uns quantos dos mil que correram a colher aquele maná. Andavam os discípulos no mesmo trabalho, e por fim já os bancos de vendedores de pombas eram também atirados ao chão, e as pombas livres, voavam por sobre o Templo, rodopiando doidas, além, em redor do fumo do altar, onde não iriam ser queimadas porque havia chegado o seu salvador.” 

 

            O estilo é inconfundível, a agilidade com que as falas se sucedem é impressionante, isso é o melhor de Saramago. O tema, conhecidíssimo, é apropriado ao momento político que vivemos. Que eu saiba, este é o único momento em todo o Novo Testamento em que Jesus perde as estribeiras, deita fumo pelas orelhas, solta fogo pelas ventas, destrambelha, ensandece, descarrilha e desce o sarrafo nos que vendem e nos que compram, isso é muito importante!

            Vou desenhar, expressão em voga: O Templo é o nosso vilipendiado Ministério da Educação – casa destinada ao Ensino e à Cultura. Templo, porque de lá poderiam sair regras e normas capazes de salvar o Brasil – só a Educação salva um povo. 

            Os lobistas tomaram conta do Templo; barracas onde variados produtos de compra e venda se espalham por todo o ministério; negocia-se a peso de ouro, literalmente; os “pastores” exibem a sanha dos insaciáveis intermediários; o sumo sacerdote se esquiva de qualquer responsabilidade, diz que age a mando do presidente; desmente-se a si próprio no dia seguinte, estratégia para confundir, um tal de disse-não-disse que atordoa os de ouvidos moucos; são muitos os testemunhos de velhacaria; processos são abertos...

            

Deixemos a conclusão para José Saramago. Com a chegada de grande número de guardas do Templo, sob comando do sumo sacerdote, armados de espadas e lanças, os Treze ficaram em evidente desvantagem. Jesus adverte com sabedoria:

 

“Disse André para Jesus, que a seu lado brigava, Bem é que digas que vieste trazer a espada e não a paz, agora já sabemos que cajados não são espadas, e Jesus disse, No braço que brande o cajado e maneja a espada é que se vê a diferença, Que fazemos então, perguntou André, Tornemos a Betânia, respondeu Jesus, não é a espada que ainda nos falta, mas o braço.”

 

            Ao povo, falta-nos braço para brigar com os canalhas.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Iniciativa Extraordinária!!!

 

“Primeira instituição privada de apoio à ciência no Brasil sonha em frear 'fuga de cérebros'. Instituto Serrapilheira completa 5 anos com mais de R$ 50 milhões investidos em projetos”: reportagem extraordinária de Samuel Fernandes para a Folha hoje (23).

“Primeira instituição privada sem fins lucrativos para financiamento da ciência brasileira, o Instituto Serrapilheira completou cinco anos de existência nesta terça (22). A organização, que assina o blog Ciência Fundamental na Folha, contabiliza já ter investido mais de R$ 50 milhões em projetos de pesquisa científica e em iniciativas voltadas para divulgação da ciência.

Desde seu início, o instituto, fundado pelo documentarista João Moreira Salles e sua mulher, a linguista Branca Vianna Moreira Salles, mantém dois programas de financiamento. O primeiro, de apoio à ciência, é voltado ao suporte de pesquisas de excelência de jovens cientistas de áreas das ciências naturais, matemática e ciência da computação.

Já o segundo tipo de programa é voltado para divulgação científica e subsidia projetos de mídia e de jornalismo. "O que estamos tentando fazer é profissionalizar a divulgação científica." O diretor diz que existe uma grande demanda por financiamento de divulgação científica. Segundo ele, na primeira chamada feita pelo Serrapilheira, foram recebidos mais de mil projetos de todo o Brasil. do campo."

Mais recentemente, o Serrapilheira abriu a formação em biologia e ecologia quantitativas, um programa em ciências da vida para jovens que queiram cursar o doutorado fora do país.

"Vamos fazer investimentos mais focados na ecologia e biologia de sistemas complexos e queremos usar a força que já existe na matemática brasileira para tratar das questões da complexidade da vida", afirma o diretor, sobre essa iniciativa mais recente do Serrapilheira. 

Mesmo que a iniciativa seja importante, o próprio diretor do instituto reitera que o financiamento da ciência precisa ser operado principalmente pelo poder público. "

 

Vale a pena conferir o site Ciência Fundamentalhttps://www1.folha.uol.com.br/blogs/ciencia-fundamental/

 

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/03/primeira-instituicao-privada-de-apoio-a-ciencia-no-brasil-sonha-em-frear-fuga-de-cerebros.shtml

 

terça-feira, 15 de março de 2022

Charles Darwin no Rio de Janeiro



 

O navio inglês H.M.S. Beagle zarpou da Inglaterra em dezembro

de 1831 e dois meses depois chegou a Salvador

 


 



Encantado com a natureza e indignado com a corrupção: o que Charles Darwin achou do Brasil do século 19. Texto original de André Bernardo, do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil (23 nov 2019), adaptado para o blog.

      Darwin chegou a Salvador (BA) em 28 de fevereiro de 1832, onde permaneceu por 18 dias. "Luxuriante" foi um dos adjetivos que usou para descrever a paisagem local. 

De Salvador seguiu para o Rio de Janeiro, aonde chegou no dia 4 de abril, passando 93 dias na cidade, residindo em Botafogo, aos pés do Corcovado. 

Logo de início, fez críticas à burocracia local: "Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório, mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis as suas pessoas, é quase intolerável.” 

“A cavalo, Darwin e uma comitiva de seis homens empreenderam uma viagem de 16 dias, entre 8 e 24 de abril, até Conceição de Macabu, a 227 km da capital. De maneira geral, a impressão deixada pelos donos de pousada não foi das melhores. Alguns demoravam até duas horas para servir a refeição. "A comida estará pronta quando estiver", respondiam os mais atrevidos. Outros, sequer, tinham garfos, facas ou colheres para oferecer. 

“Na Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, os viajantes deram pela falta de uma bolsa com alguns de seus pertences. "Por que não cuidam do que levam?", retrucou o hospedeiro, mal-humorado. "Talvez tenha sido comida pelos cachorros". 

“Em sua travessia pelo norte fluminense, Darwin deparou-se também com os horrores da escravidão. Dois episódios lhe marcaram profundamente. Um deles aconteceu na Fazenda Itaocaia, em Maricá, a 60 km do Rio, no dia 8 de abril, quando um grupo de caçadores saiu no encalço de alguns escravos. A certa altura, os foragidos se viram encurralados em um precipício. Uma escrava, de certa idade, preferiu atirar-se no abismo a ser capturada pelo capitão do mato. "Praticado por uma matrona romana, esse ato seria interpretado como amor à liberdade", relatou Darwin. "Mas, vindo de uma negra pobre, disseram que tudo não passou de um gesto bruto". 

“O outro episódio ocorreu na Fazenda Sossego, em Conceição de Macabu, no dia 18. Um capataz ameaçou separar 30 famílias de escravos e, em seguida, vendê-los separadamente como forma de punição. Darwin ficou tão indignado com a cena que a descreveu como "infame". 

“Não bastassem os maus-tratos aos escravos, Darwin também se escandalizou com a corrupção. No dia 3 de julho, chegou a rotular os brasileiros de "ignorantes", "covardes" e "indolentes". "Até onde posso julgar, possuem apenas uma fração daquelas qualidades que dão dignidade ao homem", queixou-se. "Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que, em pouco tempo, ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados." 

Em 5 de julho de 1832 a expedição seguiu para o Uruguai e depois Argentina. Em setembro de 1835, chegou às Ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico, o ponto mais famoso da viagem. 

Bernardo afirma: “Apesar de agnóstico, Darwin deu "graças a Deus" por estar, finalmente, deixando as costas do Brasil. "Espero nunca mais visitar um país de escravos", escreveu no dia 19 de agosto. O Beagle retornou à Inglaterra no dia 2 de outubro de 1836. Vinte e três anos depois, em 24 de novembro de 1859, seu tripulante mais ilustre publicaria A Origem das Espécies.” 


Nos envergonha, o que Darwin viu do povo brasileiro.

 

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50467782

 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Três vezes Pietà

As três versões da 'Pietà' de Michelangelo são exibidas juntas pela primeira vez (Gildas Le Roux, AFP, para O Estado de S. Paulo, 23 fev 2022).

 

 


A ‘Pietà do Vaticano’, como ficou conhecida a obra de Michelangelo Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

 

 


'Pietà Rondanini', escultura de Michelangelo, do museu do Castelo Sforzesco em Milão Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

 

 

‘Pietà Florentina’ ou ‘Bandini’, obra de Michelangelo, do museu Duomo de Florença Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

 

 

“A Pietà de Michelangelo, escultura de mármore que simboliza o amor maternal admirada em todo o mundo na Basílica de São Pedro, no Vaticano, ofuscou duas outras versões comoventes do mesmo tema esculpidas pelo gênio renascentista. 

Por esta razão, o museu Duomo de Florença, a catedral, proprietária da chamada Pietà Florentina ou Bandini, que acaba de ser restaurada, decidiu expor as três obras juntas pela primeira vez, graças a empréstimos feitos pelo Museus do Vaticano e o museu do Castelo Sforzesco em Milão, onde está localizada a chamada Pietà Rondanini."

 



As três versões da 'Pietà' feitas por Michelangelo juntas em exposição em Florença - a 'Bandini', a do 'Vaticano' e a 'Rondanini' Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

 

 

"Instaladas uma em frente a outra, em uma elegante sala cinzenta, essas variações sobre o mesmo tema (Maria abraçando seu filho falecido), foram realizadas em diferentes fases da vida do artista, que morreu aos 88 anos (1475-1564)." 

 

 

https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,as-tres-versoes-da-pieta-de-michelangelo-sao-exibidas-juntas-pela-primeira-vez,70003988640

 

 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Porquinho-da-índia

 


 

Quando eu tinha seis anos

Ganhei um porquinho-da-índia.

Que dor de coração me dava

Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!

Levava ele pra sala

Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos

Ele não gostava:

Queria era estar debaixo do fogão.

Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

 

– O meu porquinho-da-índia foi a minha 

                                       [primeira namorada.



           

           Manuel Bandeira

           Libertinagem

           Poesia e prosa completa

           Ed. Nova Aguilar, 1990




Aprendi pouca coisa, quase nada, nessa vida tão curta. Pois foi no domingo passado, aos 75 anos, que ouvi pela primeira vez, na voz de minha mulher, este poema de Manuel Bandeira. Logo eu, que passei toda minha vida lendo Bandeira, interessado na relação dele com a morte, de como enfrentou a terrível tuberculose, e venceu com a ajuda da Poesia.

 

Hoje prefiro o humor e a ironia de Bandeira, tão bem expressos nesse poema. Mercêdes foi apresentada ao porquinho-da-índia ainda menina, estudante de escola pública no interior de Minas Gerais. Conheci Bandeira na escola pública no interior de São Paulo.

 

Como eram excelentes as escolas públicas de antigamente!  

           

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Dia da língua materna



INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE ESPERANTO


http://easp.org.br – Redação: Paulo S.Viana 

 

 

 

Em 21 de fevereiro comemora-se o Dia da Língua Materna. Esperantistas de todo o mundo expressam, na ocasião, seu apoio a um dos direitos universais do homem: o direito à preservação de sua cultura de origem, em que o idioma representa algo de valor inestimável. 

A Associação Universal de Esperanto, em nome de toda a comunidade Esperantista, enviou à Unesco a sua manifestação de apoio à preservação das culturas minoritárias que compõem o amplo espectro da Humanidade. 

Ao contrário do que se poderia pensar, o Esperanto não visa ser o único idioma da Humanidade, mas o segundo idioma de cada povo. Com a adoção da Língua Internacional neutra, as línguas maternas podem ser mantidas e cultivadas. Nesse sentido, é importante que as crianças possam ser educadas em sua língua materna, base para posterior aquisição de conhecimento. 




quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Göbekli Tepe

 


Göbekli Tepe, sítio arqueológico localizado na Turquia, construído há pelo menos 12.000 anos. Vale a pena pesquisar. 


terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Alfabetização na pandemia: a outra tragédia



Foto: Alex Silva/Estadão 

“Número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever cresce 66% com a pandemia, quantidade estimada de menores nessa faixa etária que não foram alfabetizados aumentou de 1,43 milhão, em 2019, para 2,39 milhões no ano passado”

Reportagem de Ítalo Lo Re, para O Estado de S.Paulo (8 fev 2022).

“Conforme o levantamento do Todos Pela Educação, com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, entre as crianças com menos condições o porcentual das que não sabiam ler e escrever aumentou de 33,6% para 51% entre 2019 e 2021. Entre as mais ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%.” 

            “O levantamento aponta que o porcentual de crianças de 6 e 7 anos que, segundo seus responsáveis, não sabiam ler e escrever foi de 25,1% para 40,8% em dois anos. É o maior porcentual desde o início da série histórica, em 2012. O impacto da pandemia também reforçou a diferença na alfabetização entre crianças brancas e pretas e pardas. Os porcentuais de pretas e pardas que não sabiam ler e escrever passaram de, respectivamente, 28,8% e 28,2% em 2019, para 47,4% e 44,5% em 2021. Entre as brancas, o crescimento foi de 20,3% para 35,1% no período.”

 


    

https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,numero-de-criancas-de-6-e-7-anos-que-nao-sabem-ler-e-escrever-cresce-66,70003972482

 

 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Os pais da arte




 

“Essa magia encontrada na própria raiz da existência humana, criando simultaneamente um senso de fraqueza e uma consciência de força, um medo da natureza e uma habilidade para controlá-la, essa magia é a verdadeira essência de toda a arte. 

 

O primeiro a fazer um instrumento, dando nova forma a uma pedra para fazê-la servir ao homem, foi o primeiro artista. 

 

O primeiro a dar um nome a um objeto, a individualizá-lo em meio à vastidão indiferenciada da natureza, a marcá-lo com um signo e, pela criação linguística, a inventar um novo instrumento de poder para os outros homens, foi também um grande artista. 

 

O primeiro a organizar uma sincronização para um processo de trabalho por meio de um canto rítmico e a aumentar, assim, a força coletiva do homem, foi um profeta na arte. 

 

O primeiro caçador a se disfarçar, assumindo a aparência de um animal para aumentar a eficácia da técnica da caça, o primeiro homem da idade da pedra que assinalou um instrumento ou uma arma com uma marca ou um ornamento, o primeiro a cobrir um tronco de árvore ou uma pedra grande com uma pele de animal para atrair outros animais da mesma espécie – todos esses foram os pioneiros, os pais da arte.”

 

 

           Ernest Fischer, A necessidade da arte

Zahar Editores, 1983 (p. 42)

 

            Livro excepcional este, fundamental para quem deseja compreender a origem, o sentido e a necessidade mesma da arte.

 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Desmonte da CAPES

 

Graças a uma bolsa da Capes fiz minha pós-graduação na Universidade de Londres, nos idos de 1980, obtendo o título de PhD pelo King`s College London. Passados mais de 30 anos, na condição de professor aposentado pela Universidade de Brasília, asseguro que não há qualquer laivo de vaidade nessa afirmação. O que há é tristeza e indignação diante do que este governo vem fazendo com as instituições de ensino no país. Sou compelido, portanto, por obrigação moral, a me manifestar sobre o que vem ocorrendo nessa área. 

      Soraya Smaili, Maria Angélica Minhoto e Pedro Arantes, professores e coordenadores do SOU CIÊNCIA (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência) da Universidade Federal de São Paulo, publicaram hoje na Folha de S.Paulo ótimo texto com o título “Passando a boiada na educação superior - Estamos diante de enorme incerteza e colapso de uma política de Estado”.

            Afirmam eles que a estratégia do governo federal de “passar a boiada”, expandiu-se “à cultura, à educação, à ciência. Nos últimos meses, experimentamos crises severas em dois importantes órgãos do Ministério da Educação: o Inep e a Capes.”

      A Capes foi criada em 1951, com o objetivo de expandir e consolidar a pós-graduação no país, além de preservar a qualidade da produção científica e dos cursos de pós-graduação, através de avaliação sistemática a cada quatro anos. “No atual governo federal, o órgão sofreu instabilidades, que atingiram seu ápice com a nomeação da atual presidência e a formação de equipes inexperientes, vinculadas a programas de pouca qualidade.”

      Informam os autores do artigo: “O paradoxo instalado pela direção da Capes, que de um lado contribuiu para a letargia da avaliação e de outro para viabilizar a abertura de cursos novos de caráter mercantil, levou a pedidos de exoneração de pesquisadores dos comitês científicos, totalizando mais de 114 desligamentos, além da exoneração do diretor de Avaliação, Flavio Anastacio de Oliveira Camargo, ocorrida na terça-feira (14). Uma autorização judicial permitiu a continuidade da avaliação, porém sub judice, visto que as notas dos programas não poderão ser publicadas até a decisão judicial. Paralelamente, o Tribunal de Contas da União solicitou apuração relacionada à crise das exonerações.”

     “Estamos diante de um colapso da política de Estado, bem como de uma enorme incerteza em um momento em que o sistema universitário e de pesquisa é essencial na atuação em defesa da vida e da reconstrução nacional. A quem interessa o desmonte das políticas de Estado que dão acesso, regulam e avaliam a educação superior? Minar sistematicamente estruturas da educação, especialmente as voltadas à qualidade educacional, é o mesmo que destruir o futuro da nação.”

       Os autores concluem: “O tempo para reconstruir o desmonte é incerto, mas há que se iniciar o quanto antes, sob pena de perdermos mais uma geração — e, desta vez, não para a pandemia, mas para outra boiada. A boiada da educação.”

 

            Registro aqui minha absoluta indignação diante de tais fatos.

 

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/12/passando-a-boiada-na-educacao-superior.shtml

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Questão de Educação

 

Rei Juan Carlos I posa diante de elefante 

Reprodução/Jornal El Mundo/VEJA

 

 

Nesta terça-feira (14 dez 2021), há previsão de que a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) coloque na pauta da Comissão de Meio Ambiente projeto de lei que autoriza a caça esportiva no Brasil. Parece que a desculpa utilizada para disfarçar a iniciativa é o controle da proliferação de javalis, porém abre-se assim a possibilidade para a liberação do abate de outras espécies.

            É difícil acreditar que em pleno século 21, vivendo a benfazeja onda ecológica que varre o planeta nos últimos anos, alguém venha falar em caça esportiva! Matar por esporte!

            Em 2012, Juan Carlos I, rei de Espanha, passava férias na África. Sofre acidente em Botsuana, fratura o quadril e ganha as manchetes de todo o mundo, quando se descobre a verdadeira motivação da viagem: Juan Carlos Caçava Elefantes! A indignação foi geral, ocasionando grave crise na monarquia espanhola. Havia ainda um agravante: o monarca, de 74 anos, era presidente de honra em seu país da WWF, uma das maiores ONGs ambientalistas do mundo. 

Minha indignação à época, me lembro bem, faz com que ainda hoje eu coloque a fatídica fotografia no alto dessa postagem. A foto era antiga, de 2006, portanto de um safari anterior; a diversão real era um hábito.

O rei matava por prazer. Me lembro ainda de pensar que, sendo rei, aquele homem tivera todas as oportunidades possíveis para bem se educar, coisa que não acontece com a grande maioria dos mortais que não vêm ao mundo com sangue azul. Pois ele não se educou, recebeu apenas o verniz da polidez. 

Esperemos pela nova fotografia – o herói nacional ao lado da presa abatida, quem sabe uma onça pintada –, caso o projeto de lei da deputada Zambelli seja aprovado.

Como tudo na vida, esta também é uma questão de Educação.

            

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Linguagem neutra 2

 

Há dois dias postei nesse blog texto sobre a linguagem neutra. A certa altura, escrevi: Agora Começo A Ficar De Orelha Em Pé! Nunes Marques é o relator; a AGU é contra; o Ministério da Educação também é contra; melhor pensar sobre o assunto. Não deu outra!

http://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/12/linguagem-neutra.html

 

            Leio hoje em O Estado de S.Paulo que “Kassio Nunes suspende julgamento sobre linguagem neutra nas escolas”, matéria de Weslley Galzo. 

      O ministro Kassio Nunes Marques retirou o julgamento do plenário virtual, para ser votado presencialmente na Corte. Com o recesso do Poder Judiciário no próximo dia 17, o tema só deverá ser analisado em 2022.   

      Informa Galzo: “a pauta insufla o discurso do presidente Jair BolsonaroLing, que nesta terça-feira, 7, afirmou que o vocabulário neutro “dos gays” “vai estragando a garotada”. 

      “A chamada 'linguagem neutra' ou ainda 'linguagem inclusiva' visa a combater preconceitos linguísticos, retirando vieses que usualmente subordinam um gênero em relação a outro. A sua adoção tem sido frequente sobretudo em órgãos públicos de diversos países e organizações internacionais”, afirmou Fachin. “Sendo esse o objetivo da linguagem inclusiva, é difícil imaginar que a sua proibição possa ser constitucionalmente compatível com a liberdade de expressão”, completa.  “Sem liberdade de ensino e de pensamento não há democracia”. 

 

      Fiz bem em manter a orelha em pé!

 

 

https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,kassio-nunes-suspende-julgamento-sobre-linguagem-neutra-nas-escolas-entenda-a-discussao-no-stf,70003920502

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Linguagem neutra

 

 

Em postagem de julho último comentei o texto do Museu da Língua Portuguesa, convidando "todas, todos e todes os falantes, ou não, do nosso idioma", para a auspiciosa abertura do Museu. Meu comentário à época foi: para mim, todos ainda representa todos.

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/07/todes-contra-ou-favor.html

            Leio hoje (7 dez 2021) matéria de Arthur Leal, André de Souza e Pâmela Dias em O Globo, com o título 'Linguagem neutra': o dialeto de não-binários que professores querem debater em sala de aula, e Resolvi Pensar Melhor Sobre O Assunto.

            Os autores destacam que, antes mesmo que as escolas pudessem discutir a questão, uma enxurrada de projetos surgiu em todo o país, contra o uso de linguagem neutra, o que sugere forte preconceito. O tema já está no Supremo, a pedido de professores, “para que não haja interferência externa nos debates acadêmicos”, e já teve parecer favorável do ministro Édson Fachin.

Segundo o artigo, “para especialistas, a língua portuguesa não sofre ameaça e a possibilidade de inclusão pela linguagem não pode ser ignorada. A tese é defendida na ação da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) apresentada no Supremo contra um projeto do governo de Rondônia, que proíbe o tema nas unidades de ensino, e pode vir a orientar a forma como ele passará a ser tratado daqui para frente.” 

O voto apresentado por Fachin afirma: “A chamada linguagem neutra ou ainda linguagem inclusiva visa a combater preconceitos linguísticos, retirando vieses que usualmente subordinam um gênero em relação a outro”.

Ainda no Supremo, o PT questionou um decreto de Santa Catarina que “proíbe novas formas de flexão de gênero e de número das palavras da língua portuguesa, em contrariedade às regras gramaticais consolidadas”, nos concursos públicos e documentos oficiais. O ministro relator Nunes Marques solicitou parecer da PGR e AGU. A AGU defendeu o decreto catarinense, citando manifestação do Ministério da Educação também contrária. “As modificações da linguagem neutra, por serem alheias ao uso corrente da língua, são alheias ao cotidiano de crianças, jovens e adultos”, alegou a AGU.

Agora Começo A Ficar De Orelha Em Pé! Nunes Marques é o relator; a AGU é contra; o Ministério da Educação também é contra; melhor pensar sobre o assunto.

O professor Gilson Reis, diretor da Contee, afirma que “leis como a de Rondônia têm mais a ver com questões políticas e ideológicas. Sabemos que, na prática, a linguagem neutra é algo profundamente difícil de ser implementado, porque teria, por exemplo, de flexionar todas as palavras já existentes.” 

Para Rodrigo Borba, linguista coordenador do programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da UFRJ, “a linguagem neutra não representa risco ao português. É uma forma de demonstrar respeito a pessoas que não se identificam com o gênero masculino ou feminino. Funciona como se fosse uma gíria, mas que é importante para demonstrar pertencimento e respeito a um grupo. Mudar a língua é um processo histórico, que não vai acontecer tão cedo.”

Brune Medeiros, 23, que começou a se reconhecer como uma pessoa trans não-binária em 2016, “acredita que não existe uma separação marcada somente pelo masculino e feminino que contemple a forma como se enxerga no mundo. Na Faculdade de Letras da UFRJ, Brune descobriu a oportunidade de contribuir para o debate da linguagem neutra, uma proposta de adaptação da língua portuguesa para que as pessoas não binárias se sintam representadas. Assim, “amigo” ou “amiga” virariam “amigue”, segundo uma das propostas. Ela difunde o conceito de que “a proposta da linguagem neutra não é mudar o português, mas permitir que pessoas como ela se sintam representadas”.

 

            Depois de identificar o preconceito em mim, registrado na postagem anterior, concluo: não sofro de qualquer influência política ou ideológica ligada o tema; gosto da ideia de que a língua portuguesa, pátria de todos nós, não estará ameaçada; a linguagem neutra parece estranha (“alheia ao cotidiano”), mas penso que podemos aprendê-la; respeito as pessoas autodenominadas não-binárias; se a linguagem neutra faz bem a elas, tudo bem para mim. 

      Reescrevo, portanto, a frase da postagem anterior: 

      – Espero que todes estejam representados e satisfeitos. Ups!, ou devo dizer, representades e satisfeites?

 

https://oglobo.globo.com/brasil/linguagem-neutra-dialeto-de-nao-binarios-que-professores-querem-debater-em-sala-de-aula-25308322

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O velho e bom Enem




 

O sempre competente Josias de Souza, para o UOL (22 nov 2021), matou a charada: “a tese segundo a qual o Enem passou a ter a cara do governo Bolsonaro era apenas mais uma mentira do presidente da República. A prova aplicada neste domingo tinha muitas coisas, exceto o semblante do governo. A má notícia é que Bolsonaro não deve desistir do projeto de converter o Enem numa deformidade à imagem e semelhança da sua administração.”

            Uma grata surpresa as notícias sobre este Enem em curso! O tema de redação muito pertinente, com grande alcance social, em busca do direito à cidadania para todos, inclusive para aqueles que não dispõem de documentos de identificação! 

            A questão de número 60 não poderia ser mais apropriada para o momento que vivemos:

 

“Vocês que fazem parte dessa massa

Que passa nos projetos do futuro

É duro tanto ter que caminhar

E dar muito mais do que receber

Ê, ô, ô, vida de gado

Povo marcado

Ê, povo feliz!”

        Zé Ramalho

 

            Outros temas abordados: pandemia, fome, ameaça às populações indígenas, racismo, minorias vulneráveis. Além de Zé Ramalho, obras de Chico Buarque e Gonzaguinha foram utilizadas na prova. Tudo que o presidente não gosta e vira a cara!

            Era mais uma mentira do presidente, cortina de fumaça para esconder o fracasso da recente política internacional no G20 e Oriente Médio, em contraste com o sucesso do adversário na Europa.

            Mas nada disso bate a Mentira do Século: “A Amazônia é úmida e não pega fogo.”

 

 

https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2021/11/22/enem-com-a-cara-do-governo-era-so-mais-uma-mentira-de-jair-bolsonaro.htm